Toda sexta-feira (toda MESMO, dessa vez é sério), o NTR traz a seção “NTR Convida”, onde músicos convidados vão ditar o som para você começar o final de semana na pegada. Excepcionalmente, e por (bons) motivos de força maior, o “NTR Convida” trará 2 super convidados essa semana. C’mon, KIDS!
O Supla ainda é um cara analógico. Pelo menos foi essa a impressão que ele deixou quando, às 5h da tarde de uma sexta-feira, preferiu me ligar a responder um simples e-mail.
É, fui pega totalmente desprevenida ao atender o celular e ouvir: “Alô, é o Supla”. Atônita – sou fã do cara desde os 12, quando me apaixonei por ele acompanhando-o na Casa dos Artistas –, ao atender o telefone foi natural o meu primeiro pensamento ser: É pegadinha? Sério mesmo? Alguém tá me passando trote?
Meio desconfiada, desacreditada e desorientada fui ouvindo a voz característica do Papito e me dando conta de que era ele mesmo: “Vou responder tudo aqui e depois você procura lá no youtube”, disse ele. E foi pá-púm. Daquele jeito hiperativo e irreverente, em cinco minutos pensou ali na hora mesmo em suas cinco canções escolhidas – todas com uma ótima razão para entrar em sua lista. Terminou a ligação me sugerindo pedir para tocar “On my way” no facebook da Rádio Rock Uol 89 FM: “Eu quebrei uma pra você e você quebra essa pra mim, c’mon?”, disse ele.
E como não atender a um pedido do Papito?
As músicas escolhidas pelo Supla estão todas no player acima. É só dar o PLAY. C’MON!
A playlist:
1) Supla – São Paulo “Porque sexta-feira é aniversário de São Paulo.”
2) Brothers of Brazil – On my way “Porque o clipe dessa música foi inteiro filmado de um iPhone.”
3) David Bowie – Let’s dance “Porque ele está loiro nesse vídeo.”
4) Billy Idol – White Wedding “Porque ele quer me imitar.”
5) John Lennon – Stand by me “Porque ele é o verdadeiro rei.”
Extra) The XX – Islands “Porque é uma banda nova, na verdade não tão nova assim, mas é legal.”
Bossa’n’roll
Atualmente, o Supla segue tocando bateria de kilt por aí com seu irmão, João Suplicy, no duo Brothers of Brazil – nome, inclusive, que foi cunhado por Bernard Rhodes, empresário do The Clash, durante a primeira excursão dos irmãos pelo Reino Unido. O duo une músicas e sons tradicionalmente brasileiros, como Bossa Nova e Samba, com Rock, Punk e Funk para criar uma sonoridade única que, como afirmou o fodástico e legendário fotógrafo rock’n’roll, Bob Gruen: “Eles fazem essa mistura de um jeito tão próximo que só irmãos podem fazer, criando um ótimo som novo. Eu amo essa banda!”.
Toda sexta-feira (toda MESMO, dessa vez é sério), o NTR traz a seção “NTR Convida”, onde músicos convidados vão ditar o som para você começar o final de semana na pegada. Excepcionalmente, e por (bons) motivos de força maior, o “NTR Convida” trará 2 super convidados essa semana. Sorte sua!
Estamos muito chiques hoje! Isso porque o convidado da vez é um artista internacional! Conversamos com Roger Paul Mason, músico, compositor e produtor de Nova Iorque que tem 34 anos (apesar de aparentar, no máximo, uns 22), é louco por pizza e gatos e tem muita experiência com música no currículo.
Roger se apaixonou completamente pelo Brasil e pela cena musical de São Paulo, cidade que tem visitado com bastante frequência. Ele vem passando algumas temporadas aqui, sempre trabalhando com música e desenvolvendo projetos. Começou produzindo o primeiro disco da banda Holger (o elogiado álbum “Sunga”). Depois, trabalhou com os Single Parents, também em seu elogiadíssimo álbum de estreia (“Unrest”).
Hoje, Roger montou uma banda com integrantes das bandas paulistas Cabana Café, A Caçamba de Dona Madalena, Shed e Single Parents. O grupo se chama “Champu” (porque a pronúncia dessa palavra é a mesma em inglês e português, explica Roger) e tem a proposta de misturar sons brasileiros com sons do Brooklin – o bairro hipster de Nova Iorque, de onde vêm a maioria das bandas indie do momento. Mason chama essa mistura de “Brookzilian Music” e pira em sons que aliam rock a sonoridades tipicamente brasileiras, como o movimento tropicalista.
