NTR Convida #52 – Gustavo Bertoni (Scalene)

O rock de Brasília ainda vive, e não somente de Capital Inicial (grazadeus). A banda Scalene vem fazendo cada vez mais bonito e entrou para as minhas bandas nacionais preferidas de todos os tempos com o álbum “Real/Surreal”, o mais recente da banda, lançado em 2013.

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Formada pelos irmãos Gustavo e Tomás Bertoni, Lucas Furtado e Philipe Nogueira, a banda nascida em 2009 já apareceu por aqui com um cover muito firmeza de “Somebody That I Used to Know” e “Rosemary” e, desde então, venho acompanhando o excelente trabalho deles.

Gustavo Bertoni é o frontman da banda, cantando e tocando guitarra e violão, e é ele o nosso convidado de hoje. O critério utilizado por ele para a playlist foi de grandes influências musicais de sua vida. Ouça a playlist de Gustavo e confira as dicas, o rapaz sabe o que está fazendo.

 

1) Thrice – Promises
“Thrice é do tipo de banda que se faz necessário conhecer toda a discografia para compreender a grandeza de seu trabalho. Versatilidade e originalidade os definem. A capacidade de soarem originais em cada vertente do rock que exploraram é extraordinária. Letras maravilhosas repletas de referências mitológicas, questionamentos universais, inconformismo…hora berradas com guitarras Drop A incendiando sua cara, hora cantadas suavemente com um mundo de texturas remetendo a um “Digital Sea”. Rock experimental com um pouco de indie rock, blues, grunge, post-rock, tocado por uma banda que começou hardcore melódico, revolucionou o post-hardcore e criou seu próprio estilo. Fonte inesgotável de inspiração. E o melhor de tudo, o som é completamente acessível, não perderam a mão nas composições mais experimentais. Ouço sempre, motivação diária.”

2) Matt Corby – Brother
“Ele é desses que são tão bons, que tornam quase tudo que você conhece um pouco menos impressionante. É muita musicalidade, controle e bom gosto pra um cara de 23 anos. Um vídeo ao vivo e pronto, te ganhou. Alguns o chamam de “Jeff Buckley da nossa geração” e apesar de não ser fã dessas comparações, é por aí. Sua virtuose vocal e seus trabalhos com loop são impressionantes, mas é sua sensibilidade genial como singer/songwriter que o coloca em outro nível – passa uma paz hipnotizante. Ouviremos muito dele ainda.”

3) City and Colour – Thirst
“Agora munido de uma banda com músicos consagrados, suas músicas estão melhores que nunca. O interessante do Dallas Green é que ele não é o melhor no que faz, mas é muito bom em tudo que se propõe a fazer. Suas composições possuem um grande equilíbrio, tudo acontece na medida certa e no momento certo. Isso traz uma elegância pro seu som que é rara de encontrar. Nos dias de hoje, um cara que critica a “pressa” e superficialidade em que vivemos, lembra a importância do amor e vive em busca de sabedoria é uma relíquia.”

4) O’Brother – Perilous Love
“Ensurdece e acalma. É sujo, porém agradável. É tosco e rebuscado. Só consigo pensar em antíteses para descrever a banda. Mas a maior delas é o tanto que eles são talentosos, e o tanto que são desconhecidos.”

5) The Beatles – Eleanor Rigby
“Não preciso falar nada, né?”

No último dia 11 de maio, Dia das Mães, a banda lançou o clipe da música “Amanheceu”, escrita por Gustavo para sua mãe, que teve a participação de vários fãs e este que vos escreve included. Assiste aí embaixo:


Mais Scalene:

Scalene-Capa-RealSurreal

 

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O Fresno e o mal da televisão

Lucas Silveira, vocalista e principal compositor da Fresno, tem hoje 30 anos de idade e já vivenciou muita coisa nessa vida. Viveu tanto que lançou, só com a banda, seis álbuns e dois EPs – sem contar os projetos paralelos chamados Visconde, Beeshop e SirSir. Suas letras são desde sempre carregadas de emoção, potencialmente inspiradas em situações reais, provavelmente pessoais, além de conter uma espécie de visão de vida. Isso significa que nada na obra da Fresno é superficial, dos amores adolescentes às temáticas de auto-ajuda. Um dos aspectos menos evidentes e mais recentes é o ódio pela “televisão” – ou seja, a imprensa.

