Toda sexta-feira (toda MESMO, dessa vez é sério) o NTR traz a seção “NTR Convida”, onde músicos convidados vão ditar o som para você começar o final de semana na pegada.
Hoje nosso convidado é o super simpático soteropolitano Jajá Cardoso, vocalista, guitarrista e compositor da banda Vivendo do Ócio.
O grupo é formado por ele mais os irmãos Luca Bori (vocal e baixo) e Davide Bori (guitarra) e Dieguito Reis (bateria). Eles juntam boas letras em português a um som que lembra a primeira fase dos Strokes e dos Arctic Monkeys. Começaram em 2006 e, desde então, ganharam um concurso do Guaraná Antarctica, o prêmio Video Music Brasil (VMB), da MTV; lançaram dois discos, entraram para a gravadora Deck, tocaram com o Lou Reed na Itália, têm clipes incríveis e muito engraçados e fazem um show de lavar a alma, super intenso. Em março, tocam no festival Lollapalooza Brasil. Uma banda de respeito. E de muito Rock’n’Roll, baby!
Uma curiosidade: pouca gente sabe, mas o Jajá também é um grande desenhista e já ilustrou muitos trabalhos da própria banda. Dá uma olhada no portifólio dele. E, pra fechar com maestria a seção “NTR Convida”, ele teve a pachorra de tirar uma com a nossa cara, nos obrigando a tocar…bem, veja na lista aí em baixo:
As músicas escolhidas pelo Jajá estão no player acima. É só clicar para ouvir todas na sequência.
A playlist:
1) Legião Urbana – Há Tempos “Essa música é muito especial, porque foi a primeira que aprendi a tocar no violão e, consequentemente, a Legião foi a primeira banda de rock nacional que escutei.”
2) The Offspring – The Kids Aren’t Alright “Essa marcou minha fase punk rock, quando tentava andar de skate e montei minha primeira banda, a “The Collision”. O Americana era um dos discos que eu mais escutava, lembro que a introdução dessa música era um mistério, ninguém conseguia tirar e não tinha internet pra ajudar, nessa época (1998 pra 1999). Computador era muito caro e, além disso, éramos todos iniciantes, então, depois de um tempo pelejando, fui o primeiro a tirar e passei pra galera.”
3) Teddy Morgan and The Sevilles – Dear Ted Letter “Um dos meus melhores amigos, Sidarta, me apresentou o Blues. Ele estudava num conservatório e eu aproveitava pra fazer as lições com ele e pegar todos os conselhos que o professor dele passava. Teddy Morgan foi uma das recomendações. Quando escuto é como se eu voltasse a ter 13 anos de novo, é impressionante o poder que a música tem de te transportar para outras épocas e lugares. O Blues me mostrou que eu apenas preciso sentir a música e entender que ‘a guitarra precisa cantar.”
4) The Beatles – All You Need Is Love “Essa é um das minhas preferidas dos Beatles, a letra é linda e é de autoria do melhor Beatle, na minha opinião: George Harrison. Ele não ficava forçando a barra, tentando se aparecer. E não se envolvia naquela guerra de egos entre Paul e John. Me identifico muito com ele.”
5) Raul Seixas – Gita “Agora vocês vão ter que tocar!!! Raulzito dispensa comentários, sou fã! Ele foi um ícone, pai do rock nacional. E mostrou que é possível falar sobre coisas profundas de forma simples, sem ser clichê ou piegas. Todo compositor de rock que se preze, se não gostar, tem que no mínimo compreender a genialidade dele. Essa música é um marco, pois o Brasil inteiro escutava, do pedreiro ao professor de faculdade.”
Sexo, drogas e rock’n’roll. Impossível desmembrar essa antiga tríade que influenciou e ainda influencia tantos músicos. As drogas, aliás, roubam espaço já que são tantas as composições a seu respeito (e sobre seus efeitos) indiretas ou diretamente. Quase que, no quesito musical, nos resta a velha pergunta do ovo e da galinha devido à linha tênue da agressividade/transgressão e autodestruição que o taking drugs to make music to take drugs… pode levar. Afinal, até quando um sobrevive sem o outro? Ou ainda: até quando um vive com o outro? A relação perigosa entre genialidade e loucura continua no ar e é inegável a participação explícita ou não das substâncias ilícitas em algumas canções. E é sobre ela o nosso Top 7,5:
7. Bob Dylan | Mr. Tambourine Man
Bob Dylan, o então poeta norte-americano, já fazia a sua apologia à maconha, mesmo que de forma metafórica, em Mr. Tamborine Man, lançada em 1965 no álbum Bringing It All Back Home. A canção foi escrita em uma viagem que ele fez com amigos de Nova York para São Francisco. Eles fumaram muita marijuana durante o percurso, reabastecendo o suprimento de maconha nos correios, onde haviam enviado potes com a erva ao longo do caminho. A canção tem uma melodia que tornou-se famosa pelo seu imaginário surrealista, influenciada por artistas como o poeta francês Arthur Rimbaud e cineasta italiano Federico Fellini. A letra chama o personagem-título para tocar uma música que o narrador vai seguir, e é interpretada como um hino para as drogas como o LSD. Vale ressaltar que o mesmo Dylan foi quem apresentou a marijuana aos 4 rapazes de Liverpool.
