Se prepara: já dá para ouvir o disco póstumo do Sabotage (e está incrível)

É o enxame, é a zica. Lula tinha acabado de virar presidente do Brasil. A novela das oito era Mulheres Apaixonadas. A Gaviões ganhou o carnaval. O celular era o Nokia azul com tela preto e branco e jogo da cobrinha. O programa Pânico era a novidade do ano. A Roberto Marinho ainda chamava Água Espraiada. Nesse ano de 2003, na manhã do dia 24 de janeiro, o rapper Mauro Mateus dos Santos, que só tinha 29 anos, levou 4 tiros nas costas e morreu.

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Com apenas um disco lançado, o Sabotage já era uma lenda. O álbum “Rap é Compromisso”, de 2001 estourou no Brasil inteiro, foi louvado pelos grandes Racionais MCs e influenciou todo mundo que gostava de rap. O Maestro do Canão, que falava sobre o Brooklin, a zona sul de São Paulo e tinha um cabelo inesquecível; que tinha rimas fortes de protesto e ao mesmo tempo gostava de Sandy & Junior, aparecia na TV e achava que o rap tinha que ser menos marrento e abrir a cabeça; marcou a história da música e do hip hop no país.

13 anos depois da sua morte, finalmente temos o álbum póstumo do Sabotage. Ele tinha começado a gravar o disco logo antes de ser assassinado. E agora, com ajuda de amigos e parceiros musicais das antigas, o disco com 11 músicas inéditas ficou pronto. Esse disco é considerado o Chinese Democracy do rap. Muita espera, muita expectativa. E felizmente o álbum não decepciona:

O disco homônimo conta com a participação de Tropkillaz, DJ Nuts, o rapper Shyheim (do Wu-Tang Clan), Instituto, Lakers, Negra Li, Daniel Ganjaman, DBS, DJ Cia, Rappin’ Hood, Funk Buia, Duani, Quincas, Dexter, Fernandinho Beat Box, Mr Bomba, Rodrigo Brandão, Sandrão, BNegão e Céu. Alguns já tinham participado do primeiro disco do Sabota e Daniel Ganjaman e o Instituto, aliás, foram responsáveis pela grande volta de Criolo com seu segundo disco Nó na Orelha, quando o rapper que também é da zona sul paulistana estava quase desistindo da música.

E a homenagem não poderia ser mais honrosa. No meio de algumas faixas podemos ouvir sonoras dos jornais da época cobrindo a morte do rapper, o que é bastante doloroso, mas soa interessante. O disco é lindo, surpreendente, nostálgico sem soar velho – muito pelo contrário. As músicas não poderiam ser mais atuais e as rimas ainda fazem todo sentido nesse ano tão esquisito e sombrio que está sendo 2016. O que nos faz refletir que de 2003 para cá as coisas não mudaram tanto assim…

E hoje à noite, às 20h55, o Spotify vai fazer uma transmissão especial ao vivo no Facebook com audição do álbum e presença da família do Sabotage e dos grandes músicos que trabalharam no disco. Confira o evento e participe.

Vale demais a pena ouvir esse álbum, você goste de rap ou não. É um disco emblemático para a cultura brasileira. Como dizia Karol Conka: “salve Sabotage, MC de compromisso, cumpre seu papel no céu que aqui a gente te mantém vivo”.

Qual Fresno lançou um álbum novo?

É muito interessante a maneira como o Fresno encontrou para variar seu som nos últimos anos. Da banda emo adolescente que ninguém aguenta mais falar ao estágio atual, a banda passou por álbum poderoso (Revanche, 2010), um EP pesado e com letras obscuras (Cemitério das Boas Intenções, 2011), um álbum coeso e com sucessos radiofônicos (Infinito, 2012) e um EP que parecia consolidar essa fase “adulta” da banda (Eu Sou a Maré Viva, 2014). Totalmente diferente, agora lança o A Sinfonia de Tudo Que Há.

Trata-se de um álbum épico, influenciado justamente pela ideia de fazer alguma coisa diferente. Talvez por ter sido feito com calma e sem alarde – só se soube de sua existência dois meses antes de seu lançamento, quando já estava em fase de mixagem -, parece soar exatamente como um produto isolado de qualquer interferência, influência mercadológica ou expectativa. É uma Fresno nova, que causou estranhamento em parte dos fãs e, sinceramente, que deu um passo largo em uma direção pouco explorada antes.

“Eu comecei a escrever músicas em 2013. Tem músicas desse disco que inclusive são de antes. Daí um amigo meu falou em escrever um musical, eu quis escrever um musical, escrevi muitas músicas loucamente e, a partir daí, fiquei com vontade de fazer músicas que contem uma história. Isso não precisa ficar claro, mas eu queria contar uma história, e o disco conta uma história, em ordem”, explicou o vocalista Lucas Silveira, em entrevista ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre.

Como em um musical, as faixas têm bastante presença de orquestra. Algumas delas – como O Ar – são minimalistas, com poucos instrumentos e clima intimista. Em outras, não há sequer refrão. Entre os destaques estão Poeira Estelar, Axis Mundi e Hoje Eu Sou Trovão, esta com a participação especial de Caetano Veloso. Até a forma de cantar é mais épica, em alguns momentos com um lirismo que lembra uma ópera-rock e muitos falsetes.

A impressão que se tem é que foi um álbum composto inteiramente no piano, sem dúvida um dos instrumento mais presentes. Apesar disso, essencialmente, o velho Fresno está lá, com letras com temática profunda, contestando a insignificância  humana diante de um universo que nos reserva sabe-se lá o quê. O melancolia inerente nas letras de Lucas dá as caras constantemente, agora com outra roupagem. Vai ser interessante ver como a banda vai reproduzir tudo isso ao vivo. E se essa nova fase vai se mesclar bem com o restante da obra – essa sim uma peça com contornos épicos em sua história.

