Imparável / Unstoppable

Esse post possui uma versão em inglês / This article is also avaiable in english

O paulistano Johann Vernizzi, salvas as devidas proporções, é quase um Dave Grohl brasileiro. Além de trabalhar com publicidade e design em período integral em uma das maiores agências do Brasil, o cara ainda atua como ilustrador e tem duas bandas bastante produtivas: o trio Veronica Kills e a dupla Sleeping Sapiens. Johann é workaholic, quase hiperativo e envolvido em muitos projetos, assim como o líder dos Foo Fighters. E sim, sou suspeita pra falar porque ele é um dos meus melhores amigos. Mas essa produtividade musical vai muito além do meu possível puxa-saquismo e acho de verdade que merece a sua atenção.

Acontece que, quase ao mesmo tempo, o Sleeping Sapiens lançou um clipe novo; enquanto o Veronica Kills lançou um EP novo em parceria com a marca Converse e uma campanha de crowdfunding para a gravação de seu primeiro álbum completo – e seu lançamento em vinil. Tô falando que não é brincadeira, hahaha.

O vídeo do Sleeping Sapiens é legal porque é vintage. Os caras gravaram tudo EM FITA, com máscaras malucas, brincando num parquinho tipo playground de condomínio.

Johann Vernizzi, from São Paulo – Brazil, can be compared to Dave Grohl in is hyperactivity. Besides working as a full time designer for one of the main brazilian advertising agencies, he still works as an illustrator and has two great rock’n’roll bands: the trio Veronica Kills and the duo Sleeping Sapiens. Johann is a workaholic ans is always envolved em lots of different projects, such as the Foo Fighters leader. And yes, I’m biased because he is one of my best friends. But this high musical productivity goes far beyond my personal judgement and really deserves your attention.

The thing is, almost at the same time, Sleeping Sapiens has launched a new videoclip, while Veronica Kills has released a new EP in a partnership with Converse plus a crowdfunding campaign for the recording of their first full album – ans its release in vinyl. I’m telling you, it’s serious business.

The Sleeping Sapiens video is cool because its vintage. The guys have recorded it IN TAPE, wearing crazy masks and fooling around in a kids playground.

O EP novo do Veronica Kills se chama “Eu Caminho” e é legal porque, obviamente, é uma tiração de sarro com o disco mais hypado da dupla americana Black Keys, “El Camino”. Além disso, esse EP consolida a nova formação do Veronica Kills como um trio e foi gravado pelo projeto Rubber Tracks em parceria com a Converse (a marca que faz o clássico tênis All Star, moda entre os roqueiros desde os anos 70 e os Ramones).

O projeto, aliás, é uma chiqueza só: começou no Brooklin, em Nova Iorque, para incentivar a música independente; e agora chegou ao Brasil com a banda paulistana. As duas faixas do “Eu Caminho” foram gravadas no Family Mob Studios (que pertence a Jean Dolabella, ex-Sepultura) com o produtor Hector Castillo, que já trabalhou com artistas como David Bowie, Lou Reed e Bjork (tá, meu bem?!); e mixadas e masterizadas por Chuck Hipolitho no estúdio Costella. Dá pra ouvir as canções novas (“Song to Die” e “Feelin’ Alright”) no Bandcamp do Veronica Kills. E a capa, feita pelo próprio Johann, também ficou ótima (veja ao lado).

Agora, o Veronica Kills precisa da sua ajuda para poder lançar seu primeiro álbum cheio em vinil. Para explicar o que é o projeto, o que é crowdfunding e como todo mundo pode ajudar, a banda fez um vídeo bem divertido, com a volta da fatídica mãozinha do clipe “Lack of Soul”.

The new Veronica Kills’ EP is called “Eu Caminho” – in portuguese, “I walk”; in a clear reference and parody of the most hype album by american duo The Black Keys (“El Camino”). Besides that, this EP consolidates the bands’ new formation as a trio and was recorded by the project Rubber Tracks in partnership with Converse (the brand that makes the classic trainers All Star, in fashion among rockers since the 70s and the Ramones) .

The project is really great. It has started in Brooklyn, New York, to support independent music; and now it arrives in Brazil with the band from São Paulo. The two tracks from “Eu Caminho” were recorded in the Family Mob Studios (which belongs to Jean Dolabella, former member of the brazilian metal band Sepultura) with the producer Hector Castillo, who have worked with artists such as David Bowie, Lou Reed e Bjork (is that enough for you?); and mixed and mastered by Chuck Hipolitho, a legendary musician from brazilian underground rock scene who has also been a MTV presentor, in his Costella studios. You can hear the new tracks (“Song to Die” and “Feelin’ Alright”) on their Bandcamp website. The cover art were also made by Johann (see above).

Now, the band Veronica Kills needs your help so they can release their first full lenght album on vinyl. To explain how the project works, what is crowdfunding ans how to donate, the group has made a very funny and instructive video – starring the talking silly hand from their first video, “Lack of Soul”:

O álbum irá contar com 8 músicas inéditas da banda e será lançado em vinil de 12 polegadas de 140 g com capa colorida, em uma prensagem exclusiva para os apoiadores do projeto. Dependendo da quantia doada, os apoiadores também podem ganhar outras recompensas, como camisetas e adesivos. Clique aqui para acessar a página do projeto e ajudar! Tem recompensas legais a partir de apenas R$ 20,00.