6. The Beatles | Lucy in the Sky with Diamonds
Os Beatles têm várias músicas que fazem alusão às drogas como Got To Get You Into My Life e Day Tripper, mas a canção que mais ficou conhecida e mais gerou polêmica, com certeza, foi Lucy in the Sky with Diamonds, gravada em 1967 no álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Apesar de John Lennon jurar de pés juntos que a música nada tem a ver com drogas, já que ele escreveu a letra baseada em um desenho que seu filho Julian fez de sua colega Lucy – o qual explicou ao pai como sendo “Lucy no céu com diamantes” – a canção foi composta já numa fase onde o LSD (ou ácido lisérgico) fazia parte de grandes festas ou simples eventos que o Fab4 frequentava. A atmosfera psicodélica, onírica, surrealista e as imagens de alucinações na canção foram inspiradas pelo capítulo “Lã e água” de Através do espelho, de Lewis Carroll, em que Alice é levada rio abaixo em um barco a remo pela Rainha, que de repente se transforma em um carneiro. Apesar de ser improvável que John tivesse escrito essa fantasia sem nunca ter experimentado alucinógenos, a música foi igualmente afetada pelo seu amor pelo surrealismo, pelos jogos de palavras e pela obra de Carroll.
5. The Rolling Stones | Sister Morphine
Os Stones ressaltaram os atributos da morfina em Sister Morphine, lançada no álbum Sticky Fingers, de 1971:
Please, Sister Morphine, turn my nightmares into dreams Oh, can’t you see I’m fading fast? And that this shot will be my last
A canção foi escrita por Marianne Faithfull, namorada de Jagger, durante as sessões de gravação de Let It Bleed e é sobre um cara que sofreu um acidente de carro e morreu no hospital suplicando por morfina. Um pouco da letra foi inspirada em Anita Pallenberg, namorada de Keith, que estava hospitalizada e recebendo tratamento com a droga. A composição também foi influenciada pelo Velvet Underground, que na época estava escrevendo várias canções obscuras sobre drogas, especialmente heroína.
4. Eric Clapton | Cocaine
O mestre da guitarra, Eric Clapton, sem cerimônias, afirmou: She don’t lie, she don’t lie, she don’t lie;Cocaine. A canção foi escrita e lançada por JJ Cale em 1976, mas alcançou o sucesso quando foi gravada por Clapton em seu álbum Slowhan em 1977. A letra sobre o vício em drogas é algo que Clapton conhece muito bem. Como ele mesmo explicou em sua autobiografia, quando gravou essa canção ele tinha largado um sério vício em heroína e compensado a abstinência com álcool e cocaína. Ele acreditava que poderia controlar o vício e largá-lo quando quisesse, mas ele simplesmente não queria, e é por isso que conseguia cantar tão objetivamente sobre uma droga que o consumia. Quando Clapton finalmente largou as drogas e o álcool, teve que reaprender a fazer música sóbrio, o que foi uma grande transição, já que tudo parecia ser muito difícil. Ele também percebeu como o seu vício prejudicou ele mesmo e as pessoas ao seu redor, e passou a ajudar os outros a superarem seus vícios – em 1998, abriu o centro de reabilitação Crossroads, em Antigua. Clapton chegou a remover essa música de seu setlist porque acreditava que ela passava a mensagem errada sobre o uso de cocaína. Com o passar dos anos, o músico adicionou à letra o trecho “that dirty cocaine” ao refrão e voltou a apresentá-la ao vivo.
