Quanto vale um ídolo?

unnamedHoje eu recebi um e-mail com uma oferta tentadora: conhecer o Ozzy Osbourne pessoalmente. Eu sempre fui fã do cara e é uma figura que eu adoraria ver de perto. Mas é claro que a oferta não é milagre – é um produto que estão tentando me vender. E, como todo produto no mercado, tem um preço. Que é bem alto, aliás: o “meet and greet” do Ozzy Osbourne sai pela bagatela de 250 libras esterlinas – o equivalente a R$ 1.000,00. Não, você não leu errado!

A oferta é válida para o show que o Black Sabbath vai fazer aqui em Londres no dia 04 de julho, em um festival no Hyde Park. Quem comprar o “meet and greet” tem o direito de encontrar com o Ozzy antes do show, pode tirar uma foto com ele, ganha uma camiseta do show e um brinde assinado. Detalhe: o preço do encontro (250 libras) não inclui o ingresso do show, que deve ser pago à parte. O bilhete mais barato para o festival custa 69 libras (o equivalente a R$ 276,00, mais a taxa de conveniência – pois é, tem isso aqui também, mas não em todo show).

Depois de receber esse e-mail fiquei um tempão pensando em como é meio triste pagar para conhecer um ídolo. Quem é muito, muito fã e pode pagar deve mesmo fazê-lo? Será que realmente vale a pena? Muitas vezes é capaz de a pessoa se decepcionar bastante com o seu ídolo. Pensei nos fãs brasileiros da Avril Lavigne, que desembolsaram R$ 800,00 para encontrar com a cantora e, na hora, não puderam nem chegar perto dela para tirar a tão desejada foto com sua grande ídola. Resultado: todas as fotos dos fãs tem um espaço enorme entre eles e a Avril e os dois aparecem sem graça, desconfortáveis e exibindo um sorriso amarelo. Triste. E tão ridículo que virou meme.

avril4Tudo bem que alguns artistas fazem parecer valer a pena pagar caro pelo encontro. As divas do pop Rihanna e Katy Perry sempre tiram fotos abraçadas com os fãs e parecem ser realmente atenciosas e simpáticas. Mas é certo vender esse tipo de coisa? É ético?

Alguns podem dizer que sim, é bacana, e que se fosse de graça seria impossível atender à demanda. E eu concordo com isso. Imagina a fila de groupies histérias se alguém tão famoso quanto o Paul McCartney (ou mesmo o Ozzy) tentasse atender a todos os fãs depois de um show. Mas acho que, se um artista se propõe a cobrar de um fã por um encontro, o mínimo que tem de fazer é ser extremamente simpático, aberto, carinhoso e atencioso – ainda mais pelos valores altíssimos que exigem.

E pensar que tantas vezes eu tive a oportunidade de conhecer artistas que realmente admiro depois de um show sem pagar nenhum centavo por isso (incluindo artistas gringos no pacote, que encontrei pessoalmente no Brasil, como o Mark Arm do Mudhoney, os australianos do Datsuns, o Blood Red Shoes e o MC5 – todos me deram autógrafos, conversaram e foram muito legais. Do MC5 eu ganhei até brinde e palheta, inesquecível). Acho que meus “ídolos” talvez não sejam tão famosos assim. Mas também devo ter sorte por admirar pessoas humildes e acessíveis.

O que você acha sobre pagar para conhecer um ídolo?

How much would you pay for an idol?

unnamedToday I received an e-mail with a very tempting offer: a chance to meet Ozzy Osbourne. I have always been a big fan of him and he’s someone I’d love to see in person. But of course the offer was not a miracle: it is in fact a product someone is trying to sell me. And, such as every product in the market, it has a price. Which is also pretty high: Ozzy’s “meet and greet” costs £ 250. Yes, you read that right!

