A maioridade de “Nevermind”

 
É muito irônico que um dos discos mais importantes da história se chame “Não Importa“. Pois hoje o álbum “Nevermind“, maior sucesso do Nirvana, completa 21 anos de lançamento. E chega à maioridade sendo considerado como um clássico absoluto, divisor de águas. O disco que levou a música alternativa e independente pra televisão. Que fez jovens roqueiros mulambentos, os esquisitões da escola, de repente se tornarem os mais descolados. Que fez camisa xadrez e jeans rasgado virarem moda. Que beleza, minha gente!

Chegar aos 21 anos significa que você pode beber legalmente em qualquer país do mundo, entrar em todos os cassinos e clubes noturnos que existem. Significa que você pode festejar bebendo seus bons drink nos EUA sem ninguém te encher o saco. Significa virar adulto de vez. E, para um disco, chegar aos 21 anos e ainda se manter atual, original, interessante e atraente para os jovens de duas gerações depois não é pouca coisa. Por isso é tão irônico que “o” Nevermind se chame justamente “nevermind”. Assim como é irônico que o maior sucesso de Kurt Cobain e cia. tenha significado ao mesmo tempo o auge e a decadência do Nirvana e de seu líder – e que os mais chatonildos de plantão reclamem pro resto da vida que a música alternativa jamais deveria ser apreciada pelas massas. Fato é que, depois daquele fatídico dia 24 de setembro de 1991, o Nirvana e o rock nunca mais seriam os mesmos (assim como as rádios, a moda, a juventude e a MTV).

Apesar de o som do Nirvana não ter rendido boas expectativas comerciais, “Nevermind” ganhou disco de diamante nos EUA, vendendo mais de 11 milhões e meio de cópias só em seu país de origem. No mundo todo, foram mais de 30 milhões. Aparece em um monte de listas dos melhores discos de todos os tempos, incluindo o ranking da revista Rolling Stone e o Rock’n’Roll Hall of Fame. A música mais famosa do Nirvana, “Smells Like Teen Spirit“, foi o primeiro single desse disco e estourou bonito no mundo todo, principalmente no começinho de 1992. O sucesso foi tanto que essa canção desbancou ninguém menos que Michael Jackson (que na época estava no auge) do primeiro lugar no ranking da Billboard.

[pullquote_right]Depois daquele fatídico dia 24 de setembro de 1991, o Nirvana e o rock nunca mais seriam os mesmos (assim como as rádios, a moda, a juventude e a MTV).[/pullquote_right]

Isso sim foi um tremendo tapa na cara da sociedade, já que nem a própria gravadora do Nirvana acreditava no potencial da coisa. A Geffen Records achava que, se tudo desse muito certo, o máximo que Nevermind ia conseguir vender seriam umas 250 mil cópias, assim como o sexto disco do Sonic Youth, “Goo”, que eles tinham lançado em 1990 (e que tem a pérola “Kool Thing”). Aliás, foi por causa da Kim Gordon, baixista, vocalista e musa do Sonic Youth, que o Nirvana assinou com essa gravadora. E o “Goo” foi o primeiro disco do Sonic Youth lançado por uma grande gravadora, depois de cinco álbuns mais independentes ou de pequenos selos.

“Nevermind” ainda tem muitos outros hits, como “Come As You Are”, que até o Caetano Veloso regravou, “Lithium” e “In Bloom” – sem contar as músicas que marcaram o rock e o estilo grunge como verdadeiros clássicos, do tipo que todo moleque espinhento de 14 anos aprende nas aulinhas de violão e guitarra até hoje: “Drain You”, “Territorial Pissings”, “Polly”…e já foi quase o disco inteiro! Olha só:

Contracapa do Nevermind e setlist do álbum. Além das 12 faixas listadas, algumas cópias ainda
contavam com a faixa escondida “Endless Nameless” no fim do disco

Essa pérola foi gravada em Los Angeles, no Sound City Studios; e produzida pelo mito Butch Vig, o cara que inventou a banda Garbage, da qual era baterista; além de ter muita culpa no cartório pela qualidade e sucesso do Nevermind, além de ter produzido outros discos excelentes de outras bandas muito boas, como Subways, Smashing Pumpkins, L7, Sonic Youth, Helmet, Green Day, Muse e Foo Fighters (ele que produziu o último disco deles, “Wasting Light”, que trouxe a banda de volta pro sucesso – e é a melhor coisa que a banda fez em anos).

Spencer com dez anos, recriando a capa pela primeira vez

Até a capa do Nevermind foi um sucesso e uma ironia. O bebê mergulhando na piscina atrás de um anzol com uma nota de um dólar como isca criticava a sociedade consumista que, logo depois, foi responsável pelo sucesso do Nirvana no mundo todo – e por ter deixado Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl milionários e famosos da noite pro dia. Na época, Dave Grohl ainda era novo na banda e só tinha 22 anos! Imagina o que foi para eles três virarem celebridades ricas em tão pouco tempo. O bebê da capa, aliás, é o Spencer Elden. Na época da capa, ele tinha 4 meses e sua família fez a foto de graça. Pelo menos, alguns anos depois, o próprio Kurt Cobain presenteou o garoto com um dos discos de platina conquistados pelo Nevermind. Hoje, o Spencer tem curiosamente 21 anos – assim como o disco – e deve se sentir um pouco constrangido por mais de 30 milhões de pessoas terem uma foto sua pelado e terem visto as suas “partes”. Em 2001 e em 2008 ele refez a pose da foto clássica da capa, mas usando um calção de banho.

