Esse é o país que vai sediar a Copa, Pt. 1

 
Bem, amigos, como já é sabido, o Brasil é o próximo país a sediar os maiores eventos esportivos do planeta: a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Além das centenas de profissionais que atuam dentro e fora dos campos, quadras e ginásios, milhares de pessoas trabalham para que a abertura e o encerramento desses eventos sejam um verdadeiro espetáculo.

Além dos dançarinos, alegorias, fogos e papel picado, temos as esperadas apresentações musicais. Mais recentemente tivemos a oportunidade de assistir Rihanna, Jay Z e Coldplay no encerramento dos Jogos Paraolímpicos, um p*ta show.

Nessa onda dos shows de encerramento, surgiu uma dúvida: quem seriam os possíveis artistas nacionais a tocar em uma cerimônia de encerramento da Copa do Mundo de 14? Pegando o gancho dos Jogos Paraolímpicos, resolvemos dividir os artistas em trios, e a cada semana iremos apresentar um deles a vocês. Quem sabe alguns dos trios não acaba mesmo participando da cerimônia. 🙂

E para começar vamos com o trio mais óbvio:

Trio #1: O óbvio

>> Michel Teló
>> Ivete Sangalo
>> Gilberto Gil

Para compor um trio óbvio, pensei em 3 critérios que seriam indispensáveis: popularidade (1), o que dá vantagem para artistas conhecidos internacionalmente. Estilo (2), que dá vantagem a ritmos mais característicos, leia-se “estereotipados”. E, por último, a conveniência (3), que tira do páreo artistas que gostam de letras mais politizadas, que tenham algum tom de protesto e que não falem sobre as maravilhas do país.

Nos 3 critérios, Teló, Ivete e Gil levam vantagem sobre outros artistas. Provavelmente você não morre de amores por qualquer um dos 3, mas vamos às explicações: Michel Teló simplesmente tem uma das músicas mais executadas dentro e fora do país. Mesmo se ele parar de tocar hoje, o mundo ainda vai cantar e dançar “Ai se eu pego” em 2014.

Ivete é uma unanimidade para o público e entre os próprios músicos; e há muito tempo não se pode dizer que ela simplesmente canta axé. Basta assistir qualquer vídeo do seu Live at Madison Square Garden, que contou com participações como Juanes e Nelly Furtado.

Gilberto Gil, uma unanimidade assim como Ivete, tem o extra de ser uma figura pública que vai além da música. Ícone do tropicalismo, ex-ministro da Cultura e pai da Preta Gil (!). Provavelmente um dos ápices do show seriam “Aquele abraço” e “Vamos Fugir”.

Discorda? Então comente e nos deixe sugestões para os próximos trios.

 

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A volta de Black Alien

 
Em tempos de Criolo e Emicida, com Racionais MCs se apresentando em grande festival (Lollapalooza) -, uma parte considerável do público passa a se interessar mais pelo rap. Nessa levada se destacam Kamau, Rashid, Projota, Rael da Rima e Rincón Sapiência. Um dos grandes representantes do estilo, mas normalmente avesso aos exacerbados holofotes e à grande mídia, agora prepara a volta: Black Alien. Parecia que o ex-vocalista do Planet Hemp jamais gravaria um álbum de novo, mas, ao que parece, a efervescência da cena fez revigorar os impulsos de Gustavo de Almeida Ribeiro. E ele vem com tudo.

Para isso, Black Alien programou um retorno estiloso: com álbum inédito e gravação de DVD. Não há notícia da situação em que anda o projeto, embora em sua página no Facebook o músico tenha postado, no início de junho, a mensagem “O retorno está próximo”. Antes, em fevereiro, ele havia prometido o álbum para abril. Serão 12 faixas, segundo disse em entrevista ao site da MTV, um registro com bastante guitarra e mais rock, “uma biografia do que eu estou passando”, como declarou. As letras não terão ficção, como explicou, ao contrário do que aconteceu em projetos passados.