 

Ouça A Sinfonia de Tudo Que Há no Spotify

Metallica e Lollapalooza

Oras, oras, Metallica no Lollapalooza?

A noticia, anunciada pela organização do festival durante a semana, causou certo estranhamento nos fãs, acostumados a ver o festival, nas duas últimas edições, cada vez mais indie e afastado de rock stars absolutos – principalmente metaleiros – como a banda de Los Angeles. Ao mesmo tempo, levou a uma chuva de comentários nas redes sociais ao melhor estilo “o ingresso é muito caro e eu só quero ver Metallica”. De fato, além do grupo de James Hettfield, apenas o Rancid encarna esse estilo especifico no lineup da edição 2017. Mas, historicamente, essa união não pode ser considerada estranha.

lollapalooza-brasilPrimeiro porque o próprio Metallica já foi headliner do Lollapalooza antes: em 1996, nos Estados Unidos, edição que, por coincidência (ou não) também contou com o Rancid no palco principal, ao lado de nomes como Soundgarden e Ramones. Pesado, certo? Além da versão brasileira do festival, a banda ainda vai liderar as atrações das edições na Argentina e Chile em 2017.

Segundo porque, no Brasil, especialmente, o festival tem essa tradição de colocar rockstars no palco principal: Foo Fighters e Artic Monkeys em 2012, The Killers, The Black Keys e Pearl Jam em 2013 e Muse em 2014. Além de nomes de grande peso que integraram o evento, como Joan Jett, Queens of the Stone Age e Soundgarden.

Ok, é verdade que o Metallica faz destoar um pouco em relação às duas últimas edições, capitaneadas por Jack White e Pharrel Williams, em 2015, e Eminem e Florence + The Machine, no ano passado. Colocar a banda de James Hettfield para tocar é a chance de trazer para o evento um público diferente do que tem sido visto, ainda mais em um ano em que não há edição do Rock in Rio. Não que o Lollapalooza precise disso. O público se mantém agradavelmente alto nos últimos anos, de 160 mil em 2014 para 135 mil em 2015 e novamente 160 mil na última edição – todas realizadas em dois dias de shows.

Vai valer a pena ver o Metallica, é claro. A banda tem colocado o Brasil constantemente em sua agenda, com shows em 2010, 2011, 2013, 2014 e 2015. Desta vez, no entanto, estará em turnê com o novo álbum, Hardwire… to self-destruct, que será lançado em novembro.

Por fim, o que não se pode negar é o preço abusivo do ingresso: R$ 920 (inteira) pelo pass para dois dias de festival. Como ainda não foi definido em quais dias as bandas tocam, os ingressos separados não foram colocados à venda, mas devem sair com valor acima de R$ 460 – e ainda tem taxa de conveniência e de entrega de ingresso, se for o caso. Mais uma vez, o festival será realizado no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, em 25 e 26 de março.

Vamos falar sobre música?

Em uma era em que as pessoas morrem de preguiça de ler e bufam ao ver um “textão” passando pela timeline, vejo cada vez menos sites e blogs falando sobre música de verdade. O que temos é uma pilha de releases, fotos e vídeos que mais parecem assessoria de imprensa do que qualquer outra coisa. É função do jornalismo cultural divulgar bons artistas? Sim. Mas que falta faz uma boa reflexão sobre música e arte, textos mais profundos e até mesmo uma divulgação mais rica desses bons artistas. Que falta faz opinião, uma entrevista diferente, artistas falando o que realmente pensam, aquilo que faz o olho brilhar, que inspira. Além da era da preguiça de ler e de debater, vivemos a era do streaming e dos singles. Mais uma vez a indústria musical se reinventa, assim como se reinventa o nosso jeito de ouvir, descobrir e consumir música. Mas calma, calma, não criemos pânico. Afinal, a música nunca vai acabar.

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Foto: Update or Die!

E foi esse o mote do primeiro Spotify Talks, projeto incrível que reúne gente boa para falar sobre música, debater, refletir, questionar. A primeira edição, que rolou ontem no escritório do Spotify no Brasil, tinha como tema “O contraponto do mainstream”. Os músicos convidados foram Céu, Emicida, Mahmundi e Lucas Santtana; e a mediação foi feita pelo jornalista Alexandre Matias – dono do genial Trabalho Sujo, que começou impresso e se tornou um dos primeiros sites dedicados à música e ao jornalismo cultural no Brasil, em atividade desde os anos 90 – e hoje uma grande referência.

Com essa banca da pesada, não tinha como o papo dar errado. Tive a honra de poder acompanhar a conversa in loco e o encontro rendeu…várias pérolas e histórias boas. Lucas Santtana (atenção: não confundir com Luan Santana!) é um baita artista (muito underrated, aliás…OUÇAM) que começou na era do analógico e das grandes gravadoras controlando geral, viu a chegada do Pro Tools e da internet e passou por todas as mudanças da indústria. A Céu começou em 2005, quando todo mundo passou a baixar MP3, o Myspace bombava e se dizia que a indústria musical ia morrer. Emicida veio logo em seguida e explodiu como rapper depois de seus vídeos em batalhas de MCs bombarem no Youtube, vendendo CDs baratinhos que ele mesmo fazia à mão em casa. E Mahmundi é a mais contemporânea e jovem deles, começou sua carreira musical já online, surfou na onda do hype e conta que lançar um disco físico é, hoje em dia, um luxo.

