Pumped up kicks, a origem

Pumped Up Kicks colocou o Foster the People no mapa mundial da música. Foi a primeira música gravada pela banda de Los Angeles, embora o vocalista Mark Foster já tivesse outras canções previamente arranjadas. No começo de 2010, ela foi colocada na internet para download gratuito e rapidamente viralizou-se: a revista Nylon a usou como trilha para uma propaganda online, e com ela eles se apresentaram no festival South by Southwest, em Austin, em uma performance aclamada. De repente, Foster começou a receber propostas e mais propostas. Pumped Up Kicks iluminou o caminho do trio, mas sua origem é absolutamente obscura.

Em quatro minutos e quinze segundos, Mark Foster apresenta ao público o massacre feito por um estudante em uma escola, exposto na visão perturbada do assassino. O refrão, que faz com que a música seja um daqueles sucessos que grudam na cabeça, é quase um mantra do “Cowboy Kid“, o personagem principal: “All the other kids with the pumped up kicks you better run, better run, outrun my gun/faster than my bullet” (todas as crianças com os sapatos caros, é melhor vocês correrem mais rápido que minha arma/mais rápido que minha bala).

Massacre de Columbine

Massacre de Columbine

Foster compôs a música em um dia de pouco serviço no estúdio em que trabalhava fazendo jingles. Como disse à CNN, tentou entrar na cabeça de um adolescente problemático e entender o que se passa diante da crescente tendência de distúrbios. “Eu queria entender a psicologia por trás disso, porque era estranho para mim”, afirmou. A inspiração é o Massacre de Columbine: em 20 de abril de 1999, Eric Harris e Dylan Klebold invadiram uma escola nos Estados Unidos fortemente armados e mataram 12 alunos e um professor, além de ferir outras 21 pessoas. Ambos cometeram suicídio.

O baixista Cubbie Fink tem uma prima que é sobrevivente do episódio, estava na biblioteca da escola no momento do tiroteio e vivenciou o massacre. A música, segundo a banda, é uma espécie de revanche. O personagem, Robert, é um garoto de “mãos rápidas” que vai “observar tudo, mas não revelará seus planos“. Ele tem uma aura de “cowboy“, com seu “cigarro pendurado na boca“. Robert acha uma arma no armário do pai, que trabalha muito e é ausente. Meio que sem motivo, Foster avisa: “he’s coming for you. Yeah, he’s coming for you” (ele está indo atrás de você. É, ele está indo atrás de você).

fosterthepeople

Foster the People

No segundo verso da música, Robert demonstra seus problemas psicológicos. A “mão ágil agora puxa o gatilho” e ele tem uma discussão com seu cigarro, dizendo “seu cabelo está pegando fogo, você deve ter perdido o juízo“. Essa continua sendo a música mais relevante do Foster the People, que em 2012 fez show muito bem avaliado no Lollapalooza, em São Paulo. Pumped Up Kicks é tão importante que o primeiro álbum da banda, Torches (2011), foi feito em virtude de seu sucesso e construído para que ela não reinasse solitária. Não quer qualquer outra música ameace seu destaque, mas o Foster the People continua aí, com muitos fãs que vão além dessa história trágica.

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Veja a letra completa de Pumped Up Kicks

Robert’s got a quick hand
He’ll look around the room he won’t tell you his plan
He’s got a rolled cigarette
Hanging out his mouth, he’s a cowboy kid

Yeah, he found a six shooter gun
In his dad’s closet, in a box of fun things
And I don’t even know what
But he’s coming for you, yeah, he’s coming for you

All the other kids with the pumped up kicks
You better run, better run, outrun my gun
All the other kids with the pumped up kicks
You better run, better run faster than my bullet

Daddy works a long day
He be coming home late, yeah, he’s coming home late
And he’s bring me a surprise
Cause dinner’s in the kitchen and it’s packed in ice

I’ve waited for a long time
Yeah, the slight of my hand is now a quick pull trigger
I reason with my cigarette
Then say your hair’s on fire
You must have lost your wits, yeah

All the other kids with the pumped up kicks
You better run, better run, outrun my gun
All the other kids with the pumped up kicks
You better run, better run faster than my bullet

NTR Convida #5 Titi Morelli (Libre)

 

Toda sexta-feira (toda MESMO, dessa vez é sério), o NTR vai trazer a seção “NTR Convida”, onde músicos convidados vão ditar o som para você começar o final de semana na pegada.