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What Makes You Beautiful-Eu sou Nissim Ourfali

 
Curiosamente, muitas vezes o cover é melhor do que a versão original de uma canção. No caso que vamos contar agora, isso não é diferente. A última sensação da internet no Brasil é o Nissim Ourfali, um garoto de 13 anos que fez um vídeo especial para o seu Bar Mitzvá:


 
Mas você sabia que a canção tema do Nissim é, na verdade, um cover disso?

Sim, amigos, o agora famoso Nissim Ourfali fez uma versão para a música “What Makes You Beautiful”, da boy band One Direction. Esse grupo é formado por 5 meninos que são versões britânicas do Justin Bieber. Um é irlandês (o Niall Horan) e os outros quatro são ingleses (Harry Styles, Liam Payne, Louis Tomlinson e Zayn Malik). Eles formaram o grupo (me recuso a chamar de banda, já que eles não tocam instrumentos e não compõem suas próprias músicas) depois de participarem do reality show X-Factor, uma coisa entre o Fama e o American Idol. Ultra produzidos e esteticamente bonitinhos e perfeitinhos demais (quase versões humanas do boneco Ken), obviamente fizeram muito sucesso com canções sem sal, numa levada pop inofensiva, mas muito irritante. O One Direction é tão chato que nem a minha irmãzinha de 10 anos aguenta. Sou mil vezes o Nissim!
 
Nissim Ourfali: nasce uma web celebridade
Se você estava passeando pelo mundo de Nárnia nos últimos três dias e nunca tinha ouvido falar do Nissim Ourfali ou da baleia, eu explico: o vídeo foi feito para comemorar o Bar Mitzvá do garoto, que completou 13 anos e agora é considerado um adulto responsável dentro da comunidade judaica. As meninas, por sua vez, comemoram o Bat Mitzvá quando completam 12 anos. Os jovens costumam receber uma grande festa nessa ocasião; e é uma prática comum fazer videos como esse no mundo todo. Assim como muitas garotas fazem fotos e vídeos para suas festas de 15 anos e casais apostam em retrospectivas em seus casamentos – na maioria das vezes, de gosto bastante duvidoso.

A verdade é que estes vídeos acabam parecendo muito bregas, mesmo, por mais que tenham sido feitos em uma produtora. E com o pobre Nissim não foi diferente. Além de o garoto dublar a letra (que é cantada por um vocalista super afetado), ele parece bastante desconfortável e tímido em todo o filme. Para completar, a produtora usou montagens de fotos muito toscas e forçou uma atuação precária da família e, principalmente, do garoto. O ponto alto é a imagem de Nissim de pé em cima de uma baleia orca (pensa na Free Willy ou na Shamu), quando na verdade a letra se referia à Praia da Baleia, local que o garoto frequenta com sua família, no litoral norte de São Paulo. Estava feita a piada.

 
O vídeo foi publicado no Youtube e, por algum acaso curioso, acabou sendo compartilhado compulsivamente por pessoas que sequer conhecem o garoto na última sexta-feira. O vídeo foi se espalhando durante o final de semana, recebendo cada vez mais visualizações, comentários e compartilhamentos. Apareceu no Twitter e no Facebook de todo mundo e recebeu destaque de um grande portal de humor: o “Não Salvo”. Deu no que deu: virou um meme.

Sim, a música ficou melhor do que a original. A letra é ruim, mas é muito cativante e gruda na cabeça por horas (até dias) a fio. Para vocês terem uma ideia do seu potencial pop, o vídeo do Nissim estourou há apenas 3 dias, mas um amigo meu que é DJ tocou a canção em uma festa nesse mesmo fim de semana e a pista bombou – todo mundo sabia cantar!

A essa altura do campeonato, o vídeo de Nissim foi bloqueado pela produtora responsável, a Noemy Lobel. Mas já era tarde demais: dezenas de outros usuários copiaram o vídeo e o publicaram de novo em seus perfis, tornando o acesso ao conteúdo muito fácil. É só procurar no Google ou no Youtube. E o Nissim já virou “web celebridade”: ganhou evento falso no Facebook convidando a todos para o seu Bar Mitzvá na praia da Baleia; teve seu perfil verdadeiro no site divulgado a torto e a direito; virou um monte de cartaz “Keep Calm” e montagem de foto; chegou a ser comparado a um jogador de futebol – e, seu pai, ao Maurício de Souza. Pensa só o que a família dele deve estar passando e o que ele não ouviu quando foi para a escola hoje. Haja bullying!
 
