NTR Convida #30 Marquinho Cesaroni (Beijo de Hera)

Toda sexta-feira (toda MESMO, dessa vez é sério) o NTR traz a seção “NTR Convida”, onde músicos convidados vão ditar o som para você começar o final de semana na pegada.

 

bjo de heraO NTR Convida hoje trás um músico que também é um grande amigo (de sons e de copos) dos autores do blog. Marquinho Cesaroni é vocalista da banda de pop/rock Beijo de Hera, formada em 2011 e natural de Mogi Mirim. A banda é figura carimbada das principais festas e baladas região de Campinas e de São Paulo.

O repertório do Beijo de Hera passa por clássicos de Guns n’ Roses e Bon Jovi, chegando até os sucessos de Kings of Leon e Maroon 5. Além da alta qualidade técnica da banda, um dos seus principais trunfos é a leitura que a mesma faz do público, o que permite que os shows sejam dançantes até o fim. Hoje, o Beijo de Hera está empenhado no projeto “Tributo Charlie Brown Jr.”, trazendo em seu repertório apenas músicas da banda da baixada santista. Acompanhei vários dos últimos shows do Beijo de Hera e posso dizer que o público tem simplesmente adorado. A pegada e estilo da banda, assim como as junções e medleys inusitados são sempre muito elogiados.

Marquinho Cesaroni, ou simplesmente “Marquinho”, pretende lançar em breve algumas composições que vai contar com um pouco de cada coisa que você pode conferir na playlist, logo abaixo.

As músicas escolhidas pelo Marquinho estão no player acima. É só clicar para ouvir todas na sequência.

A playlist:

1) Guns N’ Roses – Welcome to the Jungle
“Ouço Guns N’ Roses regularmente desde a adolecência. Impossível não chacoalhar a cabeça com esse o riff e cantar “Shananananana knees knees…”. Perfeita pra começar o fim de semana com tudo. Bem vindo à selva….”

2) Allen Stone – What I’ve Seen
“Aqui uma dica. Artista relativamente novo e que vem ganhando certo destaque atualmente. Voz muito bonita, tem personalidade e um som enraizado na música negra americana. Vale a pena conferir pois tem muita qualidade.”

 3) 30 Seconds to Mars – Closer to the Edge
“Pura energia. Com uma pegada de batera frenética e sonoridade moderna eu recomendo pra dar um pique na academia ou se arrumar pra night de sabadão.”

4) Alicia Keys – If I Ain’t Got You
“Perfeita. Letra, melodia e uma voz de arrepiar. Volta e meia me pego ouvindo esse som.”

5) JJ Grey & Mofro – Lochloosa
“Maior som pra relaxar, abrir aquela cerveja e pensar na vida. Ideal pra finalizar o fim de semana.”

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Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais

Imagine o peso de ser filha da maior intérprete do Brasil e de um dos músicos mais completos que a música brasileira já viu? A pressão, as expectativas, as opiniões e principalmente, as críticas. Foi por isso que Maria Rita Camargo Mariano, filha de Elis Regina, só começou a cantar profissionalmente depois dos 24 anos. Maria Rita morava nos Estados Unidos, estudava Comunicação Social e Estudos Latino-Americanos e, mesmo longe da música e dos brasileiros, não conseguiu fugir desse peso.

Ela conta que uma vez um garoto veio correndo e chorando pra ela e disse que a Elis era tudo pra ele. E que outra vez, cantou em um evento na faculdade (inscrita à força pelos amigos) e que viu pessoas chorando quando soltou a voz, pela lembrança da Pimentinha, apelido de Elis – como já havia acontecido com conhecidos em outras ocasiões. Todos pareciam lembrar mais de sua mãe do que ela mesma, que tinha nem 3 anos quando Elis morreu após overdose de cocaína.