Desde que deixou o Planet Hemp, em 2001, Black Alien lançou apenas um álbum: o excelente “Babylon By Gus Vol. I: O Ano do Macaco” (2004) – o título faz referência ao disco “Babylon By Bus” (1978), de Bob Marley. A partir daí, o volume dois se tornou uma incógnita, com a produção e lançamento adiados seguidas vezes. No ótimo documentário “L.A.P.A.”, de Caví Borges e Emílio Domingos, que detalha a cena do rap carioca a partir de seu epicentro, o bairro boêmio fluminense de mesmo nome, Black Alien indicava que um novo registro de estúdio demoraria um bocado para sair.

[pullquote_right]”Não me dá prazer compor porque é um parto de cesariana. O filho do King Kong nascendo de cesariana sem anestesia: esse é o nascimento de uma letra”, diz o rapper.[/pullquote_right]

“E depois você tem que gravar, e lidar com cara de gravadora, cara do estúdio e com produtor que é cheio de merda (…) Depois que você grava aquilo, tem que lidar com um monte de gente de gravata, de royalties, de direito autoral, de direito de imagem, de direto conexo, de direto desconexo…”, desabafa Black Alien. A irritação se dava pelo contato necessário com “uma galera que não tem nada a ver com arte”. Gravar pra quê, então? Se faltava estímulo, a morte de Cláudio Márcio de Souza Santos, em 2010, deve ter complicado muito a situação. Speedfreaks, como era conhecido, foi um grande e constante parceiro de Black Alien. Foi encontrado morto em Niterói-RJ. A polícia suspeita que tenha sido confundido por traficantes.

Já estava na hora de Black Alien voltar efetivamente à ativa – ou seja, gravar um álbum novo. Principalmente porque não é de hoje que toda a burocracia de gravadoras e contratos é altamente dispensável, já que se tornar independente e lançar um trabalho por meios alternativos não é uma aventura desbravadora. E pelo jeito, Black Alien vem aí. O que esperar? Um álbum com personalidade. Porque se a obra é mesmo autobiográfica, ele deve ter muita coisa a dizer depois de tanto tempo fazendo participações esporádicas em projetos esporádicos. E até porque sua postura discreta deixa muito pouco a dizer sobre esse ex-skatista que, ao que parece, era bom mesmo no início dos anos 90.

Black Alien rima com muita poesia, gosta de cantar bem ao estilo harmonioso (como em “From Hell do Céu”) e faz citações em inglês, além de referências a livros e filmes; pronuncia as palavras corretamente e não se rende gratuitamente à temática “Vida Loka” – embora, que fique claro, esse não é um ponto a favor, mas uma característica. Se o sucesso virá, é difícil dizer. “Babylon By Gus Vol. I – O Ano do Macaco” foi um álbum que recebeu críticas muito boas, mas pouco pintou na grande mídia. Como o momento ajuda, que seja generoso também com Gustavo de Almeida Ribeiro.

E como esquecer que Black Alien já fez muito sucesso? Fez parte do Planet Hemp e gravou o melhor álbum da banda, “Os Cães Ladram mas a Caravana Não Para” (1997). E alcançou destaque internacional em 2004 com a música “Quem que Caguetou”, produzido com Speedfreaks, usada em um comercial da caminhonete Nissan Frontier e que tocou muito na Europa. Essa música, que foi remixada pelo DJ Fatboy Slim, aparece na trilha sonora de Velozes e Furiosos 5, recentemente lançado. Volta logo, Black Alien.


 
 
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Marcel Ziul: In a Minute

 
Marcel Ziul lançou no último domingo, 15 de julho, o álbum In a Minute, o terceiro de uma promissora carreira. Com nove músicas, muita influência de blues, um timbre de voz marcante e tratamento de mídia, o músico de Campinas dá um importante passo no processo de estabelecimento: primeiro como artista autoral, depois como aspirante ao grande público.

Em In a Minute, Ziul mantém a coerência em referência ao seu breve trabalho anterior: não se entrega à música pop com refrões grudentos, continua cantando em inglês e com a pegada blues totalmente exposta. Seu material de divulgação compara o estilo ao “rock de Jimi Hendrix e o Soul de Stevie Wonder”. A julgar pelo lançamento, é um pouco demais.

A música-título do álbum, “In a Minute”, a última da listagem, é tranquila e melodiosa assim como a marcante “Learn to Fall”, 6ª música. Já em “All the Time”, que abre o disco e é a primeira música de trabalho, Ziul aparece mais pop, com grande melodia – talento que também se traduz também em “Far Apart”,  a terceira.

O álbum fica mais agitado na excelente “Afraid of Loving You” (faixa 2), em “Don’t Walk Away” (faixa 7) e em “Too Blind To See” (faixa 8), nas quais ele põe para cima uma de suas principais características: a pegada. Ao vivo, Ziul toca muito forte, o que fica perceptível nessas músicas. Deve ser efeito de se apresentar em power trio, com a responsabilidade de ter de segurar o som acompanhado apenas de bateria e baixo. Isso ele faz com excelência.

Em In a Minute, as músicas contam com  trilhas de guitarra distintas em alguns momentos, embora o som ao vivo não fique comprometido. Em uma apresentação recente no Delta Blues Bar, em Campinas, Ziul tocou boa parte das músicas do novo álbum sem demonstrar nenhum prejuízo aos arranjos, sempre muito bem trabalhados – as frases entre os acordes, o swingue e a levada da mão direita e os acordes dissonantes seguem impressionando.

Apesar disso, nenhuma faixa do novo disco tem o peso de “Too Late”, música do álbum anterior, Live Studio Sessions (2009). Nele, Ziul reúne inéditas com composições do primogênito The MZ Trio: First Takes (2008). “Too Late” é uma excelente música, tal como “Hurt”, executada pela Rádio Transamérica SP. “Ain’t the Same” e “Confined” também são muito boas, expondo a habilidade de arranjador do músico.

Portanto, In a Minute não supera o álbum anterior, fruto de anos de trabalho. Mas põe Ziul numa rota promissora, com show sustentado principalmente por músicas autorais relevantes. Foi assim o primeiro bloco de sua recente apresentação no Delta Blues Bar. Também teve poucos, mas inspirados covers: “Isn’t she lovely”, de Stevie Wonder; “Couldn’t Stand the Weather”, de Stevie Ray Vaughan e “Purple Rain”, do Prince, estavam entre eles. Uma puta apresentação.

No palco, aliás, Ziul não muda. Continua se apresentando de olhos fechados na maior parte do tempo, mas se movimentando muito e fazendo caretas em meio a bends e solos.

Mantém uma simplicidade engraçada que o faz entoar “eu gosto de Jimi Hendrix” depois de uma versão arrebatadora de “Purple Haze”. De  vez em quando, faz até um scat singing. Principalmente depois de In a Minute, vale a pena ver Marcel Ziul.

 
 
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Som do interior: Alabama Shakes

 
Não toco nenhum instrumento (nem mesmo ralador de cozinha, como o caro Jonas, amigo em comum dos NTR aqui) e, por esse motivo, quando ouço alguma música, meu foco para julgar se caio de amores é o estilo do intérprete, que às vezes é mais legal que a voz em si, e o poder vocal. E minha recém-descoberta é Brittany Howard, vocalista da banda Alabama Shakes, que se encaixa na segunda opção. Se ela passasse na rua, você provalvelmente poderia confundi-la com uma de suas amigas que, sei lá, fazem Ciências Sociais numa faculdade federal, nada girlie como Katy Perry ou glam-classic da Adele, mas sua voz faz com que essa norte americana se destaque.

A hora em que Amy Winehouse encontra o Kings of Leon.
– Revista Elle

A primeira vez que ouvi “Hold on”, single de estreia do álbum “Boys and Girls” foi para conferir se tudo o que eu tinha lido dela, como o apelido “The Voice”, por exemplo, conferia. Check, check, check. O estilo desprentencioso da banda é cativante. A voz da dita cuja é maravilhosa, poderosa e muito forte, marcante. Como se não bastasse, eles tem maturidade e sabem muito bem o que estão fazendo.

A Alabama Shakes foi formada em 2009, em um intervalo ou outro das aulas de Psicologia no ensino médio. Brittany Howard, que tinha aprendido a tocar violão anos atrás, perguntou a Zac Cockrell, baixista, se gostaria de tentar montar uma banda. “Eu só sabia que ele tocava baixo e que usava camisetas com estampas de bandas cool e que ninguém tinha ouvido falar”, explica Brittany.

