Se prepara: já dá para ouvir o disco póstumo do Sabotage (e está incrível)

É o enxame, é a zica. Lula tinha acabado de virar presidente do Brasil. A novela das oito era Mulheres Apaixonadas. A Gaviões ganhou o carnaval. O celular era o Nokia azul com tela preto e branco e jogo da cobrinha. O programa Pânico era a novidade do ano. A Roberto Marinho ainda chamava Água Espraiada. Nesse ano de 2003, na manhã do dia 24 de janeiro, o rapper Mauro Mateus dos Santos, que só tinha 29 anos, levou 4 tiros nas costas e morreu.

sabotage

Com apenas um disco lançado, o Sabotage já era uma lenda. O álbum “Rap é Compromisso”, de 2001 estourou no Brasil inteiro, foi louvado pelos grandes Racionais MCs e influenciou todo mundo que gostava de rap. O Maestro do Canão, que falava sobre o Brooklin, a zona sul de São Paulo e tinha um cabelo inesquecível; que tinha rimas fortes de protesto e ao mesmo tempo gostava de Sandy & Junior, aparecia na TV e achava que o rap tinha que ser menos marrento e abrir a cabeça; marcou a história da música e do hip hop no país.

13 anos depois da sua morte, finalmente temos o álbum póstumo do Sabotage. Ele tinha começado a gravar o disco logo antes de ser assassinado. E agora, com ajuda de amigos e parceiros musicais das antigas, o disco com 11 músicas inéditas ficou pronto. Esse disco é considerado o Chinese Democracy do rap. Muita espera, muita expectativa. E felizmente o álbum não decepciona:

O disco homônimo conta com a participação de Tropkillaz, DJ Nuts, o rapper Shyheim (do Wu-Tang Clan), Instituto, Lakers, Negra Li, Daniel Ganjaman, DBS, DJ Cia, Rappin’ Hood, Funk Buia, Duani, Quincas, Dexter, Fernandinho Beat Box, Mr Bomba, Rodrigo Brandão, Sandrão, BNegão e Céu. Alguns já tinham participado do primeiro disco do Sabota e Daniel Ganjaman e o Instituto, aliás, foram responsáveis pela grande volta de Criolo com seu segundo disco Nó na Orelha, quando o rapper que também é da zona sul paulistana estava quase desistindo da música.

E a homenagem não poderia ser mais honrosa. No meio de algumas faixas podemos ouvir sonoras dos jornais da época cobrindo a morte do rapper, o que é bastante doloroso, mas soa interessante. O disco é lindo, surpreendente, nostálgico sem soar velho – muito pelo contrário. As músicas não poderiam ser mais atuais e as rimas ainda fazem todo sentido nesse ano tão esquisito e sombrio que está sendo 2016. O que nos faz refletir que de 2003 para cá as coisas não mudaram tanto assim…

E hoje à noite, às 20h55, o Spotify vai fazer uma transmissão especial ao vivo no Facebook com audição do álbum e presença da família do Sabotage e dos grandes músicos que trabalharam no disco. Confira o evento e participe.

Vale demais a pena ouvir esse álbum, você goste de rap ou não. É um disco emblemático para a cultura brasileira. Como dizia Karol Conka: “salve Sabotage, MC de compromisso, cumpre seu papel no céu que aqui a gente te mantém vivo”.

Não Toco Playlists

Mentira, tocamos sim! A gente sempre gostou de uma boa playlist aqui no Não Toco Raul. Sempre tivemos a nossa rádio, sempre pedimos para os entrevistados indicarem músicas bacanas para vocês ouvirem; nós também indicamos sons e fizemos até o desafio “um disco por dia” – que ainda está rolando na nossa fanpage, #ficadica! 😉 E já teve até entrevistado que nos obrigou a…tocar Raul. Sério.

Mas na hora de montar uma playlist que fosse a cara do blog a gente ficou meio bolado…afinal, a equipe do NTR é feita por pessoas muito diferentes, que têm gostos musicais diferentes; e o blog sempre teve espaço para todo tipo e estilo de música, indo literalmente do funk ao punk. Então decidimos listar canções que estivessem ligadas aos nossos textos, que tivessem a ver com os nossos posts e tudo que colocamos aqui, sempre feito com muita alma, muito amor e carinho (ooown!). Acabou virando uma coletânea “The Best Of NTR”, nossa sessão nostálgica destes mais de 4 anos de blog e de tudo de bom que já fizemos por aqui – grandes entrevistas, descobertas, discos, shows, zoeiras, reflexões e sempre a paixão pela música acima de tudo.