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Sua primeira aparição por nossos palcos foi junto a Milton Nascimento, seu padrinho musical, no Credicard Hall. Desde então, a indústria musical ficou alvoroçada porque a filha da Elis estava cantando. A Warner foi na frente e lançou Maria Rita como “a cantora que todo mundo estava esperando”. Seu primeiro disco, “Maria Rita” (2003) vendeu mais de 1 milhão de cópias em todo mundo. As comparações foram fortes.

Muito se dizia que as músicas desse álbum eram lembranças de Elis, que os arranjos se pareciam e até que a imagem dela era igual. “Ela foi cantora, um mito, eu sou filha mulher. Lido com isso numa boa. A única coisa que não curto é quando dizem ‘ela vai tomar o lugar da mãe’, ‘é a nova Elis’, pois isso é desrespeitoso”, disse Maria Rita na entrevista coletiva de lançamento do álbum.

No trabalho seguinte, Maria Rita saiu um pouco dos ritmos do primeiro e lançou “Segundo” (2005), produzido por Lenine. Todo o disco tem o balanço característico de seu produtor e mostrou um pouco mais a personalidade dessa cantora que estava amadurecendo. Ainda assim, as comparações não pararam. Então ela jogou tudo pro alto e resolveu fazer um disco em homenagem ao samba, “Samba Meu” (2007). Colocou o umbigo de fora, trocou os pés descalços por sandália de salto alto e começou a sambar no palco. O show era lindo, colorido, alto astral. Era Maria Rita feliz. E mesmo assim, ainda teve quem quisesse comparar, lembrando que a Elis também havia lançado um disco em prol do samba, o seu 5º de carreira, “Samba – Eu canto assim” (1965).

Com o clima de “Samba Meu”, Maria Rita ficou quase três anos na estrada. Apresentou-se mundo afora, ganhou mais alguns prêmios e começou a reconhecer seus verdadeiros fãs: aqueles que não viveram Elis Regina ou que souberam distinguir uma da outra. Lançou “Elo” (2011) e as comparações foram diminuindo, uma vez que estava bem mais claro quem era Maria Rita e não quem era a “filha da Elis”.

968811_10151660055910336_1689817000_nSe ela permanecesse seguindo essa linha, provavelmente não haveria mais essas comparações. Acontece que, embalada por um projeto patrocinado pela Nívea e que contou com verbas da Lei de Incentivo à cultura, Maria Rita se uniu a João Marcello, seu irmão, e relembrou Elis Regina no show “Viva Elis”. Em entrevistas, disse que foi o momento certo, que se preparou muito, tanto tecnicamente quanto psicologicamente. As apresentações foram um sucesso e ela resolveu lançar o álbum e a turnê “Redescobrir”, cantando sucessos de sua mãe. Logo, as comparações voltaram, algumas pesadas, como a do cantor Jair Rodrigues – foram elas que geraram o #prontofalei de Maria Rita no Twitter.

Uma coisa que não podemos negar, desde o começo de sua carreira, é que quando Maria Rita realmente libera a voz, a lembrança de Elis fica evidente. Não é cópia. É gene. Tá lá, você vê que ela não está forçando nada. Muito pelo contrário. Sempre tive a impressão de que ela segurava um pouco o tom para não se fazer lembrar, mas durante as emoções de um show, às vezes escapava – e os fãs achavam lindo. Acontece que justamente quando as comparações e críticas estavam diminuindo, Maria Rita trouxe a Elis novamente pro palco. E se você tem a voz parecida, cantando as mesmas músicas, claro que vão falar que é imitação.

Claro que vão ter os que vão apontar o dedo na cara e dizer que ela estuda Elis e que imita a mãe de cabo a rabo. Contudo, pelo histórico de Maria Rita, logo percebemos que não há imitação e estudo algum. Realmente deve ser doloroso ver vídeos de sua mãe que morreu antes mesmo que você tivesse a oportunidade de conhecê-la. E deve ser um saco ouvir opinião de tanta gente que a conheceu muito mais do que você, a própria filha da cantora.