 
O convidado dessa semana é Tiago Morelli, mais conhecido como Titi. Ele é vocalista, guitarrista e compositor da banda Libre – que, apesar de ter apenas um ano, possui um currículo invejável.

Titi é o segundo da esquerda para a direita, de camisa xadrez

O grupo paulistano, que hoje conta com uma formação clássica de banda de rock (com vocal, baixo, bateria e duas guitarras), começou como um projeto solo caseiro do Titi – que gravava músicas próprias em seu quarto. Com a parceria do amigo e também guitarrista Luan Duarte, a Libre virou dupla e lançou um EP com 5 músicas em 2011, intitulado “No quarto”. Hoje, tem dois novos integrantes (o baixista Felipe Bedani e o baterista Rafael Cruz), mais um EP (Tribo) e anda fazendo vários shows por São Paulo (incluindo apresentações na Livraria Cultura, no CEU Feitiço da Vila, no parque Villa Lobos e em casas tradicionais da Rua Augusta), além de já ter tocado com o Móveis Coloniais de Acajú e A Banda Mais Bonita da Cidade e lançado dois clipes (para as canções “Bem-Vindo” e “E Agora?”). Eles também fizeram um vídeo ao vivo da canção “Carta para os idiotas”, um protesto contra os políticos na época das eleições, que conta com a participação de Teco Martins, vocalista da banda Rancore.

As músicas escolhidas pelo Titi estão no player acima. É só clicar  para ouvir todas na sequência!

A playlist:

1. Laid Back – People
“Putz, isso é lindo!”
2. Bessie Smith – St. Louis Blues
“Escuto todas desse álbum (que se chama “Martin Scorsese Presents The Blues: Bessie Smith”) quase todos os dias, são muito boas.”
3. Jelly Roll Morton – Jungle Blues
“Gosto de todas desse álbum também, “Jazz King New Orleans””
4. Manu Chao – Me Gustas Tu
5. Arcade Fire – The Suburbs
“Quando escuto essa música, me sinto caminhando por aí.”

As últimas novidades da Libre são a gravação de músicas novas para um terceiro EP, um destaque no site da MTV Brasil e a participação na final do São Judas Music Festival, competição realizada pela rádio Metropolitana, de São Paulo, e patrocinada pela Universidade São Judas. Quem vencer a final vai tocar com o Capital Inicial e ganhar a gravação do show produzida em CD.

Por onde ele anda:
Facebook, Twitter, Youtube
Trama Virtual – Confira uma faixa bônus do segundo EP, Tribo, chamada “Irreal”.
Soundcloud – Aqui você pode ouvir e baixar de graça os dois EPs da banda, na íntegra. Aproveite!

 
 
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Jeito Felindie: Tributo ao Raça Negra

 

Errou quem pensou que o vídeo acima seria a última grande coisa sobre o Raça Negra nos últimos tempos. Foi lançando na última sexta (12 de outubro) no site Fita Bruta o “Jeito Felindie (2012)”, disco Tributo ao Raça Negra. A homenagem tem como idealizador o jornalista Jorge Wagner, que convidou 12 bandas independentes para dar uma roupagem instagrâmica aos sucessos desse grupo pagode paulista.

Que fique claro que homenagem aqui, vem sem conotação irônica nenhuma: “não há um distanciamento irônico nesse projeto e não escolhemos regravar para salvar as canções, muito menos buscamos legitimar o som do Raça Negra. Consideramos as músicas boas, foram parte da nossa vida, da nossa infância. Assim, por que não fazer uma homenagem?”, diz Jorge em entrevista ao A Tribuna – ES.

O Raça Negra foi um dos grandes ícones da música brasileira nos anos 90. O grupo abriu portas para uma enxurrada de grupos de pagode que os sucederam  até os dias hoje. Não é a tôa, as 12 músicas escolhidas para serem regravadas são sucessos dos quase 30 anos de carreira do grupo que tocava boas canções românticas, sem exageros de “ôôÔ” ou “La-laiá”. Outro ponto marcante da banda eram os teclados utilizados em vez dos metais e por fim, o vocalista e principal compositor Luis Carlos. Sua língua presa virou um ponto forte, uma característica praticamente impossível de se “samplear”.

