Metallica e Lollapalooza

Oras, oras, Metallica no Lollapalooza?

A noticia, anunciada pela organização do festival durante a semana, causou certo estranhamento nos fãs, acostumados a ver o festival, nas duas últimas edições, cada vez mais indie e afastado de rock stars absolutos – principalmente metaleiros – como a banda de Los Angeles. Ao mesmo tempo, levou a uma chuva de comentários nas redes sociais ao melhor estilo “o ingresso é muito caro e eu só quero ver Metallica”. De fato, além do grupo de James Hettfield, apenas o Rancid encarna esse estilo especifico no lineup da edição 2017. Mas, historicamente, essa união não pode ser considerada estranha.

lollapalooza-brasilPrimeiro porque o próprio Metallica já foi headliner do Lollapalooza antes: em 1996, nos Estados Unidos, edição que, por coincidência (ou não) também contou com o Rancid no palco principal, ao lado de nomes como Soundgarden e Ramones. Pesado, certo? Além da versão brasileira do festival, a banda ainda vai liderar as atrações das edições na Argentina e Chile em 2017.

Segundo porque, no Brasil, especialmente, o festival tem essa tradição de colocar rockstars no palco principal: Foo Fighters e Artic Monkeys em 2012, The Killers, The Black Keys e Pearl Jam em 2013 e Muse em 2014. Além de nomes de grande peso que integraram o evento, como Joan Jett, Queens of the Stone Age e Soundgarden.

Ok, é verdade que o Metallica faz destoar um pouco em relação às duas últimas edições, capitaneadas por Jack White e Pharrel Williams, em 2015, e Eminem e Florence + The Machine, no ano passado. Colocar a banda de James Hettfield para tocar é a chance de trazer para o evento um público diferente do que tem sido visto, ainda mais em um ano em que não há edição do Rock in Rio. Não que o Lollapalooza precise disso. O público se mantém agradavelmente alto nos últimos anos, de 160 mil em 2014 para 135 mil em 2015 e novamente 160 mil na última edição – todas realizadas em dois dias de shows.

Vai valer a pena ver o Metallica, é claro. A banda tem colocado o Brasil constantemente em sua agenda, com shows em 2010, 2011, 2013, 2014 e 2015. Desta vez, no entanto, estará em turnê com o novo álbum, Hardwire… to self-destruct, que será lançado em novembro.

Por fim, o que não se pode negar é o preço abusivo do ingresso: R$ 920 (inteira) pelo pass para dois dias de festival. Como ainda não foi definido em quais dias as bandas tocam, os ingressos separados não foram colocados à venda, mas devem sair com valor acima de R$ 460 – e ainda tem taxa de conveniência e de entrega de ingresso, se for o caso. Mais uma vez, o festival será realizado no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, em 25 e 26 de março.

Não Toco Playlists

Mentira, tocamos sim! A gente sempre gostou de uma boa playlist aqui no Não Toco Raul. Sempre tivemos a nossa rádio, sempre pedimos para os entrevistados indicarem músicas bacanas para vocês ouvirem; nós também indicamos sons e fizemos até o desafio “um disco por dia” – que ainda está rolando na nossa fanpage, #ficadica! 😉 E já teve até entrevistado que nos obrigou a…tocar Raul. Sério.

Mas na hora de montar uma playlist que fosse a cara do blog a gente ficou meio bolado…afinal, a equipe do NTR é feita por pessoas muito diferentes, que têm gostos musicais diferentes; e o blog sempre teve espaço para todo tipo e estilo de música, indo literalmente do funk ao punk. Então decidimos listar canções que estivessem ligadas aos nossos textos, que tivessem a ver com os nossos posts e tudo que colocamos aqui, sempre feito com muita alma, muito amor e carinho (ooown!). Acabou virando uma coletânea “The Best Of NTR”, nossa sessão nostálgica destes mais de 4 anos de blog e de tudo de bom que já fizemos por aqui – grandes entrevistas, descobertas, discos, shows, zoeiras, reflexões e sempre a paixão pela música acima de tudo.

Confira a playlist do NTR no Spotify e descubra abaixo por que essas foram as músicas escolhidas!

EDER OLIVEIRA
Diet Mountain Dew – Lana Del Rey
Esta música está em um dos primeiros posts do blog. A Lana Del Rey estava no auge do seu hype e foi o texto de estreia da seção “Todos menos eu”.

Generator – Foo Fighters
O Foo Fighters é minha banda preferida. Apostei que eles não iriam tocar essa música no show do Lollapalooza, em 2012. Mas eles surpreenderam e tocaram Generator e mais uma porrada de outras músicas menos famosas.