This offer is avaiable for the Black Sabbath concert in British Summer Festival. The event will take place in Hyde Park, London, 4th of july. If you buy the “meet and greet” package, you get to know Ozzy before the gig starts, is allowed to take a picture with him and gets a special T-shirt of the event plus a signed gift. But the price does not include an entrance to the concert itself. To see Ozzy in action, you also have to pay for the festival ticket. The cheapest ticket costs £ 69 – plus the convenience fee!

After receiving this e-mail I spend a long time thinking about how it is a little sad to pay for meeting an idol. The ones who are really huge fans and can afford it should really do it? Does it really worth it? Chances are the person might get really disappointed with his idol. I remembered about the brazilian fans of Avril Lavigne, that payed as much as 200 pounds to meet the singer and, during the meet and greet, weren’t allowed to touch her or even get closer to take the so desired picture with their idol. The results? All the pictures of the event shows a huge gap between the fans and Avril, their faces show embarassement and a crooked smile. So sad. And so ridiculous that it has even turned out to be an internet meme.

avril4On the other hand, some artists make it look like the price is worth it. Pop divas Katy Perry and Rihanna, for example, are always holding the fans tight in the pictures and seem to be really considerate and nice to them. But, still, is it righ to sell this kind of thing? is it ethical?

Some might say it is ok, and that if an artist would do it for free it would be impossible to supply the demand. I agree. Just imagine the size of the queue if someone as famous as Paul McCartney (or even Ozzy) tried to attend all the fans after a concert. But I think that, if an artist decides to charge of a fan for a meeting, the least he has to do is being really nice, considerate and approachable – even more considering the high prices required.

And to think I had the chance to meet so many artists I admire whithout spending a single penny…including talking, hugs, signatures and sometimes even little gifts, like guitar picks from MC5. Plus, all of them were really nice to me. Maybe my “idols” are not so famous. Or maybe I’m lucky for admiring humble and approachable people.

What do you think about paying for meeting an idol?

Top 7,5: Dorgas no róquenrou

 
Sexo, drogas e rock’n’roll. Impossível desmembrar essa antiga tríade que influenciou e ainda influencia tantos músicos. As drogas, aliás, roubam espaço já que são tantas as composições a seu respeito (e sobre seus efeitos) indiretas ou diretamente. Quase que, no quesito musical, nos resta a velha pergunta do ovo e da galinha devido à linha tênue da agressividade/transgressão e autodestruição que o taking drugs to make music to take drugs…  pode levar. Afinal, até quando um sobrevive sem o outro? Ou ainda: até quando um vive com o outro? A relação perigosa entre genialidade e loucura continua no ar e é inegável a participação explícita ou não das substâncias ilícitas em algumas canções. E é sobre ela o nosso Top 7,5:

7. Bob Dylan | Mr. Tambourine Man

 

Bob Dylan, o então poeta norte-americano, já fazia a sua apologia à maconha, mesmo que de forma metafórica, em Mr. Tamborine Man, lançada em 1965 no álbum Bringing It All Back Home. A canção foi escrita em uma viagem que ele fez com amigos de Nova York para São Francisco. Eles fumaram muita marijuana durante o percurso, reabastecendo o suprimento de maconha nos correios, onde haviam enviado potes com a erva ao longo do caminho. A canção tem uma melodia que tornou-se famosa pelo seu imaginário surrealista, influenciada por artistas como o poeta francês Arthur Rimbaud e cineasta italiano Federico Fellini. A letra chama o personagem-título para tocar uma música que o narrador vai seguir, e é interpretada como um hino para as drogas como o LSD. Vale ressaltar que o mesmo Dylan foi quem apresentou a marijuana aos 4 rapazes de Liverpool.

