Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais

Imagine o peso de ser filha da maior intérprete do Brasil e de um dos músicos mais completos que a música brasileira já viu? A pressão, as expectativas, as opiniões e principalmente, as críticas. Foi por isso que Maria Rita Camargo Mariano, filha de Elis Regina, só começou a cantar profissionalmente depois dos 24 anos. Maria Rita morava nos Estados Unidos, estudava Comunicação Social e Estudos Latino-Americanos e, mesmo longe da música e dos brasileiros, não conseguiu fugir desse peso.

Ela conta que uma vez um garoto veio correndo e chorando pra ela e disse que a Elis era tudo pra ele. E que outra vez, cantou em um evento na faculdade (inscrita à força pelos amigos) e que viu pessoas chorando quando soltou a voz, pela lembrança da Pimentinha, apelido de Elis – como já havia acontecido com conhecidos em outras ocasiões. Todos pareciam lembrar mais de sua mãe do que ela mesma, que tinha nem 3 anos quando Elis morreu após overdose de cocaína.

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Sua primeira aparição por nossos palcos foi junto a Milton Nascimento, seu padrinho musical, no Credicard Hall. Desde então, a indústria musical ficou alvoroçada porque a filha da Elis estava cantando. A Warner foi na frente e lançou Maria Rita como “a cantora que todo mundo estava esperando”. Seu primeiro disco, “Maria Rita” (2003) vendeu mais de 1 milhão de cópias em todo mundo. As comparações foram fortes.

Muito se dizia que as músicas desse álbum eram lembranças de Elis, que os arranjos se pareciam e até que a imagem dela era igual. “Ela foi cantora, um mito, eu sou filha mulher. Lido com isso numa boa. A única coisa que não curto é quando dizem ‘ela vai tomar o lugar da mãe’, ‘é a nova Elis’, pois isso é desrespeitoso”, disse Maria Rita na entrevista coletiva de lançamento do álbum.

No trabalho seguinte, Maria Rita saiu um pouco dos ritmos do primeiro e lançou “Segundo” (2005), produzido por Lenine. Todo o disco tem o balanço característico de seu produtor e mostrou um pouco mais a personalidade dessa cantora que estava amadurecendo. Ainda assim, as comparações não pararam. Então ela jogou tudo pro alto e resolveu fazer um disco em homenagem ao samba, “Samba Meu” (2007). Colocou o umbigo de fora, trocou os pés descalços por sandália de salto alto e começou a sambar no palco. O show era lindo, colorido, alto astral. Era Maria Rita feliz. E mesmo assim, ainda teve quem quisesse comparar, lembrando que a Elis também havia lançado um disco em prol do samba, o seu 5º de carreira, “Samba – Eu canto assim” (1965).

Com o clima de “Samba Meu”, Maria Rita ficou quase três anos na estrada. Apresentou-se mundo afora, ganhou mais alguns prêmios e começou a reconhecer seus verdadeiros fãs: aqueles que não viveram Elis Regina ou que souberam distinguir uma da outra. Lançou “Elo” (2011) e as comparações foram diminuindo, uma vez que estava bem mais claro quem era Maria Rita e não quem era a “filha da Elis”.

968811_10151660055910336_1689817000_nSe ela permanecesse seguindo essa linha, provavelmente não haveria mais essas comparações. Acontece que, embalada por um projeto patrocinado pela Nívea e que contou com verbas da Lei de Incentivo à cultura, Maria Rita se uniu a João Marcello, seu irmão, e relembrou Elis Regina no show “Viva Elis”. Em entrevistas, disse que foi o momento certo, que se preparou muito, tanto tecnicamente quanto psicologicamente. As apresentações foram um sucesso e ela resolveu lançar o álbum e a turnê “Redescobrir”, cantando sucessos de sua mãe. Logo, as comparações voltaram, algumas pesadas, como a do cantor Jair Rodrigues – foram elas que geraram o #prontofalei de Maria Rita no Twitter.

Uma coisa que não podemos negar, desde o começo de sua carreira, é que quando Maria Rita realmente libera a voz, a lembrança de Elis fica evidente. Não é cópia. É gene. Tá lá, você vê que ela não está forçando nada. Muito pelo contrário. Sempre tive a impressão de que ela segurava um pouco o tom para não se fazer lembrar, mas durante as emoções de um show, às vezes escapava – e os fãs achavam lindo. Acontece que justamente quando as comparações e críticas estavam diminuindo, Maria Rita trouxe a Elis novamente pro palco. E se você tem a voz parecida, cantando as mesmas músicas, claro que vão falar que é imitação.

Claro que vão ter os que vão apontar o dedo na cara e dizer que ela estuda Elis e que imita a mãe de cabo a rabo. Contudo, pelo histórico de Maria Rita, logo percebemos que não há imitação e estudo algum. Realmente deve ser doloroso ver vídeos de sua mãe que morreu antes mesmo que você tivesse a oportunidade de conhecê-la. E deve ser um saco ouvir opinião de tanta gente que a conheceu muito mais do que você, a própria filha da cantora.