Umabarauma
Fui buscar a história dessa música esperando uma super odisseia e acabei caindo na zoeira do Jorge Ben. A maioria de suas músicas são sobre histórias banais, comuns, do dia a dia, feijão com arroz – e isso é muito foda.

Just Ain’t Gonna Work Out – Mayer Hawthorne
Esse cara foi um meus melhores achados dos últimos anos, junto com o Rival Sons (que provavelmente vai estar na playlist também). Soul de primeira linha.

Blame It On The Boogie – The Jacksons
O Michael Jackson aparece em vários dos nossos textos e eu gosto.

Foi Preciso Você – Wilson Sideral
Talvez essa seja a música que menos tenha a cara do NTR – porém, ela foi o single do último disco que estava prestes a ser lançado. Eu escutei muito Sideral quando comecei a tocar e pra mim foi muito foda falar com o cara. Ele é um baita músico e compositor e já chegou a figurar o “mainstream”.

 

TADEU MORARI
Until The Sun Comes – Rival Sons
Como mencionado pelo Eder, melhor banda descoberta nos últimos 10 anos. Especial porque consegui ir a um show de graça, depois de ter meu nome na lista colocado pelo baterista da banda. Foi tema de um episódio do nosso finado e querido Não Pod Raul, podcast de playlists que pode (ou não) voltar no futuro.

This Must Be The Place – Miles Fisher (cover)
Uma daquelas junções de música e cinema que eu adoro, essa cover tem um clipe que faz uma homenagem ao filme Psicopata Americano, que é bem o que eu fiz muitas vezes com wallpapers na seção Right Track.

Surreal – Scalene
Um dos últimos convidados do site e bem especial, o vocalista da Scalene – que hoje é uma banda nacionalmente famosa, mas nessa época ainda não estava nos spotlights. JÁ CURTIA ANTES DE SER MODINHA, NÉ MÊO. (P.S. Sou amigo dele no Facebook! 😉)

Hey Jude – The Beatles
Beatles sempre foi tema recorrente no blog, não requer muita explicação, mas essa música em especial caiu como uma luva nesse texto que é o meu preferido que fiz pro NTR.

Alive – Pearl Jam
Bela origem nessa história meio dark de uma música perfeita, que as pessoas conhecem e cantam sem pensar direito na letra.

Adeus Você – Los Hermanos
Mais uma banda preferida com um dos meus filmes preferidos de todos os tempos. E só quero citar aqui (pra irritar o Danilo) que fui no festival SWU só pra ver Los Hermanos; e fui pra tenda dormir na hora de Rage Against the Machine.

 

DANILO VITAL
For Once In My Life – Steve Wonder

I Can’t Take My Eyes Off Of You – Lauryn Hill

I Don’t Wanna Miss A Thing – Aerosmith

Bang Bang – Green Day

Rude – Magic!

Slut Like You – P!nk

Escolhi as músicas dos meus posts que achei mais legais e quis formar uma “historinha” com o título de cada música na sequência.

 

BÁRBARA MONTEIRO
Vacilão – Emicida
Essa foi a primeira música do Emicida que eu escutei na vida; e isso já faz tempo, hein. Me ganhou de cara e desde então sempre gostei das músicas dele, das letras espertas, dos samples, do esquema DIY, de como ele cresceu e desenvolveu sem som. Passei a ouvir muito mais rap e hip hop depois de virar fã do Emicida. Me abriu a cabeça pra muita coisa. A gente também brincou que uma playlist do NTR tinha que ter pelo menos uma música do Emicida e escrevi sobre ele em um dos meus posts mais recentes, quando pude acompanhar o cara de perto em um evento do Spotify. Continuo sendo muito fã, é um artista brilhante.

This Lonely Morning – Best Coast
Meu post de estreia no NTR, em 2012. É a banda mais bairrista do mundo, ganham do rock gaúcho. E é uma banda que eu gosto muito, liderada por uma garota. Essa música foi lançada mais de um ano depois, mas virou uma das minhas preferidas deles. Menção honrosa na playlist!

Rock’n’Roll Queen – The Subways
Os Subways são a banda mais underrated do mundo! É uma puta banda, são incríveis ao vivo, mas não têm a fama que merecem. Essa canção, entretanto, foi um grande hit. Eu cheguei a viajar só pra ver show deles. Infelizmente, nunca vieram para o Brasil. Na Inglaterra eu entrevistei a Charlotte Cooper, baixista do power trio, e tive a rara sorte de não me decepcionar ao conhecer um ídolo. Ela é demais e depois de conhecê-la virei mais fã ainda. Muito amor! Acho que essa é a entrevista que eu mais gostei de fazer na minha vida.

