Metallica: perdemos uma grande chance
Estávamos no meio Carnaval, a maioria na folia ou de folga, então talvez nem tenhamos percebido, mas encerrou-se o prazo para escolher as músicas do show que o Metallica vai fazer em São Paulo, no próximo dia 22. Todos que compraram ingresso para o evento no Morumbi, chamado Metallica by Request, puderam usar o código recebido na operação para acessar um site e votar em 17 das 18 que vão compor o setlist – uma delas será inédita. A conclusão disso é que perdemos uma grande oportunidade. A América Latina, no geral, perdeu.
Perdemos a chance de ver um show do Metallica como nunca seria possível. Como a banda corajosamente abriu a votação todas as músicas já gravadas, poderíamos ter escolhido uma apresentação com pelo menos alguns “lados Bs”, talvez as bem antigas, as desconhecidas pelo grande público, as boas músicas novas. Por quê não? Em vez disso, acabamos formando um setlist relativamente dentro do padrão, com grandes sucessos, ainda que baseado nos primeiros álbuns da banda. Será assim no Brasil, mas também em Bogotá (16 de março), Quito (18), Assunção (24), Santiago (26) e Buenos Aires (29 e 30). Lima (20) é a exceção.
Em todos os países, a música mais votada foi Master of Puppets – em Quito, onde teve a maior parcela de votos, alcançou 78%. Além dela, estarão em todos os shows as músicas Enter Sadman, Seek and Destroy, Fade to Black, The Unforgiven, Battery, Creeping Death, …And Fustice For All, Welcome Home (Sanitarium) e Ride the Lightning. É um baita setlist, e talvez seja essa a explicação para a homogeneidade da votação na América Latina: em um continente onde ainda é relativamente raro ver o Metallica, os fãs querem o melhor do melhor, os sucessos e os clássicos.
Basta olhar o exemplo da Argentina, a única a receber dois shows, e entre eles apenas uma música varia: Blackened dá lugar a Orion da primeira para a segunda noite. One foi a segunda música mais votada em todos os países, exceto na Colômbia, onde surpreendentemente sequer foi incluída no repertório – isso porque One foi o primeiro videoclipe feito pelo Metallica. Além de Blackened e Orion, outras músicas que aparecem em algumas listas são Whiplash e Fuel, a mais recente de todas, do álbum ReLoad, de 1998. Ao todo, a banda colocou mais de 200 músicas para votação. A América Latina reduziu tudo a 23 delas.
Brasileiros e argentinos foram os únicos a escolher uma música que não é do Metallica: Whiskey In The Jar, canção folclórica irlandesa. Os brasileiros elegeram uma canção que ninguém mais quis: Wherever May I Roam. Nada disso se compara, no entanto, ao que fez o Peru. Foram eles os que melhor aproveitaram a votação, e definitivamente Lima receberá um show único.
Os peruanos abriram mão de sucessos como Nothing Else Matters, Sad But True e For Whom The Bell Tolls para incluir músicas da fase mais trash do Metallica. Serão os únicos que vão ouvir The Four Horseman (Kill ’em All, 1983), Fight Fire With Fire (Ride The Lightning, 1984) e Disposable Heroes (Master of Puppets, 1986). Eles ainda quase incluíram duas músicas do último álbum da banda, Death Magnetic (2008): All Nightmare Long e The Day That Never Comes. O Peru foi o país em que Master of Puppets teve o menor índice de votação, com 50%.
Não há explicação óbvia para esse cenário diferente. Talvez os fãs de lá sejam mais engajados com os primeiros álbuns. O que há é um caso de amor dos headbangers do país com o Metallica, banda que protagonizou o maior show da história do Peru, com 50 mil pessoas no Estádio Nacional de Lima, em 2010. Quatro anos depois, são definitivamente um ponto fora da reta sul-americana pela qual passarão James Hettfield e cia. Para o brasileiro, não há dúvida de que não restará lamento pelas músicas não escolhidas. O show será cantado do início ao fim. Vai ser, em grande medida, como nas outras vezes em que a banda esteve por aqui.