O Champu já tem um EP-demo divulgado na internet e espera lançar material físico em breve, com a ajuda do selo Balaclava Records – que pertence aos Single Parents. Hoje (24/01), o Champu toca no Estúdio Showlivre, as 16h e, amanhã (25/01), se apresentam na Casa do Mancha, às 18h. Aproveite o feriado em São Paulo para vê-los, porque logo, logo o Roger volta pra Nova Iorque.
Mas ele não para nunca. É um verdadeiro workaholic da música. Roger tem uma carreira solo, compõe compulsivamente e continua a produzir avidamente. Ele deixa o apelo: “Sempre estou procurando por bandas novas para produzir. Especialmente no Brasil! Vocês podem me escrever pelo meu site ou pelo Facebook“.
As músicas escolhidas pelo Roger estão no player acima. É só clicar para ouvir todas na sequência!
A playlist:
1) Eurythmics – This Is The House Essa foi a primeira fita cassete que eu tive. Fiz minha mãe me levar a uma loja de discos e comprá-la para mim quando eu tinha 5 anos. Tem muito mais para ouvir nesse álbum do que o single “Sweet Dreams”. Na verdade, todas as músicas são ótimas! Acho interessante que tudo nessa canção ainda está presente na minha vida hoje: tocar um baixo maluco, trabalhar com baterias eletrônicas e vocais femininos – o dia inteiro, todos os dias.
2) Broadcast – Corporeal Vinte anos depois de eu descobrir a Annie Lenox, me apaixonei por esta banda. O modo como eles usam barulho de sintetizador é sempre uma inspiração para mim quando estou produzindo. Tive a sorte de poder assisti-los tocando muitas vezes em Nova Iorque e de vê-los crescer como uma coisa extremamente bonita com o tempo. A vocalista morreu há dois anos, vítima da Gripe H1N1 (a gripe suína)…muito triste! Compre todos os discos deles!
3) Dirty Projectors – Fluorescent Half Dome Brian Mcomber tocava bateria no Dirty Projectors desde o começo da banda até o ano passado. Foi ele quem sugeriu para a banda Holger que me trouxessem para o Brasil para fazer suas músicas soarem tão boas quanto elas poderiam.Três anos depois, eu continuo a vir para o Brasil e continuo a fazer grandes amigos – e tenho que agradecer ao Brian por isso. A bateria que preenche esta canção é 100% estilo Brian. O jeito como ele toca é genial. Nós gravamos um álbum de noise ao vivo juntos, com meu amigo – e guru de sintetizador – Peter Edwards (do casperelectronics.com). Talvez um dia esse disco seja lançado.
4) Skeleton Key – Wide Open Essa foi a primeira banda com a qual eu fiz uma turnê. A banda é formada por bateria, baixo, guitarra e percussão feita com objetos encontrados por aí. Eu fui o percussionista de ferro velho e tocava com baldes, para-choque de caminhão, barril de cerveja, botijão de gás, pratos de bateria quebrados e outras tralhas malucas de metal. A banda tinha acabado de ser expulsa da Ipecac Records, a gravadora do Mike Patton (do Faith No More). Então, parecia ser um momento meio estranho para se juntar a eles em uma turnê. Mas eu era jovem e doido. Nós tocamos em clubes lotados, com ingressos esgotados; e ficamos na mansão do Danny Elfman (produtor de trilhas sonoras de cinema que trabalhou em vários filmes de Tim Burton, como “O Estranho Mundo De Jack”, “Edward Mãos De Tesoura” e “A Lenda Do Cavaleiro Sem Cabeça”) em Los Angeles. Acabei sendo demitido da banda por ser muito jovem e doido (e também porque eu não era um baterista de verdade). Mas eu ainda amo a música deles e desejo-lhes toda a sorte do mundo. ESCUTA ESSE BAIXO!
5) Lee Fields – Faithful Man (Yours Truly Session) Essa é a minha “canção do mês”. Acho que o Lee Fields mora na mesma rua que eu no Brooklin, mas eu nunca tinha ouvido falar dele até a semana passada, quando o Fernando Dotta (do Single Parents) me mostrou esse vídeo. Esse cara é um verdadeiro cantor. Em comparação a ele, eu só digo umas palavras engraçadas em cima de uns acordes de guitarra…mas tudo bem.
Nesta seção vamos disponibilizar wallpapers bacanudos de clássicos do cinema revisitados por clássicos da música. Sempre uma bela sacada (ou não). Veja o que preparamos, baixe, use e, se tiver uma bela ideia, não deixe de enviar nos comentários!