A Nuvem – Garotas Suecas
Sou muito fã dessa banda, orgulho nacional…e os acompanho desde o início. Desde o comecinho mesmo! É uma década de tiete, minha gente! A Irina é incrível, compõe, canta, toca, sabe muito de música e arte e mais uma vez tive a sorte de admirar uma artista e não me decepcionar quando a conheci – muito pelo contrário! Sim, eu entrevistei muitas mulheres e acho importantíssimo dar mais espaço para elas na música – eu também sou musicista e sei bem como essa indústria ainda é machista, então segura aí que da minha parte da playlist, de 6 músicas, 5 serão de mulheres fodas. E a Iri é uma delas, linda demais por dentro e por fora. Aliás, nessa canção ela canta e também tem uma participação especial da rapper Lurdez da Luz, que também é demais! Muito amor.

Chester, Cheese, Onion – Medialunas
Essa banda (na verdade, uma dupla) é simplesmente maravilhosa. Nem sei quantas vezes escutei o disco deles, de tanto que eu gosto. A Medialunas é Formada pela Liege, que eu tive a honra de entrevistar; e o Andrio. Eles têm uma porrada de bandas (e fizeram parte de muitas outras) e todas são boas: Medialunas, Hangovers, Loomer, Superguidis…a nata do rock independente brasileiro! Também são pessoas incríveis, além de grandes músicos.

Holiday – Penélope (Érika Martins)
Pode acreditar, você com toda certeza já ouviu alguma música com vocal da Érika. Até porque é ela a garota que queria quebrar o nariz do locutor no mega sucesso “A Mais Pedida”, dos Raimundos, que todo brasileiro sabe cantar de cor. Ela era a líder do Penélope, que fez bastante sucesso nos anos 90 (o grande hit deles foi Holiday) e até tocou no Rock in Rio. Ela agora integra outra banda que eu amo e que acho que é um tesouro nacional: os Autoramas. Também tive a sorte e a honra de entrevistá-la para o NTR e virar ainda mais fã.

Vamos falar sobre música?

Em uma era em que as pessoas morrem de preguiça de ler e bufam ao ver um “textão” passando pela timeline, vejo cada vez menos sites e blogs falando sobre música de verdade. O que temos é uma pilha de releases, fotos e vídeos que mais parecem assessoria de imprensa do que qualquer outra coisa. É função do jornalismo cultural divulgar bons artistas? Sim. Mas que falta faz uma boa reflexão sobre música e arte, textos mais profundos e até mesmo uma divulgação mais rica desses bons artistas. Que falta faz opinião, uma entrevista diferente, artistas falando o que realmente pensam, aquilo que faz o olho brilhar, que inspira. Além da era da preguiça de ler e de debater, vivemos a era do streaming e dos singles. Mais uma vez a indústria musical se reinventa, assim como se reinventa o nosso jeito de ouvir, descobrir e consumir música. Mas calma, calma, não criemos pânico. Afinal, a música nunca vai acabar.

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Foto: Update or Die!

E foi esse o mote do primeiro Spotify Talks, projeto incrível que reúne gente boa para falar sobre música, debater, refletir, questionar. A primeira edição, que rolou ontem no escritório do Spotify no Brasil, tinha como tema “O contraponto do mainstream”. Os músicos convidados foram Céu, Emicida, Mahmundi e Lucas Santtana; e a mediação foi feita pelo jornalista Alexandre Matias – dono do genial Trabalho Sujo, que começou impresso e se tornou um dos primeiros sites dedicados à música e ao jornalismo cultural no Brasil, em atividade desde os anos 90 – e hoje uma grande referência.

Com essa banca da pesada, não tinha como o papo dar errado. Tive a honra de poder acompanhar a conversa in loco e o encontro rendeu…várias pérolas e histórias boas. Lucas Santtana (atenção: não confundir com Luan Santana!) é um baita artista (muito underrated, aliás…OUÇAM) que começou na era do analógico e das grandes gravadoras controlando geral, viu a chegada do Pro Tools e da internet e passou por todas as mudanças da indústria. A Céu começou em 2005, quando todo mundo passou a baixar MP3, o Myspace bombava e se dizia que a indústria musical ia morrer. Emicida veio logo em seguida e explodiu como rapper depois de seus vídeos em batalhas de MCs bombarem no Youtube, vendendo CDs baratinhos que ele mesmo fazia à mão em casa. E Mahmundi é a mais contemporânea e jovem deles, começou sua carreira musical já online, surfou na onda do hype e conta que lançar um disco físico é, hoje em dia, um luxo.

