Cool covers: I Want Altitude

Essa garota no vídeo acima é a Andie. Ela tem 17 anos, está no último ano do ensino médio e tem 133 mil inscritos em seu canal do Youtube, com mais de 12 milhões de visualizações. Australiana – mora perto de Sydney -, ela é dona também de uma maturidade musical e senso de harmonia incríveis, além de uma voz ímpar. Está tudo aí, no cover de Sweet Dreams, da Beyoncé. Seu nickname na rede é I Want Altitude.

Andie começou a fazer aula de piano aos seis anos, estudou por cinco anos até passar a tocar violão. Também toca guitarra e ukelele, e canta desde quando consegue se lembrar. Começou a chamar a atenção com seus vídeos aos 15 anos, e desde então mantém essa rotina de desconstruir a estrutura das músicas, modificá-las, adapta-las à sua voz. É fã de Mumford & Sons e Ed Sheeran. Passa longe de Katy Perry e Justin Bieber.

Apesar do talento inegável, Andie não capitalizou toda essa exposição – ou pelo menos alega isso. É totalmente independente e não faz mais do que apresentações esporádicas perto de onde mora, além de encontros com fãs em parques. Usa o Twitter e o Instagram constantemente, mas com foco mais pessoal. Sua fanpage no Facebook, um dos principais canais de divulgação, está abandonada desde dezembro.

A situação é tão amadora que, como não tem ganhos com o que faz, ela abriu um projeto de crowdfunding para financiar a compra de microfones e câmera de melhor qualidade pra fazer seus vídeos. As recompensas são hilárias: $200 rendem uma espécie de entrevista com ela, $300 rendem um vídeo mostrando um pouco de sua vida e, com $400, ela promete gravar uma música pendurada de ponta-cabeça na barra do parque, na cidade onde mora. Até agora, conseguiu $108, com 29 doadores.

Andie faz cool covers do jeito que a gente gosta: na raça, ao vivo, bem executados e criativos. Vale a pena conferir. Abaixo, outro que chamou a atenção, algo mais regional: Don’t Dream It’s Over, sucesso dos anos 80 com a banda australiana Crowded House, mas composta pelo neo-zelandês Neil Finn (esse vídeo com a imagem invertida, aliás, ela é destra, não canhota).

NTR Convida #56 – The Fingerprints

Os nossos convidados de hoje são os integrantes da banda The Fingerprints, de Santo André. A banda foi formada em maio de 2014 por May Dantas (vocal e guitarra), Felipe Gasnier (guitarra), Tales Lobo (baixo) e Daniel Cardoso (bateria). Eles tocam punk rock rápido, distorcido e sujo, com muita influência de grunge também. A própria banda define seu som como “guitarras bem sujas, vocal feminino rasgado e uma forte presença e energia no palco”.

Os integrantes se conhecem há anos e sempre tocaram juntos de brincadeira, até decidirem levar a sério, investir em músicas autorais e shows.

O nome da banda é inspirado em silk-screen, uma técnica artesanal de estampar camisetas. Em 2007, May, Tales e Daniel moraram no Canadá e trabalharam em uma estamparia. Algumas camisetas saíam manchadas com as digitais (fingerprints).

Os Fingerprints vem fazendo muitos shows e tocando músicas autorais. Eles já passaram por casas de show tradicionais de São Paulo, como o Hangar 110, casa de muitas bandas punk e alternativas; e o clássico Café Aurora, no Bixiga.

Eles têm bons vídeos tocando músicas próprias ao vivo no Aleluia Fest, em outubro do ano passado:

                 Obsession – a música que eles mais gostam, que deve ganhar um clipe em breve

 

                                                                                      Drama King

 

Confira a playlist e a entrevista dos Fingerprints para o Não Toco Raul:

 

PLAYLIST
Clique no vídeo no topo do post para ouvir as músicas na sequência)

“As músicas escolhidas são aquelas que estávamos com bastante vontade de tocar nos shows. Não sabemos ainda se iremos tocá-las, mas se anunciarmos um cover no show provavelmente será uma dessas. São músicas que nós quatro gostamos e que de certo modo influenciam no nosso som”, explicou Felipe.

