Azul da cor do mar, a origem
Tim Maia estava na merda em 1969. Morava de favor no Rio de Janeiro, dormia em um sofá desconfortável apelidado de “dromedário”, sem dinheiro ou companhia amorosa. Vinha de dois fiascos na tentativa de gravar um compacto de sucesso em São Paulo, um pela CBS e outro pela RGE; nenhuma delas soube mixar o soul pesado do cantor, e o trabalho acabou ignorado pela crítica e pelo público. Voltou ao Rio para uma terceira tentativa, agora pela Polydor, e contou com a ajuda de dois amigos, responsáveis indiretos por um “sonho azul da cor do mar”.
O cantor paraguaio Fábio (que na verdade se chamava Juan Senon Rolón) e seu empresário Glauco Timóteo hospedaram Tim Maia em Botafogo. Os dois viviam bem, faziam muitos shows – Fábio aproveitava o sucesso de “Stella” – e viviam cercados de menininhas, com as quais Tim Maia sonhava em matar a solidão. “Azul da cor do mar”, um dos maiores sucessos do cantor, surgiu a partir desse cenário: com Tim tentando sem sucesso levar a carreira adiante, enquanto os amigos já colhiam os frutos.
Tim Maia havia tentado acompanhar os sucessos dos amigos cantores na adolescência – entre eles estavam Roberto Carlos, Eramos Carlos e Jorge Benjor; morou nos Estados Unidos, onde foi preso várias vezes até ser deportado; foi a São Paulo tentar a sorte e chegou a passar fome e frio; e, de volta ao Rio, a vida não estava mais fácil. Estava carente, e as gravações de um novo compacto demoravam a sair em meio ao cotidiano disputado do estúdio da Polydor.
Quando Fábio e Glauco viajaram para shows em Salvador e Recife, foi um alívio para Tim Maia poder dormir em um lugar diferente do sofá “dromedário”. Testou a cama de Fábio, mas acabou deitando na de Glauco, onde chamou a atenção, colado na parede, um pôster colorido com uma morena vistosa nua em frente ao mar do Taiti. Ali, Tim compôs uma canção e registrou em um gravador portátil. Tinha uma carga emocional incrível, assim como grande parte de sua extensa obra.
Ah, se o mundo inteiro me pudesse ouvir
tenho tanto pra contar
dizer que aprendi
que na vida a gente tem que entender
que um nasce pra sofrer
enquanto o outro ri
O disco na Polydor, intitulado Tim Maia, saiu em 1970 e virou sucesso no Brasil inteiro muito por conta de “Azul da Cor do Mar”. Não foram só Fábio e Glauco que alimentaram esse sonho. Tim foi contratado pela grande gravadora sem nunca ter sido ouvido por André Midani, presidente da Phillips. Isso ocorreu por conta das indicações dos Mutantes e de Erasmo Carlos. De acordo com a biografia “Vale Tudo”, de Nelson Motta, Tim pesava 85 kg (chegaria a 142 kg em 1996). Tempos depois, passou a viver melhor, alugou um apartamento, engordou e se consolidou como um dos grandes nomes da música nacional.
Mas quem sofre sempre tem que procurar
pelo menos vir achar
razão para viver
ver na vida algum motivo pra sonhar
ter um sonho todo azul
azul da cor do mar…
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