Confira abaixo alguns dos depoimentos mais bacanas dessa primeira edição do Spotify Talks e, enquanto lê, que tal ouvir esses quatro artistas incríveis? Dá o play! 😉

“Em 2006 eu tinha um blog porque sentia que só com a música e a letra eu não conseguia falar tudo que eu queria. Foi uma forma de me aproximar do público, de dialogar. Também fez crescer minha base de fãs. Eu coloquei no meu blog o áudio separado das minhas músicas para download. Era possível baixar só a bateria, só a guitarra etc. Aí as pessoas podiam remixar e fazer a versão delas da música. Depois, eu postava esses remixes.” – Lucas Santtana

“Comecei trabalhando no Circo Voador como técnica de som, montando show. Aliás, fiz show de todos esses senhores aqui (Céu, Emicida e Lucas Santtana). Em 2010, montei um DVD da Pitty e pensei: ‘tá bom de montar show pros outros, né? Agora quero fazer o meu’. Eu queria produzir. Gravava em casa com amigos, gente da minha idade, em uma placa de 2 canais. Subi as músicas no SoundCloud e de repente a ‘Calor de Amor’ ficou hype o suficiente para chamar a atenção das pessoas.” – Mahmundi

“Minha geração tem uma legião de artistas talentosos pra caramba, mas sem ambição mercadológica nenhuma. Só que desde o começo entendi que, se eu me envolvesse com a bilheteria, com o business, era uma forma de cuidar melhor da minha arte. A gente precisa se organizar para ser dono das coisas que a gente cria.” – Emicida

“Quando comecei minha carreira, em 2005, era uma época muito nebulosa para a música. Parecia que a música já não valia mais nada. Os contratos das gravadoras eram esquisitos e engessados…então desde o primeiro disco eu decidi ser independente. Hoje, tenho contrato com uma gravadora.” – Céu

“Na época das batalhas eu nem tinha computador em casa. Chegou um amigo meu e falou que eu tinha um milhão de views no YouTube. E eu: ‘e daí, mano?’. Só depois fui me ligar no poder da informação e aí pra divulgar o show a gente colocava no flyer assim: ‘rapper que já conquistou 1 milhão de views no site de vídeos YouTube’. Na época a gente ainda tinha que explicar que o YouTube era um ‘site de vídeos’ (risos)! Aí lotamos uma festa com 300 pessoas e começamos a vender os CDs que a gente fazia à mão em casa. No começo, custavam R$ 3,00. Aí eu pensei: vou vender por R$ 2,00, facilitar o troco. Deu certo, vendeu mais. Vendia CD no trem, andava atrás das pessoas fazendo freestyle, fazia as capinhas de papel craft com carimbo.” – Emicida

“No começo da minha carreira eu não tinha empresário, então criei o ‘João Fortes’. Ele tinha e-mail e vendia meus shows. Mas na hora de falar no telefone deu problema (risos). Eu devia ter inventado uma empresária e colocar minha esposa pra atender o telefone.” – Lucas Santtana

“Eu também não tinha empresário e inventei o ‘Leandro’ para ser meu assessor e vender meu show. Eu até fazia uma voz diferente no telefone. O jornalista Mateus Potumati, da Revista Soma, foi o único que me desvendou. A gente tinha combinado de se encontrar numa estação de metrô para uma entrevista e 5 minutos antes ele ligou pro ‘Leandro’ para saber se ele também ia. Tentei disfarçar, mas cheguei no metrô rindo sem parar e me entreguei.” – Emicida

“Engraçado que, quando um artista faz sucesso lá fora, recebe mais atenção aqui no Brasil. Comigo foi assim. Isso acontece mesmo.” – Céu

spotifytalks-01“Eu lembro que meus amigos eram todos punks e estavam felizes porque as gravadoras estavam falindo. Mas, o que o mercado formal perdeu, o artista independente não ganhou. A gente cresceu vendo Leandro e Leonardo ganharem disco de ouro na televisão e, quando chegou a nossa vez, putz…as pessoas não compram mais CD nem ingresso.” – Emicida

“Minha ideia sempre foi criar um mercado novo. Eu ganhei o Prêmio Multishow com um single 100% caseiro e independente! Quando a gente é mais novo, pensa: ‘ai, não vou me vender’. Mas depois trabalhei com várias marcas. Quis me vender mesmo, porque queria que a minha arte chegasse mais longe. Para mim foi uma vitória produzir meu disco e trabalhar com gente da minha idade, nova no mercado.” – Mahmundi

“Meu próximo disco vai se chamar ‘Modo Avião’ porque eu sinto essa necessidade de me desligar. Sou muito ativo na internet, gosto de postar no Twitter e no Instagram, mas o Facebook já virou deprê e percebi que quando acordo, meu celular é meu despertador e antes mesmo de tomar café eu já leio todos os e-mails, mensagens, WhatsApp…porra, eu nem tomei café ainda, sabe? Isso me deixa acelerado. Quero lançar o disco junto com uma instalação de uma artista plástica – não posso contar quem é ainda – e vamos ter um local de suspensão para as pessoas ouvirem o disco ali e terem uma experiência diferente, se desligarem e prestarem atenção na música. Vai ser uma experiência mais humana.” – Lucas Santtana