Nesta edição: This Ain’t A Love Song, Bon Jovi
No começo do filme “(500) Days of Summer”, de 2009 – “500 Dias Com Ela”, na tradução porca para o português – o narrador diz, e isso não é spoiler nenhum, que o filme que você vai assistir é a história de um garoto que encontra a garota, mas não é uma história de amor.
Assim como na música do Bon Jovi – que não por acaso, vem a ser uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos -, o personagem central da história se ferra porque não viu o relacionamento ir para o buraco. Se viu o filme, vai conseguir fazer a relação perfeita entre esse filme e a música do post (este é um caso de bela sacada, modéstia a parte).
Se não viu, pode ver sem medo de parecer um maricas, afinal, a Zooey tá lá, pessoal, no auge. Enjoy!
O leitor do Não Toco Raul há de desculpar pela insistência, mas o fenômeno da Exaltarepetição persiste mesmo após o final da banda. Em 26 de novembro de 2012, publicamos um estudo que concluía que, em 25 anos de carreira, o Exaltasamba registrou 237 músicas em 15 álbuns, entre as quais 50 começavam e terminavam com o mesmo verso/frase/palavra/vocalização. As carreiras solos de Thiaguinho e Péricles, cantores do grupo de pagode, seguem a mesma Fórmula Musical, dando sequência à tradição.
Ambos lançaram álbum ao vivo pouco mais de um ano depois do final do Exaltasamba, em junho de 2011 – o último show foi feito em fevereiro de 2012. Péricles foi o primeiro, com Sensações, em outubro. Em novembro saiu o de Thiaguinho, Ousadia & Alegria. Com o Exalta, a taxa de uso desta fórmula era de 21%. Thiaguinho elevou-a ainda mais, chegando a 42,8% – nove das 21 músicas do cd novo começam e terminam com as mesmas palavras. Péricles praticamente manteve a média, com 28,5% em seu álbum – são seis, em 21 gravadas.
A diferença pode ser explicada no fato de Thiaguinho fazer muitas vocalizações, enquanto que Péricles quase não as usa. De modo geral, o pagode do primeiro é mais agitado, e o título do álbum reflete bem o espírito e a levada das músicas. Já Péricles faz um som de mais “classe”, lembrando muito a primeira fase do Exaltasamba, quando Chrigor dividia com ele os vocais. Mais uma vez, o NTR não faz juízo de valor pela fórmula musical: é apenas uma característica interessante adotada por esses pagodeiros.
Nenhum dos dois álbuns difere tanto do trabalho conjunto no Exaltasamba, o que faz retomar a pergunta: por que o grupo se separou? Segundo Thiaguinho, sua saída já havia sido definida no início de 2011, em reunião com a banda, quando afirmou que gostaria de fazer carreira solo. Depois, Péricles manifestou o mesmo desejo. Quando anunciaram a separação, ao vivo no Domingão do Faustão, da Rede Globo, o discurso foi de que cada um gostaria de investir no trabalho paralelo.
Até o momento, nenhum dos outros integrantes divulgou qualquer projeto. Perguntado por Faustão na ocasião, Brilhantina não escondeu o descontentamento: “Eu, sinceramente, fiquei bastante abalado, mas é a decisão que o grupo tomou e é isso que vai ser… vamos ver o que vai acontecer”. O que já aconteceu, por enquanto, não é tão diferente do que já vinha acontecendo, pelo menos musicalmente. Definitivamente, os fãs do Exaltasamba não estão órfãos. Mesmo separados, as cantores continuam começando e terminando as músicas com o mesmo verso/frase/palavra/vocalização.
Thiaguinho – Ousadia & Alegria (2012)
Música: Buquê de Flores Verso: “Eu tava pensativo então fui no pagodinho pra te encontrar/Peguei meu cavaquinho fiz um samba bonitinho pra te ver sambar, vem”
Música: Ousadia & Alegria Verso: “Chego chegando, beijo no canto da boca”
Música: Desencana Verso: Vocalização – “Lalalaiá”
Música: Ainda bem Verso: “Ainda bem”
Música: Deixa eu te fazer feliz Verso: “Deixa eu te fazer feliz”
Música: Eu quero é ser feliz Verso: “Hoje eu acordei com vontade de cantar pagode”
Música: Tomara Verso: Vocalização – “êiêiêiê”
Música: Motel Verso: Vocalização – “Lalaiá Laiá”
Música: Deixa pra mim Verso: Vocalização – “Êêêêêê”
Péricles – Sensações (2012)
Música: Pedaços Verso: “Um pedaço de emoção”
Música: Supra Sumo do Amor Verso: Vocalização – “Ôôôôôô”
Música: Leito de estrelas Verso: “Te levei pro céu”
Música: Oyá Verso: “Oyá”
Música: Linda Voz Verso: “Olá, hoje eu te vi pela televisão”
Toda sexta-feira (toda MESMO, dessa vez é sério), o NTR te traz a seção “NTR Convida”, onde músicos convidados vão ditar o som para você começar o final de semana na pegada.