Confira abaixo alguns dos depoimentos mais bacanas dessa primeira edição do Spotify Talks e, enquanto lê, que tal ouvir esses quatro artistas incríveis? Dá o play! 😉

“Em 2006 eu tinha um blog porque sentia que só com a música e a letra eu não conseguia falar tudo que eu queria. Foi uma forma de me aproximar do público, de dialogar. Também fez crescer minha base de fãs. Eu coloquei no meu blog o áudio separado das minhas músicas para download. Era possível baixar só a bateria, só a guitarra etc. Aí as pessoas podiam remixar e fazer a versão delas da música. Depois, eu postava esses remixes.” – Lucas Santtana

“Comecei trabalhando no Circo Voador como técnica de som, montando show. Aliás, fiz show de todos esses senhores aqui (Céu, Emicida e Lucas Santtana). Em 2010, montei um DVD da Pitty e pensei: ‘tá bom de montar show pros outros, né? Agora quero fazer o meu’. Eu queria produzir. Gravava em casa com amigos, gente da minha idade, em uma placa de 2 canais. Subi as músicas no SoundCloud e de repente a ‘Calor de Amor’ ficou hype o suficiente para chamar a atenção das pessoas.” – Mahmundi

“Minha geração tem uma legião de artistas talentosos pra caramba, mas sem ambição mercadológica nenhuma. Só que desde o começo entendi que, se eu me envolvesse com a bilheteria, com o business, era uma forma de cuidar melhor da minha arte. A gente precisa se organizar para ser dono das coisas que a gente cria.” – Emicida

“Quando comecei minha carreira, em 2005, era uma época muito nebulosa para a música. Parecia que a música já não valia mais nada. Os contratos das gravadoras eram esquisitos e engessados…então desde o primeiro disco eu decidi ser independente. Hoje, tenho contrato com uma gravadora.” – Céu

“Na época das batalhas eu nem tinha computador em casa. Chegou um amigo meu e falou que eu tinha um milhão de views no YouTube. E eu: ‘e daí, mano?’. Só depois fui me ligar no poder da informação e aí pra divulgar o show a gente colocava no flyer assim: ‘rapper que já conquistou 1 milhão de views no site de vídeos YouTube’. Na época a gente ainda tinha que explicar que o YouTube era um ‘site de vídeos’ (risos)! Aí lotamos uma festa com 300 pessoas e começamos a vender os CDs que a gente fazia à mão em casa. No começo, custavam R$ 3,00. Aí eu pensei: vou vender por R$ 2,00, facilitar o troco. Deu certo, vendeu mais. Vendia CD no trem, andava atrás das pessoas fazendo freestyle, fazia as capinhas de papel craft com carimbo.” – Emicida

“No começo da minha carreira eu não tinha empresário, então criei o ‘João Fortes’. Ele tinha e-mail e vendia meus shows. Mas na hora de falar no telefone deu problema (risos). Eu devia ter inventado uma empresária e colocar minha esposa pra atender o telefone.” – Lucas Santtana

“Eu também não tinha empresário e inventei o ‘Leandro’ para ser meu assessor e vender meu show. Eu até fazia uma voz diferente no telefone. O jornalista Mateus Potumati, da Revista Soma, foi o único que me desvendou. A gente tinha combinado de se encontrar numa estação de metrô para uma entrevista e 5 minutos antes ele ligou pro ‘Leandro’ para saber se ele também ia. Tentei disfarçar, mas cheguei no metrô rindo sem parar e me entreguei.” – Emicida

“Engraçado que, quando um artista faz sucesso lá fora, recebe mais atenção aqui no Brasil. Comigo foi assim. Isso acontece mesmo.” – Céu

spotifytalks-01“Eu lembro que meus amigos eram todos punks e estavam felizes porque as gravadoras estavam falindo. Mas, o que o mercado formal perdeu, o artista independente não ganhou. A gente cresceu vendo Leandro e Leonardo ganharem disco de ouro na televisão e, quando chegou a nossa vez, putz…as pessoas não compram mais CD nem ingresso.” – Emicida

“Minha ideia sempre foi criar um mercado novo. Eu ganhei o Prêmio Multishow com um single 100% caseiro e independente! Quando a gente é mais novo, pensa: ‘ai, não vou me vender’. Mas depois trabalhei com várias marcas. Quis me vender mesmo, porque queria que a minha arte chegasse mais longe. Para mim foi uma vitória produzir meu disco e trabalhar com gente da minha idade, nova no mercado.” – Mahmundi

“Meu próximo disco vai se chamar ‘Modo Avião’ porque eu sinto essa necessidade de me desligar. Sou muito ativo na internet, gosto de postar no Twitter e no Instagram, mas o Facebook já virou deprê e percebi que quando acordo, meu celular é meu despertador e antes mesmo de tomar café eu já leio todos os e-mails, mensagens, WhatsApp…porra, eu nem tomei café ainda, sabe? Isso me deixa acelerado. Quero lançar o disco junto com uma instalação de uma artista plástica – não posso contar quem é ainda – e vamos ter um local de suspensão para as pessoas ouvirem o disco ali e terem uma experiência diferente, se desligarem e prestarem atenção na música. Vai ser uma experiência mais humana.” – Lucas Santtana

“Eu tô muito otimista com o caminho que a música vem tomando. E também bem feliz de participar deste momento, entender que é um mercado que é possível, que posso produzir meus discos.” – Mahmundi

“Também me sinto otimista. Hoje a gente tem ferramentas e múltiplas oportunidades. Ainda mais no Brasil, que é um país tão fértil e criativo. A música não tem como acabar.” – Céu

“Acredito que a música  e a arte brasileiras têm um papel importante em trazer otimismo nesse momento tão sinistro que estamos vivendo no país. A arte funciona como um oásis no meio disso tudo.” – Emicida.

“Teve um tempo em que eu peguei bode de escutar música, preferi ficar em silêncio lendo, devorei vários livros. Mas aí com o Spotify tem as descobertas da semana, que pra mim foi uma ferramenta super interessante para conhecer coisas novas!” – Lucas Santtana.

“Eu gosto muito de ver os ‘artistas relacionados’ nas plataformas de internet. Sempre acertam, descubro muita coisa boa.” – Céu

“Eu já gosto de pesquisar no sebo mesmo. Acho muitos discos e descubro muitos artistas assim.” – Emicida.