[pullquote_right]”Consideramos as músicas boas, foram parte da nossa vida, da nossa infância. Assim, por que não fazer uma homenagem?”[/pullquote_right]

Abaixo, vocês podem ouvir o disco na íntegra, que também está disponível para download aqui. Eu, que escutei Raça Negra minha infância inteira, gostei de todas as versões, mas destacaria sem pestanejar “Cheia de Manias”, interpretada por Vivian Benford,  “Te Quero Comigo”, da Minha Pequena Soundsystem e “Jeito Felino”, por Letuce.

Como o pessoal do Fita Bruta deixa sempre bem claro: não se trata de pagode, samba, rock ou indie.  Esses estilos que comumente são tratados como inconciliáveis e hierárquicos, são praticamente e apenas música pop.

 

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Girls para amolecer corações indie-endurecidos

 
Eu não tenho muito mais saco para procurar sons novos como tinha lá pelos meados dos anos 2000. Naquela época som “novo” era tipo Art Brut, Franz Ferdinand, Yeah Yeah Yeahs, The Killers, Interpol, The Fratellis, Arctic Monkeys, The Vines, The Hives… enfim, uma porrada de coisa nova e legal pra mim. A música “nova” de agora confesso que tenho preguiça, preconceito mesmo, de escutar. Ouvir nomes de bandas como Vampire Weekend, Two Door Cinema Club, MGMT, Foster the People, Friendly Fires… me cansa a beleza, parece tudo tão previsível, processado e sem nenhuma novidade. Exatamente por esse sentimento temporário – eu espero – de “o sonho acabou” é que fico entusiasmada quando escuto (e gosto) de algo novo.

Capa de “Father, Son, Holy Ghost”

E esse sentimento veio com o segundo, e não tão novo assim, álbum do Girls: “Father, Son, Holy Ghost”, lançado em setembro do ano passado. Apesar do nome feminino, a dupla californiana é formada por dois caras: Chris Owens e Chet “JR” White. O som tem um ar de rock velho dos anos 60, com solos viajantes e guitarras às vezes de surf music que dão um toque de psicodelismo. Além do quê de soul music, com direito a vários corais de igreja no meio do som, uma influência meio gospel. Melodias gostosas, mas melancólicas, um pop instável, meio triste. As referências do duo vão de Chet Baker a Jeff Buckley. As canções do segundo álbum têm alguns momentos animados e despretensiosos como a faixa que abre o disco, “Honey Bunny”, mas são majoritariamente mais pesadas, guitarras que choram, tristes e intensas como as belíssimas “Vomit” e “My ma”, que você pode ouvir abaixo

My ma – Father, Son, Holy GhostMy ma

O responsável pelas letras pop-tristes do Girls é o vocalista Chris Owens. Sua vivência com certeza teve influência em sua poesia: filho de hippies, cresceu dentro de um fechado grupo cristão, o Children of God, que prega a salvação através de um rompimento com o “mundo externo”. Aos 16 anos o cantor resolveu fugir e foi morar em diversos países, onde ganhava trocados cantando, encontrando seu escape na música. Owens tem vários conflitos com sua mãe, já que ela deixou seu irmão morrer de pneumonia por ter se recusado a medicá-lo com remédios convencionais, além de ter se prostituído na presença do filho. Os versos de “Myma”: “Estou tão perdido e estou aqui na escuridão, e eu quero ver a luz do seu amor, estou procurando o sentido da vida” são um recado claro à sua mãe.

Um dos meus vídeos favoritos do Girls é eles tocando “Love Like A River” para o programa “For No One”. E eles tocam realmente pra ninguém, num estúdio vazio (mesmo), sem ninguém assistindo. A música é linda, o cenário é perfeito. Com um som que dá até arrepio não é nem preciso de plateia pra preencher o palco.

E aqui rola uma versão-homenagem de “I will always love you”, gravada logo após o falecimento da diva Whitney Houston. Não parece que o som saiu direto do “Father, Son, Holy Ghost”?

 
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