1) The Pixies – Hey

2) Descendents – Suburban Home

3) L7 – Wargasm

 

ENTREVISTA

1) Ainda tem espaço pro punk rock no Brasil? Vocês sentem que tem onde tocar, que tem público?
Felipe: Espaço tem. E, se não tem, “faça você mesmo”! Tocando na rua, estacionamento, casa de amigos…o problema, ao meu ver, e que gerou uma extinção de bandas punks, foram os incentivos. São poucos que consomem, são poucos que não estão na lista VIP, que compram CDs e merch… Sabe, no Brasil ninguém foi educado a colaborar com arte, não importa se é música, quadros, zines, a galera não apoia e isso desmotiva geral. Não estou falando só de grana, não é essa a questão, mas para a engrenagem rodar é preciso algum tipo de estimulo. Às vezes os aplauso ou um papo pós showjá são motivo para o artista querer se superar na próxima apresentação. É assim que a arte funciona! Agora, se a banda XYZ do EUA vem tocar no Brasil com ingressos absurdamente caros, surgem roqueiros de todos os cantos para babar ovo. Vai entender…

2) Vocês já gravaram algumas músicas, certo? Dá pra ouvir na internet?
May: A banda tem relativamente pouco tempo de vida. Lançado mesmo a gente só tem um álbum ao vivo que rolou no Aleluia Fest, em outubro do ano passado. Dá pra ouvir na internet sim, no nosso Bandcamp. Também temos uns videos bem legais desse show, com a qualidade de áudio muito boa, no nosso canal do YouTube. A gente tá trabalhando no nosso primeiro EP, que vai contar com 5 músicas. Queremos lançar agora em março.

3) Quais são suas influências e inspirações pra fazer música?
May: Tem uma banda Americana que chama “Crime in Stereo” e, em uma de suas músicas, o vocalista diz: “Without a broken heart, we’ve got nothing to sing about” (“sem um coração partido, não teremos sobre o que cantar”). Eu mesma que escrevo as letras, sobre situações (ou frustrações) cotidianas, por isso algumas delas são bem pesadas, algumas até meio profundamente melancólicas. Quando lançarmos o EP, iremos também divulgar as letras. Depois que a letra é feita, a base e toda a harmonia da música é trabalhada pela banda inteira junta, dando assim um peso e uma certa agressividade num todo.

4) May, você já sofreu com machismo por ser musicista? Já rolou alguma situação em show?
May: Existe machismo sim, um tipo de interesse escroto. Pode ser alguma admiração estranha por ser uma mina na banda, mas eu quero mais é que se foda! Não vou deixar isso me limitar, por mais que encha o saco pra caralho. Acham que ser mulher é ser o sexo frágil; e quero muito poder provar o contrário. Quando eu falo para as pessoas que eu tenho banda, toco punk rock e tal, todo mundo tenta imaginar algo o mais doce possível – e eu adoro a cara de espanto de cada um quando já no primeiro acorde sai aquela sujeira podre, com um puta vocal rasgado.

5) Vocês têm vários shows marcados, estão tocando bastante. Quais são as aspirações da banda?
May: Como eu falei antes, agora a gente tá focando no nosso EP, que queremos lançar em março. Com ele lançado, vamos começar a gravar o clipe do nosso som favorito, chamado Obsession. E nesse meio tempo (claro, sempre tentando descolar mais e mais shows), de repente tocar em outros estados seria bem legal! Fazer contatos com selos, aquela correria pela qual toda banda independente acaba passando. Tocamos no Hangar no ano passsado e foi um puta show sensacional, acho que pra toda banda independente de São Paulo tocar lá é sempre uma honra. Queremos tocar de novo, obviamente, quem sabe seria até legal fazer um show de lançamento por lá ao lado de alguma outra banda consagrada pela casa. Ah, sim, vale constar que queremos ficar ultra famosos, com aquela mega pose de roqueiros doidões, pra depois (essa alias é toda a intenção da banda) nos voltarmos à igreja universal e mostrar pra todo mundo que reabilitação e servir a nosso senhor é possível sim, só necessita da ajuda de um bom, poderoso e todo bondoso pastor.

6) Aproveitem o espaço pra divulgar o que vocês quiserem!
Felipe: Monte uma banda, pinte quadro, escreva zines, abra seu próprio negócio! Faça você mesmo! Quem manda em você é SOMENTE você.
May: VEJAM NOSSO VÍDEO NOVO! E vão nos shows, tá da hora e sem escrúpulos.

 

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Dead Fish em 912 passos

O Dead Fish liberou na última quarta-feira, para streaming, o novo disco intitulado Vitória, produzido após campanha de crowdfunding – a qual eu também participei e ainda não recebi nada (cadê essa porra?). São 14 faixas muito bem encaixadas que os fãs mais antigos terão de ouvir algumas vezes para absorver o estilo de Rick Mastria, guitarrista do Sugar Kane que substituiu Phil. A pegada continua pesada, rápida. Antes, no começo de fevereiro, a banda já havia divulgado um single, 912 passos. Mas que passos?

A numeração no título não foi esclarecida pelos membros da banda, então podemos especular.

O personagem da música vive uma situação conflituosa com o mundo em que vive e as pessoas que nele habitam. “Vejo fatos da vida real tão distantes que mal chegam a me afetar”, diz já o último refrão. Sem saber como lidar com isso, ele tenta encontrar uma forma de compreender tudo, e isso ele faz contando os passos pra ser racional. Por tentativa e erro, zera a contagem cada vez que percebe que não chegou a lugar algum.