E você? O que acha que vai ser da música daqui pra frente? Será que os artistas independentes e alternativos podem transitar pelo mainstream? Como você descobre novos artistas e como você consome música hoje? O Spotify Talks vai continuar com mais temas e conversas. Já estamos ansiosos pelos próximos insights! Vamos falar sobre música?

A musicalidade de The Get Down

Duas semanas se passaram desde o lançamento dos seis episódios iniciais de The Get Down, nova série do Netflix, e a gente ainda não conseguiu entender muito bem: os fãs amam a produção de paixão, enquanto que a crítica pega pesadíssimo. Se há um mérito na produção mais cara já feita pelo serviço de streaming – cerca de US$ 120 milhões ou R$ 388 milhões – é o aspecto musical, a parte mais interessante, pelo menos para o Não Toco Raul.

Não se trata de uma série musical ao estilo Moulin Rouge!, filme de 2001 escrito, produzido e dirigido pelo australiano Baz Luhrmann, o mesmo responsável pela criação de The Get Down, ao lado do americano Stephen Adly Guirgis. Isso quer dizer que há músicas completas nos episódios, mas que funcionam como músicas em si, não como parte da trama, embora elas muitas vezes tenham papel complementar em relação ao que se passa na história. Ponto positivo.

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Mas sim, a trama é confusa a princípio, extremamente veloz e, pra ser sincero, um pouco tosca na ambientação, com personagens aparecendo diante de um óbvio chroma key, algo que você leva um tempo para se acostumar. Ela fica interessante de verdade quando os personagens estão devidamente apresentados e os protagonistas começam a entrar no ritmo da música – especialmente o núcleo que trata do hip-hop em si.

A descoberta de como os DJs trabalham, como os remixes funcionam e a criação de uma rotina reunindo os aspectos do hip-hop – os versos, os b-boys, as pick-ups com os scratches – dão um sabor especial à série, que começa a melhorar justamente nos últimos episódios divulgados até agora. Para ser verossímil, o elenco teve aulas de cultura hip-hop com lendas como Grandmaster Flash (retratado na série) e os rappers Kurtis Blow e Nas.

Os seis episódios finais atraem boas expectativas e devem sair em 2017. Até lá, dá tempo de você se inteirar um pouco mais sobre a cultura que emergiu no Bronx, na década de 70. Se você usar o próprio Netflix, procure pelos filmes “Wild Style” e “Os Donos da Rua” ou o excelente documentário Rubble Kings. Entre os artistas modernos, a plataforma tem muitas opções sobre Notorius BIG, Tupac ou Snoop Dog.the_get_down_netflix_nao_toco_raul

Na contramão do mainstream: o pop feminista de Meghan Trainor

Toda mulher já passou por isso. Infelizmente, é uma situação muito comum. Imagine a cena: você está dançando em uma festa, despreocupada, quando um cara chega puxando seu braço. A princípio você se assusta, tenta se esquivar, o cara continua puxando e te segurando com força – às vezes até te machuca. É aquela típica abordagem machista de balada que mais parece do tempo das cavernas. E, se você fala “não”, o babaca não aceita e ainda insiste! Esse tipo de assédio tira qualquer uma do sério e foi a inspiração para a cantora pop americana Meghan Trainor escrever a canção “No”, seu último hit:

A música toda é sobre um cara chato que não aceita o “não” e não deixa a garota em paz quando tudo que ela quer é dançar e se divertir. Mas a música não é um lamento: é empoderadora, é um chamado para que todas as garotas se unam, sejam mais fortes e digam o “não” com firmeza e segurança, sem medo, reagindo e se protegendo dos babacas. É um pop feminista e de protesto que pode sim trazer alento e influenciar positivamente muitas garotas – principalmente as mais jovens.

Meghan Trainor não é novata na arte do “pop de protesto feminista” – ela é autora do mega hit “All About That Bass”, que estourou no mundo inteiro em 2014 e virou um hino contra a gordofobia e os padrões de beleza insanos que levam tantas garotas a adoecerem com distúrbios alimentares e psicológicos. É pop, é grudento, é até clichê. Meghan é americana, branca e jovem. Mas quebra padrões sim e traz representatividade por ser ela mesma plus size, autora de suas próprias canções, guitarrista e reconhecidamente uma grande cantora e compositora, além das suas letras feministas. Ah, ela tem só 22 anos. E começou como uma artista independente, gravando suas músicas na raça em casa, fazendo seus próprios discos sem gravadora e ralando muito até conquistar o estrelato. Alguns de seus versos podem até soar bobinhos, mais do mesmo, um pouco rasos…mas imagine o quanto podem significar para uma garota de 15 anos – e o quanto podem abrir caminho para reflexões importantes e servir como um primeiro contato de adolescentes com o feminismo. E outra: é música pop, mensagem acessível, simples e direta, que gruda na cabeça. A intenção é essa mesmo.

Ok, você ainda pode questionar a relevância de Meghan e até mesmo a capacidade do pop como música combativa, sendo que o gênero é o mais mainstream do mundo. Mas um pop com conteúdo pode sim ser um contraponto do mainstream e trazer alguma reflexão para as massas – e até quebrar barreiras bastante significativas. Que o diga a rainha do pop, Madonna, que revolucionou o mundo com sua música nos anos 80 (não se esqueçam de todos os tabus que ela quebrou e de toda a sua influência, que é sentida até hoje na música, na moda, na liberdade sexual e de expressão e no combate à intolerância). Se as letras feministas de Meghan inspirarem uma só garota que seja, já teremos um grande avanço na nossa sociedade ainda tão machista. E ela com certeza já atingiu milhões. 😉

Confira algumas canções de Meghan Trainor e repare na letra. Separei as mais interessantes (e feministas) para vocês:

Com mente assassina, Green Day lança ‘Bang Bang’

De acordo com o site Gun Violence Archive, dedicado a rastrear, elencar e analisar casos de violência envolvendo armas de fogo nos Estados Unidos, o país teve, só em 2016, 232 tiroteios em massa (considerando eventos com quatro pessoas ou mais baleadas no mesmo local e hora, sem incluir o atirador). É mais do que um tiroteio por dia (até agora, tivemos 222 dias em 2016). É o suficiente pra fazer qualquer cidadão americano pensar. Especialmente Billy Joel Armstrong, vocalista do Green Day, banda que lançou nesta quinta-feira o single “Bang-Bang”, o primeiro do álbum Revolution Radio, que sai em outubro.

