Columbia Records / 26 de junho 2012 / Rock, Punk Rock
Faixas:
1. The Future Is Now
2. Secrets from the Underground
3. Days Go By
4. Turning Into You
5. Hurting as One
6. Cruising California (Bumpin’ in My Trunk)
7. All I Have Left Is You
8. OC Guns
9. Dirty Magic
10. I Wanna Secret Family (With You)
11. Dividing by Zero
12. Slim Pickens Does the Right Thing and Rides the Bomb to Hell
3/5
“Parecia que não seria possível, mas sem perder a identidade o Offspring reinventa refrões e timbres para lançar um álbum com a própria cara, mas extremamente interessante.”
É pra quem gosta de:
Green Day – Sun 41 – NOFX
Tem que ouvir:
The Future is Now – Days Go By – Hurting as One
Pode pular:
Cruising California – OC Guns – I Wanna Secret Family
José Silvério é narrador esportivo e dificilmente dá pitacos, mas outro dia, na Rádio Bandeirantes, disse algumas palavras fortes. Ele comentava as comemorações pelo centenário do jornalista Nelson Rodrigues quando chamou a atenção para o número exagerado de comemorações. “É aniversário de morte, aniversário de nascimento. Quer dizer: daqui a pouco ninguém morre mais. Todo mundo vai fazer 100 anos de morte em algum momento”, disse, propositalmente exagerado. É esse efeito que aparece sobre o Barão Vermelho, banda que lançou nova turnê comemorativa no último dia 20.
Mais uma vez, o Barão Vermelho volta aos palcos para comemorações. Desta vez, pelos 30 anos de lançamento do primeiro disco da banda, Barão Vermelho (1982). O álbum será relançado com novas versões das músicas e a inclusão de uma inédita, “Sorte e Azar”, última da parceria entre Cazuza e Frejat e que já está disponível para vendas no iTunes. Maurício Barros e Dé Palmeira, parte da formação original da banda, também devem dar as caras em alguns shows, que terão repertório de 27 músicas, bem focado no disco de estreia, é verdade, mas com grandes sucessos da carreira. E quando foi diferente?
A música “Sorte e Azar” é a última parceria inédita entre Cazuza e Frejat. A faixa não entrou para o álbum lançado em 1982 pois o produtor do disco, Ezequiel Neves, tinha uma superstição com a palavra “azar” e ela acabou ficando esquecida.
O último álbum de inéditas do Barão foi lançado em 2004 – por coincidência, também se chama Barão Vermelho – e não teve grandes hits, com destaque para “Cuidado” e “Chave da Porta da Frente”. O último sucesso, portanto, veio em 1998, com “Puro Êxtase”, do álbum homônimo. Nesses 14 anos, a banda lançou quatro registros para exaltar a própria carreira, sendo uma coletânea (Pedra, Flor e Espinho, de 2002) e três ao vivo (Balada MTV, de 1999; MTV Ao Vivo, de 2005; e Rock in Rio 1985, de 2007).
Para sermos justos, o Barão nem poderia ter produzido novidades, já que a banda passou por duas pausas anunciadas originalmente como hiatos por tempo indeterminado. O primeiro deles, depois do Rock in Rio 2001, durou três anos. O segundo, de janeiro de 2007, terminou no último sábado, com o lançamento da turnê +1 dose. Ok, relembrar é viver. Mas até quando? Praticamente, o Barão Vermelho só se reúne para rememorar a própria carreira. Basta citar que a ideia original era quebrar o hiato em 2011 para celebrar os 30 anos de formação da banda. Não deu porque Frejat estava em carreira solo. Então, tudo o que precisaram foi adotar a efeméride seguinte.
De novo!
Depois de três décadas juntos, com a identidade da banda mais que estabelecida, a base de fãs também, além de contar com o peso da figura póstuma de Cazuza, é certo que é bem complicado para o Barão Vermelho ir muito além em qualquer trabalho inédito. Esse é claramente o motivo das pausas: cada um vai fazer o que quiser sem ter que honrar a história da banda, sem correr o risco de desvirtuá-la. Triste é saber que só o que restou são as reuniões comemorativas. Por mais que os fãs adorem a fase áurea do Barão, é preciso mais.
