Cool Covers: We Can’t Stop

Palmas para o Bastille, banda inglesa que, em apresentação à BBC Radio, conseguiu transformar a música We Can’t Stop, da Miley Cirus, em um legítimo MINDFUCK.

Por partes, o Não Toco Raul explica:

1) We Can’t Stop é o primeiro single do álbum Bangerz (2013). Fez grande sucesso e chegou ao 2˚ lugar das paradas americanas. A música defende o estilo porra-louca da cantora, que chocou o mundo ao ligar o foda-se em suas atitudes e canções – principalmente porque ela era, antes, a queridinha da América, estrela da Disney e ídolo adolescente.
2) A versão do Bastille é cheia de referências, e todas elas fazem sentido. Eles não dão ponto sem nó. A primeira, bem explícita, é a introdução com o riff the Lose Yourself, do rapper Eminem. Lose Yourself pode ser traduzido como “entregue-se” ou “perca a si mesmo”. Interessante…

3) O Bastille usa a introdução de I Just Can’t Wait To Be King (em português, O Que Eu Quero Mais É Ser Rei) no trecho entre o final do refrão e os versos restantes. A música é trilha do filme Rei Leão – da Disney, assim como Miley no começo da carreira – e mostra a pretensão descabida e a ousadia juvenil de Simba. Hmmm…

4) Na segunda estrofe, o Bastille substitui a palavra GOD (Deus) por DAD (Pai) no verso “only God can judge us” (apenas Deus pode nos julgar). Essa foi uma sacada cruel e perspicaz…

5) Depois do segundo refrão, o Bastille inclui um trecho de Achy Breaky Heart, grande sucesso de Billy Ray Cyrus, o pai de Miley. A música, de autoria de Don Von Tress, virou sucesso mundial em 1992. A banda inglesa, no entanto, muda a letra original. Em vez de “Don’t tell my heart, my achy breaky heart“, canta “Don’t break his heart, his achy breaky heart” (“não parta o coração dele, seu dolorido e quebradiço coração”). Quase não dá para conter a ironia. Sabe-se que Miley e seu pai, grande ícone da música country, tiveram desentendimentos por conta da forma como a cantora leva sua carreira – ou seja, ele não gosta dessa porra-louquice toda. Billy chegou a contracenar com Miley em Hannah Montana, programa da Disney que fez dela um ícone infantil.

6) Pra fechar com chave de ouro, o Bastille muda o sujeito do último refrão, do pronome we (nós) para she (ela). Fica assim: “but she can’t stop and she won’t stop” (“mas ela consegue parar e ela não vai parar”). Aparentemente, Miley está incontrolável…

Está aí uma bela versão: tem mashup com três outras músicas, e a banda alterou o formato e o sentido. MINDBLOWING.

Achou mais alguma referência? Avise a gente nos comentários!

Fuck you (Forget you), a origem

Fuck You (Forget you) é o primeiro single do terceiro álbum de estúdio de Cee Lo Green, The Lady Killer (2010). Foi lançado em 19 de agosto de 2010 e se tornou um hit instantâneo, apesar dos palavrões (é claro que há uma versão tosca suprimindo as palavras fuck, shit nigga). Aparentemente, é uma música de lamento sarrista do ponto de vista de um sujeito que foi trocado pela namorada por outro bem abastado. Ok, mas não é só isso. A origem dela está em Bruno Mars, no início de sua carreira e na admiração por Cee Lo. Vamos ao background da questão.

Bruno Mars lutou muito para vingar como músico, a ponto de cogitar voltar ao Havaí, onde nasceu, por dificuldades financeiras. Ele então vivia em Los Angeles exclusivamente em busca desse sonho e insistia em conseguir alguma faixa em parceria com outros produtores, algo que o fizesse estourar. Antes, chegou a ser contratado pela grandiosa Motown Records, companhia que fechou as portas em 2005 e que, no passado, foi casa de grandes nomes como Jackson 5, Steve Wonder, Marvin Gaye e The Temptations, entre outros. Acontece que a Motown não soube o que fazer com Bruno Mars. A questão era a seguinte: qual é o seu público alvo?