 

Trata-se de uma música com a cara do Green Day: veloz, pesada, no estilo punk-pop que consagrou a banda e com grande crítica social. A faixa abre com recortes de anúncios jornalísticos abordando tiroteios em massa. Desde o primeiro verso, Billy Joel tenta entrar na mente de um atirador pra entender o que se passa. “É (uma música) sobre a cultura do tiroteio de massa que acontece na América misturado com o narcisismo das mídias sociais”, explicou, em entrevista à Rolling Stone.

Com o refrão “bang bang, give me fame”, a banda contesta a motivação delirante dos responsáveis pelos diversos atentados nos Estados Unidos, bem como a atenção que a mídia dá e o grande circo que acaba montado toda vez que uma tragédia dessa ocorre. É uma música muito interessante, que cria altas expectativas para o 12° álbum do Green Day – faz lembrar o excelente American Idiot (2004), no qual a banda contesta desde o governo Bush, a participação em guerras no Oriente Médio e até sociedade americana.

Se esse for o foco das letras de Billy Joel Armstrong desta vez, material não vai faltar. Em 2016, atentados como o que vitimou 50 pessoas em uma boate gay em Orlando já levaram 8609 vidas americanas, além de deixar 17995 feridos. Destes, 393 eram crianças (mortas ou feridas). Acidentes envolvendo armas de fogo já chegam a 1347. Em época de Donald Trump, eleições, discussões sobre a segunda emeda da constituição e controle de armas, seria bom ter uma banda do calibre e profundidade do Green Day para opinar.

Uma crítica rude sobre Rude, do Magic!

A revista americana Time elegeu Rude, do Magic!, a pior música de 2014, então eu já sei que não estou sozinho nessa. Rude é o grande sucesso dessa banda canadense de reggae – o que, por si só, já é algo diferente de se ver. Está no primeiro álbum, Don’t Kill The Magic (2014) e fez um sucesso absurdo no mundo todo – foi número 1 do ranking da Billboard nos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil, por exemplo. Basta ouvi-la uma vez e pronto: já dá pra sair cantando. O problema é o que é cantado.

É uma questão de postura. Na música, o sujeito levanta cedo num sábado, veste seu melhor terno e sai de carro a toda pra ir à casa da namorada conversar com o pai dela, um sujeito conservador. Ele bate na porta “com o coração nas mãos” e pede: “posso ter sua filha pelo resto da minha vida? Diga sim, diga sim, eu preciso saber”.  A resposta é desagradável: “você nunca vai ter minha benção enquanto eu viver. Só lamento, meu amigo, mas a resposta é não”. Aí vem o ponto crucial. Como reagir?

O refrão de Rude é um choramingo dizendo: “por que você tem que ser tão rude? Você não sabe que eu sou humano também?”. E ele ainda complementa, como quem dá de ombros: “vou casar com ela mesmo assim”. Fica no ar uma sensação de “eu nem queria sua aprovação mesmo”.

O protagonista tinha várias estratégias a seguir, desde a diplomática (tentar convencê-lo, provar-se uma cara responsável, atencioso ou o que for necessário) até a mais radical (confrontar o sogro pra valer, fazer ameaças). Ele escolhe a mais frouxa de todas: faz birra na porta da casa da namorada. Estamos sendo rudes demais nessa crítica?

Talvez fique essa impressão porque Rude é, na verdade, uma adaptação: a versão original foi feita pelo vocalista Nasri para uma ex-namorada, com quem tinha uma relação conturbada. O verso “por que você tem que ser tão rude” é na verdade pra ela. “Ela era rude, eu era rude. Nós estávamos em um momento rude”, esclareceu, em entrevista a uma rádio canadense. “Foi assim durante todo o relacionamento. Isso foi o que nos manteve juntos e o que acabou nos separando”, complementou.

Eventualmente, a banda decidiu trocar a letra, e aí apareceu essa história de pedido de permissão para casamento. Não é algo baseado em fatos reais – aliás, Nasri não casou com essa tal garota e também não namora ela agora. O curioso é que Rude gerou uma série de paródias. Por partes:

1. O pai super protetor.
Nessa versão, feita pelo pai da garota em questão, a pergunta é feita é: “você diz que ter minha filha pelo resto da sua vida, bem você vai ter que fazer mais do que hambúrgueres e fritas pra isso. Saia do porão da sua mãe e faça alguma coisa”. No refrão: “por que você me chama de rude? Por fazer algo que qualquer pai faria?”. E ainda com ameaças: “(se você) casar com essa garota, vou socar sua face”.

2. A filha feminista
Ah, a versão da filha: ela na verdade se surpreende por ver o pai e namorado brigando pra saber quem vai ficar com ela. E quem disse que ela quer? O refrão mostra isso: “vocês dois estão sendo brutos, vocês sabem que eu sou uma pessoa também. Agindo como pessoas controladoras, ninguém perguntou minha opinião”. Tomem essa os dois.

3. A mãe conservadora e religiosa
Essa é a versão mais bizarra. A mãe na verdade é uma religiosa fervorosa que avisa ao namorado: você não é o cara certo pra minha filha porque não aceitou Jesus ainda. O refrão termina com “antes de casar você precisa rezar”. E depois ainda vem: “casar com a minha filha? Ela precisa de um homem de Deus”.