Os demais integrantes juntaram-se naturalmente: Steve Johnson trabalhava na única loja de música da cidade e tocava bateria e Heath Fogg, guitarrista da “melhor banda da escola”, segundo Brittany, havia convidado o até então trio para abrir um show. Eles aceitaram, na condição de que ele próprio fosse o baterista. Depois desse show, não desgrudaram-se mais.

Hoje, a banda que gravou suas primeiras músicas em um estúdio pequeno em Nashville, tem shows marcados por toda Europa e já estão escalados para tocar no Bestival, festival anual criado em 2004 que acontece em setembro, na  Ilha de Wight, Reino Unido. Já passaram por ele Björk, Mika, a saudosa Amy e MGMT, para citar alguns. Dentre seus fãs mais ilustres, a Alabama Shakes conta com Jack White e o ator Russell Crowe.

Vale a pena ficar de olho, a banda promete.

 

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Thrash metal chinelinho

 
O guitarrista JB Brubaker é quem começa a música “Vital Signs”. O riff é melódico e bem elaborado, executado apenas uma vez antes da entrada violenta do resto da banda. Quando isso acontece, o público geralmente explode em êxtase, a “roda punk” começa e ninguém fica parado. Se há algo diferente nesse ritual tão comum durante os shows da banda norte-americana August Burns Red é que JB Brubaker é, provavelmente, a única pessoa trajando chinelos no local.

Vital Signs – August Burns RedVital Signs – August Burns Red

 

Se houver mais alguém com os “flip-flops”, como são chamados os modelos popularizados no Brasil pela marca “Havaianas” devido ao barulho que fazem durante o caminhar, esta pessoa deve ser o outro guitarrista, Brent Rambler, que faz as bases e acompanha os padrões de baixo e bateria. O fato de não usarem coturnos, tênis ou sapatos aparenta ser o ápice da história de uma banda diferente no cenário do heavy metal internacional.

De chinelos, JB e Brent fundaram a banda em março de 2003, em Manheim, Pennsylvania. Trata-se de um vilarejo com pouco mais de 4,5 mil habitantes localizado no condado de Lancaster, um local de arraigadas tradições cristãs. É o condado que, no começo do Século XVIII, imigrantes de origem germânica escolheram para estabelecer a comunidade Amish, de cunho extremamente conservador e que fugiu da Europa para escapar de perseguição religiosa.

Apesar de causar inúmeros “devil horns”, August Burns Red já se torna diferente por ser uma banda de integrantes cristãos, o que não quer dizer necessariamente que a temática seja religiosa. “O Cristianismo é uma religião, não um estilo musical”, esclareceu JB Brubaker em entrevista à revista online Shout!. Assim, tem escapado da alcunha que tanto pesou para bandas como Creed e P.O.D., embora tal temática seja recorrente nas letras.

Além de falar sobre batalhas pessoais, superação e relações humanas, os integrantes se vestem de maneira comportada e, até certo ponto, diferente para uma banda de trash metal. Os guitarristas e o baixista Dustin Davidson normalmente tocam de bermudão, camisa polo ou camisetas sem estampa e… chinelos. O vocalista Jake Luhrs é o único que se arrisca a cultivar uma grande barba, com visual um pouco mais parecido com o estereótipo do headbanger.

Para completar a lista de curiosidades da banda que faz trash metal, mas se veste de forme indie e tem Jesus no coração está a origem do nome. August é uma ex-namorada de Jon Hershey, membro fundador e primeiro vocalista. Seu relacionamento conturbado acabou de forma repentina e August, em fúria, foi até a casa do ex, prendeu seu cachorro na casinha e ateou fogo. O cão da raça Setter Irlandês, de pelagem avermelhada, morreu queimado. A manchete no jornal local foi “August Burns Red”.

 

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Luiz Beleza: Chegou a Hora

O estudante de engenharia Luiz Beleza, conhecido como Tupi entre os amigos, começou sua vida musical aos 14 anos, com sua banda de rock “Inércia 42”. Natural de Santos, morou em Manaus até os 18 anos e atualmente reside em Bauru, onde intercala aulas de eletromagnetismo com cervejadas e shows.

“Chegou a Hora”, lançado em 2011, foi produzido por Cesar Bottinha e contou com grandes nomes como por exemplo, o baixista Robinho Tavares, que já tocou com nomes como Ed Motta, Wilson Simoninha, Max de Castro, Simoninha e Jair Oliveira. No disco, nota-se grande influência de Tim Maia, Ed Motta, Djavan e Seu Jorge nas composições de Luiz, que também gravou alguns clássicos e músicas de autoria de amigos compositores.

Presente do próprio Luiz Beleza para o NTR, deixamos aqui o disco para você ouvir na íntegra.

Eu quero sol (faixa 1), tem pinta de tema de abertura de novela das oito. Faz lembrar àquelas cenas da mocinha correndo com o vestido esvoaçante contra o mar. A letra simples te faz cantar ao ouvir já pela primeira vez.

Mundo cruel (faixa 2), que não por acaso é a música de trabalho de Luiz Beleza, fala sobre dramas dos recém-chegados à vida adulta. O instrumental dessa música é simplesmente um chute nas partes baixas. Está tudo lá, em seu devido lugar: bateria, baixo, guitarra, teclados e os sopros – aaaah, os sopros! O refrão, que diz apenas “ÔÔÔÔ, mundo cruel”, não precisa de mais nada, graças aos sopros.

Capitães da areia (faixa 3), uma balada baseada no romance de Jorge Amado, mostra o lado mais “tranquilo” de Luiz, assim como Andarilho das estrelas (faixa 8).

Em Segredo (faixa 4) ele retoma o groove e coloca um pouco de romantismo, nada exagerado. A fórmula é mantida em Hey menina (faixa 7), e aqui, com certeza, lembramos um pouco de Claudio Zoli, o que troca de biquini sem parar.
Diz que fui por ai (faixa 5), samba composto por Hortênsio Rocha  e Zé Keti, começa só com voz e a caixinha-de-fósforo. A música já foi gravada pelo xará Luiz Melodia, Nara Leão e também por Fernanda Takai. Nessa versão, assim como em Geraldinos e arquibaldos (faixa 10), de Gonzaguinha, Luiz não inventa, faz o feijão-com-arroz e aproveita para mostrar sua versatilidade. Fechando o disco, temos a festiva Direção (faixa 9) e o samba-rock Já rolou (faixa 11), que com certeza bota o pessoal pra dançar nos shows.

Chegou a hora nos apresenta um cantor com muita personalidade, boas referências e uma boa mão para compor. O time que participou do disco, desde as composições, passando pelos músicos e produção, é de primeira classe, e merece também os parabéns pelo excelente trabalho. O disco vai melhor quando corre pelo Pop, Samba e Soul do que quando cai para as baladas, o que nem de longe faz com que ele deixe de ser um ótimo disco de estreia.

Só pra reforçar a brincadeira sobre a novela das oito: (1) dê um play no vídeo abaixo, (2) pause, (3) tire o som do player do youtube e (4) Dê play em “Eu quero sol”, primeira faixa do disco e em sequência, o vídeo abaixo.

Está até sincronizado. Curioso, não?

James Hetfield: o melhor guitarrista base do mundo

 

A alcunha de “melhor guitarrista base do mundo” pode não parecer grande coisa, quase como um prêmio de consolação: “a banda tem seus destaques, mas na base você é o melhor”. Ninguém que tenha feito base gravou para o álbum Guitar Heroes, foi aclamado por algum riff ou aplaudido de pé após uma canção. Vejo em James Hetfield, do Metallica, a relevância máxima dessa função.

Fiquei pensando um tempão em como definir James Hetfield como guitarrista, mas acontece que a missão é difícil demais. Seu talento com a guitarra é como algo oculto: sua potente voz, os solos com wahwah de Kirk Hammet, as caretas e a pegada de Lars Ulrich na bateria e até os trejeitos de Robert Trujillo se sobressaem mais. Mas sustentando tudo isso há James e sua guitarra.

É impressionante o talento que o vocalista do Metallica tem na mão direita: com palhetas perfeitas, varia as levadas abafadas para dar peso e ritmo às músicas, sem se desfazer de nenhum riff. Onde muitos guitarristas fariam a palheta alternada, ele bate apenas de cima para baixo – haja tendão para aguentar a sequência.