Mars foi dispensado da gravadora Motown

Mars foi dispensado da gravadora Motown

Analisando pelas músicas de Mars hoje em dia, dá pra notar a dúvida da gravadora: ele produziu baladinhas românticas (Just the way you are), reggaes (The lazy song), hip hops (Nothin’ on you), tem uma pegada oitentista (Treasure) e até músicas com batida mais pesada, densa (Granade). Para uma gravadora que está prestes a apostar em um desconhecido e investir tempo e dinheiro, essas questões parecem justas. Mars foi deixado de lado. Isso ocorreu em 2004. Dois anos depois, o Gnarls Barkley, com Cee Lo Green à frente, estourou com Crazy em seu álbum de debute, St. Elsewhere.

“Quando o Gnarls Barkley apareceu usando todos esses estilos diferentes de música e quando Crazy foi lançada, essa é uma música que eu gostaria de ter escrito“, disse Bruno Mars, durante uma feira promovida pela ASCAP, a associação americana de compositores, autores e publishers. De repente, o projeto de Mars recusado pela Motown estourou com o Gnarls Barkley. Enquanto isso, sua carreira começava finalmente a andar, mas com trabalho para outros. Ao lado de Philip Lawrence e Ari Levine, grupo de produção chamado The Smeezingtoons, começou a chamar a atenção com sucessos como o feito para o rapper B.o.B., com Billionaire.

Foi assim que surgiu o convite de Cee Lo Green para uma parceria com os Smeezintoons. Ele queria uma música, Mars criou uma a partir do verso: “I see you driving ’round town with the girl I love and I’m like fuck you”. Não é difícil perceber que trata-se de um desabafo bem humorado feito para Cee Lo Green. A história está bem explicada na divertida participação de Mars e seus companheiros de Smeezingtoons no evento da ASCAP. A parte abordada por esse texto começa aos 4min20s. Philip Lawrence, sentado à direita, é como o beatmaker do trio. Já Ari Levine, à esquerda, faz as vezes de letrista.

A partir do primeiro verso, os quatro criaram o riff de piano que marca a introdução e desenvolveram a letra. “Quanto mais trabalhávamos nela, menos brincadeira a letra se transformava”, disse Lawrence. Foi ideia de Cee Lo Green, por exemplo, dizer “fuck you” também para a garota na música, e assim o diálogo é travado com ele – o novo namorado – e ela – a ex-namorada – durante toda a canção. Cee Lo já disse, em entrevistas, que não teve ajuda para escrever a letra. Sabemos que isso é mentira. E se alguém não acredita, segue uma mensagem dos Smeezingtoons: “fuck you”.

Bônus: versão estilosa da Eliza Doolitle (com direito a dois dedinhos levantados pra dizer “fuck you”, estilo britânico)

Lorde | Pure Heroin

Universal Music / 30 de setembro de 2013 / Pop, Eletrônico, Trip Hop

lorde

Faixas:

1. Tennis Court
2. 400 Lux
3. Royals
4. Ribs
5. Buzzcut Season
6. Team
7. Glory and Gore
8. Still Sane
9. White Teeth Teens
10. A World Alone

 

