A Jamaica europeia

A música jamaicana influencia inúmeros artistas no mundo inteiro há mais de 50 anos. Principalmente o ska e o reggae, ritmo que até hoje é o  mais popular da ilha (o estilo estourou nos anos 70 em boa parte pelo sucesso meteórico de Bob Marley e sua grande aceitação nos EUA e na Europa). Mas, da mesma forma com que muitos ouvintes mais, digamos, “tradicionalistas” não conseguem engolir bandas de rock brasileiras cantando em inglês ou um grupo japonês tocando pagode, ver uns branquelos entoando ritmos jamaicanos pode gerar um tipo de estranhamento.

Só que  obviamente tudo isso é uma grande bobagem! As pessoas devem ser livres para tocar e cantar o que quiserem, não importa onde tenham nascido, qual seja sua língua materna, a música típica de seu país de origem ou o que seus pais gostavam de ouvir. Aliás, acredito que, quando acontece uma troca de culturas tão intensa a ponto de um estrangeiro querer tocar um estilo típico de outro país (e até mesmo aprender outro idioma para compor uma canção), nasce ali uma ligação riquíssima de valorização e laços entre povos que pode tornar o mundo um lugar melhor, mais unido, diversificado e tolerante.

Tendo dito isso, apresento alguns dos muitos artistas europeus que mergulharam de cabeça na música jamaicana, em alguns casos tendo até incorporado o sotaque característico da terrinha caribenha. Nesse caso, as aparências enganam e sua origem surpreende pelo estilo musical que escolheram.

Skaladdin | Suíça


Branquelos, loiros e de olhos azuis, falam inglês com sotaque bem ianque. Todo mundo pensa que são dos EUA – mas, na verdade, vêm da Suíça. Seguindo a linha de bandas americanas como Reel Big Fish e Toasters, misturam punk rock a um ska bem acelerado, com guitarras distorcidas. A banda existe desde 1998. Tocaram em São Paulo em julho de 2006, no finado bar Black Jack (o CBGBs brasileiro). Na época, divulgavam seu último disco (e o último lançamento da banda até hoje), o irônico “Young, Handsome & We Know It” – Jovens, Bonitos e Nós Sabemos Disso. A banda de abertura foi o Sapo Banjo – que também segue os ritmos jamaicanos. Eu estava lá e o ingresso custava só 10 reais. Bons tempos.

 

Soom T | Escócia


Também conhecida como “MC Soom T”, a moça nascida em Glasgow (mesma cidade do Franz Ferdinand) cai matando em ragga, rimando muito rápido com um sotaque que engana bem. Sem ver a cara dela, apenas ouvindo sua voz e suas rimas, você poderia imaginar que é uma jamaicana da gema. O som dela é uma pegada jamaicana mais moderna, mais eletrônica, seguindo ritmos mais novos como ragga, dub e raggamuffin ao invés de ska e reggae.

As canções da Soom T têm letras politizadas e por vezes falam sobre anarquismo e liberação da maconha. Ela tem seu próprio selo (o No Step Productions, criado em 2009) e já trabalhou com artistas como Asian Dub Foundation, Hagos e até a DJ Miss Kittin (que não tem nada a ver com música jamaicana, mas é um nome ilustre da cena eletrônica).

 

Selah Sue | Bélgica


A moça belga tem uma canção famosa na Europa chamada “Raggamuffin” – que, ironicamente,  não é raggamuffin (ritmo jamaicano criado nos anos 80, oriundo do dancehall – com batidas eletrônicas mais pesadas e sintetizadores. Fugia da tradição purista rastafari e era visto como “música de baile” nos guetos de Kingston). Mas o hit de Selah Sue é claramente influenciado por reggae – ela também faz um sotaque jamaicano e tem uma voz densa, grave e rouca que engana. Só de ouvi-la, assim como a Soom T, você poderia pensar que é uma típica jamaicana ou inglesa de Brixton (bairro de Londres que teve uma intensa imigração jamaicana na segunda metade do século XX e continua, até hoje, concentrando a comunidade caribenha da cidade. Pode ser comparado ao bairro da Liberdade e os imigrantes japoneses e chineses em São Paulo).