3. Black Sabbath | Sweet leaf
Uma apaixonada declaração de amor. Essa descrição soaria estranha para uma canção do Black Sabbath, ainda mais com direito a súplicas como: When I first met you, didn’t realize, I can’t forget you or your surprise. Mas, como a declaração de amor em questão é feita para a Cannabis Sativa, tudo faz sentido – engana-se quem achava que a letra era uma homenagem à Sharon. Sweet Leaf é uma canção do álbum de 1971: Master of Reality. A canção é um hino ao uso recreativo da maconha, o nome vem de um maço de cigarros que o baixista Geezer Butler comprou em Dublin, que chamava o tabaco como “a erva doce”. A banda usava muita marijuana e outras drogas naquela época, e todos os membros da banda participaram da composição de “sweet leaf”, que mais tarde se tornaria uma nova gíria para maconha. A tosse inicial presente na gravação de estúdio é de Tony Iommi após engasgar-se com a fumaça. Há quem diga que esta é a música precursora do Stoner Rock acho que é por isso que sou tão apaixonada por ela. O riff de guitarra foi tirado de Hungry Freaks, Daddy de Frank Zappa & The Mothers of Invention. Este riff também pode ser ouvido no final de Give It Away do Red Hot Chili Peppers e também é a base para a música Rhymin’ and Stealin dos Beastie Boys.
2. Neddle in the hay – Elliot Smith
Em uma entrevista para a Q magazine, Elliott Smith disse que Neddle in the hay “é uma canção sobre fazer sexo com a sua mãe”. Apesar da afirmação irônica, a faixa de abertura de seu segundo disco – o autointitulado Elliott Smith, lançado em 1995 – pode ser interpretada como uma reflexão de como as drogas tiveram um impacto sobre sua vida. Elliott abusava do álcool e outras substâncias chegando a gastar até R$1.500 reais por dia com heroína e crack e também apresentava sinais psiquiátricos graves, como paranoia, falando frequentemente sobre suicídio e overdoses. O som entorpecedor e repetitivo do violão, a voz frágil e confessional, overso you ought to be proud that I’m getting good marksss cantado por Smith com um “s” prolongado, imitando o sibilar da heroína cozinhando em uma colher, tudo torna a canção agonizante e ao mesmo tempo bela. Neddle in the hay ficou na 27ª posição da lista do Pitchfork das 200 melhores faixas dos anos 90, e também entrou na trilha sonora do filme The Royal Tenenbaums (2001), em uma cena de suicídio. Vale lembrar que Elliott foi encontrado morto, aos 34 anos, em seu apartamento com duas facadas em seu peito. Aparentemente suicídio, mas sabe como morte de rockstar é tudo mistério.
1. The Velvet Underground | Heroin
Heroin, be the death of me Heroin, it’s my wife and it’s my life, ha-ha Because a mainer to my vein Leads to a center in my head And then I’m better off than dead
Sem condenar ou fazer apologia à droga, a canção descreve o ponto de vista de alguém que está se drogando. A letra narra um usuário que, na tentativa de fuga de uma cidade e realidade que só oprimem, encontra na heroína a única alternativa melhor que a morte. Lançada em 1967 no álbum de estreia The Velvet Underground & Nico, a letra foi composta por Lou Reed em 1964. Sobre ela, Reed afirmou: “Eu quis escrever essa música para exorcizar qualquer tipo de escuridão ou elemento auto-destrutivo dentro de mim”. A melodia hipnótica é em total sincronia com a letra: ela começa lenta e vai aumentando gradualmente seu ritmo conforme o narrador tem o pico da droga, pontuado pela guitarra de John Cale e a bateria apressada e mais alta. A música, então, diminui ao ritmo original e repete o mesmo padrão antes de terminar. Heroin entrou na 455ª posição no ranking da Rolling Stone, em 2004, das 500 Melhores Canções de Todos os Tempos. O Velvet Underground tem outras canções sobre drogas, como I’m Waiting For The Man, que narra um junkie, em Harlem, esperando por seu drug dealer de heroína com 26 dólares na mão. “The Man” é o traficante. Reed já declarou que “tudo sobre essa canção é verdade, exceto o preço”.
Bônus. E-Talking | Soulwax
Encabeçado por David e Stephen Dewaele, o Soulwax é uma banda belga de rock alternativo/eletrônica cuja canção E Talking, presente no álbum Any Minute Now de 2004, alcançou a 27ª posição na Parada de Singles do Reino Unido em 2005. O clipe da canção se passa em um clube noturno e mostra o ponto de vista de vários frequentadores da boate sob o efeito de diferentes tipos de substâncias, passando por um verdadeiro “alfabeto de drogas“: começando com A para Ácido e terminando em Z para Zoloft. A circulação do vídeo foi restrita ao horário noturno – não preciso comentar o porquê.