Todos menos eu: Anavitoria

Não se sabia que Tiago Iorc, cantor que tem ganhado cada vez mais visibilidade depois de lançar o ótimo Troco Likes (2015) – e depois do clipe com Bruna Marquezine e da parceria com Sandy, claro – era também um descobridor de talentos. Anavitoria é a nossa primeira prova: um duo formado por Ana Clara Caetano e Vitória Falcão, meninas de Araguaína, no Tocantins. Elas enviaram um vídeo ao cantor e ganharam, na sequência, um EP e um álbum, homônimo e bem recebido.

Tudo isso todo mundo já sabia, menos eu, que descobri o duo nas sugestões do spotify e fiquei muito impressionado com a sensibilidade na hora de escrever as letras. A maioria delas é de Ana Clara, que toca violão e que, a princípio, convidou Vitória para gravar vídeos para o Youtube.

Elas pintam imagens nos versos, como quando cantam “Ei, você que se alojou nos meus olhos e na minha boca, por que não tá aqui?” em Nós. Ou então quando em Singular ela avisa: “mesmo se você brigar, eu te enlaço e não me permito soltar, pro nosso nós não deixar de ser assim: tão singular”.

Aí entra Tiago Iorc produtor, embora assine também algumas faixas no álbum e faça participação especial em Trevo (tu). Ele transformou as meninas, de um duo acústico desses como outros milhões no Youtube, em Pop Rural. A maior parte das músicas tem linha de viola caipira e banjo, e o fato de tocá-las com banda também as descola dessa imagem. Ainda melhor, porque as duas passam ao largo da estética de artistas como Colbie CaillatJason Mraz – talvez um pouco mais para Maria Gadú e Tiê, mas, ainda assim, bem original.

Resumindo, não é pop e não é sertanejo. É, de fato, interessantíssimo, ainda mais porque a cultura sertaneja é parte da vida das duas no Tocantins, enquanto que a cultura pop vem da internet, do Youtube e redes sociais. Pra complementar, as duas cantam muito bem e têm um carisma que é uma mescla de uma suposta ingenuidade juvenil e uma tranquilidade inabalável na hora de executar as músicas.

E além delas, Tiago Iorc? O que mais vem por aí?

Vital e Sua Moto, a origem

Morreu ontem, terça-feira (3 de março), Vital Dias, primeiro baterista dos Paralamas do Sucesso e inspiração do primeiro sucesso da banda, Vital e Sua Moto. A notícia triste foi confirmada pelo site da banda – aos 55 anos, ele, que morava no Rio de Janeiro, não resistiu a um câncer. Vital foi um dos grandes personagens do rock brasileiro nos anos 80, uma época frutífera que “coincidiu” com a primeira edição do Rock in Rio, onde eles executaram a música, como o vídeo acima mostra.

Vital Dias, ex-baterista

Vital Dias, ex-baterista

Até onde se sabe, Vital era mesmo apaixonado por motocicletas. Mas já não estava na banda quando ela foi lançada. Vital formou trio com o baixista Bi Ribeiro e o guitarrista Herbert Vianna em 1977, mas se separaram em 1979, ano em que prestaram vestibular. Em 1981, se reuniram de novo, já universitários. No ano seguinte, Vital simplesmente faltou a uma apresentação na Universidade Rural do Rio e acabou substituído às pressas por João Baroni, que está aí até hoje. E foi isso.

Vital foi muito mais relevante como personagem do que como músico, o que não significa que não tenha sido bom – pouco se sabe sobre o desempenho dele, aliás. A música Vital e Sua Moto integrou uma fita demo, com outras três canções, que foi parar na programação da Fluminense FM, e a partir daí ganhou o Brasil. Em 1983, a banda assinou com a EMI e lançou o primeiro disco, Cinema Mudo – que não deixou o trio muito satisfeito, na verdade.

Vital e Sua Moto abre o disco de estúdio com uma versão que não agradou a banda, principalmente pela inclusão do grupo vocal Golden Boys no refrão. Com isso, em setembro de 2013 – talvez pelo aniversário de 30 anos do lançamento da demo -, os Paralamas fizeram até uma campanha pra encontrar a fita original. Não se sabe do resultado.

Como integrante da família Vital, posso dizer que conheço essa música há muito tempo – as pessoas sempre me perguntam se eu vou aos lugares de moto, se eu me sinto total e quando os Paralamas do Sucesso vão tentar tocar na capital. Nem carta de moto eu tenho. Mas o que elas não sabem é que Vital não era o sobrenome do ex-baterista: era primeiro nome mesmo. Vital José de Assis Dias. Que descanse em paz.