That was just your life
Thar was just your life

Temos tudo isso no último álbum, Death Magnetic (2011): está na cavalgada do riff principal de “That Was Just Your Life”, no cromatismo da levada de “All Nightmare Long” e nos trecho que circunda o solo de Kirk Hammet em “My Apocalypse”. Há muito para ver também nos álbuns antigos: no clássico “Black Album”, intitulado Metallica  (1991), ele desce o braço em “Holier than Thou” e só palheta para baixo em “Thought the Never”.

Podemos também citar a fortíssima “Master of Puppets”, do álbum homônimo de 1986, ou então em “Creeping Death”, do anterior Ride the Lightning (1984). James Hetfield tem uma pegada intensa, algo que transmite o peso de seu braço direito à música. E como é difícil fazer isso. Mais difícil ainda é tocar desse jeito e cantar, algo que ele faz com excelência.

Há quem não goste do timbre do vocalista do Metallica – principalmente os seus famosos “yeahs” -, mas não há como negar que é muito, muito complicado cantar e tocar riffs um tanto quanto elaborados. Tente cantar, por exemplo, “One”: o dedilhado vai se decompondo em séries de peças que se misturam com a guitarra de Kirk, e até aí James não perde a afinação.


shhYEAHeaah!

Mais do que isso, James Hetfield mixa à técnica conhecimento técnico, a ponto de desenvolver uma linha de captadores que lhe agradasse. A peça foi criada em parceria com a EMG, e o guitarrista testou 30 modelos diferentes até encontrar aquele que se encaixava melhor ao seu gosto. É com eles que toca em sua Explorer, guitarra que virou quase que uma marca, assim como a Les Paul para Slash.

James Hetfield não é perfeito e jamais vai ter o destaque ou a relevância de nomes como Van Halen,  Jimmy Page ou Keith Richards. Mas é de se admirar o capricho e a forma como leva a “cozinha” do Metallica há mais de 20 anos, tocando ao lado de Lars Ulrich e dos baixistas Cliff Burton, Jason Newsted e Robert Trujillo.

Girls para amolecer corações indie-endurecidos

 
Eu não tenho muito mais saco para procurar sons novos como tinha lá pelos meados dos anos 2000. Naquela época som “novo” era tipo Art Brut, Franz Ferdinand, Yeah Yeah Yeahs, The Killers, Interpol, The Fratellis, Arctic Monkeys, The Vines, The Hives… enfim, uma porrada de coisa nova e legal pra mim. A música “nova” de agora confesso que tenho preguiça, preconceito mesmo, de escutar. Ouvir nomes de bandas como Vampire Weekend, Two Door Cinema Club, MGMT, Foster the People, Friendly Fires… me cansa a beleza, parece tudo tão previsível, processado e sem nenhuma novidade. Exatamente por esse sentimento temporário – eu espero – de “o sonho acabou” é que fico entusiasmada quando escuto (e gosto) de algo novo.

Capa de “Father, Son, Holy Ghost”

E esse sentimento veio com o segundo, e não tão novo assim, álbum do Girls: “Father, Son, Holy Ghost”, lançado em setembro do ano passado. Apesar do nome feminino, a dupla californiana é formada por dois caras: Chris Owens e Chet “JR” White. O som tem um ar de rock velho dos anos 60, com solos viajantes e guitarras às vezes de surf music que dão um toque de psicodelismo. Além do quê de soul music, com direito a vários corais de igreja no meio do som, uma influência meio gospel. Melodias gostosas, mas melancólicas, um pop instável, meio triste. As referências do duo vão de Chet Baker a Jeff Buckley. As canções do segundo álbum têm alguns momentos animados e despretensiosos como a faixa que abre o disco, “Honey Bunny”, mas são majoritariamente mais pesadas, guitarras que choram, tristes e intensas como as belíssimas “Vomit” e “My ma”, que você pode ouvir abaixo

My ma – Father, Son, Holy GhostMy ma

O responsável pelas letras pop-tristes do Girls é o vocalista Chris Owens. Sua vivência com certeza teve influência em sua poesia: filho de hippies, cresceu dentro de um fechado grupo cristão, o Children of God, que prega a salvação através de um rompimento com o “mundo externo”. Aos 16 anos o cantor resolveu fugir e foi morar em diversos países, onde ganhava trocados cantando, encontrando seu escape na música. Owens tem vários conflitos com sua mãe, já que ela deixou seu irmão morrer de pneumonia por ter se recusado a medicá-lo com remédios convencionais, além de ter se prostituído na presença do filho. Os versos de “Myma”: “Estou tão perdido e estou aqui na escuridão, e eu quero ver a luz do seu amor, estou procurando o sentido da vida” são um recado claro à sua mãe.