“Eu tô muito otimista com o caminho que a música vem tomando. E também bem feliz de participar deste momento, entender que é um mercado que é possível, que posso produzir meus discos.” – Mahmundi

“Também me sinto otimista. Hoje a gente tem ferramentas e múltiplas oportunidades. Ainda mais no Brasil, que é um país tão fértil e criativo. A música não tem como acabar.” – Céu

“Acredito que a música  e a arte brasileiras têm um papel importante em trazer otimismo nesse momento tão sinistro que estamos vivendo no país. A arte funciona como um oásis no meio disso tudo.” – Emicida.

“Teve um tempo em que eu peguei bode de escutar música, preferi ficar em silêncio lendo, devorei vários livros. Mas aí com o Spotify tem as descobertas da semana, que pra mim foi uma ferramenta super interessante para conhecer coisas novas!” – Lucas Santtana.

“Eu gosto muito de ver os ‘artistas relacionados’ nas plataformas de internet. Sempre acertam, descubro muita coisa boa.” – Céu

“Eu já gosto de pesquisar no sebo mesmo. Acho muitos discos e descubro muitos artistas assim.” – Emicida.

E você? O que acha que vai ser da música daqui pra frente? Será que os artistas independentes e alternativos podem transitar pelo mainstream? Como você descobre novos artistas e como você consome música hoje? O Spotify Talks vai continuar com mais temas e conversas. Já estamos ansiosos pelos próximos insights! Vamos falar sobre música?

A musicalidade de The Get Down

Duas semanas se passaram desde o lançamento dos seis episódios iniciais de The Get Down, nova série do Netflix, e a gente ainda não conseguiu entender muito bem: os fãs amam a produção de paixão, enquanto que a crítica pega pesadíssimo. Se há um mérito na produção mais cara já feita pelo serviço de streaming – cerca de US$ 120 milhões ou R$ 388 milhões – é o aspecto musical, a parte mais interessante, pelo menos para o Não Toco Raul.

Não se trata de uma série musical ao estilo Moulin Rouge!, filme de 2001 escrito, produzido e dirigido pelo australiano Baz Luhrmann, o mesmo responsável pela criação de The Get Down, ao lado do americano Stephen Adly Guirgis. Isso quer dizer que há músicas completas nos episódios, mas que funcionam como músicas em si, não como parte da trama, embora elas muitas vezes tenham papel complementar em relação ao que se passa na história. Ponto positivo.

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Mas sim, a trama é confusa a princípio, extremamente veloz e, pra ser sincero, um pouco tosca na ambientação, com personagens aparecendo diante de um óbvio chroma key, algo que você leva um tempo para se acostumar. Ela fica interessante de verdade quando os personagens estão devidamente apresentados e os protagonistas começam a entrar no ritmo da música – especialmente o núcleo que trata do hip-hop em si.

A descoberta de como os DJs trabalham, como os remixes funcionam e a criação de uma rotina reunindo os aspectos do hip-hop – os versos, os b-boys, as pick-ups com os scratches – dão um sabor especial à série, que começa a melhorar justamente nos últimos episódios divulgados até agora. Para ser verossímil, o elenco teve aulas de cultura hip-hop com lendas como Grandmaster Flash (retratado na série) e os rappers Kurtis Blow e Nas.

Os seis episódios finais atraem boas expectativas e devem sair em 2017. Até lá, dá tempo de você se inteirar um pouco mais sobre a cultura que emergiu no Bronx, na década de 70. Se você usar o próprio Netflix, procure pelos filmes “Wild Style” e “Os Donos da Rua” ou o excelente documentário Rubble Kings. Entre os artistas modernos, a plataforma tem muitas opções sobre Notorius BIG, Tupac ou Snoop Dog.the_get_down_netflix_nao_toco_raul

Na contramão do mainstream: o pop feminista de Meghan Trainor

Toda mulher já passou por isso. Infelizmente, é uma situação muito comum. Imagine a cena: você está dançando em uma festa, despreocupada, quando um cara chega puxando seu braço. A princípio você se assusta, tenta se esquivar, o cara continua puxando e te segurando com força – às vezes até te machuca. É aquela típica abordagem machista de balada que mais parece do tempo das cavernas. E, se você fala “não”, o babaca não aceita e ainda insiste! Esse tipo de assédio tira qualquer uma do sério e foi a inspiração para a cantora pop americana Meghan Trainor escrever a canção “No”, seu último hit:

A música toda é sobre um cara chato que não aceita o “não” e não deixa a garota em paz quando tudo que ela quer é dançar e se divertir. Mas a música não é um lamento: é empoderadora, é um chamado para que todas as garotas se unam, sejam mais fortes e digam o “não” com firmeza e segurança, sem medo, reagindo e se protegendo dos babacas. É um pop feminista e de protesto que pode sim trazer alento e influenciar positivamente muitas garotas – principalmente as mais jovens.