Há diversas menções diretas a ela nos últimos trabalhos da Fresno, assim como referências à imprensa de modo geral. Em alguns casos, dá pra entender a televisão como uma entidade reguladora, que julga a todo tempo e controla sua vida pública. Em outras, ela é aquele vilão clássico, alienador e manipulador. É impossível não fazer ligação direta com a velha polêmica do som emo, dos rótulos distribuídos a esmo e da maneira depreciativa que a banda foi encarada em um período da carreira, mas que reverbera até hoje. (Pra entender melhor, há o documentário Do Underground ao Emo, que conta como a forte cena do hardcore foi traduzida meramente em estética pelo mainstream com ajuda da grande imprensa nos Anos 2000).

lucasfresnoIsso fica evidente porque as primeiras referências não são exatamente negativas. Elas estão primeiro em Quebre as Correntes, música do álbum Ciano (2006), aquele que popularizou a banda. “E o quê dizer quando sua vida não é igual à da TV?”, canta Lucas. Depois, aparece de novo no álbum Redenção (2008), o primeiro da banda por uma grande gravadora (Universal Music). Na música-título, ele avisa: “desligue o rádio e a TV porque no seu domingo vou aparecer”, enquanto que em Europa relaciona a TV a “imagens do passado”, a um pesadelo do qual não há como acordar. Nada muito grave, portanto.

Mas foi com o Redenção (2008) que chegou ao auge a rotulação da Fresno, que deixou de ser vista como uma banda cool para fazer parte de uma estética vazia e afetada. Isso foi potencializado com um disco que a banda, hoje em dia, enxerga com ressalvas. O álbum seguinte, não por acaso chamado Revanche, foi escrito pra provar que a banda era rock suficiente. Lucas admitiu, no documentário feito na gravação do EP Maré Viva, que, por mais doido que pareça, Revanche se destinou àqueles que não gostavam de Fresno.

A TV, essa entidade que conta as histórias do dia-a-dia e influencia milhões de pessoas, não foi poupada, e a partir daí as referências à imprensa aumentaram exponencialmente. Em Deixa o Tempo, Lucas canta: “Queria tanto estar em casa vendo mentiras na televisão”. Em Relato de um Homem de Bom Coração, ele desabafa: “de que adianta abrir os olhos se sei que os flashs são pra me cegar”. Em A Minha História Não Acaba Aqui, a mais representativa do álbum, elenca: “vão te vender sem saber o que há por dentro e vão achar que com alguns trocados podem te comprar, vão encontrar mil maneiras de rotular”.

fresno_marevivaDo Revanche para frente, todas as referências são negativas. Como, por exemplo, na música A Gente Morre Sozinho, do inexplicável EP Cemitério das Boas Intenções (2011): “enquanto pintavam os muros de sangue pra vender jornais”. Ou como em Farol (Infinito, 2012): “mas saiba que o teu olho me emburrece mais que as mentiras que eu li nos jornais de ontem”. No mais recente EP, Maré Viva (2014), o mesmo ocorre em À Prova de Balas: “sente o veneno que sai da tua televisão, eles vão dar uma festa pra nossa extinção. Quem muito mostra, esconde e engana quem vê de longe”.

O NTR é imprensa? Sei lá. Só sei que aqui estamos mais uma vez tentando interpretar as músicas do Fresno, dando significado a algumas coisas que, como temos a humildade de admitir neste momento, podem nem ser isso mesmo. Mas que esse ódio pela televisão faz sentido, faz. Talvez seja uma espécie de bode-expiatório, uma forma de canalizar esse incômodo que, se não é culpa da “televisão”, foi amplificado e popularizado por ela – de qualquer maneira, eu ainda acho que, sim, é culpa da televisão como principal componente do mainstream.

Diz um ditado americano: those who tell the stories rule the world. Isso tudo é o Fresno brigando para poder contar a sua própria história, em vez de amplificá-la por outros meios.

Brasileiros tocam no Primavera Sound

O festival Primavera Sound será realizado em Barcelona na semana que vem; e conta com artistas brasileiros em sua programação – como os já super famosos Caetano Veloso e Rodrigo Amarante (Los Hermanos), além de quatro bandas que achamos bem mais interessantes de ver: Black Drawing Chalks e Boogarins de Goiânia, Móveis Coloniais de Acaju; de Brasília e Single Parents, de São Paulo.

O Primavera Sound é um dos maiores e melhores festivais do mundo, super reconhecido por público e crítica; e na edição de 2014 traz atrações como Arcade Fire, Queens of the Stone Age, Pixies, Nine Inch Nails e Kendrick Lamar. Para comemorar a participação no festival espanhol, que certamente será um dos shows mais importantes em suas carreiras, as bandas brasileiras organizaram shows em Brasília (hoje, na Arena Futebol Clube em frente à AABB) e em São Paulo – onde tocam amanhã, no Cine Joia. O mais bacana é que cada grupo tem um estilo diferente: o Black Drawing Chalks é rocão e stoner, o Boogarins lembra tropicália, jovem guarda e psicodelismo dos anos 60, o Móveis é uma mistureba de rock, soul, disco, MPB e ska bem dançante e animada; e o Single Parents é rock sujo bem anos 90, lo-fi e shoegaze. Resumindo: estaremos muito bem representados em Barcelona.


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A banda Single Parents é um baita exemplo de empreendedorismo: os caras são independentes, gravaram disco nos EUA, têm seu próprio selo (Balaclava Records) e acabaram de trazer para o Brasil o Mac DeMarco e o Sebadoh – com quem dividiram o palco, além de participarem do Primavera e fecharem outros shows na Espanha e em Portugal no que será sua primeira turnê europeia (tá, meu bem?!).

Falando em Sebadoh, eles participaram de uma coletânea de bandas brasileiras em tributo ao grupo americano,  com uma versão para a canção “Skull”. Escute aqui: www.tributoh.com. Eles também acabaram de lançar uma música nova, a primeira dentro de seu próprio selo e com a nova formação da banda, que virou um quarteto com a chegada de Zeek Underwood (guitarra) e Martim Batista (baixo), além dos membros originais Fernando Dotta (guitarra e vocal) e Rafael Farah (bateria). A música inédita se chama “VHS” (ah, a paixão pelos anos 90, né) e é muito boa – presta atenção no solo de baixo (2min40seg)!

Vai, Brasil! #vaitercopa

Yes, nós temos Michael Jackson!!!

Sim, caros leitores, é verdade! Foi lançado um álbum de inéditas da lenda Michael Jackson. O disco póstumo do saudoso rei do pop, que nos deixou há quase cinco anos, se chama “Xscape” e traz 9 canções novinhas em folha – além de faixas bônus na edição deluxe e um cover do clássico “Horse With No Name”, do America – que, na versão de Michael, se chama “Place With No Name”. Aliás, dá pra dar uma espiadinha no disco no site da gravadora Sony, com streaming de um pedacinho de cada música (clique aqui para ouvir!).

O disco foi produzido por gente de peso como Timbaland, Rodney Jerkins, Stargate e John McClain, além de L.A. Reid. E, entre as faixas inéditas do Rei do Pop, há uma música em parceria com Justin Timberlake, provavelmente o maior representante da influência de Michael na música atual. É a “Love Never Felt So Good”, que ganhou esse clipe bem bacana – uma linda homenagem a Michael:

Aqui em Londres, onde estou morando agora, o disco novo do Michael Jackson está recebendo toneladas de publicidade, com muitos cartazes espalhados pela cidade e em todas as linhas de metrô. Já dá para comprar o disco novo, Xscape, na Amazon e na iTunes Store. Acho que os Irmãos Jackson devem estar muito felizes 🙂

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99 problems – A Origem

O ano é 1994. Um negro dirige por uma rodovia de Nova Jersey, nos Estados Unidos, e ele tem cocaína escondida no carro.  Ele olha no retrovisor e vê “A Lei” se aproximando, sirene e giroflex ligados. Por um momento, cogita pisar fundo e arriscar uma perseguição mas… tudo bem, ele tem dinheiro, pode encarar a ocorrência de uma forma ou de outra. “Filho, você sabe por que eu mandei você parar?”, pergunta o policial. Muita coisa passa pela cabeça do rapaz – questões raciais e sócio-econômicas, principalmente. Ironia e impaciência se misturam: “estou sendo preso ou tem mais nisso aí?”.

“Bem, você estava 2 km/h acima do limite. Documentos e, por favor, desça do carro. Você está armado? Eu sei que muitos de vocês andam armados“, diz o policial. Definitivamente, questões raciais e sócio-econômicas fizeram a diferença. Mas este negro sabe o que está fazendo: não vai descer do carro, e isso é tão certo como a validade de sua documentação. “Bem, você se importa se eu olhar seu carro um minuto?”, pede “A Lei”. Mas é claro que não. “Meu porta-luvas está trancado, assim como meu porta-malas. Então, você vai precisar de um mandado de busca“, rebate o rapaz.