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Acredito que o momento para a homenagem à Elis foi inoportuno. Maria Rita poderia ter esperado um pouco mais para trazer a maior cantora do Brasil para o seu lado. A música brasileira é órfã de Elis Regina e como tal, também sente ciúme de sua imagem e de sua lembrança. Maria Rita sempre disse que o que mais odeia é quando falam que ela veio substituir Elis. “Ela é insubstituível”, e como todos os apaixonados pela Pimentinha também concordam com isso, as comparações sempre serão brutais. Mas se a cantora souber, novamente, se colocar a parte disso tudo, logo retorna seu caminho longe da sombra de sua mãe.


A expressão facial/corporal da Maria Rita cantando “Como Nossos Pais” diz tudo. É de arrepiar.
 

A própria biologia diz que todo mundo é 50% pai e 50% mãe. Logo, Maria Rita tem Elis, assim como tem César Camargo Mariano, e nunca vai conseguir fugir disso. Neste momento, ela está enfrentando tudo o que qualquer pessoa que se propõe a cantar Elis Regina sofre, tanto em karaokê como profissionalmente: um julgamento pesado. O fato é que tem que ter peito pra cantar qualquer música de Elis e receber aplausos. Isso, Maria Rita está conseguindo, independente de ter os genes ou não.

Texto por Regina Colon.

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Top 7,5: RIP Ray Manzarek

 
Semana triste para os fãs dos Doors que perderam o tecladista mais legal do rock’n’roll. Pois é, Ray Manzarek se juntou a Jim Morrison pra tocar Light My Fire em territórios celestiais ou não e faleceu no dia 20 de maio, aos 74 anos, devido a um câncer no ducto biliar. Fica, então, aquela imagem de Ray em transe debruçado sobre as teclas, uma figura carismática, sensata, o contraponto ao desequilíbrio de Morrison, mas nem por isso menos entregue à música.

A sensibilidade de Ray foi essencial para os Doors que, aliás, só foi fundado devido a um encontro casual do tecladista e do vocalista em Venice Beach, quando Jim se ajoelhou na areia para recitar Moonlight Drive, Na hora, Ray pensou: “Caralho, nós temos que montar uma banda!”. É sobre ele o nosso Top 7,5:

7. The End

6. When the music is over

5. Spanish Caravan

 4. Love me two times

3. Touch me

2. Moonlight drive

1. Light my fire

 Bônus: Close to you baby

Nessa canção é o Ray quem rasga o gogó.

 

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NTR Convida #29 Aran (AUTOBONECO)

Toda sexta-feira (toda MESMO, dessa vez é sério) o NTR traz a seção “NTR Convida”, onde músicos convidados vão ditar o som para você começar o final de semana na pegada.

Quem faz a playlist de hoje é o Aran (voz, guitarra, baixo, percussão e efeitos) da banda AUTOBONECO e dono de uma das lojas mais legais de discos e artigos culturais que já visitei na vida: a Extinção Discos, em Bauru (SP). E foi em terras bauruenses que o AUTOBONECO  foi criado, em 18 de março de 1993. O grupo se autodenomina um antigrupo pós-punk de improvisação noise produzindo gravações e shows audiovisuais de forma autônoma e experimental.

537779_462098100523335_1680840249_nDo som às artes visuais, eles já lançaram até hoje dezenas de fitas K7s, videos, zines e 13 CDs. O mais recente, “SUIZIDIO NARCISISTA” levou o AUTOBONECO para sua primeira excursão fora do país, com quatro shows na grande Buenos Aires em dezembro de 2011. O AUTOBONECO seguiu em 2012 a turnê SUIZIDIO LATINO, de improvisação sensorial com video projeção em todos os shows. Continua em 2013 com novos lançamentos e shows diferentes. A banda de garagem ao vivo é essencialmente AR (voz, guitarra, baixo, percussão, efeitos), AM (baixo, voz, guitarra), HA (bateria, percussão), RG (guitarra, efeitos), com participações e omissões eventuais.