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Todos menos eu: Best Coast

 
O que eu mais gosto no Não Toco Raul são as editorias irônicas e bem humoradas. Por isso, quis estrear escrevendo na minha preferida delas: a “Todos menos eu”. Não sei quem inventou essa seção, mas é genial!

O Best Coast é a banda mais bairrista que existe. A começar pelo nome: a “melhor costa” é uma analogia à clássica rixa entre os litorais leste e oeste dos EUA. O Best Coast é Califórnia até o talo. Então já dá pra sacar sua auto afirmação. Não que eles sejam metidos ou arrogantes. Mas é uma postura de paixão pela terra natal que nem os gaúchos conseguem bater. Quase tudo o que eles fazem exalta o Estado de alguma forma e as capas dos seus discos são quase “ufanistas”:

O álbum de estreia,“Crazy For You” (2010), traz o nome da banda escrito com recortes de um mapa da Califórnia e o contorno das divisas do estado estampado no canto esquerdo, em cima do gato. Isso além da praia com palmeiras e um belo sol se pondo.

Já o segundo disco, “The Only Place” (2012), lançado no fim de março, traz uma bela ilustração em preto e branco de um grande urso abraçando um mapa da Califórnia. Pra quem não sabe, o urso é o animal símbolo do Estado e estampa sua bandeira. A canção que dá nome ao disco, então, só fala como Los Angeles é o melhor lugar do mundo e como o Best Coast é sortudo por ter nascido e por viver lá, com o calor, o oceano Pacífico, o sol, as ondas, as gostosas da praia e muita diversão. E olha essas jaquetinhas:


Você pode baixar o MP3 de “The Only Place” de graça no site oficial da banda.

Os clipes do Best Coast, aliás, são sempre incríveis: todos muito ensolarados, coloridos e divertidos, como se estivessem em férias de verão permanentes. As letras das canções falam sobre relacionamentos amorosos ou Los Angeles e a Califórnia. Eles também têm uma fixação por gatos e coisas meio kitsch, sem medo de parecerem bregas. Aliás, o Snacks, gato de estimação da vocalista, aparece na capa do primeiro disco e em vários clipes deles. O vídeo da canção “Crazy For You” é estrelado por vários gatos atores (!). Também tem um clipe brega em uma festa de 15 anos. Mas nada ganha do vídeo de “When I’m Whith You”, que mostra a vocalista namorando o…Ronald McDonald:

O som da banda é claramente influenciado pelos Beach Boys e surf music. Mas eles juntam umas distorções sujinhas meio anos 90 e refrãos grudentos à essa sonoridade dos anos 60. O Best Coast é, na verdade, uma dupla – formada em 2009 por Bethany Cosentino, que canta, toca guitarra e compõe todas as músicas; e Bobb Bruno, que toca vários instrumentos. Mas eles são acompanhados por músicos de apoio – leia-se: bateristas – em suas apresentações ao vivo. A baterista Ali Koehler, do power trio formado só por garotas “Vivian Girls” (que ironicamente vem do Brooklin, Nova Iorque – a rival “costa oeste” – e também toca surf music anos 60), tocou no Best Coast por um bom tempo, tendo aparecido em alguns clipes e programas de TV com eles. Depois de lançar um EP e vários compactos, a banda estourou de Los Angeles para o mundo em 2010, com seu disco de estreia.

O sucesso se deve, em grande parte, ao segundo clipe oficial do Best Coast: a canção “Our Deal”, uma das mais sem graça do disco, acabou ganhando uma super produção dirigida pela Drew Barrymore (sim, ela mesma, a ruivinha das Panteras e do filme ET). Para completar, o clipe é estrelado por vários jovens atores bem famosos dos EUA, com destaque para a protagonista Chloë Moretz, de “(500) Days of Summer” e “Kickass”; e para Miranda Cosgrove, que estrelou o seriado “I Carly”, participou da série “Drake & Josh” e do filme “Escola do Rock”. Além de tudo isso, o vídeo é praticamente um curta Romeu e Julieta entre gangues de Los Angeles, todo cult, inspirado em filmes como “Juventude Transviada”, do James Dean. Ímã para hipsters. Aí bombou na MTV e em todos os blogs de música moderninha do planeta.

Nessa levada, o Best Coast começou a aparecer na TV e a tocar em grandes festivais e a Bethany até lançou uma linha de roupas para a marca Urban Outfitters. O sucesso veio tão de repente que, até o ano passado, o site da banda era uma página no Blogspot (!). Agora, eles viajam fazendo shows pelo mundo todo e já têm um site oficial bonitão.

O Best Coast vai tocar em São Paulo, em outubro, no Festival Planeta Terra – com o Kings of Leon e o Garbage. Eles também participaram recentemente de uma coletânea em tributo ao Fleetwood Mac, de quem são fãs, com uma porrada de bandas e artistas (como MGMT, The Kills, Marianne Faithfull, Tame Impala e Likke Li). O disco-homenagem se chama “Just Tell Me That You Want Me”, será lançado em setembro e é a continuação de uma série de tributos que começou com “Rave On”, disco em homenagem a Buddy Holly com participações de Lou Reed, Paul McCartney, Fiona Apple e Black Keys.

 

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