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Acredito que o momento para a homenagem à Elis foi inoportuno. Maria Rita poderia ter esperado um pouco mais para trazer a maior cantora do Brasil para o seu lado. A música brasileira é órfã de Elis Regina e como tal, também sente ciúme de sua imagem e de sua lembrança. Maria Rita sempre disse que o que mais odeia é quando falam que ela veio substituir Elis. “Ela é insubstituível”, e como todos os apaixonados pela Pimentinha também concordam com isso, as comparações sempre serão brutais. Mas se a cantora souber, novamente, se colocar a parte disso tudo, logo retorna seu caminho longe da sombra de sua mãe.


A expressão facial/corporal da Maria Rita cantando “Como Nossos Pais” diz tudo. É de arrepiar.
 

A própria biologia diz que todo mundo é 50% pai e 50% mãe. Logo, Maria Rita tem Elis, assim como tem César Camargo Mariano, e nunca vai conseguir fugir disso. Neste momento, ela está enfrentando tudo o que qualquer pessoa que se propõe a cantar Elis Regina sofre, tanto em karaokê como profissionalmente: um julgamento pesado. O fato é que tem que ter peito pra cantar qualquer música de Elis e receber aplausos. Isso, Maria Rita está conseguindo, independente de ter os genes ou não.

Texto por Regina Colon.

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NTR Convida #20 Luis Calil (Cambriana)

Toda sexta-feira (toda MESMO, dessa vez é sério) o NTR traz a seção “NTR Convida”, onde músicos convidados vão ditar o som para você começar o final de semana na pegada.

 
O convidado da semana é Luis Calil, vocalista da banda Cambriana. Sabem aquelas listas de “melhores do ano”, que a maioria dos blogs e sites musicais fazem em dezembro/janeiro? A Cambriana fez valer uma lista de 100 bandas nacionais que eu vi no começo de 2013.
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É a típica banda-nacional-que-não-parece. Se auto-definem como sendo uma banda de “pop psicodélico”, com influência de artistas como The Kinks, Grizzly Bear, Neil Young e Radiohead, entre outros. Acho pouco.

Ouvindo o disco House of Tolerance (2012) e os dois EPs, Afraid of Blood (2012) e Worker (2013), todos gravados, produzidos e mixados pela própria banda, temos uma das melhores coleções indie disponíveis hoje no Brasil. A Cambriana participou de grandes festivais no ano passado e dividiu palco com Móveis Coloniais de Acaju e Black Drawing Chalks, em Goiânia, e Otto, Marcelo Jeneci, Criolo e Milton Nascimento, em Pirenópolis.

Fiquei dias, vários dias, com a música e o clipe de The Sad Facts na minha cabeça. Faça-se o favor e veja-o.

As músicas escolhidas pelo Luis estão no player acima. É só clicar para ouvir todas na sequência.

A playlist:
1) Abayomy Afrobeat Orquestra – Eru
“Afrobeat de altíssimo nível sendo feito no Brasil. Orgulho.”

2) Harry Nilsson – Me and My Arrow
“Indicação do Israel Santiago, guitarrista da banda. Pop perfeito, simples e delicado, com a dose correta de melancolia.”

3) Kendrick Lamar – Real
“Eu não consigo tirar o gancho da minha cabeça: “I’m real, I’m real, I’m really really real”.”

4) Rihanna – Stay
“A linha de piano no verso é reticente de um jeito que é muito raro em baladas pop. A emoção nela é repetidamente suprimida pelo terceiro acorde. É claro que no refrão a Rihanna entrega o jogo e solta a franga, mas até lá, é uma composição de muita classe.”

5) Philip Glass – Closing
“É a faixa final do grande disco do Glass, o “Glassworks”. É uma reprise da faixa de abertura (que é tocada apenas no piano), só que com que instrumentos de corda e sopro. Muito, muito bonito.”

Mais Cambriana:
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Site da banda
Fanpage oficial da banda

Corra e baixe todas as músicas da Cambriana, na página deles no BandCamp.

 

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NTR Convida #3 Eli Muzamba (Jet Set)

 

Toda sexta-feira (toda MESMO, dessa vez é sério), o NTR vai trazer a seção “NTR Convida”, onde músicos convidados vão ditar o som para você começar o final de semana na pegada.

 
O convidado da semana é Eli Muzamba, vocalista há 13 anos na banda Jet Set, de Campinas/SP. A Jet Set, formada por amigos de faculdade no ano de 1998, toca em bares e festas na região de Campinas, São Paulo e Minas e já conta com 3 álbuns de estúdio na extensa carreira. O último trabalho do grupo, Canções de Gerra, foi lançado este ano e tem single com clipe todo gravado em Muzambinho/MG.

Recentemente, a banda fez um show temático em homenagem a Kings of Leon (uma das bandas favoritas dos caras) e, aliás, foi onde o NTR conheceu o Muzamba e o resto do pessoal gente boa da Jet Set e foi nessa ocasião que fomos presenteados com a cópia física do excelente “Canções de Guerra”. Curta os sons e a boa vibe (alguém ainda fala isso?) pro fim de semana!

As músicas escolhidas pelo Eli estão todas no player acima. É só clicar para ouvir todas na sequência!

A playlist:

1. Pink Floyd – Echoes
2. Kings of Leon – King Of The Rodeo
3. The Cure – A Night Like This
4. Milton Nascimento – Nada Será Como Antes
5. Miles Davis – So What

 
Capa do álbum Canções de Guerra

Por onde anda:
www.bandajetset.com.br
YouTube, Facebook, Twitter

 
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