Top 7,5: Telefone

Sejamos francos: há quanto tempo você não conversa com alguém por telefone? Não vale uma ligação curtinha, só um verdadeiro papo. Aquela coisa de passar meia hora fofocando com um(a) amiga(a) – porque, sim, eu tenho muito mais amigos homens e eles são igualmente fofoqueiros – e depois tomar um susto quando chega a conta. E há quanto tempo você não fala com alguém pelo telefone fixo, hein?! Ligação de trabalho não vale!

Em uma era em que o mundo tem quase mais aparelhos de celular do que pessoas, nos tempos de wi-fi, smartphones e Whatsapp da vida, todos conversam por texto. Podemos passar muito tempo sem ouvir de fato a voz dos nossos amigos e familiares – apesar da existência do Skype, que é praticamente o desenho “Os Jetsons” virando realidade. E o mais impressionante é que isso facilitou e muito as paqueras, já que a timidez é bem mais branda quando não se precisa ouvir, falar e gaguejar – basta mandar um torpedo ou uma mensagem no Facebook.

tv_foneAgora pensa bem: devia ser muito mais difícil no tempo em que as únicas mensagens de texto disponíveis eram cartas, telegramas e bilhetinhos; no tempo em que só existia telefone fixo e orelhão de ficha. Imagina: para paquerar aquela gatinha, você precisava ligar NA CASA DELA. E correr o risco de ser atendido pelo pai, ainda por cima! Quando você conhecia alguém interessante, tinha que trocar telefone e ficar esperando aquela ligação que parecia demorar uma eternidade. Nem dava pra stalkear, minha gente!

Então vamos dar valor aos músicos que escreveram sobre as agruras do telefone fixo com uma playlist temática. E, acredite se quiser, caro(a) leitor(a), essa lista NÃO terá os clichês “Call Me Maybe” nem “Telephone” – da Lady Gaga.

1. Blondie: Call Me


“Call me on the line, call me, call me, any, anytime. Call me, my love…you can call me any day or night. Call me!”

Que Call Me Maybe, o quê? Essa canção aqui põe a Carly Rae Jepsen no chinelo. É praticamente o melô do desespero, ou o jingle do “dia seguinte”. Grande sucesso da banda e nem precisa falar muita coisa, né…a referência é muito óbvia: PELAMORDEDEUS, me liga! A loirinha Debbie Harry canta “Call Me!” TRINTA E DUAS vezes na canção, que tem apenas 3 minutos e 8 segundos: média de um “me liga” a cada 10 segundos. São 30 “Call Me” em inglês e mais 2 em francês, olha que chique – “Appelle moi, mon cherrie”.

2. Os Paralamas Do Sucesso: Me Liga


“Eu sei, jogos de amor são pra se jogar. Ah, por favor, não vem me explicar o que eu já sei, e o que eu não sei. O nosso jogo não tem regras nem juiz. Você não sabe quantos planos eu já fiz. Tudo que eu tinha pra perder eu já perdi. O seu exército invadindo o meu país… se você lembrar, se quiser jogar, me liga, me liga.”

Sim, é o mesmo título da canção do Blondie, só que em português. E sim, Herbert Vianna pede “me liga” várias vezes durante a música. Mas ele não está tão desesperado assim; e manda a garota parar de fazer joguinhos e só ir falar com ele quando quiser conversar que nem gente. A balada foi tema para muitos adolescentes sofredores nos anos 80, hino de quem brigava com o(a) namorado(a) ou tinha uma paixão enrolada, não correspondida, cheia de joguinhos. Ponto extra para a guitarra, uma das mais bonitas da música brasileira.

3. Jorge Ben Jor: O Telefone (Tocou Novamente)


“O telefone tocou novamente. Fui atender e não era o meu amor… será que ela ainda está muito zangada comigo? Que pena.”

Um clássico da música brasileira! O instrumental é um samba bonito cheio de balanço que até parece alegre, mas a letra é muito triste. O homem apaixonado espera que sua amada telefone, mas fica frustrado toda vez que atende e vê que não era ela.

4. Cake: Never There


“On the phone, long, long, distance. Always through such strong resistance and, first you say you’re too busy. I wonder if you even miss me.”

Um grande hit internacional e mais uma canção de dor de cotovelo… o pobre caminhoneiro corre atrás e a menina só esnoba. O clipe já começa com momentos telefônicos de tensão, várias referências a telefones e, toda vez que o cara liga, a mulher não atende.

5. Rolling Stones: Miss You


“I’ve been holding out so long, I’ve been sleeping all alone. Lord, I miss you!  I’ve been hanging on the phone, I’ve been sleeping all alone, I want to kiss you.”

Quem diria que Mick Jagger, a maior piriguete da história da música, passaria horas sofrendo ao lado do telefone esperando aquela ligação especial…pois ele teve até que apelar para os amigos e sair com umas gatinhas porto-riquenhas para recobrar o ânimo e esquecer da saudade. Êta, telefone bandido!

6. The Donnas: You Don’t Wanna Call Me No More


“You don’t wanna call me no more. You don’t wanna call me your girl. So I guess I’ll just stare at the wall, cause I know that you’ll never call. You don’t wanna take me anywhere. I’ll pretend everything’s all right, even though you won’t call me tonight.”

Amor sofrido e adolescente. Nos primórdios da banda, fim dos anos 90, quando as Donnas ainda faziam um som mais tosco à la Ramones, veio essa canção de desabafo. A mocinha gosta do cara, eles saíam, tudo legal, mas aí ele some. Dá bolo nela e não telefona mais. E ela fica triste, é claro, mas é durona e forte e acaba fazendo pouco caso do mané, pique “azar o seu”; e superando – como acontece em TODAS as canções dessa banda. Eu amo o fato de que, para elas, a mocinha nunca é frágil, nunca fica em casa chorando e nunca se rebaixa por um cara.

7. Blondie: Hanging On The Telephone


“I’m in the phone booth, it’s the one across the hall. If you don’t answer, I’ll just ring it off the wall. I know he’s there, but I just had to call. Don’t leave me hanging on the telephone. It’s good to hear your voice, you know it’s been so long. If I don’t get your calls then everything goes wrong. I had to interrupt and stop this conversation, your voice across the line gives me a strange sensation. Oh, hang up and run to me!”

Sim, eu sei que essa banda já apareceu aqui na lista, mas o que posso fazer se eles falam muito de telefones e se todas as músicas são boas? Particularmente, eu acho essa aqui melhor do que o hit “Call Me”. E, enquanto na primeira canção a Debbie Harry tava gamadona e implorava pro cara ligar pra ela, nessa é ela quem liga e fica pê da vida porque o moço não a atende e a deixa “pendurada no telefone”.  Afinal, todo(a) namorado(a) fica bravo(a) quando o outro não atende – e já sai pensando besteira, cego de ciúmes. Quando é a mãe que liga e a gente não atende, então, é ainda pior! Ela não só fica possessa, como também começa a achar que a gente morreu ou que está acontecendo alguma tragédia.

Bônus 7,5. Sandy & Júnior: Baby Liga Pra Mim


“Não vou aguentar, será que vai me ligar? Melhor esperar no chão! Melhor não demorar, não, não vá me fazer chorar (eles são todos iguais). Dançou pertinho de mim e não parou de me beijar. Pediu meu telefone, será que vai me ligar? Mas eu sei que ele não é assim. Ficou o tempo todo perto de mim. Mil carinhos e beijinhos, não sei porque não liga pra mim! Eu já cansei de esperar! Baby, liga pra mim!”

telefone-linguada-safadoUma verdadeira pérola. É a versão brasileira de “Call Me”. A Sandy desesperadíssima aguarda ansiosamente a ligação do fatídico “dia seguinte”. Conheceu um cara na balada, pegou, deu seu telefone e inocentemente acreditou que ia dar em alguma coisa (o pior é que o coro canta, ao fundo, “fácil demaaaais!”… HAHAHAHA). E vocês pensando que ela era boazinha e santinha e que só despirocou na fase loira devassa e sexo anal, hein?

