Taí, a origem

 
Nascido em Uberaba em 6 de março de 1900, Joubert de Carvalho morou em São Paulo na adolescência, em busca de estudo melhor, e depois no Rio de Janeiro, onde chegou em 1919 para estudar medicina. Em 1925, ano em que se formou, já tinha carreira sólida no cenário musical, com composições gravadas por diversos intérpretes de destaque. Em janeiro de 1930, Joubert andava pela Rua Gonçalves Dias quando foi chamado por sr. Abreu, dono da loja A Melodia, que queria lhe mostrar uma nova cantora, promessa da música brasileira. Era Carmen Miranda.

Além de loja, A Melodia era um espaço cultural que reunia cantores e compositores, uma espécie de ponto de encontro para discutir música e conhecer as novidades. Abreu tocou o disco Triste Jandaia, gravado em dezembro de 1929 (na época, os discos reuniam duas músicas, uma em cada lado do vinil). Joubert gostou tanto que pediu para repeti-lo diversas vezes e, encantado, afirmou que gostaria de conhecer a Carmen Miranda. Abreu explicou que não seria difícil, já que ela estava sempre perambulando pela loja. Nesse momento, a própria Carmen entrou pela porta, toda elegante. “Taí a nova contora”, exclamou Abreu.

Foi assim que nasceu uma das maiores marchinhas de Carnaval da história, episódio há muito difundido e confirmado na biografia “Carmen”, de Ruy Castro. Diz-se que Joubert deixou a loja com a palavra “Taí” na cabeça e, menos de 24h depois, tocou a campainha da casa de Carmen Miranda, que havia dado seu endereço em caso de uma possível parceria futura. A casa de Carmen, pobre, não tinha piano, então o compositor cantou a marchinha “Pra você gostar de mim”, e Carmen gostou.

joubert de carvalho

Joubert de Carvalho

Taí!
Eu fiz tudo pra você gostar de mim
Oh meu bem não faz assim comigo não
você tem que me dar seu coração

Inicialmente, a música não era uma marchinha carnavalesca. Era triste, amargurada, verdadeiramente um lamento. Quando Joubert tentou ensinar a Carmen como cantar a canção, ela de pronto respondeu: “não precisa me ensinar, não, que, na hora da bossa, eu entro com a boçalidade”. O comentário surpreendeu o compositor, mas Carmen era assim: totalmente desinibida, dominava gírias e falava muitos palavrões; nos futuros shows, ficaria conhecida por se apresentar ao público com um “boa noite, macacada!”.

A marchinha foi sucesso absoluto no Carnaval e alcançou o feito inédito de 35 mil discos vendidos, em uma época em que a popularização do rádio dava à indústria fonográfica sua primeira crise. Ruy Castro exibe um panorama da magnitude da vendagem: na época, o Brasil tinha 40 milhões de habitantes, 70% dos quais vivendo na zona rural; mesmo nas cidades, o número de vitrolas era extremamente pequeno. A música ajudou a consolidar a carreira de Carmen, e essa era ainda a fase pré-baiana, com balangandãs e cestas de fruta na cabeça. Essa – o auge e a vida nos Estados Unidos – só aconteceria em 1940.

 
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