3,0/5

Corajosamente ignorando todo o hype, é hora de encararmos com franqueza o “fenômeno” Lorde (veja aqui o primeiro post do NTR sobre a artista). Parece sinal dos tempos o fato de que uma artista ligeiramente acima da média (em que se pese o fato de que Ella Maria Lani Yelich-O’Connor [a garota – a voz e a compositora – neozelandesa por trás da marca Lorde] tenha apenas 17 anos) cause tamanha comoção quase que simplesmente por aterrissar de cara no jogo da indústria com uma proposta aparentemente divergente da fórmula já pasteurizada de pop comercial embalado por contornos emprestados do rock alternativo pós mercantilização da rebeldia juvenil. Beneficiando-se, intencionalmente ou não, da trilha aberta por representantes do intenso, porém fugaz, fenômeno do Trip Hop do início do milênio, Lorde chega pra consolidar de vez a economia de nicho na música comercial yankee. A mistura levemente bagunçada, mas competente, de pop romântico-adolescente – conduzido fervorosamente pelos vocais melódicos de Ella – com experimentalismo rock/eletrônico atuando na margem de segurança do paladar do público jovem contemporâneo médio, tem potencial pra divertir o ouvinte ocasional ao mesmo tempo em que apela para a condescendência dos consumidores mais experimentados de música. Para os últimos está reservada a alegre sensação de que a indústria não conseguiu passar ilesa pela urgência criativa das últimas duas décadas, enquanto que aos primeiros fica reservada a emergência de um produto afinadíssimo com a esquizofrênica e insaciável demanda por criatividade musical e coragem artística aprovada por comitês executivos e habilmente empacotada para consumo. Enfim, considerando os tempos em que vivemos, Lorde supera com folga as comparações (descabidas e preguiçosas, convenhamos) com a contemporânea Lana Del Rey e gravita em uma órbita muito mais interessante, a meio caminho da galáxia em que Grimes, por exemplo, brilha sossegadamente na condição de fenômeno da música em tempos de banda larga.

É pra quem gosta de:

Lana Del Rey – Grimes – Goldfrapp – Portishead

Tem que ouvir:

Tennis Court – Royals – Buzzcut Season

Pode pular:

Ribs – Still Sane

 

*Se você não tem como comprar o álbum, em versão física ou digital, dá pra ouvir provisoriamente no YouTube.

Cool Covers: PYT (Pretty Young Thing)

A primeira coisa a se dizer sobre esse cover de Michael Jackson é que, surpreendentemente, ele não foi feito muitas vezes. Quer dizer, é claro que foi, mas poucas pessoas tiveram sucesso em criar algo minimamente original para essa canção. O que se tem internet afora são versões de fórmulas batidas como a capella (alguém fazendo todos os instrumentos com a voz sem convencer de que não usou o auto-tune), bandas de um homem só (mais uma vez com recursos como stopmotion) ou o velho sistema banda cover, com uma cópia quase fiel da canção. Tori Kelly conseguiu fazer algo interessante.

PYT (Pretty Young Thing) foi o penúltimo single de Thriller (1982). Mesmo assim, foi a sexta música do álbum a atingir o Top 10 da Billboard nos Estados Unidos, um alto indicativo de sucesso nos anos 80. Há uma polêmica que indica que Michael Jackson nunca tocou-a ao vivo. PYT foi uma música feita por Michael em parceria com o tecladista Greg Phillinganes e que não passou pelo crivo de Quincy Jones, mas o produtor gostou do nome e, em parceria com James Ingram, escreveu uma nova versão. Talvez por isso seja colocada no lado menos genial de Thriller. Mas é uma baita música.

Uma das razões do sucesso de Tori Kelly é essa: ela ousou, fez algo que não seria necessariamente esperado. Americana de 20 anos, Tori é uma cantora que aos 11 venceu um programa de talentos infantis chamado America’s Most Talented Kids e aos 12 assinou contrato com a Geffen, mas não lançou uma só música. Aos 17, concorreu à 9ª temporada do American Idol, mas foi eliminada antes das fases finais, realizadas em Hollywood. Ela nunca desistiu. Atualmente, é uma das muitas celebridades do Youtube, fazendo covers e lançando singles esporádicos. Seu canal tem mais de 500 mil inscritos. O vídeo do cover de PYT soma 2,8 milhões de visualizações.