6. The Beatles | Lucy in the Sky with Diamonds

 

Os Beatles têm várias músicas que fazem alusão às drogas como Got To Get You Into My Life e Day Tripper, mas a canção que mais ficou conhecida e mais gerou polêmica, com certeza, foi Lucy in the Sky with Diamonds, gravada em 1967 no álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Apesar de John Lennon jurar de pés juntos que a música nada tem a ver com drogas, já que ele escreveu a letra baseada em um desenho que seu filho Julian fez de sua colega Lucy – o qual explicou ao pai como sendo “Lucy no céu com diamantes” – a canção foi composta já numa fase onde o LSD (ou ácido lisérgico) fazia parte de grandes festas ou simples eventos que o Fab4 frequentava. A atmosfera psicodélica, onírica, surrealista e as imagens de alucinações na canção foram inspiradas pelo capítulo “Lã e água” de Através do espelho, de Lewis Carroll, em que Alice é levada rio abaixo em um barco a remo pela Rainha, que de repente se transforma em um carneiro. Apesar de ser improvável que John tivesse escrito essa fantasia sem nunca ter experimentado alucinógenos, a música foi igualmente afetada pelo seu amor pelo surrealismo, pelos jogos de palavras e pela obra de Carroll.

5. The Rolling Stones | Sister Morphine

 

Os Stones ressaltaram os atributos da morfina em Sister Morphine, lançada no álbum Sticky Fingers, de 1971:

Please, Sister Morphine, turn my nightmares into dreams
Oh, can’t you see I’m fading fast?
And that this shot will be my last

A canção foi escrita por Marianne Faithfull, namorada de Jagger, durante as sessões de gravação de Let It Bleed e é sobre um cara que sofreu um acidente de carro e morreu no hospital suplicando por morfina. Um pouco da letra foi inspirada em Anita Pallenberg, namorada de Keith, que estava hospitalizada e recebendo tratamento com a droga. A composição também foi influenciada pelo Velvet Underground, que na época estava escrevendo várias canções obscuras sobre drogas, especialmente heroína.

 4. Eric Clapton | Cocaine

 

O mestre da guitarra, Eric Clapton, sem cerimônias, afirmou: She don’t lie, she don’t lie, she don’t lie; Cocaine. A canção foi escrita e lançada por JJ Cale em 1976, mas alcançou o sucesso quando foi gravada por Clapton em seu álbum Slowhan em 1977. A letra sobre o vício em drogas é algo que Clapton conhece muito bem. Como ele mesmo explicou em sua autobiografia, quando gravou essa canção ele tinha largado um sério vício em heroína e compensado a abstinência com álcool e cocaína. Ele acreditava que poderia controlar o vício e largá-lo quando quisesse, mas ele simplesmente não queria, e é por isso que conseguia cantar tão objetivamente sobre uma droga que o consumia. Quando Clapton finalmente largou as drogas e o álcool, teve que reaprender a fazer música sóbrio, o que foi uma grande transição, já que tudo parecia ser muito difícil. Ele também percebeu como o seu vício prejudicou ele mesmo e  as pessoas ao seu redor, e passou a ajudar os outros a superarem seus vícios – em 1998, abriu o centro de reabilitação Crossroads, em Antigua. Clapton chegou a remover essa música de seu setlist porque acreditava que ela passava a mensagem errada sobre o uso de cocaína. Com o passar dos anos, o músico adicionou à letra o trecho “that dirty cocaine” ao refrão e voltou a apresentá-la ao vivo.

3. Black Sabbath | Sweet leaf

 

Uma apaixonada declaração de amor. Essa descrição soaria estranha para uma canção do Black Sabbath, ainda mais com direito a súplicas como: When I first met you, didn’t realize, I can’t forget you or your surprise. Mas, como a declaração de amor em questão é feita para a Cannabis Sativa, tudo faz sentido – engana-se quem achava que a letra era uma homenagem à Sharon. Sweet Leaf é uma canção do álbum de 1971: Master of Reality. A canção é um hino ao uso recreativo da maconha, o nome vem de um maço de cigarros que o baixista Geezer Butler comprou em Dublin, que chamava o tabaco como “a erva doce”. A banda usava muita marijuana e outras drogas naquela época, e todos os membros da banda participaram da composição de “sweet leaf”, que mais tarde se tornaria uma nova gíria para maconha. A tosse inicial presente na gravação de estúdio é de Tony Iommi após engasgar-se com a fumaça. Há quem diga que esta é a música precursora do Stoner Rock acho que é por isso que sou tão apaixonada por ela. O riff de guitarra foi tirado de Hungry Freaks, Daddy de Frank Zappa & The Mothers of Invention. Este riff também pode ser ouvido no final de Give It Away do Red Hot Chili Peppers e também é a base para a música Rhymin’ and Stealin dos Beastie Boys.