Hoje o convidado é Pedro Gama, frontman da banda de folk, que coloca rock e blues na mistura, The Outside Dog. O paulistano de 24 anos tem uma coleção de referências musicais e uma grande identificação com mestres como Neil Young, Bob Dylan, Tom Petty e Bruce Springsteen. Pedro reuniu composições autobiográficas, sua voz e a intimidade com o violão – um autêntico Gibson de 1967 -, além de banjo, gaita e guitarras para dar corpo, em 2011, ao álbum “The Outside Dog”, produzido por Zeca Leme e masterizado no estúdio Sterling Sound, em Nova Iorque.
O registro em estúdio foi só o começo: ainda em 2011, a banda cresceu e ganhou lirismo, ritmo e vibração com a entrada de Rafael Elfe (guitarra), André Sanches (que já havia tocado baixo no CD), Ciro Jarjura (gaita) e Dmitri Medeiros (bateria). Em 2012, Medeiros saiu e entrou Mateus Polati na bateria.
Atualmente, a banda prepara o lançamento do próximo CD que, segundo Gama, vai apresentar as músicas do estilo em português. No final do ano passado, lançaram o clipe de The Rooster’s Gonna Crow.
As músicas escolhidas pelo Pedro estão no player acima. É só clicar para ouvir todas na sequência!
A playlist:
1) Bruce Springsteen – Born To Run “Amando ou odiando seus teclados, é primordial reverenciar o chefão do Rock. O cara dá o sangue, o suor e quase 5h de show para o público. Born To Run é um clássico, o ápice da energia que pauta toda sua obra e, pra mim, a maior injeção de adrenalina que um som pode dar para um ser humano. Não é aconselhável dirigir em estradas monitoradas por radar com ela no som!”
2) Neil Young – Old Man “Meu herói do Rock and Roll! Elétrico ou acústico, Neil Young arrasa e essa faixa ainda me arrepia independente de quantas vezes tenha escutado o Harvest. Posso dizer também que não tenho a menor vergonha de fazer papel de ridículo tentando alcançar aquele agudo!”
3) James Taylor – Fire and Rain “Perfeição em forma de acordes, letra, voz, melodia e interpretação. Coloque os fones, apague as luzes e não pense duas vezes em colocar no repeat. Essa música deve ser tocada não só com o coração, mas com a experiência que só os anos de vida podem nos trazer. Por isso quanto mais recente a versão, melhor.”
4) Stevie Wonder – Signed, Sealed, Delivered, I’m Yours “ É preciso dizer algo? Não! É só aumentar o volume.”
5) Phantom, Rocker & Slick – Men Without Shame “Quando tinha uns 5 anos, meu pai gravou os 2 primeiros minutos dessa música numa fita K7. Levamos 15 anos para descobrir o nome da banda e da música… 6 minutos que sem dúvida alguma compensaram a espera.”
Tim Maia estava na merda em 1969. Morava de favor no Rio de Janeiro, dormia em um sofá desconfortável apelidado de “dromedário”, sem dinheiro ou companhia amorosa. Vinha de dois fiascos na tentativa de gravar um compacto de sucesso em São Paulo, um pela CBS e outro pela RGE; nenhuma delas soube mixar o soul pesado do cantor, e o trabalho acabou ignorado pela crítica e pelo público. Voltou ao Rio para uma terceira tentativa, agora pela Polydor, e contou com a ajuda de dois amigos, responsáveis indiretos por um “sonho azul da cor do mar”.
O cantor paraguaio Fábio (que na verdade se chamava Juan Senon Rolón) e seu empresário Glauco Timóteo hospedaram Tim Maia em Botafogo. Os dois viviam bem, faziam muitos shows – Fábio aproveitava o sucesso de “Stella” – e viviam cercados de menininhas, com as quais Tim Maia sonhava em matar a solidão. “Azul da cor do mar”, um dos maiores sucessos do cantor, surgiu a partir desse cenário: com Tim tentando sem sucesso levar a carreira adiante, enquanto os amigos já colhiam os frutos.