Confira a playlist do NTR no Spotify e descubra abaixo por que essas foram as músicas escolhidas!

EDER OLIVEIRA
Diet Mountain Dew – Lana Del Rey
Esta música está em um dos primeiros posts do blog. A Lana Del Rey estava no auge do seu hype e foi o texto de estreia da seção “Todos menos eu”.

Generator – Foo Fighters
O Foo Fighters é minha banda preferida. Apostei que eles não iriam tocar essa música no show do Lollapalooza, em 2012. Mas eles surpreenderam e tocaram Generator e mais uma porrada de outras músicas menos famosas.

Umabarauma
Fui buscar a história dessa música esperando uma super odisseia e acabei caindo na zoeira do Jorge Ben. A maioria de suas músicas são sobre histórias banais, comuns, do dia a dia, feijão com arroz – e isso é muito foda.

Just Ain’t Gonna Work Out – Mayer Hawthorne
Esse cara foi um meus melhores achados dos últimos anos, junto com o Rival Sons (que provavelmente vai estar na playlist também). Soul de primeira linha.

Blame It On The Boogie – The Jacksons
O Michael Jackson aparece em vários dos nossos textos e eu gosto.

Foi Preciso Você – Wilson Sideral
Talvez essa seja a música que menos tenha a cara do NTR – porém, ela foi o single do último disco que estava prestes a ser lançado. Eu escutei muito Sideral quando comecei a tocar e pra mim foi muito foda falar com o cara. Ele é um baita músico e compositor e já chegou a figurar o “mainstream”.

 

TADEU MORARI
Until The Sun Comes – Rival Sons
Como mencionado pelo Eder, melhor banda descoberta nos últimos 10 anos. Especial porque consegui ir a um show de graça, depois de ter meu nome na lista colocado pelo baterista da banda. Foi tema de um episódio do nosso finado e querido Não Pod Raul, podcast de playlists que pode (ou não) voltar no futuro.

This Must Be The Place – Miles Fisher (cover)
Uma daquelas junções de música e cinema que eu adoro, essa cover tem um clipe que faz uma homenagem ao filme Psicopata Americano, que é bem o que eu fiz muitas vezes com wallpapers na seção Right Track.

Surreal – Scalene
Um dos últimos convidados do site e bem especial, o vocalista da Scalene – que hoje é uma banda nacionalmente famosa, mas nessa época ainda não estava nos spotlights. JÁ CURTIA ANTES DE SER MODINHA, NÉ MÊO. (P.S. Sou amigo dele no Facebook! 😉)

Hey Jude – The Beatles
Beatles sempre foi tema recorrente no blog, não requer muita explicação, mas essa música em especial caiu como uma luva nesse texto que é o meu preferido que fiz pro NTR.

Alive – Pearl Jam
Bela origem nessa história meio dark de uma música perfeita, que as pessoas conhecem e cantam sem pensar direito na letra.

Adeus Você – Los Hermanos
Mais uma banda preferida com um dos meus filmes preferidos de todos os tempos. E só quero citar aqui (pra irritar o Danilo) que fui no festival SWU só pra ver Los Hermanos; e fui pra tenda dormir na hora de Rage Against the Machine.

 

DANILO VITAL
For Once In My Life – Steve Wonder

I Can’t Take My Eyes Off Of You – Lauryn Hill

I Don’t Wanna Miss A Thing – Aerosmith

Bang Bang – Green Day

Rude – Magic!

Slut Like You – P!nk

Escolhi as músicas dos meus posts que achei mais legais e quis formar uma “historinha” com o título de cada música na sequência.

 

BÁRBARA MONTEIRO
Vacilão – Emicida
Essa foi a primeira música do Emicida que eu escutei na vida; e isso já faz tempo, hein. Me ganhou de cara e desde então sempre gostei das músicas dele, das letras espertas, dos samples, do esquema DIY, de como ele cresceu e desenvolveu sem som. Passei a ouvir muito mais rap e hip hop depois de virar fã do Emicida. Me abriu a cabeça pra muita coisa. A gente também brincou que uma playlist do NTR tinha que ter pelo menos uma música do Emicida e escrevi sobre ele em um dos meus posts mais recentes, quando pude acompanhar o cara de perto em um evento do Spotify. Continuo sendo muito fã, é um artista brilhante.