Então, 912 é o número mágico de passos necessários? Talvez.

O Dead Fish registrou essa música pela primeira vez ainda em agosto de 2014, em show no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Na ocasião, o vocalista Rodrigo Lima anunciou: “por ora, essa música se chama Hit Veraneio ou 678 Passos ou algo assim. Vamos ver se muda”. Mudou: aumentou 234 passos. O caminho pra ser racional é mesmo longo.

Pela letra, não dá pra saber exatamente que caminho é esse. Mas há um trecho curioso: entre berros, Rodrigo descreve um caminho feito pelo centro de São Paulo.

Nestor Pestana, cruzo a consolação.
Desço a Rua Araújo, olho pro chão.
Ignoro o Copan. Estação República.
A multidão ninguém é humano, mas vai ficar tudo bem!

NESTORPESTANA

Esse caminho, segundo o Google Maps, é curto, tem 800 m – estou considerando a entrada na Estação República pela Rua do Arouche, já que ele pega a Rua Araújo, enquanto que a entrada do metrô na Praça da República fica na Avenida Ipiranga. Para fazer o trajeto, os passos teriam que ter 0,87 m, o que não é um absurdo, mas também não é comum. Obviamente, não fica claro em que ponto da Nestor Pestana ele sai, o que pode reduzir consideravelmente o trajeto. De qualquer maneira, se adotarmos a medida passo simples – unidade utilizada no Império Romano e que equivale a 0,74 m -, os 800 m citados na música seriam feitos em 1081 passos.

É possível que esse trajeto seja feito em 912 passos? Claro. Com pressa, talvez correndo, qualquer um conseguiria. Que tipo de pessoa cruzaria a Consolação e entraria na Rua Araújo ignorando o Copan, majestoso prédio projetada por Oscar Niemeyer? Alguém apressado.

Pena que essa busca provavelmente deu em nada. Na Estação República, na multidão ninguém foi humano.

Atualização: acertamos!

Sim, o Não Toco Raul acertou: os 912 passos correspondem ao caminho da Rua Nestor Pestana ao Metrô República. É o caminho que Rodrigo fazia para ir trabalhar. Ele explicou tudo no vídeo do Dead Fish no Rock Togheter, que saiu nessa segunda (2 de março).

“Eu lembro que era um momento da minha em que, pela segunda vez na minha vida, eu estava vivendo sozinho em São Paulo. Eu gosto de viver sozinho, não tenho problema em estar sozinho, mas eu vivia sozinho, eu tinha um emprego, eu tinha uma banda, e eu não tinha perspectiva nenhuma de algo melhor acontecer, a não ser aquilo ali. A não ser ir pro trabalho e voltar do trabalho. Num dado dia, pra não pensar besteira, pra não pensar merda, eu comecei a contar todos os passos até a catraca do metrô. Eu acho que eu fiz isso 30, 40 vezes indo pro trabalho”, disse.

“Normalmente, eu fazia isso e dava um número completamente diferente: quando eu estava com pressa era 912, quando estava devagar dava mais, e etc. Aí eu comecei a pensar que, na vida, nada tem um numero correto. A vida não é um somatório de 2 + 2 que vai dar 4. A gente não pode botar a vida num gráfico. Não pode ser cartersiano: velocidade, tempo e fazer um gráfico. A vida não pode e não deve ser assim. E aí, num dado momento, eu parei de contar. Falei: “ah, é isso que está acontecendo comigo mesmo””, completou.

NTR Convida #55 – Tess Parks

Nossa convidada de hoje é a cantora, guitarrista e compositora canadense Tess Parks. Ela tem apenas 24 anos, mas já gravou um álbum e dois EPs, participou de uma coletânea brasileira em homenagem ao Oasis, fez shows em vários países e parcerias com Alan Mcgee – músico inglês que descobriu o Oasis e empresariou bandas como Primal Scream, My Bloody Valentine, Teenage Fanclub e Libertines – e Anton Newcombe, líder do Brian Jonestown Massacre, com quem gravou em Berlim no final de 2014. Na semana que vem, ela vai abrir um show da lendária banda The Jesus And Mary Chain em Birmingham, na Inglaterra. Nada mal, hein?