As músicas escolhidas pelo Aran estão no player acima. É só clicar para ouvir todas na sequência.

A playlist:

1) Not Only Bones –  I’m an empty dream’s keeper/Dark radio
“Na minha coleção de K7 culture (1984), saiu agora em LP. Timbre/clima, triste/simples. Underground da Grécia, duo.”

2) Whitehouse – Dumping  the fucking rubish
“Banda classicamente equivocada com sons certeiros. Leia as letras rsrs”

3) Black Future – Eu sou o rio
“Macumba pós-punk, anos 80 freakstyle; o Rio de Janeiro continua sendo.”

4) Trost – Ducky
“É a Annika, do Cobra Killer, solo soft. Olhos tortos mais lindos.”

5) AUTOBONECO – Less love, more care
“Meu hit favorito de 2012. Autopromoção, amor-próprio, etc.”

182668_469371089796036_1047964242_nMais AUTOBONECO:
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Georgia on my mind, a origem

 

De acordo com a última contagem feita na Georgia, cerca de 28% da população do estado é composta por negros – a maioria, 62%, é de brancos. Há 225 anos, quando passou a fazer parte da união (2 de janeiro de 1788), se tornando o quarto estado norte-americano, a proporção era bem diferente. Na época, sua área era bem maior, contendo terras que hoje formam Mississipi e Alabama. A principal atividade econômica era o cultivo de algodão, o que motivou a chegada de escravos – e do racismo.

A Georgia estava entre os 11 estados agrários e sulistas que, em 1861, fundaram a Confederação, unidade política de oposição ao governo abolicionista de Abraham Lincoln e que mais tarde seria derrotada na Guerra Civil Americana. O sistema escravocrata cairia, mas não o racismo, muito embora boa parte dos negros tenha migrado para trabalhar nas indústrias do norte após o fim do conflito, enquanto brancos se mudavam de bairro nas cidades da Georgia (especialmente na capital Atlanta), isolando o restante dos negros.

Charles

Ray Charles é aplaudido ao ser homenageado na Assembleia Geral estadual

Foi nesse panorama, pobre e segregacionista, que cresceu Ray Charles, em Albany. As coisas não haviam mudado muito em 1961, quando ele criou polêmica ao se recusar a se apresentar para um público segregado. A cena é retratada no filme Ray, de 2004, com Jamie Foxx – usando de uma “licença dramática”, o episódio é supervalorizado. Ray Charles foi proibido de se apresentar no estado. A história – e o governo estadual – trataram de compensar o ocorrido.

“Georgia on my mind” teve sua melodia composta por Hoagy Carmichael e a letra por Stuart Gorrell, mas foi a versão de Ray Charles que ficou mundialmente famosa. Em 1979, 21 anos depois de ter sido “banido” de seu estado natal, ele apresentou a canção na Assembleia Geral estadual. Meses mais tarde, a própria Assembleia fez de “Georgia On My Mind” o hino estadual. Ray Charles, um negro que um dia se levantou contra o racismo, ficou eternizado em sua terra natal. E com uma velha e doce canção.

 
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Cool covers: American Boy

 

Estelle feat. Kanye West – American Boy

“American Boy” é o maior hit da carreira de Estelle, cantora britânica nascida em Londres, filha de mãe senegalesa e pai granadino. A influência caribenha e o reggae dominaram sua formação musical até ser apresentada ao hip hop por um de seus tios. Lançou 18th Day, seu primeiro álbum, em 2004. O sucesso veio com American Boy, de Shine (2008). A música conta com participação do rapper Kanye West e foi produzida por will.i.am, do Black Eyed Peas.