Meghan Trainor não é novata na arte do “pop de protesto feminista” – ela é autora do mega hit “All About That Bass”, que estourou no mundo inteiro em 2014 e virou um hino contra a gordofobia e os padrões de beleza insanos que levam tantas garotas a adoecerem com distúrbios alimentares e psicológicos. É pop, é grudento, é até clichê. Meghan é americana, branca e jovem. Mas quebra padrões sim e traz representatividade por ser ela mesma plus size, autora de suas próprias canções, guitarrista e reconhecidamente uma grande cantora e compositora, além das suas letras feministas. Ah, ela tem só 22 anos. E começou como uma artista independente, gravando suas músicas na raça em casa, fazendo seus próprios discos sem gravadora e ralando muito até conquistar o estrelato. Alguns de seus versos podem até soar bobinhos, mais do mesmo, um pouco rasos…mas imagine o quanto podem significar para uma garota de 15 anos – e o quanto podem abrir caminho para reflexões importantes e servir como um primeiro contato de adolescentes com o feminismo. E outra: é música pop, mensagem acessível, simples e direta, que gruda na cabeça. A intenção é essa mesmo.

Ok, você ainda pode questionar a relevância de Meghan e até mesmo a capacidade do pop como música combativa, sendo que o gênero é o mais mainstream do mundo. Mas um pop com conteúdo pode sim ser um contraponto do mainstream e trazer alguma reflexão para as massas – e até quebrar barreiras bastante significativas. Que o diga a rainha do pop, Madonna, que revolucionou o mundo com sua música nos anos 80 (não se esqueçam de todos os tabus que ela quebrou e de toda a sua influência, que é sentida até hoje na música, na moda, na liberdade sexual e de expressão e no combate à intolerância). Se as letras feministas de Meghan inspirarem uma só garota que seja, já teremos um grande avanço na nossa sociedade ainda tão machista. E ela com certeza já atingiu milhões. 😉

Confira algumas canções de Meghan Trainor e repare na letra. Separei as mais interessantes (e feministas) para vocês:

Vale sonhar com o Blink-182 no Brasil?

Se você não é daqueles grandes sonhadores esperançosos, ver o Blink-182 ao vivo no Brasil já deixou de ser algo plausível. Em quase 25 anos de carreira, a banda nunca veio à América do Sul. Tivemos a volta dos grandes festivais, tivemos o dólar a 1 por 1 com o real, “booms” econômicos – e mesmo assim, nunca ocorreu de o grupo californiano se aventurar por essas terras. É difícil prever, mas pode-se dizer que, mesmo nessa nova fase, é improvável vê-los por aqui por alguns motivos.

Trauma de avião
O principal deles é o baterista Travis Baker, que em 2008 sofreu um grave acidente de avião que vitimou quatro pessoas e o deixou severamente machucado. Travis precisou de múltiplas cirurgias e transfusão de sangue após a tragédia nos Estados Unidos. O episódio acabou por reunir o Blink, que havia entrado em hiato em 2005. A banda retomou as atividades em 2009, mas Baker não viajou mais de avião, o que inviabilizou (ou, no mínimo, complicou) shows em locais mais distantes.

Para tocar na Europa, por exemplo, o baterista chegou a viajar de navio. Em 2013, ele recusou participar de uma turnê na Austrália, para onde o itinerário de navios não casava com as datas marcadas. Barker deu sua bênção para a banda levar outro baterista, e assim Brooks Wackerman, ex-Bad Religion e atualmente no Avenged Sevenfold, assumiu o posto. E essa não seria uma possibilidade? Fazer o mesmo para levar o Blink ao Brasil?

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Tom DeLonge
Não. Basicamente porque o Blink demitiu o guitarrista Tom DeLonge após entrar publicamente em atrito em 2015. DeLonge sugeriu que o baixista Mark Hoppus chegou a discutir a saída de Travis Barker em 2014, o que foi prontamente negado. Isso, por si só, é um motivo para não excluir Barker de qualquer performance que seja. Além disso, a banda já está “remendada”, com a entrada de Matt Skiba, do Alkaline Trio, embora muito elogiada. O Blink-182 é um power trio. Não dá para “abrir mão” de um segundo integrante.