Tess nasceu em Toronto, começou a tocar piano com apenas 6 anos e, aos 17, foi morar em Londres com o intuito de desenvolver sua carreira na música e na fotografia. Ela tem um estilo bastante particular, que é quase um “dark folk”. São canções mais arrastadas, cheias de sentimento, falsamente calmas. Muita gente compara Tess a Patti Smith. Ela mesma cita como influências Oasis (sua banda preferida), a própria Brian Jonestown Massacre, Spacemen 3, Jesus & Mary Chain, Bob Dylan, Nirvana, Beatles, Rolling Stones. Tess tem uma pegada forte de blues e uma voz muito rouca e grave. As músicas são hipnotizantes e viajandonas. Foi no centro da capital inglesa que eu a conheci, no ano passado. Ela tocou sozinha acompanhada apenas por sua guitarra e, depois do show, montou uma banquinha para vender CDs e fotos em preto e branco de sua autoria. Se no palco Tess tem uma postura mais sombria e introspectiva, fora dele ela é a simpatia em pessoa, falante, alegre e animada.

Vale a pena conhecer seu disco de estreia, que se chama “Blood Hot” e foi lançado em novembro de 2013. Desse disco, Tess lançou um videoclipe bem bacana, para a canção “Somedays”:

Também vale conferir a coletânea brasileira “Live Forever”, feita em 2014 para homenagear os 20 anos do disco de estreia do Oasis – “Definitely Maybe”. Além de Tess, participam 16 artistas, incluindo Chuck Hipolitho, Cachorro Grande, Single Parents e Veronica Kills.

Tess escolheu uma playlist que é a cara dela e também deu uma entrevista especial para o NTR:

 

PLAYLIST
Clique no vídeo no topo do post para assistir na sequência as músicas de 1 a 4. Clique em cima da música 5 para ouvi-la.

1) Skullgroover – Black Market Karma
Uma das minhas bandas preferidas! Nós fizemos uma turnê juntos no ano passado e a parceria meio que foi continuando…provavelmente vai ser uma turnê infinita. Essa música deles é basicamente uma das minhas canções preferidas de todos os tempos.

2) The Holy Mountain – The Auras
Uma das minhas bandas preferidas de Toronto, de um ótimo selo local chamado Optical Sounds.

3) Sky Sounds – Magic Castles
Acho que estes caras são meus novos colegas de selo! Eu amo essa música, é muito bonita. Soa nostálgica.
Tess faz parte do selo 359, de Alan McGee.

4) Lucid Dreams – The Underground Youth
Banda incrível de Manchester. Eu já amava os caras desde que morava em Toronto e acabei ficando amiga dos integrantes Craig e Olya Dyer. Eles são tão talentosos e fazem uma música tão incrível. Tive a honra de tocar com eles em agosto de 2014.

5) Octo City – Velvet Morning
Me apaixonei por essa banda quando vi eles tocarem ao vivo. Nunca tinha ouvido falar deles antes. Eles são incríveis! Eles fazem música trance hipnótica como ninguém. Estou obcecada com isso.

 

ENTREVISTA

1) Você é de Toronto, mas morou em Londres por um bom tempo. Você acha que a cidade inspira sua música?
Há pouco tempo me mudei de volta de Toronto para a Inglaterra. Hoje, moro em Dartford (cidade vizinha de Londres) com meu lindo namorado. Todo lugar que eu vou me inspira e “desinspira”, na verdade. Eu gosto de me movimentar e de viajar o máximo possível para me manter sempre inspirada.

2) Você tem um álbum e dois EPs gravados. Fale um pouco mais sobre estes trabalhos.
As primeiras gravações que eu fiz foram no meu quarto, usando o Garage Band (programa de computador), sem microfone – direto no computador, mesmo.  Existem umas 300 ou 400 gravações dessas, mas decidi lançar apenas algumas delas no Bandcamp no começo de 2013 porque nunca tinha compartilhado propriamente nenhuma delas. Pelo menos não desde os tempos do Myspace, de qualquer forma. Aí eu gravei com alguns amigos em um loft onde costumávamos ensaiar e fazer jams – e acabou ficando uma coleção de gravações bem bonita, sonhadora. Eu gosto muito da sensação dessas gravações. Aí eu fui convidada para fazer um disco que seria lançado no novo selo do Alan McGee, o “359 music”, então gravei meu disco “Blood Hot” com meus melhores amigos, no porão do Thomas.  Foi um processo muito tranquilo, com muitas risadas. Sou muito grata por ter tanta gente maravilhosa na minha vida que topa tocar comigo.

3) Eu vi um show seu em Londres em que você tocava sozinha, apenas com uma guitarra. Você sempre se apresenta assim?
Normalmente eu toco acompanhada por uma banda. Mas no meio do ano passado comecei uma turnê tocando sozinha. Definitivamente, é uma vibe diferente. Eu prefiro tocar com uma banda.

4) Sua voz cantando é muito diferente da sua voz quando você conversa. Isso me impressionou quando te conheci. As pessoas costumam reparar nisso?
(Risos) Ah, sim, todo mundo repara. Acho que minha voz cantando vem de um lugar de dor. Vem bem do fundo do meu coração, visceral…eu não sei. Eu gosto de cantar. Mas não sei de onde vem essa voz. .