Ira!, Engenheiros do Havaí e Kid Abelha são outras bandas de longa trajetória que pararam de tocar. Ainda mais recente foi a pausa do Foo Fighters. Músicos como Humberto Gessinger admitem a possibilidade de que elas nunca mais se apresentem. Mas se voltarem, que tenham o que mostrar. Mesmo que seja pouco, mas que mostrem alguma coisa. Não mais do mesmo.
O jornal carioca Extra divulgou nesta terça-feira a notícia “Restart tem ajuda de músicos escondidos nos shows da banda”. Em um parágrafo com 91 palavras e três fotos, a publicação coloca mais bala na agulha de quem abertamente odeia a banda por sua postura, seu suposto rock, a infantilidade das letras, as roupas coloridas e a ligação com o estilo emo. Mas qual é o problema em contar com músicos de apoio? Quem falou que isso é proibido?
Há alguns aspectos que temos que levar em conta para chegar a alguma conclusão entre Restart é uma farsa ou Restart não fez nada de mais; vejamos.
Hipótese 1: Músicos de apoio
Apoio, sacou? rs…
A reportagem mostra duas fotos diferentes da mesma pessoa colocada atrás do palco supostamente tocando baixo, mas informa que há outro guitarrista também escondido. Eles são músicos de apoio? Se sim, qual é o problema? Inúmeras bandas usam músicos de apoio, desde bandas de pagode que hoje parecem mais orquestras ao Charlie Brown Jr., que chamou Tadeu Patola para tocar no Acústico MTV porque só com Marcão na guitarra a coisa não sairia tão bem.
O Nirvana fez o mesmo quando Kurt Cobain já não se garantia, e então chamou Pat Smear. O Green Day toca com pelo menos outro guitarrista no palco, bem ao fundo; ele nunca é focado, quase não aparece, não entra nos créditos nem nas filmagens de DVD. O Slipknot toca com um baixista escondido atrás do palco desde a morte de Daniel Baldi, e o Fresno usa as linhas gravadas desde que Tavares deixou a banda. O Padre Marcelo sequer canta as músicas, só chamas os versos e de vez em quando ajuda os backing vocals no refrão. Todo mundo faz isso.
Ah, aí a coisa muda. Pela imagem divulgada pelo jornal, o instrumento tocado pelo suposto músico escondido é claramente um baixo, o que me leva a pensar: por que qualquer banda – ainda mais o Restart – colocaria duas linhas de baixo em suas músicas – ainda mais as do restart – a ponto de precisar que as duas sejam tocadas ao vivo? Trata-se de um altíssimo indício de uma puta falta de sacanagem. Fazer playback em shows é uma das coisas mais abomináveis que pode existir.
Me vem à cabeça agora três casos em que o playback foi escancarado e ridículo: Aaron Carter e Britney Spears no Rock in Rio III, em 2001, e Bloc Party no VMB 2008, na MTV. Será que o sr. Pelanza não está dando conta de tocar e cantar as suas próprias músicas, por mais simples que sejam? Se for isso, está na hora de ser mais sincero, ou então assistir John Mayer e Dave Mathews dedilhando e tocando simultaneamente, uma verdadeira aula.
Como eu disse, a reportagem é bem simplória ao denunciar os músicos escondidos atrás do palco do Restart. O local do show, por exemplo, é descrito de forma bastante vaga como “uma cidade do norte do Rio de Janeiro”. Quem fez a matéria não entrevistou os supostos guitarrista e baixista, nem mesmo entrou em contato com a banda para pegar uma explicação ou declaração. Ninguém falou com outros membros da equipe do Restart, nem com empresário, familiares, amigos. Só o que se sabe pode ser concluído por duas fotos da mesma pessoa.
Roadies são pessoas que ficam atrás do palco segurando instrumentos enquanto usam fones de ouvido para ajustar a afinação. E entre uma música e outra podem matar o tempo praticando, ou então tocar os instrumentos para esticar de vez as cordas – corda nova é fogo, desafina rápido se não for “amaciada”. Não seria uma hipótese palpável? Nem playback nem músicos de apoio, apenas roadies e seu desejo de fazer parte do show. Por que não?
Enfim, eu acho que até essa história se esclarecer vou dar uma segurada. Nada garante que sejam uma farsa. E o benefício da dúvida? Tenho certeza que eles não precisam de mais gente atirando pedras.