Tour americana. E só.
Em abril deste ano, a banda concedeu entrevista à rádio americana KROQ na qual Mark Hoppus anunciou turnê mundial passando “por países onde a banda nunca esteve”. O fansite Action182 repercutiu e anunciou que shows no Brasil em 2017 seriam muito prováveis. Porém, até agora, nada foi confirmado. O Blink atualmente faz uma extensa turnê norte-americana, com muitos dos shows com ingressos esgotados. O último deles está marcado para 7 de outubro. Depois disso, quem sabe. Eu não esperaria de pé.

Com mente assassina, Green Day lança ‘Bang Bang’

De acordo com o site Gun Violence Archive, dedicado a rastrear, elencar e analisar casos de violência envolvendo armas de fogo nos Estados Unidos, o país teve, só em 2016, 232 tiroteios em massa (considerando eventos com quatro pessoas ou mais baleadas no mesmo local e hora, sem incluir o atirador). É mais do que um tiroteio por dia (até agora, tivemos 222 dias em 2016). É o suficiente pra fazer qualquer cidadão americano pensar. Especialmente Billy Joel Armstrong, vocalista do Green Day, banda que lançou nesta quinta-feira o single “Bang-Bang”, o primeiro do álbum Revolution Radio, que sai em outubro.

 

Trata-se de uma música com a cara do Green Day: veloz, pesada, no estilo punk-pop que consagrou a banda e com grande crítica social. A faixa abre com recortes de anúncios jornalísticos abordando tiroteios em massa. Desde o primeiro verso, Billy Joel tenta entrar na mente de um atirador pra entender o que se passa. “É (uma música) sobre a cultura do tiroteio de massa que acontece na América misturado com o narcisismo das mídias sociais”, explicou, em entrevista à Rolling Stone.

Com o refrão “bang bang, give me fame”, a banda contesta a motivação delirante dos responsáveis pelos diversos atentados nos Estados Unidos, bem como a atenção que a mídia dá e o grande circo que acaba montado toda vez que uma tragédia dessa ocorre. É uma música muito interessante, que cria altas expectativas para o 12° álbum do Green Day – faz lembrar o excelente American Idiot (2004), no qual a banda contesta desde o governo Bush, a participação em guerras no Oriente Médio e até sociedade americana.

Se esse for o foco das letras de Billy Joel Armstrong desta vez, material não vai faltar. Em 2016, atentados como o que vitimou 50 pessoas em uma boate gay em Orlando já levaram 8609 vidas americanas, além de deixar 17995 feridos. Destes, 393 eram crianças (mortas ou feridas). Acidentes envolvendo armas de fogo já chegam a 1347. Em época de Donald Trump, eleições, discussões sobre a segunda emeda da constituição e controle de armas, seria bom ter uma banda do calibre e profundidade do Green Day para opinar.

Cool Covers: Roses

“Roses” é uma música lenta, mas intensa, um pedido pra que se dê uma chance para o amor. Produzida pelo duo de DJs americanos chamado The Chainsmokers, conta com participação da cantora Rozes, também americana, e alcançou grande sucesso ao redor do globo. Nas Filipinas, a jovem Meg Fernandez gostou do que ouviu e fez um cover interessante, mudando a levada da música e deixando-a mais rápida.

O ambiente criado pela letra mostram um amor daqueles em que o mundo deixa de importar e só o casal basta. Rozes mostra como o casal pode ser lindo e como podem aproveitar juntos. E faz apenas um pedido: “diga que você nunca vai me deixar partir”. Há até uma referência a Kanye West no verso “Get drunk on the good life” – “Good Life” é parte do álbum Graduation (2007), no qual o rapper canta justamente sobre como aproveitar a vida como um bon-vivant.

Apesar do excelente cover, Meg Fernandez continua uma youtuber modestamente conhecida. Não costuma lançar vídeos regularmente, mas ultimamente adotou produção menos amadora, sendo este vídeo mesmo um dos que perdeu a estética caseira. Seu maior sucesso foi vencer uma promoção do sorvete Cornetto, sendo selecionada para se apresentar antes de um show da Taylor Swift. Potencial não falta, baseado nesse Cool Cover.

Veja a versão original

Cool Covers: Can’t Take My Eyes Off Of You

É possível fazer um paralelo entre Lauryn Hill, nos Estados Unidos, e Black Alien, no Brasil: incrivelmente talentosos, se destacaram primeiro com suas bandas e, uma vez em carreira solo, lançaram um álbum, muito aclamado pela crítica… e só (Black Alien está produzindo um novo trabalho, mas ainda aguardamos a continuação de Babylon By Gus Vol. I, que já completou dez anos). No caso de Hill, ela brilhou depois de deixar o The Fugees com o álbum The Miseducation of Lauryn Hill (1998), que inclui esse cover de Can’t Take My Eyes Off Of You.

