Não tenha vergonha de ouvir The Pretty Reckless
Algumas bandas despertam um tipo de bullying imediato. É só admitir que gosta para ser zoado. Aquele papo de “guilty pleasure”, sabe? The Pretty Reckless, dos EUA, é um bom exemplo disso. Apesar de pouca gente conhecer o grupo, a reação é sempre a mesma: é só começar a explicar que é a banda da Taylor Momsen, aquela loirinha que fez a Jenny Humphfrey no seriado Gossip Girl, que as pessoas imediatamente passam a achar péssimo! Mas não é bem assim. A banda é realmente muito boa e a Taylor sabe cantar de verdade. Tudo bem que existe muita imagem, grana, marketing, produção, pose e a malandragem de usar a fama que conquistou na TV a seu favor. Mas isso tudo não anula seu talento musical.
O Pretty Reckless foi montado em 2009, quando a Taylor tinha só 16 anos e estava cansada de atuar. Ela começou como modelo e atriz aos 2 anos de idade. Além de ter participado de Gossip Girl, ela aparece no filme “O Grinch”, em um monte de comercial dos EUA e quase foi a protagonista da série Hannah Montana, da Disney (justamente porque sabia cantar). Mas perdeu o papel nas seletivas finais pra Miley Cirus (!).
Taylor compõe suas próprias canções e sabe tocar violão e guitarra. Quando apareceu a oportunidade de gravar um disco, a coisa deu certo porque ela arrumou um produtor e músicos MUITO bons, que não tentaram fazer tudo soar pop demais. Todas as canções do Pretty Reckless são assinadas por ela, pelo guitarrista Ben Phillips e pelo produtor Kato Khandwala (que já trabalhou com bandas como Blondie, Paramore e Breaking Benjamin).
Juntando tudo isso ao auge da fama de Momsen, principalmente entre o público adolescente e jovem, deu no que deu: hoje a banda já tem dois EPs e um álbum lançados, já tocou em todos os grandes festivais de música dos EUA e da Europa e fez extensas turnês pelo mundo todo, tendo dividido o palco com o Paramore, o Evanescence, o Marilyn Manson, a Kesha e o Guns’n’Roses (!). Um dos maiores sucessos do grupo, “Make Me Wanna Die”, fez parte da trilha sonora do filme Kick-Ass e de um desfile da grife Victoria’s Secret. A banda também compôs “Only You” para a trilha sonora do filme Frankenweenie, do Tim Burton. Eles vieram tocar no Brasil em agosto de 2012, passando por Curitiba, Rio e São Paulo. Hoje, estão preparando um novo álbum e acabaram de lançar um single muito bom chamado “Kill Me”.
Assisti ao show deles em São Paulo, no HSBC Brasil (antigo Tom Brasil). Os ingressos esgotaram semanas antes do evento e, no dia, a casa estava tão lotada que ficou difícil enxergar o palco direito. A maioria do público eram garotas adolescentes histéricas, que berravam o tempo inteiro, conversavam sem parar, tiravam zilhões de fotos e ficavam constantemente olhando pro celular ao invés do palco – típicas “roqueiras de boutique”. Tanto que, quando a banda tocou um cover de “Like a Stone” (do Audioslave), eu me senti uma tia velha porque era a única que conhecia a música e sabia cantar junto. O Pretty Reckless também fez um cover de “Seven Nation Army”, dos White Stripes, que ficou bem legal. Embora a gritaria e a tietagem tenham sido muito irritantes (em alguns momentos chegaram até cobrir o som da banda completamente!), incluindo um faniquito geral causado pela ilustre presença de Pe Lu e Koba, do Restart, o Pretty Reckless fez um show impecável, provando que são realmente bons ao vivo.
Confira os vídeos abaixo para ter uma ideia de como foi esse show:
Muitos ainda criticam a Taylor pelo seu visual, que mudou drasticamente quando ela comecou a trabalhar oficialmente como musicista. Ela usa roupas e maquiagens bem exageradas, misturando glam, gótico, grunge e punk com plataformas maiores do que as das Spice Girls e tanto lápis de olho que poderia ser confundida com um urso panda. Esse visual se alia a uma exploração também exagerada da sua sensualidade: ela aparece no palco só de lingerie ou com figurinos minúsculos enquanto faz mil poses, dancinhas, caras e bocas. Sem contar os videoclipes, onde surge fazendo tudo isso e ainda fuma, bebe e insinua o uso de drogas. Como a Taylor ainda é muito jovem, isso gera muitas críticas. E, realmente, essa pose toda acaba sim parecendo muita forçação de barra e apelação. Os clipes de “Miss Nothing” e “My Medicine” (minha preferida da banda) são exemplos perfeitos disso:
Mas nem assim o talento musical de Taylor e sua banda são anulados. As canções são boas, as letras têm inteligência e a produção e os músicos são impecáveis. Por isso, meu amigo, não se acanhe! Pode ouvir Pretty Reckless. E pode admitir que achou legal. Sem vergonha!