Tim Maia havia tentado acompanhar os sucessos dos amigos cantores na adolescência – entre eles estavam Roberto Carlos, Eramos Carlos e Jorge Benjor; morou nos Estados Unidos, onde foi preso várias vezes até ser deportado; foi a São Paulo tentar a sorte e chegou a passar fome e frio; e, de volta ao Rio, a vida não estava mais fácil. Estava carente, e as gravações de um novo compacto demoravam a sair em meio ao cotidiano disputado do estúdio da Polydor.
Quando Fábio e Glauco viajaram para shows em Salvador e Recife, foi um alívio para Tim Maia poder dormir em um lugar diferente do sofá “dromedário”. Testou a cama de Fábio, mas acabou deitando na de Glauco, onde chamou a atenção, colado na parede, um pôster colorido com uma morena vistosa nua em frente ao mar do Taiti. Ali, Tim compôs uma canção e registrou em um gravador portátil. Tinha uma carga emocional incrível, assim como grande parte de sua extensa obra.
Ah, se o mundo inteiro me pudesse ouvir
tenho tanto pra contar
dizer que aprendi
que na vida a gente tem que entender
que um nasce pra sofrer
enquanto o outro ri
O disco na Polydor, intitulado Tim Maia, saiu em 1970 e virou sucesso no Brasil inteiro muito por conta de “Azul da Cor do Mar”. Não foram só Fábio e Glauco que alimentaram esse sonho. Tim foi contratado pela grande gravadora sem nunca ter sido ouvido por André Midani, presidente da Phillips. Isso ocorreu por conta das indicações dos Mutantes e de Erasmo Carlos. De acordo com a biografia “Vale Tudo”, de Nelson Motta, Tim pesava 85 kg (chegaria a 142 kg em 1996). Tempos depois, passou a viver melhor, alugou um apartamento, engordou e se consolidou como um dos grandes nomes da música nacional.
Mas quem sofre sempre tem que procurar
pelo menos vir achar
razão para viver
ver na vida algum motivo pra sonhar
ter um sonho todo azul
azul da cor do mar…
Uma das minhas categorias favoritas do NTR é “A Origem”, onde são apresentadas as histórias por trás da criação de grandes clássicos, aquele tipo de coisa que pouco paramos para pensar quando estamos ouvindo a maioria das músicas. E é uma favorita pois sempre tive interesse na origem de certas músicas, o que o compositor estava pensando, o que estava sentindo, quem foi que fez isso, ou se é verdade ou não.
Acredito que este interesse se deva principalmente a esse fato: eu ouço boa música.
Não vou dizer que TODA música que eu escute seja do nível técnico ou tão marcante e atemporal como a música de Mozart ou Beethoven (argumento típico de haters), mas essencialmente é boa música. Também não pretendo entrar nos méritos do que é bom ou ruim aqui, mas não venha me falar que “gosto não se discute”. Tudo é discutível, dependendo dos interlocutores. O que me obrigo a fazer com a afirmação acima é, no mínimo, justificar-me.
Me baseio exclusivamente em um critério para defender a minha visão sobre a música: repetição.
A repetição, a meu ver, age de duas formas diferentes sobre os músicos e suas músicas. Quando age sobre o músico, de fora para dentro, é uma coisa boa, mas, se acontece o contrário e a repetição tem seu efeito no interior, no conteúdo da música, aí a coisa muda.
A repetição saudável (ou "O esforço dos bravos")
Prática, muita prática, aptidão e paixão também, mas eu diria que a prática é um dos principais fatores de sucesso para um musicista. Cantores, guitarristas, bateristas, maestros e até o cara que toca sax de suspensórios, todos tem uma coisa em comum: repetem a mesma nota, os mesmos acordes e os mesmos gestos durante anos, todos os dias, para conseguirem chegar onde desejam na música.
Este lugar desejado pode ser um Grammy de melhor instrumentista de jazz ou apenas conseguir tocar aquele solinho da introdução de Sweet Child O’mine mas, em ambos os casos, a repetição está ali, construindo o caminho e aperfeiçoando e desenvolvendo a técnica e habilidade das pessoas.
Quantas vezes na vida um baterista castiga um bumbo? Quantos aquecimentos de “trrrrrrrrrr” ou “zzzzzzmmm” faz um vocalista? Quantas vezes um guitarrista profissional repete uma escala enquanto estuda? Eu fiz esta última pergunta a um grande amigo, que por acaso vem a ser um dos melhores guitarristas do país, André Nieri. Juntos, fizemos umas contas rápidas. Se liga no resultado.