Lauryn Hill dá uma dinâmica diferente ao clássico de Frankie Valli, lançado em 1967 e interpretado centenas de vezes ao longo dos anos. Do beat-box às vocalizações, cria uma versão original pra uma música já muito explorada no ano de sua gravação. Não foi novidade para ela gravar um cover: no último disco com o Fugees, The Score (1996), Hill canta Killing Me Softly, que ficou famosa na voz de Roberta Flack nos anos 70, com arranjo muito parecido com o escolhido para a versão de Can’t Take My Eyes Off Of You.

O cover é uma parte divertida do excelente disco de Lauryn Hill, que mostra senso crítico nas músicas e rima pra valer, além de se aproveitar da sua exuberante voz e do alcance dela. The Miseducation of Lauryn Hill foi sucesso também de vendas e, em 1999, foi indicado a dez categorias do Grammy, conquistando cinco delas – incluindo Álbum do Ano e Revelação. A rapper foi capa de revistas no mundo todo e, nos últimos anos, acumulou polêmicas e apresentações esporádicas. Uma pena.

A versão original de Can’t Take My Eyes Off Of You

E a versão do Fugees para Killing Me Softly

Especialista em love songs, mas não sabe amar

Você já gostou tanto, tanto de alguém que preferiria nem dormir para não correr o risco de perder um segundo ao lado da pessoa amada? Esse é o mote de I Don’t Wanna Miss a Thing, sucesso do Aerosmith escrito por Diane Warren. Californiana de 58 anos, ela encantou o mundo com a melodia e a letra da música-tema do filme Armageddon (1998). Ela mesmo nunca sentiu algo parecido com isso. Na verdade, Diane Warren não tem um namoro sério desde 1992 e jã ficou pelo menos cinco anos sem sair com alguém. Por que isso é impressionante? Porque Diane Warren é a maior compositora de love songs do mundo.

I Don´t Wanna Miss a Thing é apenas um exemplo. Warren foi indicada ao Oscar sete vezes por músicas que abrilhantaram filmes e mais filmes – Because You Loved Me, de Celine Dion, por exemplo. Por essa música, ela ganhou um Grammy em 1997, além de ter outras oito indicações à premiação. Além disso, foi indicada cinco vezes ao Golden Globe Awards (venceu uma, com You Haven´t Seen The Last Of Me, com interpreção da Cher, em 2011) e, em 2001, foi incluída no Songwritters Hall of Fame. Ela foi a primeira pessoa da história a ter 7 hits na lista da Billboard. Seus royalties rendem US$ 20 milhões por ano (R$ 62 milhões).

Nada do que compôs, no entanto, é baseado em experiências pessoais, verdadeiras, reais.
(dê o play nessa playlist com os maiores sucessos dela!)

“Eu nunca me apaixonei como nas minhas músicas. Eu não sou como uma pessoa normal. Não sou boa em relacionamentos. Eu atraio drama – é a minha parte judia”, disse a compositora, em entrevista ao jornal The Guardian. Isso não significa, no entanto, que tudo seja falso. Warren se define como uma romântica desiludida, então escrever love songs, para ela, é uma forma de escape. “Eu tenho uma boa imaginação. Eu sei como é ter seu coração partido. Eu sei como é sentir algo por alguém. Eu só sou muito estranha para estar em um relacionamento”, explicou.

Ao compor o sucesso do Aerosmith, Diana começa com o verso: “I could stay awake just to hear you breathing”. “Se alguém ficasse me ouvindo respirar a noite toda, eu o jogaria pela janela. De preferência, de uma bem alta. Por que eu iria querer alguém ouvindo minha respiração?”, ironizou.

Diane Warren é a prova de que vivência não é primordial para fazer uma música. É questão de inspiração, mas também de trabalho duro, já que ela passa 12 horas por dia, de segunda a sábado, concentrada nas suas músicas. “Eu posso escrever a melhor música do mundo. No dia seguinte, estou de volta à estaca zero”, explicou. É uma workaholic, direto de seu escritório em Los Angeles, um lugar que, por superstição, nunca foi limpo e para o qual ela mantém restrição total a visitas: ninguém entra.

Mas como fazer essa mulher finalmente se apaixonar? Diane deu dicas, em entrevista ao site The Free Library. “Eu praticamente preciso de uma esposa. Eu não posso ser responsável por cuidar de alguém. Eu sou high mainteinence, não pelo fato de que preciso sempre de alguém comigo, mas porque eu nunca poderia cuidar de alguém. Se eu estivesse com alguém, ele teria que ser warkaholic, fazer suas próprias coisas e não me incomodar”, afirmou. Ok, Parece justo.

PS. Além de inúmeras Love Songs, Diane Warren nos brindou com essa clássico: