O fenômeno da Exaltarepetição

Desde a primeira música do primeiro CD até a última gravada em um DVD em São Paulo, 25 anos depois, o Exaltasamba fez uso de uma fórmula musical específica: terminar as canções da mesma forma como começou – seja por uma frase, uma palavra, uma estrofe ou só uma vocalização. Essa característica esteve presente em quase todos os álbuns da banda, especialmente na reta final, quando o grupo fez menos inéditas, lançou mais sucessos e registrou diversos álbuns ao vivo. Pode ser que os Exaltamaníacos não tenham percebido, mas a Exaltarepetição é um fenômeno consolidado.

No DVD de comemoração gravado em 2010, por exemplo, oito das 20 músicas começam e terminam com as mesmas palavras. No DVD anterior, Ao vivo na Ilha da Magia (2009), são outras oito em meio às 22 do álbum. Para entender melhor como a banda fez uso dessa fórmula, o Não Toco Raul analisou a carreira discográfica do Exaltasamba, chegando à conclusão: 21% das canções do grupo começam e terminam com o mesmo verso/frase/palavra/vocalização.

Ao todo, foram analisadas 237 músicas presentes em 15 álbuns, dentre as quais 50 apresentam tal característica. O último sucesso, “Tá vendo aquela lua”, é um bom exemplo: “Te filmando tava quieto no meu canto” é o primeiro e último verso. É claro que essa tática não é exclusividade do Exaltasamba – em 2001, Cássia Eller gravou o Acústico MTV com o marcante verso “Quem sabe eu ainda sou uma garotinha”, que abre e fecha o hit “Malandragem”, por exemplo.

O Exaltasamba faz uso dessa tática em todas as fases, mas muito menos nos primeiros álbuns. Há uma explicação para isso: os primeiros sete CDs foram gravados em estúdio, e a grande maioria das músicas termina com fade out (quando a canção vai perdendo volume até seu final). Na verdade, 100 das 237 músicas analisadas terminam em fade out, totalizando 42,1% da obra da banda. O primeiro ao vivo só veio em 2002, ainda com Chrigor nos vocais.

Aliás, como tinha classe o Exaltasamba nessa época: era tempo de sucessos como “Cartão Postal”, “Me apaixonei pela pessoa errada” e “Megastar”. Chrigor saiu ainda em 2002, com depressão após a morte do pai. No mesmo ano, Thiaguinho participou do reality show “Fama”, da Rede Globo, e apesar de não vencer chamou a atenção. Em 2003 ele entrou para o Exalta para dividir os vocais com Péricles. “Estrela” foi sua primeira composição gravada – ela começa e termina com a palavra-título. As músicas ficaram mais jovens, mais sacanas e quentes, e o Exaltasamba alcançou o auge assim.

Em junho de 2011, o grupo anunciou recesso por tempo indeterminado, e agora Thiaguinho e Péricles seguem carreira solo. Os 25 anos de carreira e os inúmeros sucessos ficarão marcados para sempre na música brasileira. E para os fãs, fica a fórmula musical: se você sabe como começa, há boas chances de saber como termina a canção; e vice-versa.

Para entender os critérios

Foram analisados os álbuns: Eterno amanhecer (1992); Encanto (1994); Luz do Desejo (1996); Desliga e vem (1997); Cartão Postal (1998); Mais uma vez (2000); Bons Momentos (2001); Ao vivo (2002); Alegrando a massa (2003); Esquema novo (2005); Todos os sambas ao vivo (2006); Pagode do Exalta (2007); Ao vivo na Ilha da Magia (2009); Roda de Samba do Exalta (2010); e 25 anos ao vivo (2010). Os álbuns Livre pra voar (2007) e Tá vendo aquela lua (2011) não foram computados por não terem unidade entre as músicas apresentadas – são coletâneas que contêm inclusive versões já presentes em outros CDs.

Vocalizações, muito constantes no samba, foram consideradas na contagem por fazerem parte efetivamente da letra e, tantas vezes, serem inclusive a parte mais marcante. Músicas que fazem parte de pout-pourris entraram na contagem – afinal de contas, é relevante o fato de a banda, apesar de emendar diversas canções, manter o final igual ao início da música referente. Canções que aparecem em mais de um álbum também foram computadas, já que foi opção do Exaltasamba manter a estrutura nas diferentes gravações.

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