O André toca violão e guitarra desde os 9 anos de idade. Naquela época, treinava acordes, basicamente, durante cerca de 2 ou 3 horas por dia. Hoje, com 26 anos, passa a maior parte do dia com um violão ou uma guitarra a tiracolo. Podemos dizer que, na média, durante os 17 anos de música o André tocou 6 horas diariamente, contando sábados e domingos. Ok, com 6 horas diárias durante os 17 anos de música, foram tocadas um total aproximado de 36.720 horas. Essas horas, se divididas em dias, nos dão algo em torno de impressionantes 4 anos ininterruptos tocando.
Se quiser tocar assim algum dia, pare de ler e vá praticar, agora.
Existem casos em que uma repetição bem utilizada transforma faz bem às músicas, transformando-as em uma espécie de hino, quase que um mantra. Um cara que sabe utilizar este artifício com maestria em suas letras é o cantor/guitarrista John Mayer. É difícil uma música de John que não tenha ao menos uma frase repetida cerca de 10 vezes, geralmente o refrão, atingindo picos, por exemplo, em Half Of My Heart, onde a frase título é repetida 25 vezes (até terminar em fade-out) durante os 4 minutos da música.
A partir de agora repare nisso, John Mayer repete muito, mas como tudo tem um sentido e um propósito dentro de cada canção, isso passa despercebido e acaba se tornando uma coisa boa.
A repetição prejudicial (ou "Ai, se eu te pego")
O ser humano civilizado precisa da repetição. O homem se sente confortável e seguro na sua rotina e a repetição dos mesmos hábitos, dia após dia, faz com que a percepção deste homem seja prejudicada. Vou explicar, dá um play aí embaixo, enquanto isso.
Se você entende um pouco inglês e ouviu a música acima, entendeu a estória, mas, se não entende, pelo menos percebeu que muitas vezes foi utilizada a palavra “same“, que quer dizer “mesmo”.
O personagem ironizado na música do Blur, Ernold Same, vive a mesma vidinha todos os dias. Todos os dias acorda do mesmo sonho na mesma cama, toma o mesmo café, pega o mesmo trem a caminho do mesmo lugar para fazer a mesma coisa de novo e de novo. Pobre Ernold. Você desejaria nunca ser o Ernold, certo? Má notícia: se você tem um emprego e segue uma rotina, você é Ernold e nada vai ser diferente amanhã. Triste, não? Pois é. Dias e ações repetitivas regem a nossa vida civilizada e essa normalidade é muito louca, se formos parar para pensar.
Dirigir, por exemplo, é uma ação extremamente complexa, ainda mais nos dias de hoje, onde centenas de milhares de pessoas fazem isso ao mesmo tempo passando pelos mesmos lugares. Se você parar para pensar na complexidade que é movimentar as duas pernas e os dois braços para direções diferentes, dividir a sua atenção entre os sons do motor e dos outros carros, pontos cegos, outros motoristas, pedestres, motos e tudo que você tem para fazer no trabalho dali a 30 minutos… me parece mais tranquilo tocar bateria no Rush.
Tudo isso é muito complexo, tanto que conheço pessoas que foram reprovadas 4 vezes na prova da baliza, mas através da repetição nos acostumamos e paramos de pensar, entramos em modo automático. Em modo automático nos tornamos seres imbecis que, mesmo diante da complexidade que acabei de descrever, se metem a fazer tudo aquilo enquanto digitam um SMS totalmente dispensável. Que beleza.
A repetição é prejudicial quando nos torna esses seres que não pensam mais no que estão fazendo, nem no porquê estão fazendo alguma coisa, e este, na minha opinião, é o maior trunfo das músicas que fazem sucesso com as grandes massas. As pessoas estão acostumadas a pegarem a rota mais curta mesmo sabendo do congestionamento, a escolherem o PF porque já vem pronto e a consumirem música porque é o que toca na TV.
Sucessos dos ritmos que mais vendem, como o sertanejo, o axé e tantos outros que seguem essa fórmula do repetitivo chiclete, se aproveitam da preguiça da maioria, da falta de espaço que a boa música tem na grande mídia e, principalmente, de todo o foco disperdiçado do brasileiro. É tanto tempo gasto com futebol, novela e carnaval, que fica muito fácil para os “universitários” que ganham milhões emplacaram sucesso atrás de sucesso, com propaganda em dancinhas de jogadores de futebol ou pagando um tema de novela aqui e outro ali. Para entender melhor, leia sobre o Fenômeno da Exaltarepetição.