O fato de o cover de PYT ser interessante tem a ver com a forma como ela toca: com acordes com cordas soltas, usando toda a extensão do braço do violão de modo que, quando a melodia sobe, as notas também são mais agudas. O ritmo é ligeiramente mais lento, mas é swingado. Obviamente, Tori é uma excelente cantora. E nós do NTR, caro leitor, gostamos de música bem feita ao vivo. Por isso, fica também uma versão no palco, na qual ela tem ajuda para cantar os “nananas” do pós-refrão. Na gravação original, os backing vocals são feitos pelas irmãs de Michael, Janet e Latoya Jackson. Como Tori faz tudo na raça, não conta com esse recurso.

NTR Convida #35 Vitor Tritto (Fat Divers)

Toda sexta-feira (toda MESMO, dessa vez é sério) o NTR traz a seção “NTR Convida”, onde músicos convidados vão ditar o som para você começar o final de semana na pegada.

 

fat-divers-banda

O convidado da semana é Vitor Tritto, vocalista da banda paulista Fat Divers. A autodefinição que o quarteto apresenta aos fãs é extremamente fiel ao tipo de som: Fast & Dirty Boozer’s Rock n’ Roll.

Além de Vitor, que também toca guitarra, a banda é formada por Pedro Canário (guitarra), Rafael Machtura (baixo) e André Sender (bateria). Os quatro cursaram jornalismo, o que torna impossível não ligar o nome da banda (Mergulhadores Gordos, em inglês) ao conceito francês Faits Divers – em uma definição simplista até demais, quando fatos inexplicáveis ou grotescos são noticiados; um exemplo seria “homem morde cachorro”, quando o comum seria o cachorro morder o homem.

O conceito não faz jus ao som do Fat Divers, músicas e letras sem frescuras e fórmula. O primeiro álbum, “Fat Sounds vol. I”, foi lançado em maio de 2013, produzido por Bernardo Pacheco e gravado de forma não-tradicional – as músicas são tocadas ao vivo, em vez de serem registradas instrumento por instrumento, faixa por faixa. Assim, mostra bem como a banda se comporta ao vivo. São dez músicas – 28 minutos de sujeira, peso e velocidade -, com letras sobre bebidas, drogas e a merda do cotidiano.

Vitor Tritto é o principal letrista, e as inspirações estão listadas em sua playlist. Nos shows, é comum fazerem covers de Motörhead, por exemplo.


As músicas escolhidas pela Vitor estão no player acima. É só clicar para ouvir todas na sequência.

A playlist:

1) ACDC – It’s a long way to the top 
“Pega o carro, vai para a estrada e põe isso pra tocar. É por isso.”

2) Motörhead – Killed by Death
“Me recuso a defender porquê Motörhead é foda.”

3) Fat Divers – Down the Road
“Essa foi a primeira música que eu escrevi. São dois minutos de orgulho idiota.”

4) Lynyrd Skynyrd- Tuesday’s Gone
“Cara, é uma baita viadagem falar isso mas lembro de voltar pro interior ouvindo essa música por horas. Skynyrd sempre vai lembrar a roça.”

5) Nashville Pussy – Lazy White Boy
“Essa é a melhor banda de rock da última década. Não tem nada que esses filhosdaputa façam que não fique pesado, rápido e engraçado. Taí uma música sobre como é bom ficar em casa bêbado e doidão pra provar.”

fat-diversMais Fat Divers:
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Bandcamp

 

 

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Taí, a origem

 
Nascido em Uberaba em 6 de março de 1900, Joubert de Carvalho morou em São Paulo na adolescência, em busca de estudo melhor, e depois no Rio de Janeiro, onde chegou em 1919 para estudar medicina. Em 1925, ano em que se formou, já tinha carreira sólida no cenário musical, com composições gravadas por diversos intérpretes de destaque. Em janeiro de 1930, Joubert andava pela Rua Gonçalves Dias quando foi chamado por sr. Abreu, dono da loja A Melodia, que queria lhe mostrar uma nova cantora, promessa da música brasileira. Era Carmen Miranda.