Seguindo a tradição do “Faça Você Mesmo” e da hiper produtividade, o baterista da Veronica Kills, Giuliano Di Martino, assina o design das camisetas e adesivos do projeto. Queria saber o que esses caras comem no café da manhã. A campanha para ajudar a banda vai até o dia 17 de maio e ainda falta arrecadar boa parte da verba. Você já viu que os meninos fazem boa música, estão trabalhando duro e ralando de verdade. Então, que tal ajudá-los?

The album will have 8 new tracks and will be released in 12 inch 140 grams vinyl, with a high quality coloured cover, in an exclusive pressing for the pledgers. Depending on the amount donated, the pledgers can also win other nice rewards, like stickers and t-shirts. Click here to access the project webpage and help them! There are nice rewards from BRL 20 (less than 10 US dollars).

Following the “Do It Yourself tradition” and the hyperactivity, the bands’ drummer, Giuliano Di Martino, is responsible for the design of the project’s stickers and t-shirts. I wonder what do these guys eat for breakfast. The campaign to help the band goes up until May 17th and they’re unfortunately far from reaching their goal. You already know these boys make great music and that they’re working really hard. Now, what about helping them?

Raimundos: acabou a nostalgia

Raimundos, aquela banda foda com som pesado, letras de duplo sentido e divertidas, influência nordestina e um jeito ímpar de falar sobre questões sociais – essa banda está mais viva do que nunca. Ela lançou álbum novo, Cantigas de Roda (2014), com 12 músicas para acabar de vez com a tristeza e a nostalgia que a perseguem desde 2001, quando o grupo se desmembrou no auge do sucesso, com saída do vocalista Rodolfo Abrantes, convertido em evangélico.

A questão aqui não é o ex-vocalista. Afinal de contas, já fazem 13 anos que ele deixou a banda – são dez anos sem sequer sua sombra no mainstream, desde o fim do Rodox. Aquele Rodolfo nem existe mais (o NTR falou sobre isso aqui). Ele recusou, por exemplo, participar do álbum acústico do CPM 22 porque a igreja “não permite“. O Raimundos com ele não é, há muito tempo, uma opção. Sem ele, agora voa com as próprias asas.

montagemraimundosNão que a boa fase da banda seja novidade, com a formação incluindo o baterista Caio e o guitarrista Marquim consolidada. Em 2010, vi a banda tocar na Virada Cultural em São Paulo surpreendida e instável diante do mar de gente que se reuniu na Avenida São João. Meses depois, em festas de faculdade já se mostrava cada vez melhor. Voltou aos grandes festivais – em 2011 tocou no SWU, em 2012 voltou ao Planeta Atlântida, em 2013 fez o Circuito Banco do Brasil e 2014 reserva a ela o Lollapalooza, entre outros. Do Rio de Janeiro a Fortaleza a Goiânia e Curitiba, toca no Brasil inteiro.

Seu público não guarda mágoas, o que ficou provado com o sucesso da arrecadação da campanha de crowdfunding para a produção do disco novo. O objetivo inicial era chegar a R$ 55 mil. O resultado final, mais de R$ 120 mil – mais que o dobro, portanto. E esse sequer é o primeiro trabalho pós-Rodolfo: lançaram o Kavookavala em 2002, além do DVD Roda Viva (2010) e singles esporádicos como Jaws (2011). Todos esses aspectos contribuíram para quem a banda chegasse ao Cantigas de Roda em alta. A expectativa em torno desse álbum não poderia ser falsa.

Com dinheiro em mãos, o Raimundos gravou sem precisar se restringir, com produção de Billy Graziadei, vocalista do Biohazard, em seu estúdio em Los Angeles (Estados Unidos), e participação especial de Sen Dog, do Cypress Hill, entre outras.

raimundos-cantigas-de-rodaA primeira música é representativa em relação ao disco. Cachorrinha é um hardcore em que a porrada come solta com vocal cantado na velocidade da luz no melhor estilo Lapadas do Povo. Isso nunca vai tocar nas rádios. Quando Digão dizia, nos últimos meses, “vocês podem esperar tudo dessa banda, menos ela amansar”, não mentiu. É claro que há músicas com potencial radiofônico (Baculejo e Cera Quente, por exemplo), mas, em suma, o que se ouve é um passeio por todas as fases da banda – incluindo as baladinhas já citadas.

Tem reggae com arranjo de metais (Dubmundos), letras divertidas e sacanas (Importada do Interior e Gordelícia), contestação social (Politics) e o forró-core, com Gato da Rosinha, música de Zenílton, o compositor de tantas outras versões eternizadas pelo Raimundos, como Pão da Minha Prima e Tá Querendo Desquitar. Tem “piada interna” interna também. Em BOP, Digão pede “chame o José Pereira“, nome de Canisso. Em Nó Suíno, canta “vacilou os dente voa, mas o Caio bota cola“: baterista, Caio é também dentista em Brasília.

Cantigas de Roda é o álbum mais Raimundos desde que as pessoas passaram a se perguntar “isso ainda é Raimundos?”. Em BOP, Digão avisa: “enquanto os doido pedir, vamo continuar“. Em Politics, que fecha o disco, grita: “isso é Raimundos, caralho! Muito respeito!“. Não dá para ignorar: acabou a nostalgia.

Bônus: versão original de O Pão da Minha Prima, do disco O Cachimbo da Mulher (1981), nome de outro sucesso do forró que foi hardcorizado pelo Raimundos