O álbum de estreia do Magic! é repletos de músicas nesse formato de Rude: uma espécie de pop-reggae extremamente moderno, pra cima. A maior parte das canções fala sobre relacionamentos. E nenhuma é Rude.

Dead Fish em 912 passos

O Dead Fish liberou na última quarta-feira, para streaming, o novo disco intitulado Vitória, produzido após campanha de crowdfunding – a qual eu também participei e ainda não recebi nada (cadê essa porra?). São 14 faixas muito bem encaixadas que os fãs mais antigos terão de ouvir algumas vezes para absorver o estilo de Rick Mastria, guitarrista do Sugar Kane que substituiu Phil. A pegada continua pesada, rápida. Antes, no começo de fevereiro, a banda já havia divulgado um single, 912 passos. Mas que passos?

A numeração no título não foi esclarecida pelos membros da banda, então podemos especular.

O personagem da música vive uma situação conflituosa com o mundo em que vive e as pessoas que nele habitam. “Vejo fatos da vida real tão distantes que mal chegam a me afetar”, diz já o último refrão. Sem saber como lidar com isso, ele tenta encontrar uma forma de compreender tudo, e isso ele faz contando os passos pra ser racional. Por tentativa e erro, zera a contagem cada vez que percebe que não chegou a lugar algum.

Então, 912 é o número mágico de passos necessários? Talvez.

O Dead Fish registrou essa música pela primeira vez ainda em agosto de 2014, em show no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Na ocasião, o vocalista Rodrigo Lima anunciou: “por ora, essa música se chama Hit Veraneio ou 678 Passos ou algo assim. Vamos ver se muda”. Mudou: aumentou 234 passos. O caminho pra ser racional é mesmo longo.

Pela letra, não dá pra saber exatamente que caminho é esse. Mas há um trecho curioso: entre berros, Rodrigo descreve um caminho feito pelo centro de São Paulo.

Nestor Pestana, cruzo a consolação.
Desço a Rua Araújo, olho pro chão.
Ignoro o Copan. Estação República.
A multidão ninguém é humano, mas vai ficar tudo bem!

NESTORPESTANA

Esse caminho, segundo o Google Maps, é curto, tem 800 m – estou considerando a entrada na Estação República pela Rua do Arouche, já que ele pega a Rua Araújo, enquanto que a entrada do metrô na Praça da República fica na Avenida Ipiranga. Para fazer o trajeto, os passos teriam que ter 0,87 m, o que não é um absurdo, mas também não é comum. Obviamente, não fica claro em que ponto da Nestor Pestana ele sai, o que pode reduzir consideravelmente o trajeto. De qualquer maneira, se adotarmos a medida passo simples – unidade utilizada no Império Romano e que equivale a 0,74 m -, os 800 m citados na música seriam feitos em 1081 passos.

É possível que esse trajeto seja feito em 912 passos? Claro. Com pressa, talvez correndo, qualquer um conseguiria. Que tipo de pessoa cruzaria a Consolação e entraria na Rua Araújo ignorando o Copan, majestoso prédio projetada por Oscar Niemeyer? Alguém apressado.

Pena que essa busca provavelmente deu em nada. Na Estação República, na multidão ninguém foi humano.

Atualização: acertamos!

Sim, o Não Toco Raul acertou: os 912 passos correspondem ao caminho da Rua Nestor Pestana ao Metrô República. É o caminho que Rodrigo fazia para ir trabalhar. Ele explicou tudo no vídeo do Dead Fish no Rock Togheter, que saiu nessa segunda (2 de março).

“Eu lembro que era um momento da minha em que, pela segunda vez na minha vida, eu estava vivendo sozinho em São Paulo. Eu gosto de viver sozinho, não tenho problema em estar sozinho, mas eu vivia sozinho, eu tinha um emprego, eu tinha uma banda, e eu não tinha perspectiva nenhuma de algo melhor acontecer, a não ser aquilo ali. A não ser ir pro trabalho e voltar do trabalho. Num dado dia, pra não pensar besteira, pra não pensar merda, eu comecei a contar todos os passos até a catraca do metrô. Eu acho que eu fiz isso 30, 40 vezes indo pro trabalho”, disse.

“Normalmente, eu fazia isso e dava um número completamente diferente: quando eu estava com pressa era 912, quando estava devagar dava mais, e etc. Aí eu comecei a pensar que, na vida, nada tem um numero correto. A vida não é um somatório de 2 + 2 que vai dar 4. A gente não pode botar a vida num gráfico. Não pode ser cartersiano: velocidade, tempo e fazer um gráfico. A vida não pode e não deve ser assim. E aí, num dado momento, eu parei de contar. Falei: “ah, é isso que está acontecendo comigo mesmo””, completou.

“This song is fucking over!” – Foo Fighters no Brasil

Crédito das fotos: Foo Fighters Brasil

Ontem o Foo Fighters, banda que dispensa apresentações, fez seu último show da turnê brasileira em Belo Horizonte. Eles também tocaram em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Acompanhei o show em São Paulo, no Estádio do Morumbi, dia 23. E gostaria de deixar algumas considerações sobre a visita da banda ao nosso país – mais especificamente sobre o show que assisti.

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1) Foi a primeira vez em 20 anos de banda que os Foo Fighters fizeram uma turnê brasileira e tocaram em shows próprios, fora de festivais.
As outras passagens do grupo pelo país aconteceram no Rock in Rio de 2001 e no Lolapalooza de 2012, em São Paulo. Com o show exclusivo, puderam tocar por muito mais tempo. Os shows duraram cerca de três horas, contando com músicas de toda a carreira da banda e até alguns covers de clássicos do rock – como Rush, Queen e Kiss.