Além de loja, A Melodia era um espaço cultural que reunia cantores e compositores, uma espécie de ponto de encontro para discutir música e conhecer as novidades. Abreu tocou o disco Triste Jandaia, gravado em dezembro de 1929 (na época, os discos reuniam duas músicas, uma em cada lado do vinil). Joubert gostou tanto que pediu para repeti-lo diversas vezes e, encantado, afirmou que gostaria de conhecer a Carmen Miranda. Abreu explicou que não seria difícil, já que ela estava sempre perambulando pela loja. Nesse momento, a própria Carmen entrou pela porta, toda elegante. “Taí a nova contora”, exclamou Abreu.

Foi assim que nasceu uma das maiores marchinhas de Carnaval da história, episódio há muito difundido e confirmado na biografia “Carmen”, de Ruy Castro. Diz-se que Joubert deixou a loja com a palavra “Taí” na cabeça e, menos de 24h depois, tocou a campainha da casa de Carmen Miranda, que havia dado seu endereço em caso de uma possível parceria futura. A casa de Carmen, pobre, não tinha piano, então o compositor cantou a marchinha “Pra você gostar de mim”, e Carmen gostou.

joubert de carvalho

Joubert de Carvalho

Taí!
Eu fiz tudo pra você gostar de mim
Oh meu bem não faz assim comigo não
você tem que me dar seu coração

Inicialmente, a música não era uma marchinha carnavalesca. Era triste, amargurada, verdadeiramente um lamento. Quando Joubert tentou ensinar a Carmen como cantar a canção, ela de pronto respondeu: “não precisa me ensinar, não, que, na hora da bossa, eu entro com a boçalidade”. O comentário surpreendeu o compositor, mas Carmen era assim: totalmente desinibida, dominava gírias e falava muitos palavrões; nos futuros shows, ficaria conhecida por se apresentar ao público com um “boa noite, macacada!”.

A marchinha foi sucesso absoluto no Carnaval e alcançou o feito inédito de 35 mil discos vendidos, em uma época em que a popularização do rádio dava à indústria fonográfica sua primeira crise. Ruy Castro exibe um panorama da magnitude da vendagem: na época, o Brasil tinha 40 milhões de habitantes, 70% dos quais vivendo na zona rural; mesmo nas cidades, o número de vitrolas era extremamente pequeno. A música ajudou a consolidar a carreira de Carmen, e essa era ainda a fase pré-baiana, com balangandãs e cestas de fruta na cabeça. Essa – o auge e a vida nos Estados Unidos – só aconteceria em 1940.

 
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Cool covers: Sara Bareilles

 
Sara Bareilles é uma cantora americana cuja história e carreira tem alguns pontos muito interessantes. Tem 33 anos e é natural de uma cidade chamada Eureka (!), no condado de Humboldt, na Califórnia, local conhecido por ser a meca da maconha (!!) no estado mais liberal dos Estados Unidos. Ela tem ascendência portuguesa, alemã, italiana e francesa (fala italiano fluentemente, inclusive) (!!!). Seu pai é corretor de seguros e a mãe trabalha em uma funerária – e isso, por si só, não é uma coincidência formidável (!!!!)?

Sara cantou em corais religiosos e depois se firmou como artista de bares, e essa é, provavelmente, a razão pela qual goste e não se importe em fazer tantos cool covers. Como toca piano e ukelele, na maioria deles transforma totalmente as músicas, usando muito bem suas características vocais. Esse post é dedicado às versões que fez, mas vale a pena conferir sua carreira solo de quatro álbuns, incluindo o primeiro e mais interessante, Carefull Confessions (2004), de onde saiu seu maior sucesso: “Love Song“. A música “Gravity” também é muito conhecida.

É uma boa compositora – não posso deixar de citar mais uma música, “Bottled it up -“, tanto quanto é intérprete. Foi citada pelo canal especializado VH1 como a 80ª na lista de maiores mulheres da história da música, e isso não é pouco. Além disso tudo, Sara é uma das envolvidas do assustador Indiana State Fair stage collapse: havia acabado de se apresentar no festival quando uma ventania derrubou o enorme palco sobre o público, matando sete pessoas e ferindo 84. De qualquer maneira, está cada vez mais popular no mundo inteiro. Isso sem deixar de tocar alguns Cool Covers.