Não estou querendo que todos parem de ouvir os sucessos da Transamérica, nem dizendo que isso faz de você uma pessoa pior e de mim uma pessoa melhor. Há, é claro, lugar para essa categoria de música. Duvido, por mais que eu goste de rock, que um churrasco ou festa com amigos seria animado ao som de Radiohead ou The Smiths, por exemplo.
Sempre vão existir lugares e situações que pedem os ritmos rápidos e repetitivos, onde aquela coletânea do É O Tchan é melhor aceita do que o Nevermind do Nirvana, mas é aí que eu faço meu ponto. Esse tipo de música é aceita por todas as pessoas (incluindo os mais radicais) somente nestas situações específicas, onde você não vai parar para ouvir letra ou melodia, onde sua atenção está voltada para coisas mais importantes, como uma conversa com seus amigos, o nível do estoque de cerveja ou o flerte com um broto.
A gente só precisa sair do automático depois que a festa acabar e a ressaca passar.
Ps. 1: Este texto foi escrito ao som do álbum “The Great Escape”, do Blur. Ps. 2: Este texto não leva em consideração nenhum tipo de música eletrônica, fato observado após conversa sobre o assunto com um dos músicos convidados do NTR Convida, Guilherme Pires.
Toda sexta-feira (toda MESMO, dessa vez é sério), o NTR te traz a seção “NTR Convida”, onde músicos convidados vão ditar o som para você começar o final de semana na pegada.
A convidada desta sexta-feira é Sabine Holler, musicista que canta, compõe e toca guitarra (entre outros instrumentos). Ela faz parte da banda paulistana Jennifer Lo-Fi, que soube usar com muita esperteza as ferramentas da internet para estourar lá pelos idos de 2009. Eles fazem um som lo-fi, como o nome entrega, com muito experimentalismo e psicodelia, aliando guitarras sujas e gritos a melodias mais suaves, viajandonas; e um vocal poderoso e versátil que pode também soar doce com a bonita voz da Sabine. As letras também chamam a atenção, contando histórias bizarras, porém verossímicas (como na canção Troffea, que relata a lenda urbana de histeria coletiva de Estrasburgo), ou soando como um desabafo de agonia e paranoia.
Hoje, o grupo faz parte do catálogo da gravadora Desk, dentro do selo Vigilante. Já lançaram quatro EPs, incluindo o excelente “Noia”, produzido por Chuck Hipolitho – que ganhou uma versão em vinil de alta qualidade no fim do ano passado (e que pode ser comprado pela internet). Eles também têm um álbum maior, gravado ao vivo nos Estúdios Trama, reunindo canções de toda a carreira da banda. Agora, a Jennifer Lo-Fi está gravando um novo EP, que terá quatro músicas e será produzido pelos próprios integrantes. Eles esperam lançar esse material inédito ainda na primeira metade de 2013.
Sabine também faz parte do quarteto Ema Stoned, formado apenas por garotas. O som delas remete bastante ao da Jennifer Lo-Fi, mas parece mais focado no instrumental e traz uma pegada mais post rock e suave. Elas também estão gravando um EP, que será sua estreia e deve sair nos próximos meses. Sabine disse que elas estão trabalhando nestas músicas há um ano, já; e que estão muito ansiosas para gravar e lançar o material. Nessa banda, ela toca guitarra e “dá uma palhinha na voz”, como diz.
Confira abaixo as indicações dela:
As músicas escolhidas pela Sabine estão no player acima. É só clicar para ouvir todas na sequência!
A playlist:
1) Mary Lou Williams – St Martin De Porres “É uma pianista e compositora americana do começo do século XX. O que impressiona nessa versão é o arranjo vocal deste gospel. Flerta com o soul e o erudito e é uma das musicas mais fantásticas que ja escutei, de arrepiar todos os pelinhos do corpo.”
2) Jeff Buckley – Gunshot Glitter “Essa musica é um dos “Sketches” do “Sketches for my Sweetheart, the Drunk”, disco póstumo do Jeff Buckley. Sempre amei essa musica desse jeito, completamente lo-fi, ruidosa, gravada no banheiro e o mais introspectiva e sensível possível.”
3) Björk – Joga “Foi a primeira música que escutei da Björk, numa coletânea de um CDR gravado por algum anônimo que foi parar nas minhas mãos. Eu devia ter uns 14 anos. Entrou dentro de mim e não saiu mais.”
4) The Sound of Animals Fighting – I, The Swan “ Um super grupo, com super cantores, super letras, super arranjos, super tudo.”