O álbum é todo construído nesta fórmula: rappers convidados e produtores de renome. Estelle, no entanto, não usa batida ao estilo “balada” – tecno, house, etc. Toques de dub, reggae e R’nB se mesclam ao hip hop sem firulas e à bela e melodiosa voz da cantora.

“American Boy”, que atingiu o topo das paradas na Grã-Bretanha, Estados Unidos e muitos outros países, é uma música extremamente simples, com base de hip hop e alguns sintetizadores marcando o refrão. Na versão do VersaEmerge, a vocalista Sierra Kusterbeck vai direto ao ponto – começa já na parte cantada por Estelle, ignorando as rimas. O mais legal é que continua contagiante e, principalmente, dançante.

VersaEmerge – American Boy

Os franceses do Cocoon também gravaram American Boy, em uma versão um pouco diferente, mais linear.

Cocoon – American Boy

 
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NTR Convida #28 Cadu Fernandes (MultiLadoS)

Toda sexta-feira (toda MESMO, dessa vez é sério) o NTR traz a seção “NTR Convida”, onde músicos convidados vão ditar o som para você começar o final de semana na pegada.

Quem faz a playlist de hoje é Cadu Fernandes, baterista da Banda MultiLadoS, publicitário e caipira convicto. Apesar de morar em Campinas e ter morado em São Paulo, nunca deixou de viver Santa Cruz das Palmeiras, Piracicaba e outras cidades do interior, onde busca elementos como referência para o seu som.

469680_147137755410512_1561887451_oCadu se tornou membro da MultiLadoS há 2 anos, pelo convite do amigo e líder da banda Daniel Perondi. A banda esteve recentemente no programa “Esquenta”, da Regina Casé, mostrando um pouco do seu “experimentalismo caipira”. MultiLadoS é um projeto audiovisual que começou no ano de 2002 em Pirassununga, no interior de São Paulo. Baseado na estética do plágio de Tom Zé e no “faça você mesmo” do punk rock, a primeira demo tem quatro músicas que misturam rock, funk carioca, tango e martelos.

A música “Tango entre Vizinhos” foi selecionada para o quadro Sonora MTV como uma das promessas da cena musical naquele momento. Em 2005 gravam o EP “Marchando A gente Pira”, que virou um bloco de carnaval em 2006 e o destaque foi o clipe de “Iraque Brasileiro”. Em 2008, a banda homenageou a cidade de Piracicaba com o personagem “Piracicamano”, que simboliza o novo caipira, que está plugado, tem conhecimento, fala vários idiomas e está longe da figura do Jeca Tatu tradicional. O clipe de “Piracicamano na Moda” teve boa repercussão com o público. As músicas foram produzidas em parceria com o piracicabano Nhô Vixxx.

Em 2012 MultiLadoS lançou seu novo EP, “Os filhos do lixo Rádio Televisivo”, que fala com bastante humor e senso crítico da influência dos meios de comunicação sobre essa caipirarada.

As músicas escolhidas pelo Cadu estão no player acima. É só clicar para ouvir todas na sequência.

A playlist:
Cadu: “Pelo que acompanho no NTR, essa é a primeira playlist 100% brazuca. Espero que isso não soe bairrista ou coisa assim. É apenas uma opção ou talvez, falta dela. Cresci longe das influências estrangeiras e fui bombardeado por referências brejeiras das modas de viola ou música popular. Apesar de hoje escutar um pouco de tudo, separei alguns albuns que julgo ser boas referências pra quem aprecia a atmosfera que a música popular é capaz de criar.”

1) Junio Barreto – Qualé Mago?
“Se por acaso você acordar bem cedo num sábado ensolarado e estiver afim de sair sem rumo, pegue a estrada curtindo esse álbum. Com certeza é a companhia perfeita para a ocasião. Esse é o primeiro álbum do Junio Barreto, lançado em 2004, é muito inspirado e cheio de efeitos. Uma viagem sonora.”