Há inúmeras canções de exaltação ao samba. Moleque Atrevido fala da nata do estilo, “linha de frente de toda essa história”, do “tempo do samba sem grana e sem glória”, e cobra: “respeite quem pôde chegar onde a gente chegou”. A Batucada dos Nossos Tantãs tem a mesma linha: “você não samba, mas tem que aplaudir”. O Show Tem Que Continuar ainda avisa: “todo mundo que hoje diz ‘acabou’ vai se admirar”. O papo é sério, e o discurso foi construído por grandes compositores. Antes deles, no entanto, Adoniran Barbosa, um dos maiores, lidou com a questão de forma totalmente diferente.
Em 1966, Adoniran Barbosa estava longe da mídia – o que na época significava o rádio e a recém-implantada televisão. O último registro do compositor havia sido gravado em 1958, com Pafunça/Nois não os bleque tais. A moda era a Jovem Guarda de Erasmo, Roberto Carlos e cia., o que deixava o sambista magoado. Neste ano, ele compôs Já Fui uma Brasa. A música é extremamente simples e traz na letra um relato conformado da falta de espaço que se deu diante da turma que chamava atenção no programa de nome Jovem Guarda, da TV Record.
Enquanto os roqueiros do Brasil usavam gírias para cativar o público (caranga, pão, broto, coroa, pinta, etc), Adoniran usou uma metáfora para explicar sua situação: “Eu também um dia fui uma brasa/E acendi muita lenha no fogão”. E segue o drama: “E hoje o que é que eu sou?/Quem sabe de mim é o meu violão”. É impossível não fazer ligação com uma das frases mais marcantes de Roberto Carlos e que simbolizava bem o estilo da Jovem Guarda: “é uma brasa, mora?”. Uma brasa é algo (provavelmente alguém) quente, muito bom. Assim como Adoniran um dia havia sido.
O verso que define isso vem logo na sequência: “Mas lembro que o rádio onde hoje toca iê-iê-iê o dia inteiro tocava Saudosa Maloca”. Esse é o ponto mais amargurado do discurso de Adoniran. Ele não exalta suas qualidades nem se autopromove. Pelo contrário: busca conciliação. “Eu gosto dos meninos desse tal de iê-iê-iê/Porque com eles canta a voz do povo”, diz o sambista paulistano. O último verso é o mais emblemático, dá impressão de ser dito sorrindo, meio como um aviso, uma ameaça. Dá até para sentir um tom de “respeite quem pôde chegar onde a gente chegou”.
“E eu que já fui uma brasa/Se assoprar posso acender de novo”.
Adoniran foi mesmo uma brasa. Viveu afastado do grande público após 1966, mas “renasceu” ao se tornar ator das primeiras novelas e programas da TV Tupi e também da própria TV Record. Gravou e eternizou Já Fui uma Brasa, um de seus maiores sucessos até hoje. É como se ele nem precisa dizer que tem que ser respeitado, aplaudido e admirado.
Boas versões do clássico foram gravadas por Arnaldo Antunes e pelo grupo Casuarina, com participação especial do cantor Frejat. Confira abaixo as duas versões.
O Strike lançou em agosto seu melhor álbum, Nova Aurora, o terceiro e o que fez a banda voltar ao mainstream com força, principalmente pelo hit Fluxo Perfeito, trilha sonora da eterna novela Malhação, da Rede Globo. A música-tema tem participação de Rodolfo Abrantes, ex-Raimundos, e nenhuma temática religiosa, antes que surja a suspeita. Rodolfo se limita a cantar um verso e apoiar os refrões. Aos 2min46seg, a canção abre espaço para que o vocalista Marcelo Mancini cante 135 palavras em 25s, em um belo de um flow.
Não há como calcular as variações possíveis na levada do rap, mas ouvi-lo cantado bem rápido, com entonação nas sílabas e palavras mais marcantes, dá destaque a qualquer canção. Marcelo, que é fã do estilo e se arrisca no raggamuffin em diversas músicas – e em improvisações durante os shows – preenche esses requisitos na velocidade de 5,4 palavras por segundo. Rápido? Claro, mas de jeito algum o mais rápido de todos. Muitos outros rappers se destacaram pela velocidade do flow.
Twista, rapper americano de Chicago e parceiro das antigas de Kanye West, é alardeado como o mais rápido de todos. A música Mr. Tung Twista, de seu primeiro álbum Runnin’ Off at Da Mouth (1991), é um grande exemplo.