2. Neddle in the hay – Elliot Smith

 

Em uma entrevista para a Q magazine, Elliott Smith disse que Neddle in the hay “é uma canção sobre fazer sexo com a sua mãe”. Apesar da afirmação irônica, a faixa de abertura de seu segundo disco – o autointitulado Elliott Smith, lançado em 1995 – pode ser interpretada como uma reflexão de como as drogas tiveram um impacto sobre sua vida. Elliott abusava do álcool e outras substâncias chegando a gastar até R$1.500 reais por dia com heroína e crack e também apresentava sinais psiquiátricos graves, como paranoia, falando frequentemente sobre suicídio e overdoses. O som entorpecedor e repetitivo do violão, a voz frágil e confessional, o verso you ought to be proud that I’m getting good marksss cantado por Smith com um “s” prolongado, imitando o sibilar da heroína cozinhando em uma colher, tudo torna a canção agonizante e ao mesmo tempo bela. Neddle in the hay ficou na 27ª posição da lista do Pitchfork das 200 melhores faixas dos anos 90, e também entrou na trilha sonora do filme The Royal Tenenbaums (2001), em uma cena de suicídio. Vale lembrar que Elliott foi encontrado morto, aos 34 anos, em seu apartamento com duas facadas em seu peito. Aparentemente suicídio, mas sabe como morte de rockstar é tudo mistério.

1. The Velvet Underground | Heroin

 

Heroin, be the death of me
Heroin, it’s my wife and it’s my life, ha-ha
Because a mainer to my vein
Leads to a center in my head
And then I’m better off than dead

Sem condenar ou fazer apologia à droga, a canção descreve o ponto de vista de alguém que está se drogando. A letra narra um usuário que, na tentativa de fuga de uma cidade e realidade que só oprimem, encontra na heroína a única alternativa melhor que a morte. Lançada em 1967 no álbum de estreia The Velvet Underground & Nico, a letra foi composta por Lou Reed em 1964. Sobre ela, Reed afirmou: “Eu quis escrever essa música para exorcizar qualquer tipo de escuridão ou elemento auto-destrutivo dentro de mim”. A melodia hipnótica é em total sincronia com a letra: ela começa lenta e vai aumentando gradualmente seu ritmo conforme o narrador tem o pico da droga, pontuado pela guitarra de John Cale e a bateria apressada e mais alta. A música, então, diminui ao ritmo original e repete o mesmo padrão antes de terminar. Heroin entrou na 455ª posição no ranking da Rolling Stone, em 2004, das 500 Melhores Canções de Todos os Tempos. O Velvet Underground tem outras canções sobre drogas, como I’m Waiting For The Manque narra um junkie, em Harlem, esperando por seu drug dealer de heroína com 26 dólares na mão. “The Man” é o traficante. Reed já declarou que “tudo sobre essa canção é verdade, exceto o preço”.

 Bônus. E-Talking | Soulwax

 

Encabeçado por David e Stephen Dewaele, o Soulwax é uma banda belga de rock alternativo/eletrônica cuja canção E Talking, presente no álbum Any Minute Now de 2004, alcançou a 27ª posição na Parada de Singles do Reino Unido em 2005. O clipe da canção se passa em um clube noturno e mostra o ponto de vista de vários frequentadores da boate sob o efeito de diferentes tipos de substâncias, passando por um verdadeiro “alfabeto de drogas“: começando com A para Ácido e terminando em Z para Zoloft. A circulação do vídeo foi restrita ao horário noturno – não preciso comentar o porquê.

 

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