O som da Selah Sue tem apenas pitadas de música jamaicana – e o sotaque – , mas na verdade é um pop bem radiofônico. Tanto que a moça vende muito bem na Europa e já é bem famosinha por lá. Ela mistura várias referências de música negra – soul, jazz, ritmos jamaicanos (ragga, dub e reggae) e hip hop – à baladas na base voz e violão. E, com uma voz bem diferente e rouca, destoa das cantoras pop atuais. Música fácil de ouvir, nada contestadora, mas muito bem feita.

 

Amy Winehouse | Inglaterra


Pouca gente conhece o Ska EP, lançado pela Amy em 2008. Para mim, é a coisa mais interessante que ela fez. A cantora teve o grande feito de ressuscitar o soul e o estilo da Motown no mainstream, colocando a black music tradicional dos EUA de volta ao topo. Mas também era uma grande amante de ska – um dos ritmos que deu origem ao reggae e que se tornou muito popular na Inglaterra – e, principalmente, em Londres, cidade natal de Amy – por causa da forte imigração jamaicana no país.

Amy sempre fez muitos covers de clássicos do estilo e chegou a se apresentar como backing vocal do tradicional grupo de ska inglês The Specials. No EP, gravou um cover deles (“Hey Little Rich Girl”), dois clássicos de ska jamaicano que também foram regravados pelos Specials (“Monkey Man”, sucesso absoluto do Toots & The Maytals que já recebeu dezenas de versões; e You’re Wondering Now”, gravada pelo tradicionalíssimo grupo Skatalites – conhecido como a banda mais antiga de Ska do mundo – e pela dupla Andy & Joel)  e um clássico do soul travestido pro ritmo de ska (“Cupid”, de Johnny Nash).

A paixão de Amy pelo Ska e pelos Specials era tanta que até a capa do EP reproduzia a arte característica dos Specials e seu Ska “2 tone”, todo em preto e branco e com o clássico quadriculado (o Ska “dois tons” era feito na Inglaterra, por brancos, mas referenciando e contando com a participação de músicos negros jamaicanos. Daí o nome e a referência a preto e branco.).

[author_infos title=][/author_infos]

Stereophonics | Graffiti on the Train

 

Stereophonics | Graffiti on the Train

Stylus Records / 4 de março de 2013 / Rock
Stereophonics | Graffiti on the Train

Faixas:
1. We Share the Same Sun
2. Graffiti on the Train
3. Indian Summer 
4. Take Me
5. Catacomb
6. Roll the Dice
7. Violins and Tambourines 
8. Been Caught Cheating 
9. In a Moment
10. No-one’s Perfect

 

3,5/5

Graffiti on the Train não compete com os clássicos do Stereophonics, mas é um disco completo e inspirado. Nenhuma “Have a Nice Day” ou “Maybe Tomorrow” para estourar na rádio, um clima dark na maioria das músicas e um set de cordas muito bem utilizado dão personalidade e maturidade para o álbum.”

É pra quem gosta de:

Travis – The Verve – Train

Tem que ouvir:

Indian Summer – Violins and Tambourines – Been Caught Cheating

Pode pular:

Roll The Dice – In the Moment

 

[author_infos title=][/author_infos]

Black Drawing Chalks | No Dust Stuck On You

 

Black Drawing Chalks | No Dust Stuck On You

Crânio / 10 de Outubro de 2012 / Stoner Rock, Rock’n’Roll, Garagem
Black Drawing Chalks | No Dust Stuck On You

Faixas:
1. Famous
2. Cut Myself In Two 
3. Street Rider 
4. Walking By
5. No Anchor
6. Disco Ghosts
7. I’ve Got Your Flavor 
8. Simmer Down
9. Swallow
10. Immature Toy
11. Black Lines
12. Little Crazy
13. The Stalker 
14. Denis’ Dream
15. Cheat, Love and Lies

 

4,5/5

“O Black Drawing Chalks manteve o melhor dos dois primeiros discos, mas arriscou e acertou na mosca com canções menos pesadas, dançantes e muito sensuais. Em 7 anos de estrada, acharam seu caminho com rock’n’roll (e fuck music) de primeira qualidade e, hoje, se consolidam como uma das melhores bandas do Brasil.”