Bone Thungs ‘n Harmony, grupo de Cleveland, também cospe rimas na velocidade da luz em algumas das músicas. O efeito fica ainda melhor porque as cinco vozes (Layzie Bone, Krayzie Bone, Flesh-n-Bones, Bizzy Bone e Wish Bone) se intercalam, completando e enfatizando os versos. Com muitas gírias e palavras incompletas, fica difícil entender alguma coisa na música Flow Motion, do primeiro álbum, Faces of Death (1993).
Vocês certamente já ouviram falar: potência não é nada sem controle. O estilo de Tonedeff, outro americano da lista, radicado em Nova York, se aproxima dessa máxima, já que seu rap vai crescendo até explodir em um turbilhão de palavras, tantas quantas seu ouvido conseguir captar. É assim na música Velocity, que está no álbum Extended F@mm – “Happy Fuck You Songs” (2002). O nome é sugestivo.
Com certeza é mais difícil fazer rap assim – improvisar, então, provavelmente impossível. Mas fica mais bonito e divertido de ouvir, então deu para ter uma noção das influências de Marcelo Mancini, um mineiro que lidera uma banda de hardcore que agora faz sucesso no Brasil inteiro. “Quero ver quem decora o meu flow”, ele desafia na parte mais rápida de Nova Aurora. Quero ver também.
P.S.: Os usuários do Youtube e os blogs de curiosidades adoram vídeos com os termos “mais <alguma coisa> do mundo”, e é assim que facilmente encontramos George Watsky, rapper de São Francisco com três albuns lançados, mas famoso mundialmente por um vídeo no qual rima extremamente rápido em cima da base da música Break Ya Neck, do Busta Rhymes. Como bônus, ele faz caras e bocas. Extremamente divertido.
Desde 15 de março de 2012, o programa Comédia MTV é apresentado ao vivo, com direito a sketches recheados de improvisação. Na edição de 19 de abril, o humorista Paulinho Serra começou uma brincadeira envolvendo o músico Djavan que traz referências imediatas a qualquer um que tenha ouvido, pelo menos, suas canções nas principais novelas da Globo. Ele se dirige a uma garota da plateia e pede uma palavra bonita: “coração”. Para o cara ao lado, uma palavra triste: “feio”. E assim vai variando, recebendo em troca “amor”, “botão”, “camiseta”, “cadeira”, “palito”, “pudim”, “lavanderia”, “felicidade”, “dentadura”, “azul” e “merda”. Com esses termos, Marcelo Adnet se transforma no cantor alagoano.
A sátira envolve as letras de Djavan, difusas, indiretas, enigmáticas e confusas – pelo menos à primeira vista. É o perigo da falta de referência. O que acontece no palco do programa é que as únicas referências são as letras difíceis de entender e que levam a situações engraçadas como quando “Amar é um deserto/E seus temores” se torna “Amarelo deserto e seus temores” na canção Oceano. É assim que Adnet faz uma paródia engraçada de “Nem um dia”, arrancando risos verdadeiros da plateia e, certamente do telespectador. Djavan parece nem ligar mais para esse tipo de coisa. Mas quando fala sobre o assunto, a mensagem é clara: “não há nada na minha letra que não faça sentido”.
Adnet e sua equipe não são os primeiros a satirizar Djavan por essa característica: o jornalista Artur Xexéo, colunista e editor do jornal O Globo, usou a música “Açaí” para nomear um prêmio pelo melhor do nonsense na música brasileira, o que deixou o cantor muito irritado.
Djavan falou sobre isso em uma edição do programa Som do Vinil, do Canal Brasil, depois de ser provocado sobre o assunto por Charles Gavin. O baterista dos Titãs elogia o swingue de Djavan e diz que isso permite que ele use as palavras como bem entender, escolhendo-as antes pelo som do que pelo significado. “Sim ou não?”, complementa Gavin. A explicação o deixa claramente desconfortável.
Para acabar com o mito, Djavan usa o refrão justamente de Açaí: “Açaí, guardiã/Zum de besouro, um imã/Branca é a tez da manhã”. Vamos à explicação.