This Lonely Morning – Best Coast
Meu post de estreia no NTR, em 2012. É a banda mais bairrista do mundo, ganham do rock gaúcho. E é uma banda que eu gosto muito, liderada por uma garota. Essa música foi lançada mais de um ano depois, mas virou uma das minhas preferidas deles. Menção honrosa na playlist!

Rock’n’Roll Queen – The Subways
Os Subways são a banda mais underrated do mundo! É uma puta banda, são incríveis ao vivo, mas não têm a fama que merecem. Essa canção, entretanto, foi um grande hit. Eu cheguei a viajar só pra ver show deles. Infelizmente, nunca vieram para o Brasil. Na Inglaterra eu entrevistei a Charlotte Cooper, baixista do power trio, e tive a rara sorte de não me decepcionar ao conhecer um ídolo. Ela é demais e depois de conhecê-la virei mais fã ainda. Muito amor! Acho que essa é a entrevista que eu mais gostei de fazer na minha vida.

A Nuvem – Garotas Suecas
Sou muito fã dessa banda, orgulho nacional…e os acompanho desde o início. Desde o comecinho mesmo! É uma década de tiete, minha gente! A Irina é incrível, compõe, canta, toca, sabe muito de música e arte e mais uma vez tive a sorte de admirar uma artista e não me decepcionar quando a conheci – muito pelo contrário! Sim, eu entrevistei muitas mulheres e acho importantíssimo dar mais espaço para elas na música – eu também sou musicista e sei bem como essa indústria ainda é machista, então segura aí que da minha parte da playlist, de 6 músicas, 5 serão de mulheres fodas. E a Iri é uma delas, linda demais por dentro e por fora. Aliás, nessa canção ela canta e também tem uma participação especial da rapper Lurdez da Luz, que também é demais! Muito amor.

Chester, Cheese, Onion – Medialunas
Essa banda (na verdade, uma dupla) é simplesmente maravilhosa. Nem sei quantas vezes escutei o disco deles, de tanto que eu gosto. A Medialunas é Formada pela Liege, que eu tive a honra de entrevistar; e o Andrio. Eles têm uma porrada de bandas (e fizeram parte de muitas outras) e todas são boas: Medialunas, Hangovers, Loomer, Superguidis…a nata do rock independente brasileiro! Também são pessoas incríveis, além de grandes músicos.

Holiday – Penélope (Érika Martins)
Pode acreditar, você com toda certeza já ouviu alguma música com vocal da Érika. Até porque é ela a garota que queria quebrar o nariz do locutor no mega sucesso “A Mais Pedida”, dos Raimundos, que todo brasileiro sabe cantar de cor. Ela era a líder do Penélope, que fez bastante sucesso nos anos 90 (o grande hit deles foi Holiday) e até tocou no Rock in Rio. Ela agora integra outra banda que eu amo e que acho que é um tesouro nacional: os Autoramas. Também tive a sorte e a honra de entrevistá-la para o NTR e virar ainda mais fã.

Vamos falar sobre música?

Em uma era em que as pessoas morrem de preguiça de ler e bufam ao ver um “textão” passando pela timeline, vejo cada vez menos sites e blogs falando sobre música de verdade. O que temos é uma pilha de releases, fotos e vídeos que mais parecem assessoria de imprensa do que qualquer outra coisa. É função do jornalismo cultural divulgar bons artistas? Sim. Mas que falta faz uma boa reflexão sobre música e arte, textos mais profundos e até mesmo uma divulgação mais rica desses bons artistas. Que falta faz opinião, uma entrevista diferente, artistas falando o que realmente pensam, aquilo que faz o olho brilhar, que inspira. Além da era da preguiça de ler e de debater, vivemos a era do streaming e dos singles. Mais uma vez a indústria musical se reinventa, assim como se reinventa o nosso jeito de ouvir, descobrir e consumir música. Mas calma, calma, não criemos pânico. Afinal, a música nunca vai acabar.

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Foto: Update or Die!