Um dos meus vídeos favoritos do Girls é eles tocando “Love Like A River” para o programa “For No One”. E eles tocam realmente pra ninguém, num estúdio vazio (mesmo), sem ninguém assistindo. A música é linda, o cenário é perfeito. Com um som que dá até arrepio não é nem preciso de plateia pra preencher o palco.

E aqui rola uma versão-homenagem de “I will always love you”, gravada logo após o falecimento da diva Whitney Houston. Não parece que o som saiu direto do “Father, Son, Holy Ghost”?

 
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Mashups, samba-rock e Thiago Corrêa

 

[pullquote_right]”Descobri um barzinho sensacional”, “esse seriado é a sua cara”, “ouça esse som aqui, você vai curtir”.[/pullquote_right]Todo mundo gosta de fazer indicações especiais aos mais chegados. Melhor ainda quando a indicação – seja qual for – ainda não atingiu o status de popular e mantém aquele “quê” de vip, seleto e roots. É muito bacana ouvir “sabe aquilo que você me indicou, gostei bastante!”. É um sentimento de orgulho e posse, típico de um fã.

Thiago Corrêa entra nessa casta de indicações. O publicitário e compositor nascido em Santo André acaba de lançar seu novo trabalho. O disco “Mashup”, está disponível grátis para download em seu site oficial e mostra o que Thiago faz de melhor.


Rude Boy, Rihanna vs Chega no Swing, Seu Jorge

Produzir um mashup, misturar músicas de artistas diferentes e tocar o refrão de uma música  em outra não é novidade. O mérito aqui está exatamente na escolha de músicas que nunca se complementariam aplicadas na levada do samba-rock. Parece até uma equação, mas é puro feeling.

Há os mais puristas que não gostam nem aprovam essa mistureba, mas é difícil não curtir Love Game (Lady Gaga) em meio a  São Gonça (Farofa Carioca) pela voz  de Thiago Corrêa.  Essa estrutura “sucesso gringo + sucesso nacional na voz de Thiago” se repete também em outras músicas como Rihanna  vs Seu Jorge, Kate Perry vs Sandra de Sá, e Robbie Williams vs Killie Minogue, onde Thiago canta os versos de Hey Joe (O Rappa).

Em outras músicas como o mashup Coldplay vs Alicia Keys & Jay-Z, Thiago canta em inglês o sucesso Paradise em meio de Empire State of Mind. O mesmo se repete em Bruno Mars vs Black Eyed Peas, onde canta Billionaire, de Bruno Mars. Todas sempre com a cozinha  – baixo, percussão e bateria  – bem resolvida, guitarras limpas, e alguns adicionais que deixam a versão ainda mais com “cara de Brasil”, no melhor sentido do termo.

Nesse disco, Thiago Corrêa vai além de seus outros mashups produzidos durante o Projeto Outra Música, realizado no ano de 2009. O projeto consistia em um programa online semanal, onde sempre era lançado uma versão  samba-rock de uma música internacionalmente conhecida.

Os mais de 50 mashups produzidos durante o Projeto Outra Música podem ser ouvidos facilmente em uma busca por “versão samba-rock” no Youtube. Versões de Beat it, Crazy Little Thing Called Love e Superstition foram alguns dos destaques do projeto juntos com Knock’em out da inglesa  Lily Allen. Essa última, rendeu a Thiago o primeiro lugar em um concurso de versões promovido pela própria cantora.

Knock’em out – Lily Allen
Knock Em Out – Lily Allen

A versão caiu nas graças do diretor de Marketing da Sony/UK, David Lenon, o que rendeu a Thiago um contrato para lançar primeiro disco  “A Grande Preocupação”, em uma turnê pela Europa.