“Fuck You” (Cee Lo Green)

“Yellow” (Coldplay)

“Single Ladies” (Beyoncé)

“Take On Me” (A-HA)

“Nice Dream” (Radiohead)

“Little Lion Man” (Mumford and Sons)

“I Still Haven’t Found What I’m Looking For” (U2)

 
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Georgia on my mind, a origem

 

De acordo com a última contagem feita na Georgia, cerca de 28% da população do estado é composta por negros – a maioria, 62%, é de brancos. Há 225 anos, quando passou a fazer parte da união (2 de janeiro de 1788), se tornando o quarto estado norte-americano, a proporção era bem diferente. Na época, sua área era bem maior, contendo terras que hoje formam Mississipi e Alabama. A principal atividade econômica era o cultivo de algodão, o que motivou a chegada de escravos – e do racismo.

A Georgia estava entre os 11 estados agrários e sulistas que, em 1861, fundaram a Confederação, unidade política de oposição ao governo abolicionista de Abraham Lincoln e que mais tarde seria derrotada na Guerra Civil Americana. O sistema escravocrata cairia, mas não o racismo, muito embora boa parte dos negros tenha migrado para trabalhar nas indústrias do norte após o fim do conflito, enquanto brancos se mudavam de bairro nas cidades da Georgia (especialmente na capital Atlanta), isolando o restante dos negros.

Charles

Ray Charles é aplaudido ao ser homenageado na Assembleia Geral estadual

Foi nesse panorama, pobre e segregacionista, que cresceu Ray Charles, em Albany. As coisas não haviam mudado muito em 1961, quando ele criou polêmica ao se recusar a se apresentar para um público segregado. A cena é retratada no filme Ray, de 2004, com Jamie Foxx – usando de uma “licença dramática”, o episódio é supervalorizado. Ray Charles foi proibido de se apresentar no estado. A história – e o governo estadual – trataram de compensar o ocorrido.

“Georgia on my mind” teve sua melodia composta por Hoagy Carmichael e a letra por Stuart Gorrell, mas foi a versão de Ray Charles que ficou mundialmente famosa. Em 1979, 21 anos depois de ter sido “banido” de seu estado natal, ele apresentou a canção na Assembleia Geral estadual. Meses mais tarde, a própria Assembleia fez de “Georgia On My Mind” o hino estadual. Ray Charles, um negro que um dia se levantou contra o racismo, ficou eternizado em sua terra natal. E com uma velha e doce canção.

 
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Cool covers: American Boy

 

Estelle feat. Kanye West – American Boy

“American Boy” é o maior hit da carreira de Estelle, cantora britânica nascida em Londres, filha de mãe senegalesa e pai granadino. A influência caribenha e o reggae dominaram sua formação musical até ser apresentada ao hip hop por um de seus tios. Lançou 18th Day, seu primeiro álbum, em 2004. O sucesso veio com American Boy, de Shine (2008). A música conta com participação do rapper Kanye West e foi produzida por will.i.am, do Black Eyed Peas.

O álbum é todo construído nesta fórmula: rappers convidados e produtores de renome. Estelle, no entanto, não usa batida ao estilo “balada” – tecno, house, etc. Toques de dub, reggae e R’nB se mesclam ao hip hop sem firulas e à bela e melodiosa voz da cantora.

“American Boy”, que atingiu o topo das paradas na Grã-Bretanha, Estados Unidos e muitos outros países, é uma música extremamente simples, com base de hip hop e alguns sintetizadores marcando o refrão. Na versão do VersaEmerge, a vocalista Sierra Kusterbeck vai direto ao ponto – começa já na parte cantada por Estelle, ignorando as rimas. O mais legal é que continua contagiante e, principalmente, dançante.