E foi esse o mote do primeiro Spotify Talks, projeto incrível que reúne gente boa para falar sobre música, debater, refletir, questionar. A primeira edição, que rolou ontem no escritório do Spotify no Brasil, tinha como tema “O contraponto do mainstream”. Os músicos convidados foram Céu, Emicida, Mahmundi e Lucas Santtana; e a mediação foi feita pelo jornalista Alexandre Matias – dono do genial Trabalho Sujo, que começou impresso e se tornou um dos primeiros sites dedicados à música e ao jornalismo cultural no Brasil, em atividade desde os anos 90 – e hoje uma grande referência.

Com essa banca da pesada, não tinha como o papo dar errado. Tive a honra de poder acompanhar a conversa in loco e o encontro rendeu…várias pérolas e histórias boas. Lucas Santtana (atenção: não confundir com Luan Santana!) é um baita artista (muito underrated, aliás…OUÇAM) que começou na era do analógico e das grandes gravadoras controlando geral, viu a chegada do Pro Tools e da internet e passou por todas as mudanças da indústria. A Céu começou em 2005, quando todo mundo passou a baixar MP3, o Myspace bombava e se dizia que a indústria musical ia morrer. Emicida veio logo em seguida e explodiu como rapper depois de seus vídeos em batalhas de MCs bombarem no Youtube, vendendo CDs baratinhos que ele mesmo fazia à mão em casa. E Mahmundi é a mais contemporânea e jovem deles, começou sua carreira musical já online, surfou na onda do hype e conta que lançar um disco físico é, hoje em dia, um luxo.

Confira abaixo alguns dos depoimentos mais bacanas dessa primeira edição do Spotify Talks e, enquanto lê, que tal ouvir esses quatro artistas incríveis? Dá o play! 😉

“Em 2006 eu tinha um blog porque sentia que só com a música e a letra eu não conseguia falar tudo que eu queria. Foi uma forma de me aproximar do público, de dialogar. Também fez crescer minha base de fãs. Eu coloquei no meu blog o áudio separado das minhas músicas para download. Era possível baixar só a bateria, só a guitarra etc. Aí as pessoas podiam remixar e fazer a versão delas da música. Depois, eu postava esses remixes.” – Lucas Santtana

“Comecei trabalhando no Circo Voador como técnica de som, montando show. Aliás, fiz show de todos esses senhores aqui (Céu, Emicida e Lucas Santtana). Em 2010, montei um DVD da Pitty e pensei: ‘tá bom de montar show pros outros, né? Agora quero fazer o meu’. Eu queria produzir. Gravava em casa com amigos, gente da minha idade, em uma placa de 2 canais. Subi as músicas no SoundCloud e de repente a ‘Calor de Amor’ ficou hype o suficiente para chamar a atenção das pessoas.” – Mahmundi

“Minha geração tem uma legião de artistas talentosos pra caramba, mas sem ambição mercadológica nenhuma. Só que desde o começo entendi que, se eu me envolvesse com a bilheteria, com o business, era uma forma de cuidar melhor da minha arte. A gente precisa se organizar para ser dono das coisas que a gente cria.” – Emicida

“Quando comecei minha carreira, em 2005, era uma época muito nebulosa para a música. Parecia que a música já não valia mais nada. Os contratos das gravadoras eram esquisitos e engessados…então desde o primeiro disco eu decidi ser independente. Hoje, tenho contrato com uma gravadora.” – Céu

“Na época das batalhas eu nem tinha computador em casa. Chegou um amigo meu e falou que eu tinha um milhão de views no YouTube. E eu: ‘e daí, mano?’. Só depois fui me ligar no poder da informação e aí pra divulgar o show a gente colocava no flyer assim: ‘rapper que já conquistou 1 milhão de views no site de vídeos YouTube’. Na época a gente ainda tinha que explicar que o YouTube era um ‘site de vídeos’ (risos)! Aí lotamos uma festa com 300 pessoas e começamos a vender os CDs que a gente fazia à mão em casa. No começo, custavam R$ 3,00. Aí eu pensei: vou vender por R$ 2,00, facilitar o troco. Deu certo, vendeu mais. Vendia CD no trem, andava atrás das pessoas fazendo freestyle, fazia as capinhas de papel craft com carimbo.” – Emicida