2) Dave Grohl voltou a tocar no Estádio do Morumbi depois de exatos 22 anos.
O Nirvana tocou no mesmo local em janeiro de 1993. Foi um show histórico, mas foi um desastre! Na época, o Nirvana era “a maior banda de rock do mundo” e as expectativas eram grandes. A apresentação em São Paulo foi recorde de público de toda a história da banda – com mais de 80 mil pessoas! Então imagine qual não foi a surpresa dos fãs brasileiros ao se depararem com o Kurt tão chapado que mal conseguia tocar. Foi parecido com o que aconteceu quando a Amy Winehouse fez show aqui. Ele errou todas as letras e todos os acordes, não conseguia cantar ou tocar uma música até o fim. A banda acabou tocando vários covers no improviso, uma hora Kurt foi pra bateria, Krist para a guitarra e Dave Grohl para o baixo. Até o Flea do Red Hot Chilli Peppers e a Courtney Love invadiram o palco. Mas tudo parecia uma grande ~zoeira~, a maior parte do público ficou puta da vida e foi embora na metade do show – enquanto alguns outros presentes acharam tudo aquilo muito “punk rock engraçado atitude radical” e consideram o show genial. No final das contas, o show ficou conhecido como “o pior da carreira do Nirvana”.

3) APENAS inaugurando o Maracanã.
O show dos Foo Fighters no Rio, no dia 25, foi o primeiro grande show realizado no “novo” Maracanã, após a grande reforma do estádio para a Copa do Mundo. Nada mal tocar em um dos mais legendários estádios do mundo, hein? Aliás, se ter 20 anos de estrada, uma porrada de hits e músicas realmente boas, lotar estádios no mundo todo, continuar relevante e produtivo e, principalmente, construir uma banda forte o bastante pra ofuscar o rótulo de “baterista do Nirvana” é ser medíocre, então eu não sei o que é ser bom. #hatersgonnahate #beijinhonoombro

4) O pedido de casamento do “Vulcão Vesúvio” foi demais.
Na parte mais calminha do show no Morumbi, com Dave tocando algumas músicas em versão “voz e violão” (Skin and Bones e Wheels), o sortudo Vinícius subiu ao palco e pediu sua namorada Mônica em casamento na frente de um público de mais de 55 mil pessoas. Ela disse sim, o estádio inteiro vibrou, Dave foi super simpático e até abraçou os dois – mas era incapaz de pronunciar o nome do noivo. Dave insistia em dar os parabéns para o “Vesuvius”, ao invés de “Vinícius”. A tempo: Vesúvio é o nome do famoso vulcão italiano que destruiu a cidade de Pompéia. Veja o pedido de casamento aqui.

 

5) “This song is fucking over!”
A penúltima música do show no Morumbi foi o grande hit “Best of You”. Ao final da canção, a plateia continuou a entoar o coro “Ooooh”. Foi bonito. O estádio estava todo iluminado com lanternas de celular, as luzes baixaram, a banda silenciou, ficou só o público cantando junto. Dave Grohl se emocionou, elogiou. A banda retomou a canção e encerrou de forma triunfal. Aí os fãs teimaram em continuar o coro de novo, porque, afinal, THE ZOEIRA NEVER ENDS – HUE BR. Dave deu risada e entrou na brincadeira. “Cara, para de cantar! Sério, já deu!”. Mas a galera não parava. Aí o cara não aguentou: “This song is fucking over!!!” – e faz todo mundo rir de novo.


10487594_831562140238891_9211674635548643925_n6) Dave Grohl caiu de bunda na frente de todo mundo.

O Foo Fighters tinha acabado de entrar no palco e ainda estava tocando a primeira música do show – “Something for Nothing”, do último disco da banda, “Sonic Highways”. De repente, Dave Grohl escorrega e leva o maior tombo, caindo de bunda na frente do estádio inteiro, com os holofotes nele. Mas Dave foi ligeiro. Levantou rapidinho, não perdeu a pose (ainda que tenha tentado disfarçar com um soco no ar), continuou tocando e batendo cabeça como se nada tivesse acontecido. Veja o tombo aqui.

7) São Pedro é fã dos Foo Fighters.
Foi um dia chuvoso em São Paulo. A chuva não teve dó dos shows de abertura. Caiu sem parar durante as apresentações do Raimundos e do Kaiser Chiefs. Mas, milagrosamente, parou assim que os Foo Fighters começaram a tocar. O que caiu de chuva durante o show deles foi uma leve e quase imperceptível garoa. Ironicamente, assim que o show acabou, a chuva voltou forte – e atrapalhou os fãs na volta pra casa.

8) Os fãs criaram um mar de luzinhas.
Bem no meio do show, na agitada “Monkey Wrench”, a banda conseguiu encaixar uma jam piração total com ares de post rock bem lenta e demorada. Já tava até batendo um soninho, mas aí a plateia começou a empunhar os celulares e acender suas lanternas. Segundos depois, todo o estádio estava coberto por um mar de luzinhas. Com a iluminação do palco e do estádio baixas e aquela atmosfera mais relaxada e viajandona, parecia até um céu coberto de estrelas. Ficou tão bonito que despertou a banda do transe. Dave Grohl mandou um “This is fucking beautiful”, parou tudo e finalmente retomou a canção com o peso e os berros de sempre.

10955340_833413630053742_2802382623175156633_n9) Dave é humildão.
No começo do show Dave prometeu tocar músicas de toda a carreira da banda, que esse ano comemora seu aniversário de 20 anos (!). Ele parecia super feliz e brincou com a plateia sobre qual seria o melhor álbum do grupo. “Vamos tocar músicas do primeiro disco, o que vocês acham?!” – e a galera pira. “Do segundo também! E do terceiro e do quarto!”, continuou ele. O público gritava, aplaudia e berrava o nome de algumas músicas. Aí ele disse “E do quinto álbum? Hummmm…esse é mais ou menos, né?”. Hahahaha!