VersaEmerge – American Boy

Os franceses do Cocoon também gravaram American Boy, em uma versão um pouco diferente, mais linear.

Cocoon – American Boy

 
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Adeus, Peu da Pitty

 

A música acima, instrumentalmente, simboliza muito do estilo de Peu Sousa, guitarrista encontrado morto na manhã desta segunda-feira em seu apartamento em Salvador. “Vício”, da banda Nove Mil Anjos, tem levada extremamente melódica, com acordes misturados a frases curtas, diretas. O timbre tem um pequeno drive, provavelmente causado por um amplificador valvulado ou simulador. Lembra John Frusciante. É uma das provas do talento que lamentavelmente se foi em um suicídio praticamente confirmado pela Polícia.

Peu de Sousa nasceu em 22 de julho de 1977, em Salvador. Aos dois anos, foi adotado por Luiz Galvão, membro dos Novos Baianos. Não se sabe o tipo de influência que isso causou em sua formação. A adoção aconteceu na época do fim da banda, após o lançamento do álbum “Farol da Barra” (1978). O auge veio antes, com clássicos como “Acabou Chorare” (1972). Peu, portanto, não viveu a época do “Sítio do Vovô”, do pseudo-anarquismo em plena ditadura militar.

O guitarrista só iria tocar com seu padrasto depois dos 20 anos, já músico formado, acompanhado-o na turnê “Galvão com a Palavra” para dividir palco com nomes como Luiz Melodia, Morais Moreira e Jorge Mautner, entre outros. Antes, fez parte da banda de Carlinhos Brown, mas também trabalhou com  Marisa Monte, Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Ivete Sangalo, entre outros. Apesar do ecletismo, bem ao estilo Novos Baianos, Peu sempre foi roqueiro.

Sua primeira banda de grande relevância foi a Dois Sapos e Meio, que sem presença na mídia movimentava a cena roqueira baiana. Em 2002, ele gravaria seu maior sucesso com a cantora Pitty. “Admirável Chip Novo” (lançado em 2003) estourou com hits como “Equalize”, que instrumentalmente tem assinatura do guitarrista: construções em cima de acordes, riffs valvulados e peso no refrão. Foram seis singles lançados, com outras duas músicas fazendo parte de trilhas sonoras de novelas.

peusousa-materiaNa grande imprensa, Peu foi identificado como “ex-guitarrista da Pitty” na maioria das manchetes sobre sua morte. Sem dúvida esse foi seu trabalho mais relevante; e foi por isso que, quando deixou a banda, em 2005, a notícia foi recebida com tamanha surpresa. De repente, Pitty perdeu um guitarrista de fortíssima presença de palco. Ela chegou a postar comunicado na internet esclarecendo: “divergências de opinião com relação a caminhos, atitudes e projetos” causaram a mudança. “Ninguém saiu na mão, ninguém brigou, ninguém expulsou ninguém”.

Eu diria que sua principal manifestação artística veio com o Nove Mil Anjos, banda formada com o baixista Champignon (ex-Charlie Brown), o baterista Junior Lima (irmão da Sandy) e o vocalista Pericles Carpigiani. Juntos, lançaram apenas um álbum, “9MA” (2008). Nele, Peu demonstra toda sua criatividade, em linhas e levadas extremamente originais, sempre com inúmeros efeitos no som, principalmente de modulação.

Por que não estourou? Difícil dizer. O single “Chuva agora” não empolgou e os vocais de Peri foram muito contestados – e com razão.

É por isso que Peu de Sousa é o “Peu da Pitty”. Parecia que estava em um caminho promissor, sempre esperando para estourar. Foi elogiado por muita gente importante da indústria musical. De acordo com Luiz Galvão, foi um dos artistas da nova geração que transportou consigo algum legado da rica história dos Novos Baianos. Tinha talento e contatos para ir muito além. Só não teve tempo.
 
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