O policial se impressiona: encontrou pela frente um espertinho. “Então você deve ser um advogado, alguém importante ou algo do tipo”, provoca. “Não”, responde o negro. “Não estou acima da média, mas sei alguma coisa. Sei o suficiente para você não revistar ilegalmente as minhas coisas“. A tensão é cada vez maior. “Bem, vamos ver se você vai continuar espertão quando a k9 chegar (Unidade Canina, em inglês, responsável pelos cães farejadores)”. Estacionados à beira da rodovia, eles veem justamente a viatura com a inscrição k9 passar a toda, com qualquer outro destino.

I got 99 problems, but a bitch ain’t one.

Esse é o cerne da música 99 Problems, sucesso de Jay-Z parte do “Black Album” lançado em 2004. Dez anos antes, o próprio rapper foi parado pela polícia, na sua opinião, apenas por ser negro. A letra criou polêmica nos Estados Unidos e levou a uma investigação que comprovou que a polícia de Nova Jersei abordava mais suspeitos negros do que brancos nas mesmas condições. Em 2011, um professor de direito fez a análise da letra e indicou que Jay-Z estava errado ao sugerir que um policial não poderia obrigá-lo a descer do carro ou que seria necessário um mandado para revistar o veículo.

Polêmicas a parte, a música é mais um dos argumentos dos que alegam a “genialidade” de Shawn Carter, nome verdadeiro do rapper. O refrão é ambíguo: começa com “If you’re having girls problems I feel bad for you, son” (se você está tendo problemas com garotas, eu sinto muito por você, filho). “I got 99 problems, but a bitch ain’t one”, completa. A palavra “bitch” poderia ser interpretada como referência a uma “mina”, mas na verdade diz respeito às cadelas que poderiam farejar o carro de Jay-Z, descobrir as drogas escondidas e dar razão ao policial.

Até Barack Obama já citou a música mais de uma vez. Em 2009, Jay-Z se apresentou em um evento exclusivo para financiadores da campanha que elegeu o primeiro negro presidente dos Estados Unidos e cantou 99 problems, mas alterou o refrão para “I got 99 problems, but a Bush ain’t one”, em referência ao ex-presidente George Bush. Já em 2013, em um encontro com jornalistas na Casa Branca, Obama mostrou senso de humor ao comentar os rumores que indicavam visita do rapper a Cuba. “É ridículo. Eu tenho 99 problemas, e agora Jay-Z é um deles“.

Imparável / Unstoppable

Esse post possui uma versão em inglês / This article is also avaiable in english

O paulistano Johann Vernizzi, salvas as devidas proporções, é quase um Dave Grohl brasileiro. Além de trabalhar com publicidade e design em período integral em uma das maiores agências do Brasil, o cara ainda atua como ilustrador e tem duas bandas bastante produtivas: o trio Veronica Kills e a dupla Sleeping Sapiens. Johann é workaholic, quase hiperativo e envolvido em muitos projetos, assim como o líder dos Foo Fighters. E sim, sou suspeita pra falar porque ele é um dos meus melhores amigos. Mas essa produtividade musical vai muito além do meu possível puxa-saquismo e acho de verdade que merece a sua atenção.

Acontece que, quase ao mesmo tempo, o Sleeping Sapiens lançou um clipe novo; enquanto o Veronica Kills lançou um EP novo em parceria com a marca Converse e uma campanha de crowdfunding para a gravação de seu primeiro álbum completo – e seu lançamento em vinil. Tô falando que não é brincadeira, hahaha.

O vídeo do Sleeping Sapiens é legal porque é vintage. Os caras gravaram tudo EM FITA, com máscaras malucas, brincando num parquinho tipo playground de condomínio.

Johann Vernizzi, from São Paulo – Brazil, can be compared to Dave Grohl in is hyperactivity. Besides working as a full time designer for one of the main brazilian advertising agencies, he still works as an illustrator and has two great rock’n’roll bands: the trio Veronica Kills and the duo Sleeping Sapiens. Johann is a workaholic ans is always envolved em lots of different projects, such as the Foo Fighters leader. And yes, I’m biased because he is one of my best friends. But this high musical productivity goes far beyond my personal judgement and really deserves your attention.

The thing is, almost at the same time, Sleeping Sapiens has launched a new videoclip, while Veronica Kills has released a new EP in a partnership with Converse plus a crowdfunding campaign for the recording of their first full album – ans its release in vinyl. I’m telling you, it’s serious business.

The Sleeping Sapiens video is cool because its vintage. The guys have recorded it IN TAPE, wearing crazy masks and fooling around in a kids playground.

