Na contramão do mainstream: o pop feminista de Meghan Trainor

Toda mulher já passou por isso. Infelizmente, é uma situação muito comum. Imagine a cena: você está dançando em uma festa, despreocupada, quando um cara chega puxando seu braço. A princípio você se assusta, tenta se esquivar, o cara continua puxando e te segurando com força – às vezes até te machuca. É aquela típica abordagem machista de balada que mais parece do tempo das cavernas. E, se você fala “não”, o babaca não aceita e ainda insiste! Esse tipo de assédio tira qualquer uma do sério e foi a inspiração para a cantora pop americana Meghan Trainor escrever a canção “No”, seu último hit:

A música toda é sobre um cara chato que não aceita o “não” e não deixa a garota em paz quando tudo que ela quer é dançar e se divertir. Mas a música não é um lamento: é empoderadora, é um chamado para que todas as garotas se unam, sejam mais fortes e digam o “não” com firmeza e segurança, sem medo, reagindo e se protegendo dos babacas. É um pop feminista e de protesto que pode sim trazer alento e influenciar positivamente muitas garotas – principalmente as mais jovens.

Meghan Trainor não é novata na arte do “pop de protesto feminista” – ela é autora do mega hit “All About That Bass”, que estourou no mundo inteiro em 2014 e virou um hino contra a gordofobia e os padrões de beleza insanos que levam tantas garotas a adoecerem com distúrbios alimentares e psicológicos. É pop, é grudento, é até clichê. Meghan é americana, branca e jovem. Mas quebra padrões sim e traz representatividade por ser ela mesma plus size, autora de suas próprias canções, guitarrista e reconhecidamente uma grande cantora e compositora, além das suas letras feministas. Ah, ela tem só 22 anos. E começou como uma artista independente, gravando suas músicas na raça em casa, fazendo seus próprios discos sem gravadora e ralando muito até conquistar o estrelato. Alguns de seus versos podem até soar bobinhos, mais do mesmo, um pouco rasos…mas imagine o quanto podem significar para uma garota de 15 anos – e o quanto podem abrir caminho para reflexões importantes e servir como um primeiro contato de adolescentes com o feminismo. E outra: é música pop, mensagem acessível, simples e direta, que gruda na cabeça. A intenção é essa mesmo.

Ok, você ainda pode questionar a relevância de Meghan e até mesmo a capacidade do pop como música combativa, sendo que o gênero é o mais mainstream do mundo. Mas um pop com conteúdo pode sim ser um contraponto do mainstream e trazer alguma reflexão para as massas – e até quebrar barreiras bastante significativas. Que o diga a rainha do pop, Madonna, que revolucionou o mundo com sua música nos anos 80 (não se esqueçam de todos os tabus que ela quebrou e de toda a sua influência, que é sentida até hoje na música, na moda, na liberdade sexual e de expressão e no combate à intolerância). Se as letras feministas de Meghan inspirarem uma só garota que seja, já teremos um grande avanço na nossa sociedade ainda tão machista. E ela com certeza já atingiu milhões. 😉

Confira algumas canções de Meghan Trainor e repare na letra. Separei as mais interessantes (e feministas) para vocês:

Slow dancing in a burning room, a origem

slowdancingSlow dancing in a burning room é a oitava música do álbum Continuum (2006), o terceiro na carreira de John Mayer e aquele em que ele redefiniu seu som, adicionando elementos de blues e soul music. Ela sequer foi explorada como single, mas está entre as preferidas do público e foi incluída em DVDs e outras compilações. John Mayer tocou-a nos dois shows que fez no Brasil, em 2013. Além de tudo isso, trata-se de uma belíssima metáfora.

Pintar essa incrível imagem – dançando lentamente em um cômodo em chamas – foi a forma que John Mayer encontrou para definir um relacionamento problemático que se encaminha para um fim dolorido, mas do qual os envolvidos continuam se aproveitando. O mundo está desabando ao redor e não há como escapar, mas eles seguem juntos, dançando lentamente, olhando nos olhos um do outro. A origem dessa música é também sua consequência: dor.

John primeiro avisa que a coisa é séria, não apenas mais uma briga seguida por um período de calmaria. Trata-se de um “último e profundo suspiro desse amor em que estivemos trabalhando” – a hora é essa, portanto. A explicação vem na segunda estrofe, em que mostra que não tem mais o controle da situação e que essa relação já deu alarmes falsos demais. Como na parábola do menino e do lobo, ninguém mais leva a sério o perigo, diante de tantas ameaças que se mostraram infundadas.

Ou seja, slow dancing in a burning room.

Esse quadro ruim é melhor descrito na terceira e quarta estrofes. John reconhece: eles eram tudo o que sonharam para si mesmo. E aí começam os problemas. “Eu vou tirar o máximo dessa tristeza”, diz ele, prometendo se reerguer. “E você vai ser uma vaca, porque você sabe ser assim. Você vai tentar me acertar para me machucar, então vai me deixar me sentindo mal porque não consegue entender”. Ela, portanto, não reconhece essa situação como tão grave.

Aí ele sugere: “vá chorar, vá”. E avisa: “querida, estamos dançando lentamente em um cômodo em chamas”.

A música termina com John Mayer fazendo perguntas retóricas. “Você não acha que já deveríamos saber disso? Você não acha que deveríamos ter aprendido?” Talvez. Talvez ela tenha falhado em perceber todos esses problemas. Eles certamente falharam em deixar tudo chegar a esse ponto. Mas assim é fácil falar. Com o clima que ele cria na música e essa letra, até o ouvinte se sente dançando lentamente em um cômodo em chamas.