5) Você participou de uma coletânea brasileira em tributo ao Oasis. O que isso significou pra você?
O OASIS É A MELHOR BANDA DO MUNDO. MINHA MAIOR INFLUÊNCIA DE TODOS OS TEMPOS. Foi uma grande honra fazer parte dessa coletânea e todas as bandas fizeram um trabalho incrível com os covers.

6)  Você gostaria de tocar no Brasil?
LÓGICO QUE SIM! Eu quero tocar em todos os lugares.

7) Você acha que a indústria musical é machista?
Acredito absolutamente que existe sim machismo nela. E a música mainstream intimida e sexualiza as mulheres, é claro. Mas pessoalmente eu não tive uma experiência com isso.

8)  Como foi graver o clipe de “Somedays”? Achei muito bem produzido!
Obrigada! Este video foi feito pelos meus amigos Mark Cira e Brittany Lucas em North Ontario, na linda e antiga casa de campo dos avós do Mark. O video teve muitos feedbacks positivos e sou muito grata a eles por terem me ajudado a fazer um grande clipe.

9) No que você está trabalhando no momento? Ouvi dizer que você gravou com o Brian Jonestown Massacre (BJM)?
Tenho feito muitos shows pela Europa. Tenho um disco que vai ser lançado em abril, que gravei com o Anton da BJM, sim. Estou super empolgada, não vejo a hora! Acho que é uma obra prima.

10)  Você vai abrir o show do Jesus and Mary Chain! O que acha de tocar com eles?
Vai ser uma honra! Estou super animada! Eu amo essa banda há muito tempo.

11)  Você fotografa. É um hobby? Ou você também trabalha como fotógrafa?
Já fiz fotografia profissional e já tive minhas obras expostas. Definitivamente começou como um hobby, mas tento aproveitar toda oportunidade que tenho de publicar ou mostrar esse trabalho, ou de fotografar uma banda ou qualquer outra coisa.

12) Você sempre foi uma artista solo?
Sempre toquei sozinha e escrevi minhas músicas, mas era tímida demais para fazer show. Montei uma banda com minha melhor amiga, Annie, no Ensino Médio. Não durou muito, mas a gente fez umas músicas  legais e ela me encorajou a me apresentar. Sempre serei grata a ela por isso. Aí eu toquei e me apresentei sozinha quando morei em Londres, durante quatro anos. Quando voltei pra Toronto, montei uma banda. Eu tinha 21 anos. Sempre quis montar uma banda enquanto morava em Londres, mas na época não tinha conhecido as pessoas certas. Quando eu voltei pra Toronto, juntei alguns dos meus melhores amigos para tocar comigo. Gosto de tocar e colaborar com o maior número de pessoas possível.

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NTR Convida #54 – Dryca Ryzzo

Hoje o NTR tem a honra de receber a maravilhosa Dryca Ryzzo, cantora e compositora paulistana que começou a cantar em bandas de reggae e logo passou a se apresentar com grupos de hip-hop como backing vocal, tendo cantado com grandes nomes do gênero, como Mano Brown, Negra Li e Conexão do Morro; e tendo sido integrante do Rosana Bronks – grupo onde teve mais destaque e um clipe incrível para a música “Frenesi” – assista aqui.

Em 2012, Dryca lançou seu primeiro trabalho solo: um disco homônimo muito dançante que manteve referências ao hip-hop, mas que tem uma pegada forte de R&B e muito suingue. “Dryca Ryzzo”foi produzido por Dehco Wanlu (Jigaboo) e masterizado no estúdio Sterling Sound, em Nova Iorque, por Jay Franco. Além da gravação finíssima, a arte do CD é muito bacana – imitando uma vitrola e cheia de fotos lindas.

Do seu primeiro disco, Dryca tem dois clipes muito bem produzidos: “Não Me Diga Bye Bye”, com participação especial do rapper Rinea BV; e “Flerte”, que é simplesmente lindo e mostra a história da música e da arte pelas últimas décadas. A direção de arte e figurino dos dois vídeos foi feita por Ligia Morris, estilista americana que já trabalhou com estrelas como Lady Gaga.

Atualmente, Dryca tem feito muitos shows e está terminando seu segundo disco – que ainda não tem nome divulgado. Ela falou com o Não Toco Raul sobre o novo trabalho e nos indicou uma playlist bacana para agitar o feriado. “Selecionei músicas que curto e que ando ouvindo. Pena que são apenas cinco. Vou lembrar de mais 500 depois, mas espero que curtam!”, disse ela. Confira!

PLAYLIST
Clique no vídeo no topo do post para assistir.