Em  “A Grande Preocupação” (2007), Thiago faz algumas versões de músicas como “Charme” e “Cara casado” do grande Bebeto e também mostra que é um compositor de mão cheia, com letras bem-humoradas e maduras, sem deixar o espírito jovem de lado. Já em “The beauty of summer/Africa” (2010), Thiago confirma sua habilidade com o papel e a caneta, com composições temáticas sobre a relação de semelhanças e diferenças entre Brasil e África.

Fora do estúdio e dos palcos, o sambarocker mostra que “entende do jogo” e sempre libera o download de seus discos em seu próprio site. Basta entrar em thiagocorrea.com, baixar o álbum, abrir uma cerveja, dar play e ser feliz.

E você, gostou do que ouviu até agora? Abaixo mais alguns sons que brilham muito nas playlists do pessoal aqui do NTR.

 

 

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Ah, que saudades do Los Hermanos. HARDCORE

A capa tinha um palhaço daqueles que fazem as pessoas terem medo de palhaço. Ele sorria, mas com um olhar triste – bem parecido com o conteúdo tom e do disco de 1999, recheado de letras  melancólicas sobre mulheres, relacionamentos mal-terminados e a esperança do amor. E mesmo assim era hardcore.

Três músicas têm nome de mulher: a excelente Aline, a famosíssima Anna Júlia e  a cruel Bárbara. Outras seis têm nomes sugestivos: Azedume, Lágrimas Sofridas, Outro Alguém, Sem Ter Você, Tenha Dó e Vai Embora. Os membros do Los Hermanos nem eram tão barbados – Marcelo Camelo tinha um cavanhaque bem aparado, tocava com camisa florida e era hardcore.

Rodrigo Amarante nem sempre tocava guitarra. Em muitas das músicas tocava um tamborim, que em alguns shows sequer era amplificado. Ele corria pelo palco batendo no instrumento com vigor, mesmo sem ninguém ouvir nada, talvez pelo peso da bateria e das guitarras. O instrumento foi apelidado pela banda de “o primeiro tamborim hardcore”. Hardcore.

A banda já se apresentava com instrumentos de sopro, imprescindíveis na definição das melodias. Eles se encaixavam especialmente bem nas partes de levada ska, que por sinal influenciaria o harcore já a partir dos anos 70.  O Los Hermanos misturava os estilos de forma muito consistente. Patrick Laplan era o baixista. Ele deixaria a banda em 2001 para tocar com o Rodox, de Rodolfo Abrantes, ex-Raimundos. O som era hardcore.

O baterista Rodrigo Barba nunca deixou a banda, mas em pelo menos dois momentos excursionou com a banda carioca Jason, que toca harcore. O último deles aconteceu em 2007, durante o hiato do Los Hermanos. Barba também sabe tocar marchinhas, e com ajuda de suas baquetas – e especialmente da música Pierrot – o Los Hermanos chegou a passar uma imagem carnavalesca. Isso sem deixar de ser hardcore.

Mas o Carnaval acabou, e o harcore também. Em 2001, a banda lançou “Bloco do Eu Sozinho”, álbum que é aberto por Todo Carnaval tem seu Fim.  Em entrevista à revista Scream & Yell, Marcelo Camelo explicou de forma simples a mudança: “depois de tanto tempo de convívio, tocando juntos, é natural que essa fórmula hardcore, ska, reggae, esteja cansativa”.

E também falou o seguinte: “no início da banda a idéia era misturar letras de amor com hardcore. O peso da melodia e a leveza das letras. Foi o mote inicial, por isso o primeiro disco tem essa cara. Mas à medida que começamos a viajar juntos, trocar discos, conversar mais sobre música, isso foi se dissipando. É inevitável que o som mude”. Mudou bastante mesmo, embora o capricho nos arranjos e a temática tenha permanecido.

Rodrigo Amarante também falou sobre a passagem do álbum de estreia homônimo para o Bloco do Eu Sozinho: “quando uma banda faz sucesso no primeiro disco, todo mundo espera que ela repita a fórmula no segundo. A gente simplesmente não tem esse compromisso”. Vendo por esse lado, talvez o Los Hermanos não fosse assim tão hardcore.

Quem faz hardcore normalmente tem compromisso com o estilo. Mas que dá saudade, ah dá.