É pra quem gosta de:

Queens Of The Stone Age – Datsuns

Tem que ouvir:

Cut Myself In Two – Street Rider – I’ve Got Your Flavor

Pode pular:

Immature Toy – Black Lines

 

[author_infos title=][/author_infos]

Holger | Ilhabela

 

Holger | Ilhabela

Avalanche Tropical / 13 de novembro de 2012 / Rock, Axé, Hipster, Indie
Holger - Ilhabela

Faixas:
1. Tonificando 
2. Abaía
3. Se Você Soubesse
4. Great Strings 
5. Another One
6. Infinita Tamoios 
7. Me Leva Pra Nadar
8. Pedro
9. Full Of Life
10. Bambalira
11. Treta
12. Ilhabela 

 

4/5

“Quem diria, dá pra misturar axé com rock. É a guitarrada! A definição de micareta indie ou música de hipster podia ser esse disco. Mas esses termos soam pejorativos – e não é o caso. Ilhabela é a trilha sonora perfeita de uma típica viagem para a praia, num feriadão quente, com todos os amigos zoando. Curtição! Alto astral!”

É pra quem gosta de:

Vampire Weekend – Friendly Fires – Paralamas do Sucesso

Tem que ouvir:

Tonificando – Great Strings – Infinita Tamoios

Pode pular:

Se Você Soubesse – Another One

 

[author_infos title=][/author_infos]

 

Macaco Bong | This Is Rolê

 

Macaco Bong | This Is Rolê

Independente / 4 de setembro de 2012 / Rock, Instrumental, Alternativo
Macaco Bong - This Is Rolê

Faixas:
1. Otro 
2. O Boi 957
3. This is Rolê 
4. Broken Chocobread 
5. Copa dos Patrão 
6. Mullets
7. Summer Seeds
8. Seu João
9. Dedo de Zombie

 

4,5/5

“Depois de um excelente disco de estreia, o Macaco Bong lançou um EP e mudou de baixista e de cidade. Mas, passados quatro anos, o som continua o mesmo – pesado, libertador e brilhante – ainda que seu primeiro álbum continue insuperado.”

É pra quem gosta de:

Sepultura, Elma, Fugazi, At The Drive In

Tem que ouvir:

Otro – This Is Rolê – Broken Chocobread

Pode pular:

Summer Seeds – Dedo De Zombie

 
[author_infos title=][/author_infos]

Conheça: Band of Skulls

 
A formação clássica de Rock’n’Roll não tem firulas nem segredos: é composta por guitarra, baixo e bateria. Por isso os power trios costumam ser uma síntese perfeita desse ritmo, com barulho na medida exata, sem exageros – mas ao mesmo tempo podendo inventar moda dentro de sua modesta formação para criar músicas mais interessantes.

O Band of Skulls é isso: um trio clássico, que pouco se destaca com pequenas peculiaridades. A começar por terem uma garota no baixo (a Emma Richardson). E também por ela dividir os vocais com o guitarrista, Russel Marsden. O baterista Matthew Hayard completa a banda. Eles vêm de Southampton, no sul da Inglaterra, e tocam juntos desde 2008. Fora isso, não trazem nada de novo, apenas músicas muito boas. O som é rock de garagem, sujinho e cru, mas não muito pesado. Os vocais harmônicos mesclando a voz feminina de Emma com a masculina (mas aguda) de Russel dominam as canções com as linhas de guitarra e uma bateria simples e marcada.