1) Aloe Blacc – Soldiers In The City
“Adoro o disco todo dele – aliás, tudo o que ele faz! Sou fã e escolhi essa música pois, apesar de muitos citarem esse som como plágio de Tim Maia em ‘O Caminho do Bem’, acredito que foi uma homenagem. Ele conseguiu fazer uma versão muito boa.”

2) Beyoncé – Flawless
“O disco novo dela está incrível! Gosto de todas!”

3) Isley Brothers – Don’t Say Goodnight
“Música pra namorar (risos).”

4) “Bob Marley – Turn YourLights Down Low
“Música linda, a versão com a Lauryn hill é demais!”

5) Sabotage – Todas
“Qualquer som! Visionário e autêntico, à frente de seu tempo.”

dryca

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ENTREVISTA

1) Seu primeiro disco é R&B e dançante, bem de pista. Mas o disco novo é voltado para uma coisa mais roots e orgânica, com influências de reggae. E você começou cantando em bandas de reggae, certo? Fale um pouco sobre as influências desse novo trabalho.
Quando comecei o disco pensei muito sobre qual caminho seguir. Poderia seguir um caminho dançante, mais pop, mais conceito, mas no fim resolvi seguir meu coração. Foi realmente um resgate do que sempre escutei e sempre me influenciou. Componho muito mais neste disco, as letras que não são minhas eu mudei algumas frases e refrões. Podemos dizer que esse novo disco é realmente um reflexo do que estou vivendo hoje, uma evolução também, pois mudei muito nesses três anos que se passaram desde o meu primeiro lançamento e fiz questão de transmitir isso no disco, de colocar minhas vivências, romances, reflexões. Não teria sentido pra mim lançar algo parecido com que eu já fiz. Mas mantenho a essência do disco anterior, no conceito de misturar ritmos para fazer algo com a minha cara, sem segmentar; e fazer chegar a um resultado novo meio que na contramão.

2) Como vai se chamar o disco novo? Quantas faixas terá? Quando vai ser lançado?
Ainda não escolhi o nome e ainda não fechei as faixas, comecei querendo de 5 a 6 musicas, mas já tenho 9 prontas. Estou decidindo como vou lançar, se uma parte ou todas, acredito que sai em breve. Falta só uma música para por voz e não vejo a hora! Só posso dizer por enquanto que o lançamento será em breve, ainda nesse semestre.

3) Todas as músicas foram escritas por você? Quem produziu? O que podemos destacar desse novo trabalho?
De 9 músicas meu parceiro de longa data Rinea BV escreveu 2 e outras 2 fizemos juntos. O produtor do disco, Rick Dub, realmente foi a cereja do bolo pois eu estou amando esse trabalho. Esse novo trabalho eu posso dizer que é diferente, meio que biográfico, na verdade não quero dizer muito, prefiro que quando sair vocês me falem o que acharam e suas impressões. Só posso dizer que usamos muita alma e amor.

4) Tem alguma participação especial no disco novo?
Sim! Fiquei muito contente de poder contar com pessoas talentosas para somar neste trabalho. Já temos gravadas três participações especiais – entre elas Dom Franco, Sistah Mo Respect e Fernandinho Beat Box. Talvez role mais uma participação, mas por enquanto não posso divulgar pois não está fechado.

5) Você vai fazer show em Portugal. Como surgiu essa oportunidade e o que você espera da viagem?
Essa oportunidade surgiu da minha parceria musical com o Fernandinho Beat Box. Faremos um show juntos lá. Além de cantar as músicas novas, cantamos juntos eu e ele improvisando com músicas conhecidas brasileiras e internacionais. Estou muito feliz, quando começamos a cantar não temos dimensão de onde a música pode nos levar; e saber que vão ouvir meu som em outro país é incrível! O show será em abril e não vejo a hora!

6) Fala um pouco do seu passado, você cantou com vários artistas importantes do rap. Quais parcerias mais marcaram sua carreira? Nos últimos anos você participou de shows do Dexter e do Marcelo D2 e já fez parte do Rosana Bronks.
Ah, teve várias pessoas que marcaram pra mim, pois a maioria deles eu era fã, escutava em casa enquanto sonhava com os palcos. Sou muito honrada e grata a todos por me darem oportunidade. Cantar no mesmo palco que Mano Brown pra mim foi um grande aprendizado, toda a familia Racionais, Rosana Bronks, Conexão do Morro me ensinaram muito, como me portar, como encarar um público grande etc. O show que fiz com o Dexter no SESC Belenzinho também marcou. Conhecer e poder cantar com o Fernandinho Beat Box me abriu muito a mente também, sobre como ter seu próprio estilo mas ser ousado em transitar por outros sem se descaracterizar, ser versátil, ele faz isso muito bem, consegue colocar o estilo dele somando com artistas de estilo distintos, de Marisa Monte a Badhi Assadi.

