Ouvi Butcher Babies e gostei do que vi

Comecei a ouvir Butcher Babies recentemente. Conheci a banda pelo Spotify, que a indicou baseado nas músicas que eu andava ouvindo. Vi na listagem que havia apenas um álbum. Dei o play. Até então, a única referência era a capa: uma coisa sombria, uma criança olhando para um casal adormecido na cama – provavelmente os próprios pais. Eu esperava uma faixa de introdução ao estilo abstrato, como é de costume com essas bandas, mas o que ouvi foi a primeira música: I Smell a Massacre. Gostei.

São quatro acordes até a bateria entrar com tudo, pedais duplos e um berro agudo. Na hora, me lembrou a introdução de People = Shit, do Slipknot. Será que é uma mulher berrando? A faixa avança mais um pouco, e eu entro em dúvida: parece que ouço duas mulheres alternando berros com vocais harmoniosos. Se for uma só enfiando camadas de voz na música, vou parar de ouvir, pensei. Isso faria da banda algo muito artificial. Mas não. Eram duas vozes bem diferentes. Gostei mais.

Escutei mais umas quatro faixas, cada vez mais satisfeito com a pegada, já achando tudo muito inspirado em Pantera e Lamb of God. Não há um segundo de lirismo na voz das vocalistas. Abri o Google e digitei o nome da banda para finalmente ver o estilo, a aparência. Quase caí da cadeira. Encontrei duas modelos seminuas, corpos esculturais segurando microfones com facas e serras-elétricas acopladas, à frente de uma banda de homens maquiados para um filme de terror, estilo Rob Zombie.

butcher

Heidi (à esq.) e Carla

Foi importante ouvir a banda antes de vê-la porque, para a maioria das pessoas, ocorre o contrário. Ouvi Butcher Babies e gostei do que vi é um comentário maldoso muito difundido nos sites de heavy metal, que ironizam a qualidade da banda e creditam a atenção ganha – que nem é tão grande assim – à aparência e ousadia da morena Carla Harvey, escritora e ex- repórter da Playboy TV; e de Heidi Shepperd, hoje de cabelos vermelhos, radialista e modelo. As duas são espetacularmente lindas. Mas e daí?

A princípio, as duas encarnavam o que chamavam de sluty metal. Inspiradas em Wendy O. Willians, vocalista e líder da banda Plasmatics, elas se apresentavam de topless, com esparadrapos cobrindo os mamilos. Quase sempre são essas fotos que aparecem em matérias e resenhas. Wendy, que se matou em 1998, fazia esse tipo de coisa – inclusive com berros nas músicas – no começo dos anos 80. Era uma transgressora. E tinha, também, um corpaço. Não é difícil relacionar os dois casos. O nome Butcher Babies vem de um EP Solo gravado por Wendy em 1980, chamado Butcher Baby. Hoje em dia elas não usam mais esse visual.

Wendy O. Williams

Wendy O. Williams

É complicado tentar entender porque a banda atrai tanta crítica. O som é bem feito, coerente. Não há indícios de que os vocais sejam artificiais. Faltam vídeos oficiais da banda a não ser clipes, mas há alguns shows gravados de forma amadora no Youtube, e as duas seguram a bronca no mínimo satisfatoriamente. Tudo recai, então, no visual, que é obviamente explorado pela banda na figura das vocalistas. Sobram comentários dizendo que as duas não precisariam colocar os peitos de fora para fazer sucesso. Mas por que elas não podem fazer isso? O assunto, é claro, envolve machismo.

A discussão é complicada, mas tem avançado no rock em geral. A presença feminina na indústria da música – e, principalmente, no universo do rock – infelizmente ainda é imensamente inferior em relação à masculina, mas sobram exemplos como Joan Jett, The Donnas, Kittie, Walls of Jericho, 45 Grave, Evanescense eArch Enemy. Tem mulher fazendo som pesado para todo tipo de estilo. Que Carla e Heidi se vistam da forma como quiserem para se apresentar. Você pode não gostar do estilo, da voz, das músicas. Mas não dá para – e acho que nem teria mais como – limitar as vocalistas e o Butcher Babies apenas às aparências.

Recentemente, a banda saiu em turnê com o Down, de Phil Anselmo (vocalista do Pantera); e com o Black Label Society, de Zakk Wylde, guitarrista do Ozzy osbourne. Os dois monstros do rock não devem estar ligando mais para como elas se vestem do que para o som que fazem. Um conselho de um cara que ouviu Butcher Babies antes de ver a banda: coloque o fone de ouvido e ouça a intensidade do álbum Goliath (2013). É tão intenso quanto a beleza das vocalistas. E mais relevante do que isso tudo também.

Gwen Stefani volta com novo trabalho solo

A cantora californiana Gwen Stefani, do No Doubt, mantém uma carreira solo em paralelo às atividades da banda desde 2004. Atualmente, ela está em alta e tem aparecido bastante na mídia – Gwen é uma das apresentadoras da versão americana do The Voice e o No Doubt andava em turnê com seu último disco Push and Shove, de 2012, que marcou a volta da banda. Aproveitando a boa fase, ela soltou um single novo. É a música “Baby Don’t Lie”:

A canção é o primeiro trabalho solo de Gwen a ser lançado desde 2006. Mesmo contente com sua volta depois de um hiato de oito anos, não gostei muito da música nova, apesar de o single estar sendo aparentemente bem recebido pelos fãs. Achei sem graça e meio chatinha, muito parecida com alguns trabalhos da Rihanna, mas sem potencial para virar um grande hit. A carreira solo da Gwen sempre foi muito mais focada em pop e dance, estilos que diferem bastante da pegada do No Doubt – que também sempre teve uma forte veia pop, mas sem deixar o rock, o ska e a música jamaicana de lado. Por isso, muita gente critica bastante a carreira solo dela. Eu sou fã da Gwen, tanto no No Doubt quanto em carreira solo. Mas confesso que esperava mais dela e fiquei decepcionada.

E você? O que achou?