Com um som desses, sem grandes inovações, é fácil compará-los com o Black Rabel Motorcycle Club (outro power trio garageiro que conta com uma garota, só que na bateria) e muitas outras bandas – como The White Stripes (a voz e a guitarra do Russel lembram muito o Jack White), Jet e até o Kills. Mas isso não quer dizer que eles sejam irrelevantes ou descartáveis.

Você pode até não se lembrar, mas na certa já deve ter ouvido essa música em algum lugar

O Band of Skulls pode até não ser tão famoso por aqui, mas já tocou em todos os grandes festivais europeus e norte americanos e tem dois discos lançados: “Baby Darling Doll Face Honey”, de 2009; e “Sweet Sour”, de 2010. É o segundo álbum que traz os maiores sucessos do grupo (além da canção homônima, tem “Lies” e “The Devil Takes Care Of His Own”). Depois de já serem bastante hypados na gringa, veio o golpe de mestre: a canção “Friends” entrou na trilha sonora do filme Lua Nova, da saga Crepúsculo. Depois dessa, os shows do Band of Skulls ficaram ainda mais lotados, agora com hordas de fãs adolescentes.

O trio é muito competente e ralou até conseguir aparecer junto aos headliners de festivais de verão – apesar de a banda só ter 4 anos de estrada. Os integrantes sempre sonharam em ser rockstars e tiveram muitas outras bandas e empregos medíocres antes de chegarem lá. Russel e Mathew se conheceram na escola e tocam juntos desde os 12 anos. O pai do baterista os fazia ensaiar exaustivamente. Já na faculdade, conheceram Emma, que fazia artes plásticas e não sabia tocar nada, mas aprendeu baixo para entrar na banda. Ela é responsável pela arte dos discos do Band of Skulls. No começo da banda, os três trabalhavam em bares e casas de show e ficavam com dor de cotovelo vendo outros grupos tocarem enquanto eles ainda não tinham conseguido sair da garagem. Hoje, o trio excursiona o mundo inteiro – e merece ser ouvido.

 
[author_infos title=][/author_infos]

Fresno | Infinito

 

Freno | Infinito

Independente / 1º de novembro 2012 / Rock, Alternativo
Fresno - Infinito

Faixas:
1. Homem Ao Mar
2. Infinito 
3. Maior Que As Muralhas 
4. O Resto é Nada Mais (O Sonho de Um Visconde)
5. Diga (Parte 2) 
6. Seis
7. Cativeiro
8. Sobreviver e Acreditar
9. Sutjeska
10. Farol
11. Vida (Biografia em Ré Menor) 

 

4,0/5

“Já faz tempo que a Fresno não é banda de adolescente chorão. Infinito coloca a banda no topo da lista do rock nacional bem feito, bem produzido e, acima de tudo, grandioso sem pretensão ou arrogância. Um marco.”

É pra quem gosta de:

30 Seconds To Mars – Muse – Beeshop

Tem que ouvir:

Maior Que As Muralhas – Diga (Parte 2) – Vida (Biografia em Ré Menor)

Pode pular:

Seis – Cativeiro

 

[author_infos title=][/author_infos]

The Offspring | Days Go By

 

The Offspring | Days Go By

Columbia Records / 26 de junho 2012 / Rock, Punk Rock
The Offspring - Days Go By

Faixas:
1. The Future Is Now 
2. Secrets from the Underground
3. Days Go By 
4. Turning Into You
5. Hurting as One 
6. Cruising California (Bumpin’ in My Trunk)
7. All I Have Left Is You
8. OC Guns
9. Dirty Magic
10. I Wanna Secret Family (With You)
11. Dividing by Zero
12. Slim Pickens Does the Right Thing and Rides the Bomb to Hell

 

3/5

“Parecia que não seria possível, mas sem perder a identidade o Offspring reinventa refrões e timbres para lançar um álbum com a própria cara, mas extremamente interessante.”

É pra quem gosta de:

Green Day – Sun 41 – NOFX

Tem que ouvir:

The Future is Now – Days Go By – Hurting as One

Pode pular:

Cruising California – OC Guns – I Wanna Secret Family

 

[author_infos title=][/author_infos]