7) Você vai retomar a parceria com a Ligia Morris? Como é trabalhar com ela?
Sim, vou! Sou uma grande admiradora do trabalho dela e gosto que a arte esteja em tudo o que faço, tanto pra se ouvir quanto pra se ver. Amo fazer clipes, se pudesse faria um de cada som. Ela é muito talentosa e temos muita sintonia quando trabalhamos juntas. É uma grande honra poder trabalhar com ela.

MAIS DRYCA RYZZO:

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Agenda:
06/03 – São Paulo – Fábrica de Cultura (Capão Redondo)
17/04 – Portugal
28/05 – São Paulo

Cool Covers: For Once In My Life

É bem difícil estabelecer o que é um cover de For Once In My Life. A música foi composta por Orlando Murden e Ron Miller, gravada inicialmente em 1966 pela Motown Records, histórica gravadora que marcou a Soul Music. Depois, passou a ser interpretada por gigantes como Diana Ross, The Temptations e Tony Bennett, o responsável por popularizá-la, em 1967. Sua primeira versão era extremamente lenta, uma baladinha reconfortante.

Então veio Stevie Wonder, que mudou o andamento, transformou a música em algo pra cima, alegre, assim como a letra sugere. For Once In My Life é o relato de alguém realizado por ter finalmente encontrado um amor que vale a pena. Virou sucesso mundial, um clássico. Não é preciso dizer que foi reproduzida inúmeras vezes. Entre elas, encontramos alguns Cool Covers.

Acima, você vê a versão de Anthony Strong, um inglês que, além de exímio pianista, é também compositor, com estilo mais voltado ao jazz. Ele novamente diminui o andamento da música, mas dá mais swingue a ela, deixa-a mais insinuante. O solo de piano é algo que – acredite – vale conferir também.

Outra versão interessante é a da americana Dara Maclean, uma texana cristã que se apresenta desde os 13 anos e evita contradizer sua fé nas canções que escolhe. Na voz da cantora, dá pra sentir o regozijo que a letra da música sugere: “FINALMENTE encontrei alguém!“. Mais interessante ainda do que ela é o backing vocal, chamado Jason Eskridge, dono de uma linda voz muito parecida com a de Stevie Wonder. Ele, que tem carreira solo, arrebenta no segundo verso.

Para efeitos de comparação, aqui está a versão de Stevie Wonder.

E aqui, como ela primeiro fez sucesso, na voz (e classe) de Tony Bennett

Feel Good Hit Of The Summer, A Origem

Final de 1999, passagem para os anos 2000. Não é um reveillon qualquer, é o Terceiro Milênio começando. Entre previsões catastróficas e o medo de um bug mundial, Josh Homme encara três dias de festa no deserto californiano, regados a muitas drogas. Na volta, dirige seu carro ainda sob efeito, repetindo como um mantra tudo que havia usado nos dias anteriores. “nicotina, valium, vicodin, maconha, ecstasy e álcool. Cocaína“. Essa, basicamente, é a origem de Feel Good Hit Of The Summer, sucesso da banda Queens of the Stone Age.

A música foi lançada no álbum Rated R (2000), inicialmente composta como espécie de vinheta para entrar como última faixa num tom de brincadeira. Chamou tanto a atenção, no entanto, que a banda desenvolveu-a e passou-a para abrir o disco. São exatamente essas sete palavras: nicotine, valium, vicodin, marijuana, ecstasy and alcohol. A sétima e última delas tem uma entonação bem característica: “c-c-c-c-cocaine“. O nome, algo como hit do verão para se sentir bem, deixa-a ainda mais provocativa.

OLYMPUS DIGITAL CAMERAFeel Good Hit Of The Summer deixou o Queens of the Stone Age com uma aura ainda mais cool na cena americana e mundial. A banda expoente do Stoner Rock, gênero de difícil definição mas que tem essa porra-louquice como uma das marcas originais, acabou popularizada por essa noite de loucura de seu vocalista e principal compositor. Rádios se recusaram a tocá-la. Com seu ritmo intenso e fixo até a explosão do refrão, virou de fato um hit nos shows pelo mundo todo. Bandas como Placebo, Foo Fighters, Papa Roach e Machine Head incluíram-na como música incidental em seu setslists.

Obviamente, surgiu a polêmica. Em entrevistas, Josh Hommes declarou que “não há apologia” na letra, definiu-a como “um experimento social” e manteve-se ambíguo sobre a mensagem passada: “ela não diz sim nem não“. Cantada primordialmente por Homme, o refrão final tem participação de diversas vozes, incluindo a de Rob Halford, vocalista do Judas Priest, que estava trabalhando em um estúdio próximo em Los Angeles e aceitou o convite do QOTSA para colaborar.