2) Móveis Coloniais de Acaju – O Tempo
“Hoje, com certeza, a mais influente das bandas da cena independente. Sou absolutamente fã dos caras e, na minha opinião, é a melhor banda que surgiu nos últimos tempos. Voz impecável, metais, ritmo e uma mistura fantástica. Uma carga de positividade que é capaz de acabar com qualquer vibe ruim. Levou o pé na bunda? Perdeu o emprego? A galera bonita da GVT não recupera o sinal da sua TV? Não tem problema, Ouça esse álbum que você vai se sentir muito melhor.”

 3) Maquinaíma – Filhos de Gdansk
“O último álbum solo de Alexandre Nero – Vendo amor em suas mais Variadas Formas, Tamanhos e Posições; é excelente: romântico, sensual e inspirado, mas não supera o projeto Maquinaíma. As músicas desse álbum são marcantes, cheias de ritmo e com uma conotação quase folclórica. Leva esse nome pela referência a Macunaíma – o grande “herói” da literatura brasileira, numa versão sampleada. As músicas, em sua maioria, falam sobre o candomblé, orixás e ao Brasil em sua essência negra. Esse é um álbum de celebração. A trilha é perfeita para reunião com amigos, churrascos, ou para curtir bem alto enquanto se aventura pela arte da gastronomia, sendo fazendo uma feijoada, ou mesmo fritando um ovo.”

4) Rolando Boldrin – Vide-vida Marvada
“Ando ouvindo bastante Rolando Boldrin e gosto muito desse álbum. Bom, o simpático Rolando Boldrin dispensa comentários. Músico, ator, apresentador, referência da cultura caipira, o melhor contador de “causos” e um artista sensível. Gosto muito da forma como ele fala sobre coisas profundas de uma forma simples, clara e bem humorada. Não sabe o que ouvir? Ouça esse disco! Com certeza vai ouvir algo que vai te fazer refletir um pouco. Essa é a trilha sonora de muitas prosas com o meu pai, regado a café às 5 horas da manhã. Hora que o galo canta lá na roça, de onde venho.”

5) Lenine – Todas Elas Juntas Num Só Ser
“Um gênio Pernambucano. Um dos artistas brasileiros mais respeitados na cena musical internacional. O leão coroado com seu violão sujo e swingado é companhia para todas as ocasiões. Sou fã de verdade desse cara! Um artista completo e uma pessoa adorável e gentil. O álbum perfeito para ocasiões especiais, ou se preferir, o álbum capaz de tornar qualquer ocasião, um acontecimento especial.”

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Cool Covers: Prototype

 
Os australianos do Tame Impala participaram de um programa de rádio em sua terra natal e fizeram ao vivo um cover inusitado de… Outkast! Pra quem não sabe, a dupla americana formada por Andre 3000 e Big Boi fez muito mais do que “Hey Ya!” (de 2003), incluindo a música que ganhou uma versão mais acústica e roqueira com o Kevin Parker e sua turma – e bem psicodélica e viajandona, como é o jeito da banda.

Kevin deixa de lado o vocal “John Lennon” para fazer uma voz tão aguda que, por vezes, acaba desafinada. Mas o cover ficou muito bom mesmo assim – e ainda conta com os belos vocais de Nick Albrook (o baixista, que canta bem, apesar de não soltar a voz no Tame Impala; e tem uma outra banda chamada Pond, onde canta e toca guitarra com mais 2 caras do grupo “maior”). Bem legal:

O programa de rádio que aparece no vídeo se chama “Like A Version” e é veiculado pela estação de rádio australiana Triple J, que parece ser bem grande no país. Acho engraçado o locutor do programa se espantando com a escolha do cover e brincando com os caras da banda, dizendo que é “uma música para fazer bebês” – sim, amigos, é uma fuck music romântica.

A versão original de “Prototype” faz parte do famoso álbum duplo do Outkast, “Speakerboxxx/The Love Below”, que também tem o hit “Hey Ya!”.