“No começo da minha carreira eu não tinha empresário, então criei o ‘João Fortes’. Ele tinha e-mail e vendia meus shows. Mas na hora de falar no telefone deu problema (risos). Eu devia ter inventado uma empresária e colocar minha esposa pra atender o telefone.” – Lucas Santtana

“Eu também não tinha empresário e inventei o ‘Leandro’ para ser meu assessor e vender meu show. Eu até fazia uma voz diferente no telefone. O jornalista Mateus Potumati, da Revista Soma, foi o único que me desvendou. A gente tinha combinado de se encontrar numa estação de metrô para uma entrevista e 5 minutos antes ele ligou pro ‘Leandro’ para saber se ele também ia. Tentei disfarçar, mas cheguei no metrô rindo sem parar e me entreguei.” – Emicida

“Engraçado que, quando um artista faz sucesso lá fora, recebe mais atenção aqui no Brasil. Comigo foi assim. Isso acontece mesmo.” – Céu

spotifytalks-01“Eu lembro que meus amigos eram todos punks e estavam felizes porque as gravadoras estavam falindo. Mas, o que o mercado formal perdeu, o artista independente não ganhou. A gente cresceu vendo Leandro e Leonardo ganharem disco de ouro na televisão e, quando chegou a nossa vez, putz…as pessoas não compram mais CD nem ingresso.” – Emicida

“Minha ideia sempre foi criar um mercado novo. Eu ganhei o Prêmio Multishow com um single 100% caseiro e independente! Quando a gente é mais novo, pensa: ‘ai, não vou me vender’. Mas depois trabalhei com várias marcas. Quis me vender mesmo, porque queria que a minha arte chegasse mais longe. Para mim foi uma vitória produzir meu disco e trabalhar com gente da minha idade, nova no mercado.” – Mahmundi

“Meu próximo disco vai se chamar ‘Modo Avião’ porque eu sinto essa necessidade de me desligar. Sou muito ativo na internet, gosto de postar no Twitter e no Instagram, mas o Facebook já virou deprê e percebi que quando acordo, meu celular é meu despertador e antes mesmo de tomar café eu já leio todos os e-mails, mensagens, WhatsApp…porra, eu nem tomei café ainda, sabe? Isso me deixa acelerado. Quero lançar o disco junto com uma instalação de uma artista plástica – não posso contar quem é ainda – e vamos ter um local de suspensão para as pessoas ouvirem o disco ali e terem uma experiência diferente, se desligarem e prestarem atenção na música. Vai ser uma experiência mais humana.” – Lucas Santtana

“Eu tô muito otimista com o caminho que a música vem tomando. E também bem feliz de participar deste momento, entender que é um mercado que é possível, que posso produzir meus discos.” – Mahmundi

“Também me sinto otimista. Hoje a gente tem ferramentas e múltiplas oportunidades. Ainda mais no Brasil, que é um país tão fértil e criativo. A música não tem como acabar.” – Céu

“Acredito que a música  e a arte brasileiras têm um papel importante em trazer otimismo nesse momento tão sinistro que estamos vivendo no país. A arte funciona como um oásis no meio disso tudo.” – Emicida.

“Teve um tempo em que eu peguei bode de escutar música, preferi ficar em silêncio lendo, devorei vários livros. Mas aí com o Spotify tem as descobertas da semana, que pra mim foi uma ferramenta super interessante para conhecer coisas novas!” – Lucas Santtana.

“Eu gosto muito de ver os ‘artistas relacionados’ nas plataformas de internet. Sempre acertam, descubro muita coisa boa.” – Céu

“Eu já gosto de pesquisar no sebo mesmo. Acho muitos discos e descubro muitos artistas assim.” – Emicida.

E você? O que acha que vai ser da música daqui pra frente? Será que os artistas independentes e alternativos podem transitar pelo mainstream? Como você descobre novos artistas e como você consome música hoje? O Spotify Talks vai continuar com mais temas e conversas. Já estamos ansiosos pelos próximos insights! Vamos falar sobre música?

Taylor Swift confronta, ignora ou usa o Spotify?