Em novembro de 2007, o Queens foi chamado para fazer um pocket-show de seis músicas em uma clínica de reabilitação para usuários de drogas em Los Angeles, uma apresentação intimista que serviria para alardear a causa e incentivar os internos (supostamente). A banda teve a coragem de abrir justamente com Feel Good Hit Of The Summer, o que criou grande tumulto: funcionários desligaram os equipamentos logo que a música começou, e eles tiveram de deixar o local sob escolta policial.

joshsmokingPor fim, a música ainda entra na discussão sobre a existência do Stoner Rock como estilo, algo que Homme, talvez por ser seu maior expoente, renega. Perguntando se ela seria o hit dessa vertente do rock, ele explicou: “talvez, ou talvez seja uma faca no pescoço do Stoner Rock. É difícil dizer, e eu acho que essa é a parte boa disso. Olhe, você vai ser sempre rotulado com algo. Stoner Rock é um rótulo tosco, e é por isso que eu não gravito ao redor dele”. É como se ele finalmente fizesse uma canção que representasse o estilo, e ela é assim: cheia de drogas e nada mais. É isso que é o Stoner Rock?

Em seu último show no Brasil, em 25 de setembro, o Queens of the Stone Age tocou Feel Good Hit of The Summer. Ela foi a 9ª música do setlist. Antes, tocaram canções de quatro álbuns, sucessos como No One Knows e candidatas a hinos do novo disco, como I Sat By The Ocean. Quando deu uma pausa, Josh Homme perguntou ao público: “Do you feel good tonight, São Paulo?”. Ouviu gritos positivos como resposta. Então, provocou com uma expressão zombeteira: “I mean… do you feel good?“. Começaram as palmas, os pulos, o mantra.

PS. Performance bem atual da música, no Reading Festival de 2014, na Inglaterra

Slut Like You, A Origem

Pink cantou Slut Like You ao vivo pela primeira vez em uma apresentação em Los Angeles, em setembro de 2012. Antes de executá-la, avisou: “essa é a minha forma nem um pouco sofisticada de, como feminista, tomar o poder. E acreditem, não é nem um pouco sofisticada“. Essa é a origem da música: um desejo feminista não de subjugar o sexo oposto (apesar dessa coisa de “tomar o poder”), mas de igualdade. Fosse no Brasil, viria acompanhada de qualquer hashtag do tipo #somostodosvadias. É um recado bem direto.

Isso fica bem claro pela forma como ela abre a música. “I’m not a slut, I just love love” (“não sou uma puta, eu apenas amo o amor”). Esse é o mote, e desde o princípio ela deixa bem claro que não tem muita paciência para quem não aceita essa postura. Pink descomplica totalmente o sexo casual: se ela quiser só uma transa, então vai ter uma transa apenas. É tão assim que ela faz pensar: puta sou eu, a mulher, ou você, espertão?

pinkA cantora subverte essa lógica no segundo verso, quando diz que está sentada com as amigas escolhendo com quem vai transar – e os garotos estão loucos por isso. Faz isso principalmente quando diz, já a um rapaz, “you think you call the shots“, um verso ambíguo porque significa “você acha que é quem toma as decisões”, embora shots faça referência também a dose de bebida – por tradição, os homens pagam as bebidas das mulheres, mas não é isso que vai acontecer. Pink usa um tom tipo “bebe aí, sua carona já foi embora e a coisa vai ficar interessante…”

O verso “You’re just my little friend” que ela tanto repete na música é extremamente irônico: você é apenas meu amiguinho significa que nada, além do sexo, importa. Sem necessariamente sentimento. E quando ela canta isso, entra o refrão, com referências diretas a essa noite de sexo casual. Com berros e vocalizações onomatopéicas, ela “arranca um pedaço de você”, diz que só queria mesmo um “bobinho” para transar e ainda te conta um segredo: “eu sou uma puta como você”.

Na ponte depois do segundo refrão, ela reforça o tom feminista ao dizer “você não ganha um prêmio por esses olhos arregalados. Eu não sou pipoca com caramelo (“cracker jack, no original, uma marca de pipoca, um doce, algo manipulável). Você não pode entrar a menos que eu deixe”. E é de novo irônica, com a pergunta “qual é o seu nome mesmo?” e o aviso: “a conta, por favor“.

Slut Like You não soa como uma lição de moral chata porque a música é muito boa: tem um riff chamativo, é agitada e explode no refrão – dá até para relacionar com uma boa noite de sexo mesmo. É o lado da Pink que muita gente gosta: mais Get This Party Started e menos Just Give Me A Reason. Acima de tudo, é um recado. E a origem dele é essa.

slut like you2

Aqui, a versão ao vivo citada no começo do texto