“Não há nenhuma pessoa que viva no norte do Brasil que não entenda que o açaí é a fruta que faz com que a subsistência daquelas pessoas esteja garantida, porque é uma fruta abundante, barata, muito nutritiva e com ela se faz tudo. Por isso açaí guardiã. Todo nortista entende esse verso”, conta Djavan, que nasceu e cresceu em Maceió, Alagoas, um estado do nordeste. Agora o verso faz sentido, não é mesmo? A lógica extremamente simples é a mesma para os outros versos do refrão.
“Zum de besouro, um imã” é explicado assim: “todo mundo que gosta da natureza, é impossível ouvir um zunido qualquer e não se interessar por quem o está produzindo; por isso, um imã”. E, por fim, “branca é a tez da manhã”: “se você acordar às 5 horas da manhã em um dia nublado, a vida está branca”. Quando Djavan anuncia que “não há nada de nonsense nesses versos”, Charles Gavin já está balançando a cabeça entre sorrisos descompassados. Artur Xexéo, que também é citado no programa, já foi criticado em público pelo cantor por essa visão rasa de uma obra que pende, sim, para o lado subjetivo, mas que não é sem sentido.
“Não há nada de nonsense nesses versos. O que há é a falta de alcance de alguns críticos que nos punem pela sua ignorância. E eu não posso fazer nada. O verso está ali, é lindo, e não há nada na minha letra que não faça sentido”, complementa Djavan. Não é por isso que devemos deixar de rir com o sketche do Comédia MTV, pelo contrário. Mas é de se admitir: a música Açaí acabou de ficar muito mais bonita. E menos ignorante frente aos nossos olhos.
Chorão estourou duas champagnes no palco, molhando parte do público do MixFest! no último sábado (21/07), no Anhembi, em São Paulo. O Charlie Brown Jr. foi a terceira banda a se apresentar no festival da rádio e canal de televisão e fez um show emocionado: apesar de não ser o primeiro na capital paulista desde a volta dos integrantes Champignon e Marcão, firmada no final de 2011, a reunião foi muito celebrada com discursos emocionados de quase todos os músicos. O guitarrista Thiago Castanho foi um dos mais exaltados.
“Se tem um cara que tem a cara dessa banda mesmo, que tem o Charlie Brown na veia, é esse cara”, disse Chorão, batendo no braço como quem indica “na veia” e arrancando aplausos do público. “Esse é o Thiago, o nosso capitão”, complementou. Mas quem é esse cara que impediu que o Charlie Brown Jr. se desfizesse no momento mais difícil da carreira de 20 anos da banda?
O capitão
Thiago Castanho nasceu em Santos em 8 de fevereiro de 1975 e começou a tocar com 13 anos, mesma época em que comprou seu primeiro vinil: Led Zeppelin IV (1971). Influenciado pela irmã, dona de um violão, e pelos sucessos “Black Dog”, “Rock ‘n Roll” e “Stairway to Heaven”, investiu no instrumento e desenvolveu grande habilidade. Entrou para o Charlie Brown em 1992, depois de abandonar a faculdade de administração com apenas um semestre completado.
Thiago Castanho é tão habilidoso quanto Marcão, com quem divide palco no Charlie Brown, mas seu estilo bem definido fez com que se destacasse com seus solos ágeis recheados por efeitos como wah-wah, chorus e delay – “Aquela Paz” (Transpiração Contínua Prolongada, 1998), “Zóio de Lula” e “Não deixe o mar te engolir” (Preço curto… prazo longo, 1999) são bons exemplos. Foi o primeiro a desintegrar a banda, ao sair em 2001 por “divergências musicais”. Participou dos três primeiros álbuns.
Se era outra identidade musical que Thiago buscava quando deixou o Charlie Brown, é bem possível que não tenha encontrado nos anos em que passou afastado da grande mídia. Montou o estúdio Digital Grooves, onde produziu uma demo para o Aliados 13 (hoje se apresenta apenas como Aliados). Passou a tocar com a banda, mas deixou o posto quando as coisas começavam a engrenar, em 2002, com direito a contrato com gravadora e a música “Sem sair do lugar” tocando na MTV.