Não houve trocadilho musical que impedisse a decisão bombástica da cantora americana Taylor Swift, que no início da semana passada retirou todo o seu catálogo do serviço de streaming Spotify. A empresa postou playlist engraçadinha pedindo a volta dela e usou nomes e trechos de diversas músicas, em mensagem postada: Taylor, we were both young when we first saw you, but now there’s more than 40 million of us who want you to stay, stay, stay. It’s a love story, baby, just say, Yes. Não adiantou. Todos sabem o motivo dessa manobra. Só não se sabe ainda os efeitos.

Taylor já vinha sinalizando que tomaria ação contra serviços como o Spotify. Em entrevista recente ao Wall Street Journal, afirmou que música não deveria ser gratuita porque “é arte, e arte é importante e rara, e coisas raras e importantes devem ser valorizadas”. Ela não concorda com os direitos pagos pela empresa, entre US$ 0,006 e US$ 0.0084 por execução. Se a cantora recebe a maior cota, você teria de ouvir uma música 120 vezes para render a ela US$ 1. Taylor Swift tirou sua obra do alcance de 40 milhões de pessoas – cerca de 10 milhões que pagam valores mensais – em 58 países.

Primeiro, Taylor retirou de lá o álbum mais recente, 1989 (2014). Esse é o primeiro a vender 1,3  milhão de cópias desde 2003, quando Eminem conseguiu esses números com o The Eminem Show. Ele desafia os números decadentes da indústria musical na última década. E mais: de acordo com o jornal britânico The Guardian, 25% dos usuários do Spotify já ouviram alguma música da cantora americana, sendo que ela aparece em 19 milhões de playlists e seu single mais recente, Shake It Off, era o número 1 em streamings. Mesmo assim, ela na sequência tirou tudo.

“O que eu posso dizer é que a música está mudando tão rápido, e o cenário da indústria musical em si muda tão rapidamente, que tudo que é novo, como o Spotify, me parece um grande experimento. E eu não estou disposta a contribuir com o trabalho da minha vida com um experimento que eu sinto que não recompensa de forma justa escritores, produtores, artistas e criadores de música. Eu simplesmente não concordo com a perpetuação da noção de que música não possui valor e deveria ser gratuita“, explicou a cantora, em entrevista ao Yahoo! Music na terça passada.

Parece justo, Taylor. Mas até onde você vai levar isso?

Afinal de contas, serviços como o Spotify estão custando dinheiro a artistas como Taylor Swift: de acordo com a revista americana Money, uma pesquisa da MIDiA Reserch determinou que 23% dos usuários de streamings costumavam comprar mais de um álbum por mês. Isso significa que agora a cantora vai aumentar ainda mais os números de vendas? Não. E essa é a questão. Se os fãs não piratearem os álbuns, vão simplesmente recorrer ao Youtube, Grooveshark, SoundCloud, Pandora, LastFM, Rdio ou qualquer outro modelo semelhante e continuar ouvindo suas canções. E talvez pagando ainda menos.

taylor1989A não ser que a cantora apareça com alguma alternativa revolucionária, a decisão vai se limitar a não compactuar com algo que com o que ela não concorda – o que é mais do que justo, mais uma vez. Uma hipótese é Taylor Swift estar usando seu absurdo potencial de mercado para produzir mudanças nesse sistema de remuneração que julga incorreto. Essa hipótese é reforçada pela notícia de que o iTunes deve lançar um serviço de streaming para fazer frente ao Spotify. A cantora deverá ser procurada. E se aceitar, as milhões de pessoas que ouviram suas músicas poderão migrar de programa.

Se nada mudar, o Spotify vai sobreviver sem Taylor Swift da mesma forma como sobrevive sem Beatles, AC/DC e The Black Keys, entre outros artistas que não liberam sua obra para o serviço. Se na semana que vem ela desistir da decisão e recolocar as músicas à disposição, já vai ter saído no lucro, de qualquer maneira. Tem sido apontada por publicações do mundo inteiro como uma das artistas mais poderosas da indústria musical, obrigou essa discussão a ocorrer e ganhou mais mídia do que jamais conseguiria no Spotify. O jornal The Guardian até relacionou o anúncio a uma posição feminista da artista. Isso, Shake it Off jamais renderia.

PS1. Já falamos de Taylor Swift aqui antes e de maneira não tão lisonjeira. Leia

PS2. SE ESSE ÁLBUM REALMENTE SAÍSSE EM 1989, SERIA ASSIM: