Thiago Castanho, o capitão

 

Chorão estourou duas champagnes no palco, molhando parte do público do MixFest! no último sábado (21/07), no Anhembi, em São Paulo. O Charlie Brown Jr. foi a terceira banda a se apresentar no festival da rádio e canal de televisão e fez um show emocionado: apesar de não ser o primeiro na capital paulista desde a volta dos integrantes Champignon e Marcão, firmada no final de 2011, a reunião foi muito celebrada com discursos emocionados de quase todos os músicos. O guitarrista Thiago Castanho foi um dos mais exaltados.

“Se tem um cara que tem a cara dessa banda mesmo, que tem o Charlie Brown na veia, é esse cara”, disse Chorão, batendo no braço como quem indica “na veia” e arrancando aplausos do público. “Esse é o Thiago, o nosso capitão”, complementou. Mas quem é esse cara que impediu que o Charlie Brown Jr. se desfizesse no momento mais difícil da carreira de 20 anos da banda?

O capitão

Thiago Castanho nasceu em Santos em 8 de fevereiro de 1975 e começou a tocar com 13 anos, mesma época em que comprou seu primeiro vinil: Led Zeppelin IV (1971). Influenciado pela irmã, dona de um violão, e pelos sucessos “Black Dog”, “Rock ‘n Roll” e “Stairway to Heaven”, investiu no instrumento e desenvolveu grande habilidade. Entrou para o Charlie Brown em 1992, depois de abandonar a faculdade de administração com apenas um semestre completado.

Thiago Castanho é tão habilidoso quanto Marcão, com quem divide palco no Charlie Brown, mas seu estilo bem definido fez com que se destacasse com seus solos ágeis recheados por efeitos como wah-wah, chorus e delay – “Aquela Paz” (Transpiração Contínua Prolongada, 1998), “Zóio de Lula” e “Não deixe o mar te engolir” (Preço curto… prazo longo, 1999) são bons exemplos. Foi o primeiro a desintegrar a banda, ao sair em 2001 por “divergências musicais”. Participou dos três primeiros álbuns.

Se era outra identidade musical que Thiago buscava quando deixou o Charlie Brown, é bem possível que não tenha encontrado nos anos em que passou afastado da grande mídia. Montou o estúdio Digital Grooves, onde produziu uma demo para o Aliados 13 (hoje se apresenta apenas como Aliados). Passou a tocar com a banda, mas deixou o posto quando as coisas começavam a engrenar, em 2002, com direito a contrato com gravadora e a música “Sem sair do lugar” tocando na MTV.

Também tocou com a banda Power S.A. até que, em 2003, foi convidado por Rick Bonadio, produtor do Charlie Brown, a fazer parte do projeto que se tornaria o Acústico MTV Ira! (2004). Sem qualquer alarde, tocou na gravação completando a banda de apoio do grupo paulistano e com eles excursionou nos oito meses seguintes. Então, começou a manifestar a intenção de voltar ao Charlie Brown, chegando a fazer um show com a banda antes da traumática dissolução, com a saída de Chapignon, Marcão e Pelado. No palco do MixFest!, Chorão relembrou o período.

“No momento em que esses caras saíram e foram viver a vida deles, com todo direito, e eu estava totalmente confuso, pintou o Thiago na minha casa. Troquei ideia com ele e falei: “meu, vai ser muito difícil”. Ele falou: “velhão, vamo fazer na prática o que as nossas letras dizem na teoria.” E continuou: “se não fosse esse cara aqui, sinceramente, eu não estaria aqui hoje, nem Chapignon, nem Bruno nem Marcão, porque se esse cara não tivesse dado pra mim musicalidade, uma segurança a mais de que eu tinha alguém com DNA da banda mesmo (…), um cara que corria sangue do Charlie Brown na veia do cara, a gente não estaria aqui”.

Enquanto falava, Chorão batia no braço como quem diz “na veia”, emocionando Thiago. O vocalista ainda completou com a deixa: “é por isso que eu digo: existem pontes indestrutíveis”. E aí tocou a música de mesmo nome. A volta do guitarrista surpreendeu a todos e, com o álbum Imunidade Musical (2005), a dupla, auxiliada por André Ruas “Pinguim” na bateria e Heitor no baixo, conseguiu manter com êxito a relevância do Charlie Brown Jr.

Além de exímio guitarrista, Thiago Castanho também é artista plástico: segundo o site oficial do Charlie Brown Jr., já se dedicou à pintura e agora faz esculturas, além de ter criado a marca Urban Safari – a qual não há registros no mundo virtual, por sinal. Estreitou tanto os laços com Chorão a ponto de ajudá-lo a fazer um jantar para Grazi, a mulher do cantor (homenageada com a música “Proibida pra mim”, primeiro sucesso), episódio mostrado no programa Família MTV.

Desde que impediu o fim do Charlie Brown Jr., Thiago Castanho contribuiu em três álbuns de inéditas. Como anunciado no MixFest!, a banda agora prepara um novo registro, programado para servir como apoteose da formação quase que original – só Renato Pelado não voltou ao grupo, sendo Bruno Graveto o baterista atual. Durante o show em São Paulo e entre declarações de amor ao baixista Champignon e elogios a Marcão, Chorão falou com confiança sobre a nova fase e pediu: “uma salva de palmas pro salvador, capitão: Thiago Castanho”.

Confira o Show Completo:

Eu vim de Santos!

Charlie Brown Jr. é uma banda muito repetitiva. Essa afirmação não trata de frases como “eu vim de Santos, sou Charlie Brown”, quase que um lema adotado por Chorão nos shows e CDs. Ela realmente tem identidade e, mais do que isso, uma grande história por trás. Trata das origens da banda, onde ela se formou e cresceu e de onde saiu para se tornar uma das mais populares do Brasil. Trata também da barraquinha que Chorão atropelou com seu carro em um dia de forte chuva e alagamento. Daí surgiu o nome, acrescentando apenas um “Jr.” por se tratar da nova geração. De lá para cá foram dez álbuns – nove de inéditas – em um espaço de apenas 12 anos. Em seis deles encontrei letras repetidas, a partir de uma pesquisa simples e feita no mais puro olhômetro, comparando.