O EP novo do Veronica Kills se chama “Eu Caminho” e é legal porque, obviamente, é uma tiração de sarro com o disco mais hypado da dupla americana Black Keys, “El Camino”. Além disso, esse EP consolida a nova formação do Veronica Kills como um trio e foi gravado pelo projeto Rubber Tracks em parceria com a Converse (a marca que faz o clássico tênis All Star, moda entre os roqueiros desde os anos 70 e os Ramones).

O projeto, aliás, é uma chiqueza só: começou no Brooklin, em Nova Iorque, para incentivar a música independente; e agora chegou ao Brasil com a banda paulistana. As duas faixas do “Eu Caminho” foram gravadas no Family Mob Studios (que pertence a Jean Dolabella, ex-Sepultura) com o produtor Hector Castillo, que já trabalhou com artistas como David Bowie, Lou Reed e Bjork (tá, meu bem?!); e mixadas e masterizadas por Chuck Hipolitho no estúdio Costella. Dá pra ouvir as canções novas (“Song to Die” e “Feelin’ Alright”) no Bandcamp do Veronica Kills. E a capa, feita pelo próprio Johann, também ficou ótima (veja ao lado).

Agora, o Veronica Kills precisa da sua ajuda para poder lançar seu primeiro álbum cheio em vinil. Para explicar o que é o projeto, o que é crowdfunding e como todo mundo pode ajudar, a banda fez um vídeo bem divertido, com a volta da fatídica mãozinha do clipe “Lack of Soul”.

The new Veronica Kills’ EP is called “Eu Caminho” – in portuguese, “I walk”; in a clear reference and parody of the most hype album by american duo The Black Keys (“El Camino”). Besides that, this EP consolidates the bands’ new formation as a trio and was recorded by the project Rubber Tracks in partnership with Converse (the brand that makes the classic trainers All Star, in fashion among rockers since the 70s and the Ramones) .

The project is really great. It has started in Brooklyn, New York, to support independent music; and now it arrives in Brazil with the band from São Paulo. The two tracks from “Eu Caminho” were recorded in the Family Mob Studios (which belongs to Jean Dolabella, former member of the brazilian metal band Sepultura) with the producer Hector Castillo, who have worked with artists such as David Bowie, Lou Reed e Bjork (is that enough for you?); and mixed and mastered by Chuck Hipolitho, a legendary musician from brazilian underground rock scene who has also been a MTV presentor, in his Costella studios. You can hear the new tracks (“Song to Die” and “Feelin’ Alright”) on their Bandcamp website. The cover art were also made by Johann (see above).

Now, the band Veronica Kills needs your help so they can release their first full lenght album on vinyl. To explain how the project works, what is crowdfunding ans how to donate, the group has made a very funny and instructive video – starring the talking silly hand from their first video, “Lack of Soul”:

O álbum irá contar com 8 músicas inéditas da banda e será lançado em vinil de 12 polegadas de 140 g com capa colorida, em uma prensagem exclusiva para os apoiadores do projeto. Dependendo da quantia doada, os apoiadores também podem ganhar outras recompensas, como camisetas e adesivos. Clique aqui para acessar a página do projeto e ajudar! Tem recompensas legais a partir de apenas R$ 20,00.

Seguindo a tradição do “Faça Você Mesmo” e da hiper produtividade, o baterista da Veronica Kills, Giuliano Di Martino, assina o design das camisetas e adesivos do projeto. Queria saber o que esses caras comem no café da manhã. A campanha para ajudar a banda vai até o dia 17 de maio e ainda falta arrecadar boa parte da verba. Você já viu que os meninos fazem boa música, estão trabalhando duro e ralando de verdade. Então, que tal ajudá-los?

The album will have 8 new tracks and will be released in 12 inch 140 grams vinyl, with a high quality coloured cover, in an exclusive pressing for the pledgers. Depending on the amount donated, the pledgers can also win other nice rewards, like stickers and t-shirts. Click here to access the project webpage and help them! There are nice rewards from BRL 20 (less than 10 US dollars).

Following the “Do It Yourself tradition” and the hyperactivity, the bands’ drummer, Giuliano Di Martino, is responsible for the design of the project’s stickers and t-shirts. I wonder what do these guys eat for breakfast. The campaign to help the band goes up until May 17th and they’re unfortunately far from reaching their goal. You already know these boys make great music and that they’re working really hard. Now, what about helping them?

Por que cantar em português?

Banda de metal/hardcore de São Paulo, o Project 46 estava com a gravação seu primeiro álbum encaminhada quando resolveu incluir uma hidden track com letra em português. A coisa funcionaria como um teste, uma música diferente em meio ao álbum todo cantado em inglês. Quando a faixa ficou pronta, o impacto dela foi tão grande que deixou os cinco integrantes em dúvida. Ficou bom. Será que o resto delas também soaria bem se traduzida também? “Por que cantar em português?”, perguntaram-se.

Project 46

Project 46

As referências do headbanger brasileiro padrão são gringas, não só porque o estilo foi criado e aperfeiçoado fora do País, mas também porque boa parte das principais bandas daqui faz música em inglês – Sepultura e Korzus são exemplos. Assim funcionava com o Project 46 também. Antes de formar a banda, o quinteto integrava um cover de Slipknot. O primeiro EP, If You Want Your Survival Sign Wake up Tomorrow (2009)tem quatro faixas em inglês. Dois anos depois, eles resolveram arriscar: passaram todas as letras para português. Os efeitos disso são muito interessantes.

Primeiro porque algumas músicas foram traduzidas quase que fielmente, sem grandes adaptações. Wake Up, do EP inicial, virou Acorda Pra Vida no primeiro álbum, intitulado Doa A Quem Doer (2011), assim como If You Want agora é Se Quiser Tomorrow é Amanhã NegroSurvival Signs, por sua vez, foi uma das músicas bem alteradas, transformando-se em No Rastro Do Medo. De qualquer maneira, a temática é a mesma: porrada, desgraça e a luta para superar os medos, problemas e dificuldades. Cantar em português, por fim, acabou fazendo toda diferença para o Project 46.

O principal motivo é a identificação com as letras. O guitarrista Vinícius Castellari explicou, em entrevista ao site Whiplash, como é muito mais relevante e significante para o fã gritar um palavrão em português do que em inglês. A gente enche a boca pra falar “Acorda pra vida, caralho”, muito mais do que faria com “Wake up to your life, bastard”, como no original. Além disso, não dá para deixar de notar como a dicção do vocalista Caio MacBeserra em inglês é contestável, enquanto que em português ele consegue marcar melhor as sílabas. Apesar do vocal gutural, dá para entender o que é cantado.

Capa do novo disco

Capa do novo disco

Em português, o Project fala a língua dos fãs, com frases como “Aqui se faz, aqui se paga”, “Então cola na grade e vem” e “Abre a roda ou sai fora”. O efeito disso no show é devastador, da maneira como tem que ser quando um metal é tocado. Resta, então, o nome em inglês, que provavelmente não será trocado. É uma herança dos tempos de Slipknot cover, quando Jean Patton e Vini Castellari resolveram formar a banda. No cover, Patton era o #6, o palhaço, percursionista e backing vocal, enquanto Castellari imitava o #4, guitarrista.

“Project forty-six”, mas eles não se incomodam se a pronúncia mudar para “Project quarenta e seis” ou mesmo “Projeto quarenta e seis”. A banda nunca foi tão engajadamente brasileira como agora. O álbum novo já está pronto, vai se chamar Que Seja Feita a Nossa Vontade e terá, em sua capa, arte do grafiteiro Will Ferreira, conhecido por retratar questões sociais do País em seu trabalho. Uma música já foi liberada: Empedrado, sobre vício em crack, uma questão mais do que atual. Daria para falar disso em inglês? Claro. Mas não teria o mesmo impacto. Em português, o Project 46 é mais relevante. Essa é a resposta para aquela pergunta. E eles acertaram.

Compare as letras do Project 46 em inglês/português (links com vídeo)

Inglês                                                                                             Português
Wake Up                                                                                      Acorda Pra Vida
If You Want                                                                                Se Quiser
Tomorrow                                                                                  Amanhã Negro
Survival Sign                                                                             No Rastro Do Medo

NTR Convida #51 Carburador Fumegante

1461033_624838994229243_136830505_nO projeto da banda começou entre os anos de 2009 e 2010, inicialmente com os integrantes Victor, Diogo  e Rennan, sem um membro fixo como baixista. Não demorou para que surgisse as primeiras composições, dentre elas as duas canções que compõem o EP Chinfra, Marra & Onda: “Massagem Tailandesa Com Final Feliz”  e “Atira Junior!”. Os primeiros shows aconteceram no segundo semestre de 2012 e no início de 2013, Lucas Couto (Lucão), assumiu definitivamente a vaga de baixista, atribuindo uma nova pegada ao Carburador Fumegante, que começou a encontrar seu caminho a partir desse ponto. Desde então, a banda marca presença em festivais como o “Anima ABC” e em bares como o “Kasa do Karaio”,  São Paulo, conquistando alguns fãs e abrindo espaço no cenário musical através do seu autêntico “rock sarado”.

Atualmente a banda está em  fase de composição e recentemente lançaram seu primeiro EP intitulado “Chinfra, Marra & Onda”. O Carburador Fumegante planeja a gravação de um álbum completo, com as músicas novas que estão saindo do papel e tomando forma.

 

1) Novos Baianos – Tinindo Trincando
Terceiro som do disco Acabou Chorare de 72 que faz uma mistura de Baião com Psicodelia. A escolha dá-se ao suingue brasileiro que ela tem. Por Lucão.

2) MC5 – Looking at you
Porque é rock nervoso ao vivo, coisa que muita banda hoje em dia não manda bem. Até arrepia! Por Badi.

3) James Brown – Mind Power
Pela chinfra, pela marra e pela onda. Somzera nervosa e cheia de ginga, típica do “setentão”. James Brown é pura brasa, morô bicho?! Por Victão

4) Cactus – Parchman Farm
Som chuta bundas, nervoso, roots, sem melação, sem preguiça e com muita marra. Rock and roll como deve ser feito. Por Rennan

 

Mais Carburador Fumegante:

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Fan Page: https://www.facebook.com/carburadorfumegante?ref=hl
Band Camp: http://carburadorfumegante.bandcamp.com/
TNB (Toque no Brasil): http://tnb.art.br/rede/carburadorfumegante
SoundCloud: https://soundcloud.com/carburadorfumegante
YouTube: http://www.youtube.com/carburadorfumegante

Pumped up kicks, a origem

Pumped Up Kicks colocou o Foster the People no mapa mundial da música. Foi a primeira música gravada pela banda de Los Angeles, embora o vocalista Mark Foster já tivesse outras canções previamente arranjadas. No começo de 2010, ela foi colocada na internet para download gratuito e rapidamente viralizou-se: a revista Nylon a usou como trilha para uma propaganda online, e com ela eles se apresentaram no festival South by Southwest, em Austin, em uma performance aclamada. De repente, Foster começou a receber propostas e mais propostas. Pumped Up Kicks iluminou o caminho do trio, mas sua origem é absolutamente obscura.

Em quatro minutos e quinze segundos, Mark Foster apresenta ao público o massacre feito por um estudante em uma escola, exposto na visão perturbada do assassino. O refrão, que faz com que a música seja um daqueles sucessos que grudam na cabeça, é quase um mantra do “Cowboy Kid“, o personagem principal: “All the other kids with the pumped up kicks you better run, better run, outrun my gun/faster than my bullet” (todas as crianças com os sapatos caros, é melhor vocês correrem mais rápido que minha arma/mais rápido que minha bala).

Massacre de Columbine

Massacre de Columbine

Foster compôs a música em um dia de pouco serviço no estúdio em que trabalhava fazendo jingles. Como disse à CNN, tentou entrar na cabeça de um adolescente problemático e entender o que se passa diante da crescente tendência de distúrbios. “Eu queria entender a psicologia por trás disso, porque era estranho para mim”, afirmou. A inspiração é o Massacre de Columbine: em 20 de abril de 1999, Eric Harris e Dylan Klebold invadiram uma escola nos Estados Unidos fortemente armados e mataram 12 alunos e um professor, além de ferir outras 21 pessoas. Ambos cometeram suicídio.

O baixista Cubbie Fink tem uma prima que é sobrevivente do episódio, estava na biblioteca da escola no momento do tiroteio e vivenciou o massacre. A música, segundo a banda, é uma espécie de revanche. O personagem, Robert, é um garoto de “mãos rápidas” que vai “observar tudo, mas não revelará seus planos“. Ele tem uma aura de “cowboy“, com seu “cigarro pendurado na boca“. Robert acha uma arma no armário do pai, que trabalha muito e é ausente. Meio que sem motivo, Foster avisa: “he’s coming for you. Yeah, he’s coming for you” (ele está indo atrás de você. É, ele está indo atrás de você).

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Foster the People

No segundo verso da música, Robert demonstra seus problemas psicológicos. A “mão ágil agora puxa o gatilho” e ele tem uma discussão com seu cigarro, dizendo “seu cabelo está pegando fogo, você deve ter perdido o juízo“. Essa continua sendo a música mais relevante do Foster the People, que em 2012 fez show muito bem avaliado no Lollapalooza, em São Paulo. Pumped Up Kicks é tão importante que o primeiro álbum da banda, Torches (2011), foi feito em virtude de seu sucesso e construído para que ela não reinasse solitária. Não quer qualquer outra música ameace seu destaque, mas o Foster the People continua aí, com muitos fãs que vão além dessa história trágica.

)

Veja a letra completa de Pumped Up Kicks

Robert’s got a quick hand
He’ll look around the room he won’t tell you his plan
He’s got a rolled cigarette
Hanging out his mouth, he’s a cowboy kid

Yeah, he found a six shooter gun
In his dad’s closet, in a box of fun things
And I don’t even know what
But he’s coming for you, yeah, he’s coming for you

All the other kids with the pumped up kicks
You better run, better run, outrun my gun
All the other kids with the pumped up kicks
You better run, better run faster than my bullet

Daddy works a long day
He be coming home late, yeah, he’s coming home late
And he’s bring me a surprise
Cause dinner’s in the kitchen and it’s packed in ice

I’ve waited for a long time
Yeah, the slight of my hand is now a quick pull trigger
I reason with my cigarette
Then say your hair’s on fire
You must have lost your wits, yeah

All the other kids with the pumped up kicks
You better run, better run, outrun my gun
All the other kids with the pumped up kicks
You better run, better run faster than my bullet

Cool Covers: Anitta vs Pitty

Há uma semana, a cantora Pitty postou em seu boteco-blog uma mensagem sobre a cantora Anitta e levantou uma polêmica que, até então, só existia entre ela e suas próprias fãs. A funkeira Anitta andou fazendo covers de músicas da Pitty, e a diferença de postura entre as duas irritou as fãs da roqueira. Foi como se fosse errado uma artista que trabalha exibindo o corpo e vendendo sensualidade cantar as canções de alguém que é exatamente contrária a isso. Não é bem assim.

Pitty deixou o caso muito bem explicado na mensagem, que o NTR reproduz abaixo. Os covers de Anitta, por sinal, são bem interessantes, bem fiéis. Ela canta muito bem e, de fato, não sensualiza durante as músicas. Vale a pena conferir esses Cool Covers.

Seu corpo é seu
Por Pitty

Começou assim: alguém me avisou que Anitta tinha postado um trecho de uma música minha numa rede social. Depois me mandaram um link dela cantando Máscara ao vivo num show. Depois outro dela cantando Na Sua Estante. E eu achei divertidíssimo que alguém de um universo tão diferente estivesse ligada no meu som e reinterpretando-o a sua maneira. Isso já faz um tempo, e tudo o que eu sabia até então é que eu a tinha visto num clipe com uma fotografia massa. “Ah, é aquela menina do clipe bonito”, pensei. E o tempo foi passando, e as reações de algumas pessoas em comentários quando me mandavam os links começaram a me deixar intrigada-barra-preocupada. Geralmente meninas, e novas, com um discurso de “credo, essa menina cantando sua música, ela fica aí mostrando o corpo, sendo vulgar” etc, etc. Coisas desse tipo. Percebi que o que incomodava não era necessariamente o estilo, ninguém falava sobre mérito musical, cantou bem ou cantou mal, mas sim MOSTROU O CORPO. E até hoje, volta e meia alguém me escreve com esse papo. Sempre fui uma pessoa discreta, não curto expôr vida pessoal e nem sou afeita a ensaios sensuais; não por pudor, mas por sentir que a máquina patriarcal que opera esses mecanismos acaba sempre nos colocando como bibelôs à disposição- mesmo quando tenta nos convencer de que isso é exercer liberdade. Quando o fiz, procurei que fosse em um veículo no qual eu sentia que realmente esse exercício de liberdade estaria em primeiro plano. Enfim.

O que me deixou aflita e o que eu queria dizer para aquelas meninas que mandaram as mensagens é: NOSSO CORPO É NOSSO. Não deixe ninguém te dizer o contrário. Desfrute dele, assuma-o com a forma e tamanho que ele tiver, vivencie seu corpo- assumindo a responsabilidade que isso traz. Esse empoderamento é importante pra todas nós. Nós podemos usar a roupa que quisermos, podemos dizer o que quisermos, podemos ficar com quem quisermos, a hora que quisermos. Somos donas do nosso destino e estamos aqui para sermos felizes e nos sentirmos bem. O resto, meus amores, é só opressão.

Pra mim isso tudo é clichê de tão óbvio, mas achei que devia dizer.

Um abraço carinhoso pra todas, suas lindas. 
E em tempo: um beijo, Anitta!

PS: o clipe da “fotografia bonita” é o do grande sucesso de Anitta, Show das Poderosas. O diretor de fotografia é Thiago Britto.