PS. Essa arte sensacional do tumblr Scratching Colours

Slow Dancing In A Burning Room

Bom mesmo era no primeiro disco

 
Quem nunca na vida, ao discutir sobre música, se deparou com algum saudosista e ouviu alguma indigesta afirmação do tipo: “essa banda era legal, depois ficou muito pop”. Nas entrelinhas dessa, bom mesmo era naquele tempo, quando só o saudosista e uma meia dúzia de gatos pingados ouviam. Depois popularizou, tornou-se comercial demais, “puseram umas batidas”. Resumindo, pra ele “virou uma bosta”.

Acontece que que grande parte das maiores bandas da atualidade tiveram mudanças consideráveis na musicalidade ao longo da carreira. Já vi muita gente malhando bandas exatamente pelo motivo citado no primeiro parágrafo. “Ai, bom mesmo era quando o Green Day era punk”. Punk? São contra qualquer tipo de evolução ou amadurecimento que o artista possa ter. O legal pro “saudosista-musichato-meio-hype-meio-alternativo é citar a comercialização. Como se fosse ruim tudo o que é comercializado. E como se fosse um argumento válido.

O Coldplay teve uma evolução vertiginosa, hoje um monstro, uma banda de show impecável. O trabalho de hoje não é o mesmo trabalho de 2000. Progrediu, floresceu, aprendeu. Claro que ninguém vai ser bobinho o suficiente de pensar que isso aconteceu simplesmente pelo fato romântico de eles quererem um trabalho mais maduro. Não, pô! Óbvio que existe também um interesse comercial e toda a parafernália que contém o showbiz. Mas não dá pra falar que ficou pior, independente se massificou ou não.

Eu sou a favor do baião com o rock, o jazz com o dance. Pra outros, parece que o que é bom, é o imutável, o mais-do-mesmo. Ainda na faculdade, recordo de muitos estudantes de música que defendiam com unhas (bem grandes pra tocar violão) e dentes o jazz intocável, o blues puritano. E a bossa nova então? Ai de quem mexesse na queridinha. Ai de quem fizesse uma releitura um pouquinho mais ousada. Tudo bem, poucas coisas contribuíram pra música no Brasil como ela fez. Mas poderíamos ter evoluído muito mais se não houvesse esse engessamento lamentável.

Basta sair do sonzinho cômodo ali para que alguém já comece a choramingar nostalgias. Ás vezes, a impressão que tenho é de que há uma certa preguiça ao tentar compreender a música, a obra, o disco. Ou seria uma certa vaidade, fugindo do que foi popularizado? Ou até uma aversão a um sistema capitalista onde é feio o artista pensar no dinheiro? Mil possibilidades.

Mas sempre vai ter um desse na rodinha do violão, contribuindo para a estagnação.

Gu Sobral é Ilustrador e Diretor de Arte, canta blues na Mr. Brown e 90’s na The Sexy Lobster. Já é velho conhecido aqui no NTR.

 
 
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The Avett Brothers | The Carpenter

 

The Avett Brothers, The Carpenter

Universal Republic / 11 de setembro de 2012 / Folk, Rock, Pop
The Avett Brothers - The Carpenter

Faixas:
1. The Once and Future Carpenter
2. Live And Die
3. Winter in My Heart
4. Pretty Girl from Michigan
5. I Never Knew You
6. February Seven
7. Through My Prayers
8. Down With the Shine
9. A Father’s First Spring
10. Geraldine
11. Paul Newman vs. The Demons
12. Life

 

4,0/5

“É como se jovens Beatles, nascidos na Carolina do Norte, formassem uma banda de Folk Rock inspirados pela genialidade de Bob Dylan e com a energia dos Ramones.”

É pra quem gosta de:

Bob Dylan – Mumford And Sons – The Beatles

Tem que ouvir:

Live and Die – Pretty Girl From Michigan – Down With the Shine

Pode pular:

Through My Prayers – Geraldine

 

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Batalha de shows: Maroon 5 vs. Dream Theater

Começando os trabalhos na seção “Batalha de Shows” (calma, ninguém vai brigar aqui) do NTR, dois tipos de música, aparelhagem, público e banda muito – mas muito – diferentes: Dream Theater e Maroon 5.

Ambas se apresentaram no último domingo, 26, em São Paulo, e é sobre estes shows que iremos falar, fazendo leves comparações sobre alguns fatores. Fique ligado, tá tudo ali embaixo.

Top 7,5: Versões de Michael Jackson

 

Hoje, dia 25/6/12, faz exatos 3 anos da morte de Michael Jackson.
Ídolo incontestável de mais de uma geração, o Rei do Pop teve
inúmeras versões de todos os seus sucessos tocados por famosos e
anônimos. A lista abaixo, como manda o nosso “Top 7,5”, traz as
7 melhores versões, covers, interpretações (chame do que quiser)
e mais um bônus. Se você conhece outra versão muito boa, deixe
nos comentários, nos envie um tweet ou uma mensagem em nossa
fanpage.

 

7. You rock my world – JB Craipeau

 

 

6. The way you make me feel – Bruno Mars

 

 

5. Smooth Criminal – 2Cellos


Essa versão foi gravada especialmente para a série Glee.

 

4. I want you back – KT Tunstall

 

 

3. Bad (Fat) – Weird Al Yankovic


Yankovic é famoso por fazer paródias de vários artistas, “Fat” é um dos seus sucessos.

 

2. Billie Jean – Jazz All Stars


Marcus Miller, Bluey Maunick,  Billy Cobham, Enrico Rava e Stefano Bollani. Só gente ruim.

 

1. Remember the time – Duwende’s


Peço para que entrem no canal desse grupo. Parece que gostam pouco de Michael Jackson.

 

1/2. Thriller – Golimar


Golimar é genial e a Índia vai dominar o mundo da cultura pop. Em breve.

 
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