Também tocou com a banda Power S.A. até que, em 2003, foi convidado por Rick Bonadio, produtor do Charlie Brown, a fazer parte do projeto que se tornaria o Acústico MTV Ira! (2004). Sem qualquer alarde, tocou na gravação completando a banda de apoio do grupo paulistano e com eles excursionou nos oito meses seguintes. Então, começou a manifestar a intenção de voltar ao Charlie Brown, chegando a fazer um show com a banda antes da traumática dissolução, com a saída de Chapignon, Marcão e Pelado. No palco do MixFest!, Chorão relembrou o período.
“No momento em que esses caras saíram e foram viver a vida deles, com todo direito, e eu estava totalmente confuso, pintou o Thiago na minha casa. Troquei ideia com ele e falei: “meu, vai ser muito difícil”. Ele falou: “velhão, vamo fazer na prática o que as nossas letras dizem na teoria.” E continuou: “se não fosse esse cara aqui, sinceramente, eu não estaria aqui hoje, nem Chapignon, nem Bruno nem Marcão, porque se esse cara não tivesse dado pra mim musicalidade, uma segurança a mais de que eu tinha alguém com DNA da banda mesmo (…), um cara que corria sangue do Charlie Brown na veia do cara, a gente não estaria aqui”.
Enquanto falava, Chorão batia no braço como quem diz “na veia”, emocionando Thiago. O vocalista ainda completou com a deixa: “é por isso que eu digo: existem pontes indestrutíveis”. E aí tocou a música de mesmo nome. A volta do guitarrista surpreendeu a todos e, com o álbum Imunidade Musical (2005), a dupla, auxiliada por André Ruas “Pinguim” na bateria e Heitor no baixo, conseguiu manter com êxito a relevância do Charlie Brown Jr.
Além de exímio guitarrista, Thiago Castanho também é artista plástico: segundo o site oficial do Charlie Brown Jr., já se dedicou à pintura e agora faz esculturas, além de ter criado a marca Urban Safari – a qual não há registros no mundo virtual, por sinal. Estreitou tanto os laços com Chorão a ponto de ajudá-lo a fazer um jantar para Grazi, a mulher do cantor (homenageada com a música “Proibida pra mim”, primeiro sucesso), episódio mostrado no programa Família MTV.
Desde que impediu o fim do Charlie Brown Jr., Thiago Castanho contribuiu em três álbuns de inéditas. Como anunciado no MixFest!, a banda agora prepara um novo registro, programado para servir como apoteose da formação quase que original – só Renato Pelado não voltou ao grupo, sendo Bruno Graveto o baterista atual. Durante o show em São Paulo e entre declarações de amor ao baixista Champignon e elogios a Marcão, Chorão falou com confiança sobre a nova fase e pediu: “uma salva de palmas pro salvador, capitão: Thiago Castanho”.
Em tempos de Criolo e Emicida, com Racionais MCs se apresentando em grande festival (Lollapalooza) -, uma parte considerável do público passa a se interessar mais pelo rap. Nessa levada se destacam Kamau, Rashid, Projota, Rael da Rima e Rincón Sapiência. Um dos grandes representantes do estilo, mas normalmente avesso aos exacerbados holofotes e à grande mídia, agora prepara a volta: Black Alien. Parecia que o ex-vocalista do Planet Hemp jamais gravaria um álbum de novo, mas, ao que parece, a efervescência da cena fez revigorar os impulsos de Gustavo de Almeida Ribeiro. E ele vem com tudo.
Para isso, Black Alien programou um retorno estiloso: com álbum inédito e gravação de DVD. Não há notícia da situação em que anda o projeto, embora em sua página no Facebook o músico tenha postado, no início de junho, a mensagem “O retorno está próximo”. Antes, em fevereiro, ele havia prometido o álbum para abril. Serão 12 faixas, segundo disse em entrevista ao site da MTV, um registro com bastante guitarra e mais rock, “uma biografia do que eu estou passando”, como declarou. As letras não terão ficção, como explicou, ao contrário do que aconteceu em projetos passados.
Desde que deixou o Planet Hemp, em 2001, Black Alien lançou apenas um álbum: o excelente “Babylon By Gus Vol. I: O Ano do Macaco” (2004) – o título faz referência ao disco “Babylon By Bus” (1978), de Bob Marley. A partir daí, o volume dois se tornou uma incógnita, com a produção e lançamento adiados seguidas vezes. No ótimo documentário “L.A.P.A.”, de Caví Borges e Emílio Domingos, que detalha a cena do rap carioca a partir de seu epicentro, o bairro boêmio fluminense de mesmo nome, Black Alien indicava que um novo registro de estúdio demoraria um bocado para sair.