10) Cool covers.
Teve cover. Teve muito cover. Segundo Dave Grohl, a banda só queria se divertir e mostrar pros fãs alguns sons que eles curtem, de bandas que os influenciaram. Daí o Foo Fighters tocou Queen (duas vezes), Rush, Faces e Kiss. Foi legal, bacana. É importante mesmo resgatar as raízes e mostrar coisas legais de rock clássico pro público mais jovem. Mas acho que eles passaram do ponto. Um ou dois covers já estaria mais do que bom. O Foo Fighters tem um repertório gigantesco e não precisa inventar tanta moda – ainda mais em um país como o Brasil, que não costuma recebê-los com tanta frequência e tem um público sedento pelas músicas próprias da banda, que deixou alguns de seus próprios clássicos de lado. Mas foi super bacana ver o Dave Grohl tocando bateria enquanto o Taylor Hawkins cantava. E nessa hora a banda tocou na passarela que passava bem no meio da pista, ficando bem no centro do estádio e mais próximos à turma da pista comum, das cadeiras e das arquibancadas – o que foi muito legal.

11) Tira o pé do chão!!!
No show do Morumbi o Foo Fighters deu um pau na galera do axé no quesito “fazer a galera pular”. As músicas mais pesadas agitaram tanto a plateia que se você estivesse nas cadeiras e arquibancadas podia sentir o chão tremer. Deu medo, mas foi legal.

1907939_833414420053663_6050835836132378578_n12) Ninguém conhece “I’ll Stick Around”.
Nunca me senti tão velha na vida. Vi o show de longe, da arquibancada, porque era o ingresso mais barato que tinha e eu estava falida. Não sei se nos outros setores foi diferente, mas quando os Foo Fighters tocaram “I’ll Stick Around” NINGUÉM conhecia a música. Sério. Eu era a ÚNICA alma viva cantando, pulando e parecendo curtir naquele momento. “I’ll Stick Around” está no primeiro disco da banda, de 1995 (aquele com o revólver na capa). É uma música bem importante pra carreira do Dave Grohl, criticando as pessoas que não aceitavam que ele tocasse em frente depois da morte do Kurt Cobain e do fim do Nirvana. Anos depois, ele admitiu que a inspiração da música foi a Courtney Love.

13) O improviso foi um pouco demais.
Ficou repetitivo – e bastante cansativo – o esquema de sempre esticar as músicas com jams piradonas no meio. A banda fez isso em vários momentos do show. Acontece que boa parte dos sucessos do Foo Fighters são músicas mais agitadas, pesadas e rápidas. Então a pausa no meio, que se arrastava por vários minutos diminuindo drasticamente o andamento da canção, acabava saindo arrastada e sonolenta. Considerando que o show em São Paulo teve quase três horas de duração, fazer o povo cansado de pé há horas ver várias jams “viajandonas” assim foi demais. O ânimo despencava – a plateia só voltava a vibrar com a retomada dos refrões – e muita gente acabou reclamando. “Que porra é essa? Foo Fighters agora é banda de rock progressivo?”, “Caralho, que sono” e “Para de enrolar, porra!” foram apenas alguns dos comentários que eu ouvi.

14) O carisma do Dave Grohl é mesmo contagiante.
Haters gonna hate. O sucesso dos Foo Fighters e do Dave Grohl incomoda muita gente; e possivelmente o fato de o cara ser realmente muito legal incomoda muito mais. Durante todo o show em São Paulo Dave conversou bastante com o público, fez muita piadinha, agradeceu, sorriu, foi extremamente simpático e carismático. Não é pra qualquer um. A maioria dos grandes rockstars do tipo, aliás, é bem azeda. Dave enrolou uma bandeira do Brasil no pescoço, elogiou o público e o país várias vezes e conseguiu fazer a gente rir no meio de um show de rock que lotou um estádio com uma das bandas mais populares do mundo.

10440272_833414070053698_1571223756572416925_n15) Quem gostou do disco novo?
A maioria dos fãs não se empolgou muito com as músicas do último disco da banda. “Sonic Highways” é o oitavo álbum dos Foo Fighters e, depois do estouro que foi “Wasting Light”, realmente soa meio fraco. O projeto, entretanto, é bem legal; e rendeu uma série de televisão que funciona como um documentário em capítulos – e que foi dirigida pelo próprio Dave Grohl. Cada canção do disco foi gravada em um estúdio diferente – em diferentes cidades dos Estados Unidos que são berços de algum estilo musical – e conta com a participação de algum músico importante para aquela cena. A série também traz entrevistas com gente de peso como Steve Albini, Ian MacKay, Bad Brains, ZZ Top, Thurston Moore, Dolly Parton e até o presidente Barack Obama! Sonic Highways é uma produção da HBO e, no Brasil, está sendo transmitida pelo canal pago BIS. A série segue no caminho do documentário “Sound City”, de 2013, que também foi dirigido por Grohl e acabou aclamado pela crítica e premiado com um Grammy. Ele conta a história do estúdio Sound City e a grande influência que o lugar teve na história da música americana e do rock, entrevistando vários artistas, produtores, engenheiros de som etc. Vale muito a pena assistir!

16) Bem acompanhados.
As bandas de abertura escolhidas à dedo para acompanhar os Foo Fighters no Brasil não fizeram feio. O Raimundos ainda é bom e trouxe uma nostalgia gostosa para o público presente. Provavelmente uma das melhores bandas de rock do Brasil. Já o Kaiser Chiefs é a banda mais subestimada do mundo, na minha opinião. Os caras têm vários hits, fazem shows incríveis, dão o sangue no palco, levantam a galera, têm uma super energia…e não recebem reconhecimento nenhum. Merecem mais crédito. Um exemplo disso é o show que eles fizeram no festival Lollapalooza em São Paulo no ano passado – disparado o melhor show do evento inteiro.

Clique aqui para ver o show do Foo Fighters no Morumbi na íntegra. O vídeo trava bastante, mas pelo menos já dá para matar as saudades.

Volta logo, Dave!