“Prototype” está no disco 2, The Love Below, do Andre 3000. E tem esse clipe aí, “mó brisa”, com extraterrestres descobrindo o amor.

 

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Adeus, Peu da Pitty

 

A música acima, instrumentalmente, simboliza muito do estilo de Peu Sousa, guitarrista encontrado morto na manhã desta segunda-feira em seu apartamento em Salvador. “Vício”, da banda Nove Mil Anjos, tem levada extremamente melódica, com acordes misturados a frases curtas, diretas. O timbre tem um pequeno drive, provavelmente causado por um amplificador valvulado ou simulador. Lembra John Frusciante. É uma das provas do talento que lamentavelmente se foi em um suicídio praticamente confirmado pela Polícia.

Peu de Sousa nasceu em 22 de julho de 1977, em Salvador. Aos dois anos, foi adotado por Luiz Galvão, membro dos Novos Baianos. Não se sabe o tipo de influência que isso causou em sua formação. A adoção aconteceu na época do fim da banda, após o lançamento do álbum “Farol da Barra” (1978). O auge veio antes, com clássicos como “Acabou Chorare” (1972). Peu, portanto, não viveu a época do “Sítio do Vovô”, do pseudo-anarquismo em plena ditadura militar.

O guitarrista só iria tocar com seu padrasto depois dos 20 anos, já músico formado, acompanhado-o na turnê “Galvão com a Palavra” para dividir palco com nomes como Luiz Melodia, Morais Moreira e Jorge Mautner, entre outros. Antes, fez parte da banda de Carlinhos Brown, mas também trabalhou com  Marisa Monte, Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Ivete Sangalo, entre outros. Apesar do ecletismo, bem ao estilo Novos Baianos, Peu sempre foi roqueiro.

Sua primeira banda de grande relevância foi a Dois Sapos e Meio, que sem presença na mídia movimentava a cena roqueira baiana. Em 2002, ele gravaria seu maior sucesso com a cantora Pitty. “Admirável Chip Novo” (lançado em 2003) estourou com hits como “Equalize”, que instrumentalmente tem assinatura do guitarrista: construções em cima de acordes, riffs valvulados e peso no refrão. Foram seis singles lançados, com outras duas músicas fazendo parte de trilhas sonoras de novelas.

peusousa-materiaNa grande imprensa, Peu foi identificado como “ex-guitarrista da Pitty” na maioria das manchetes sobre sua morte. Sem dúvida esse foi seu trabalho mais relevante; e foi por isso que, quando deixou a banda, em 2005, a notícia foi recebida com tamanha surpresa. De repente, Pitty perdeu um guitarrista de fortíssima presença de palco. Ela chegou a postar comunicado na internet esclarecendo: “divergências de opinião com relação a caminhos, atitudes e projetos” causaram a mudança. “Ninguém saiu na mão, ninguém brigou, ninguém expulsou ninguém”.

Eu diria que sua principal manifestação artística veio com o Nove Mil Anjos, banda formada com o baixista Champignon (ex-Charlie Brown), o baterista Junior Lima (irmão da Sandy) e o vocalista Pericles Carpigiani. Juntos, lançaram apenas um álbum, “9MA” (2008). Nele, Peu demonstra toda sua criatividade, em linhas e levadas extremamente originais, sempre com inúmeros efeitos no som, principalmente de modulação.

Por que não estourou? Difícil dizer. O single “Chuva agora” não empolgou e os vocais de Peri foram muito contestados – e com razão.

É por isso que Peu de Sousa é o “Peu da Pitty”. Parecia que estava em um caminho promissor, sempre esperando para estourar. Foi elogiado por muita gente importante da indústria musical. De acordo com Luiz Galvão, foi um dos artistas da nova geração que transportou consigo algum legado da rica história dos Novos Baianos. Tinha talento e contatos para ir muito além. Só não teve tempo.
 
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