O ápice da canção, entretanto, não é a Sandy esperando o cara ligar nem a grande atuação dos dois e a piadinha do homem que fica ligando procurando uma Claudia. O melhor de tudo, meus amigos, é que no fim tem um RAP DO JÚNIOR. Sim, acreditem! De sertanejo a pop e hip hop, é a dupla mais eclética do Brasil! Aguenta o clipe até o fim pra ver as rimas e a pose do mano Juninho, das quebrada de Campinas, que é uma belezura.

Os meninos do One Direction são mais punks que você

Ou não.

Tudo começou quando tomei um susto ao assistir TV. Zapeando aleatoriamente, caí na MTV e ouvi uma música muito familiar, mas vi um clipe irreconhecível com uma boy band. WTF?

Acontece que o grupo inglês One Direction, mais comercial impossível, gravou um cover mesclando as excelentes canções “One Way Or Another”, do Blondie; e “Teenage Kicks”, do Undertones. E acontece que essas duas músicas são clássicos do rock do fim dos anos 70 e moldaram toda a estética do punk rock que surgiria na época. Coincidentemente, as duas canções originais foram lançadas em 1978.

E, acredite ou não, a versão do One Direction não ficou (tão) ruim.

Roqueiros, tremei:

O mais incrível e surpreendente dessa história toda é que os meninos do One Direction não fizeram o cover à toa. Muito pelo contrário. Como eles mesmos explicam no começo do clipe, a canção foi gravada como um single especial para arrecadar doações para a Comic Relief, instituição britânica muito popular que combate a pobreza beneficiando comunidades carentes na África e no Reino Unido (pois é, existem pessoas passando necessidade na Inglaterra também).

A Comic Relief nasceu em 1985 para combater a fome na África e foi fundada por comediantes (daí o nome) que procuravam uma maneira divertida e positiva de arrecadar doações e mobilizar a sociedade – sem apelar para dramas ou pena.

Todo o dinheiro arrecadado com a venda do single do One Direction será revertido para a Comic Relief, assim como o dinheiro poupado pela banda por não produzirem um clipe profissional para esta canção. Ao invés disso, eles fizeram um vídeo “caseiro” durante sua última turnê, com imagens deles na estrada, no palco, viajando por lugares como Londres, Nova Iorque, alguma cidade do Japão, hotéis e aeroportos.

one-direction-red-nose-dayEles também aparecem em uma comunidade africana e usam narizes de palhaço – uma marca da Comic Relief, que inclusive promove o “Red Nose Day”, ou “Dia do Nariz Vermelho”, espécie de Teleton ou Criança Esperança realizado a cada dois anos na TV britânica, sempre em março. A boy band participou intensamente da última edição do evento,  não apenas com o cover e o vídeo, como também com várias outras ações de marketing para aumentar o número de doações e o alcance da campanha.

Eu não suporto a música do One Direction, mas meu respeito por eles aumentou uns 800% depois disso. E não importa se você for muito cético e não acreditar que a boa ação foi ideia deles, ou se achar que foi uma estratégia apelativa só para aparecer e fazer média. Porque, veja bem, a base de fãs deles é tão gigantesca que uma campanha como essa pode levar conscientização a centenas de milhares de pessoas em todo o mundo, divulgar o trabalho da Comic Relief e beneficiar um monte de gente que realmente precisa de ajuda – sem contar a possibilidade de fazer menininhas de 12 anos aprenderem o que é Blondie, quem é a Debbie Harry, o que é rock’n’roll e punk rock (enfim, coisas muito importantes).

E pelo menos agora eles podem ficar conhecidos por regravarem boas canções e realizarem uma bela ação de responsabilidade social – e não apenas como “aquela boy band do X Factor” ou “aquele grupo do menino que namorou a Taylor Swift”.