Cinco motivos para Rodolfo Abrantes voltar para o Raimundos – e um para não voltar
A saga de “Puteiro em João Pessoa”, o sufoco de “Eu Quero Ver o Oco”, a sujeira de “Andar na Pedra” e os arrotos de “Só no Forevis” – junto com a poesia de “Mulher de Fases” – arrebataram a geração roqueira dos anos 90, uma molecada que se inspirava pela atitude dos caras que cantavam rápido em português, falando besteira, usando dread lock e assumindo o lado louco.
Toda banda muda, no entanto – essa é uma verdade necessária para a evolução dos músicos. Então, é de se pensar: não seria legal ver Rodolfo Abrantes voltar ao Raimundos, mesmo que sem saga, sufoco, sujeira e arrotos – quem sabe pelo menos poesia – de antes? Vamos lá, já se passaram onze anos desde que ele deixou o grupo, em 2001. Será que vale?
1. Reconciliação
Faz parte da fé cristã perdoar e ser perdoado, e eu duvido que seja diferente na Bola de Neve Church, Igreja protestante neopentecostal à qual Rodolfo Abrantes é ligado. Não há dúvida de que existe mágoa entre ele e os atuais integrantes do Raimundos, apesar de terem postado foto juntos recentemente, em encontro em um aeroporto. Está na hora de exercitar um dos maiores dons que Deus deu ao homem: perdoar. Não acham? Grandes amigos desde sempre, Rodolfo, Canisso, Fred e Digão merecem um final feliz.
2. Repertório
A temática de loucura, das drogas, da porra-louquice e da sexualização que ajudou o Raimundos poderia servir de empecilho para a volta do convertido Rodolfo Abrantes. Mas a banda tem muitas músicas que vão além da putaria e da sacanagem. Com a volta do vocalista, o grupo poderia enveredar pela temática social e política. “Baile Funky”, “Deixa eu Falar” e até “Reggae do Manêro” são canções assim. E, pô, falar palavrão não é pecado.
3. Fãs
Eles continuam malucos, seja no festival SWU ou nas festas universitárias da USP. E aposto que seguem carinhosos, à espera dessa reconciliação e do retorno daquela banda que marcou a adolescência. Quando o Raimundos surgiu, no início da década de 1990, não havia banda de rock no Brasil com tamanha identidade – misturando baião e rock, com letras gritadas à velocidade da luz e riffs poderosos. Ah, como os fãs sentem saudades dessa banda…
4. Lema e História
Está na música “Marujo”, gravada no primeiro álbum, Raimundos (1994) , uma frase que tem sido usada como lema da banda por fãs e até pelos músicos: “é por isso que o Raimundos nunca vai se acabar”. Digão continua exaltando essa espécie de promessa como vocalista, mas não vejo motivo para Rodolfo Abrantes não se lembrar do verso também. Essa frase honra a história da banda. Seria legal Rodolfo fazer isso também.
5. Mercado
Não tenho dúvida de que haveria muito interesse na volta de Rodolfo ao Raimundos – interesse de mercado, mais especificamente, ainda que isso esteja muito aquém do que qualquer membro ou ex-membro da banda já tenha comentado. Com certeza, eles ganhariam muito dinheiro. Mas há também o fator do desafio – refazer uma das maiores bandas da história do rock brasileiro – e da relevância disso para a carreira de cada um. Vale a pena ou não vale?
Mas…
Rodolfo morreu
“O Rodolfo do Raimundos morreu”, disse Abrantes, em declaração à revista Rolling Stone em outubro de 2011. A entrevista também tem frases como “não voltaria por valor algum” e “parecia que eu era aquilo (“Rodolfo do Raimundos”). Só que eu não era aquilo. Tinha me tornado aquilo”. Oras, então a questão está resolvida. Não volte Rodolfo, ou quem quer que seja agora.