5) Elis Regina (Composição de Fátima Guedes) – Onze Fitas “A letra é genial e a Elis tambem é.”
Não é apenas uma música sobre superar dificuldades. É um hino feminino (a la Girl Power e também da comunidade gay) sobre juntar os caquinhos depois do término de um relacionamento, erguer a cabeça e seguir em frente. É aliás um hino universal: já foi reproduzido em 20 línguas, inclusive árabe. Um hino premiado: ganhou em 1979 o Grammy de Best Disco Recording, e foi a primeira e última vez que o Grammy premiou essa categoria. É também uma das canções mais populares cantadas em Karaokê.
Apesar de toda a sua aura de canção-espanta-dor-de-cotovelo, I Will Survive originalmente não se tratava de um homem específico na vida Gloria Gaynor. Ela estava muito bem casada quando a gravou. Na verdade, os produtores de Gaynor, Freddie Perren e Dino Fekaris, escreveram a letra para a cantora depois que ela sofreu uma lesão nas costas e ficou seis meses no hospital. Gaynor havia passado por uma cirurgia e ainda usava colete ortopédico quando gravou a música. E é por isso que ela vê essa canção como uma lição de sobrevivência, independentemente do que você tenha que superar: “É uma letra atemporal que aborda uma preocupação atemporal”, disse.
Se você está cantando-a por causa de um coração ou de uma coluna partida, não importa, garanto que quando escuta o pianinho inicial e os primeiro versos At first I was afraid I was petrifiiied você também bate o pézinho, levanta a mão com o microfone imaginário e faz a diva dando a volta por cima no salão enquanto declama o hino – não importa se é a versão original de Gloria Gaynor:
A versão indie mais lenta e menos arrasa bee, do Cake:
Ou a versão pin up, fofinha, retrô, gal group com The Puppini Sisters:
Quem nunca na vida, ao discutir sobre música, se deparou com algum saudosista e ouviu alguma indigesta afirmação do tipo: “essa banda era legal, depois ficou muito pop”. Nas entrelinhas dessa, bom mesmo era naquele tempo, quando só o saudosista e uma meia dúzia de gatos pingados ouviam. Depois popularizou, tornou-se comercial demais, “puseram umas batidas”. Resumindo, pra ele “virou uma bosta”.
Acontece que que grande parte das maiores bandas da atualidade tiveram mudanças consideráveis na musicalidade ao longo da carreira. Já vi muita gente malhando bandas exatamente pelo motivo citado no primeiro parágrafo. “Ai, bom mesmo era quando o Green Day era punk”. Punk? São contra qualquer tipo de evolução ou amadurecimento que o artista possa ter. O legal pro “saudosista-musichato-meio-hype-meio-alternativo é citar a comercialização. Como se fosse ruim tudo o que é comercializado. E como se fosse um argumento válido.
O Coldplay teve uma evolução vertiginosa, hoje um monstro, uma banda de show impecável. O trabalho de hoje não é o mesmo trabalho de 2000. Progrediu, floresceu, aprendeu. Claro que ninguém vai ser bobinho o suficiente de pensar que isso aconteceu simplesmente pelo fato romântico de eles quererem um trabalho mais maduro. Não, pô! Óbvio que existe também um interesse comercial e toda a parafernália que contém o showbiz. Mas não dá pra falar que ficou pior, independente se massificou ou não.
Eu sou a favor do baião com o rock, o jazz com o dance. Pra outros, parece que o que é bom, é o imutável, o mais-do-mesmo. Ainda na faculdade, recordo de muitos estudantes de música que defendiam com unhas (bem grandes pra tocar violão) e dentes o jazz intocável, o blues puritano. E a bossa nova então? Ai de quem mexesse na queridinha. Ai de quem fizesse uma releitura um pouquinho mais ousada. Tudo bem, poucas coisas contribuíram pra música no Brasil como ela fez. Mas poderíamos ter evoluído muito mais se não houvesse esse engessamento lamentável.
Basta sair do sonzinho cômodo ali para que alguém já comece a choramingar nostalgias. Ás vezes, a impressão que tenho é de que há uma certa preguiça ao tentar compreender a música, a obra, o disco. Ou seria uma certa vaidade, fugindo do que foi popularizado? Ou até uma aversão a um sistema capitalista onde é feio o artista pensar no dinheiro? Mil possibilidades.
Mas sempre vai ter um desse na rodinha do violão, contribuindo para a estagnação.
Gu Sobral é Ilustrador e Diretor de Arte, canta blues na Mr. Brown e 90’s na The Sexy Lobster. Já é velho conhecido aqui no NTR.