[pullquote_right]”Não me dá prazer compor porque é um parto de cesariana. O filho do King Kong nascendo de cesariana sem anestesia: esse é o nascimento de uma letra”, diz o rapper.[/pullquote_right]
“E depois você tem que gravar, e lidar com cara de gravadora, cara do estúdio e com produtor que é cheio de merda (…) Depois que você grava aquilo, tem que lidar com um monte de gente de gravata, de royalties, de direito autoral, de direito de imagem, de direto conexo, de direto desconexo…”, desabafa Black Alien. A irritação se dava pelo contato necessário com “uma galera que não tem nada a ver com arte”. Gravar pra quê, então? Se faltava estímulo, a morte de Cláudio Márcio de Souza Santos, em 2010, deve ter complicado muito a situação. Speedfreaks, como era conhecido, foi um grande e constante parceiro de Black Alien. Foi encontrado morto em Niterói-RJ. A polícia suspeita que tenha sido confundido por traficantes.
Já estava na hora de Black Alien voltar efetivamente à ativa – ou seja, gravar um álbum novo. Principalmente porque não é de hoje que toda a burocracia de gravadoras e contratos é altamente dispensável, já que se tornar independente e lançar um trabalho por meios alternativos não é uma aventura desbravadora. E pelo jeito, Black Alien vem aí. O que esperar? Um álbum com personalidade. Porque se a obra é mesmo autobiográfica, ele deve ter muita coisa a dizer depois de tanto tempo fazendo participações esporádicas em projetos esporádicos. E até porque sua postura discreta deixa muito pouco a dizer sobre esse ex-skatista que, ao que parece, era bom mesmo no início dos anos 90.
Black Alien rima com muita poesia, gosta de cantar bem ao estilo harmonioso (como em “From Hell do Céu”) e faz citações em inglês, além de referências a livros e filmes; pronuncia as palavras corretamente e não se rende gratuitamente à temática “Vida Loka” – embora, que fique claro, esse não é um ponto a favor, mas uma característica. Se o sucesso virá, é difícil dizer. “Babylon By Gus Vol. I – O Ano do Macaco” foi um álbum que recebeu críticas muito boas, mas pouco pintou na grande mídia. Como o momento ajuda, que seja generoso também com Gustavo de Almeida Ribeiro.
E como esquecer que Black Alien já fez muito sucesso? Fez parte do Planet Hemp e gravou o melhor álbum da banda, “Os Cães Ladram mas a Caravana Não Para” (1997). E alcançou destaque internacional em 2004 com a música “Quem que Caguetou”, produzido com Speedfreaks, usada em um comercial da caminhonete Nissan Frontier e que tocou muito na Europa. Essa música, que foi remixada pelo DJ Fatboy Slim, aparece na trilha sonora de Velozes e Furiosos 5, recentemente lançado. Volta logo, Black Alien.
Marcel Ziul lançou no último domingo, 15 de julho, o álbum In a Minute, o terceiro de uma promissora carreira. Com nove músicas, muita influência de blues, um timbre de voz marcante e tratamento de mídia, o músico de Campinas dá um importante passo no processo de estabelecimento: primeiro como artista autoral, depois como aspirante ao grande público.
Em In a Minute, Ziul mantém a coerência em referência ao seu breve trabalho anterior: não se entrega à música pop com refrões grudentos, continua cantando em inglês e com a pegada blues totalmente exposta. Seu material de divulgação compara o estilo ao “rock de Jimi Hendrix e o Soul de Stevie Wonder”. A julgar pelo lançamento, é um pouco demais.
A música-título do álbum, “In a Minute”, a última da listagem, é tranquila e melodiosa assim como a marcante “Learn to Fall”, 6ª música. Já em “All the Time”, que abre o disco e é a primeira música de trabalho, Ziul aparece mais pop, com grande melodia – talento que também se traduz também em “Far Apart”, a terceira.
O álbum fica mais agitado na excelente “Afraid of Loving You” (faixa 2), em “Don’t Walk Away” (faixa 7) e em “Too Blind To See” (faixa 8), nas quais ele põe para cima uma de suas principais características: a pegada. Ao vivo, Ziul toca muito forte, o que fica perceptível nessas músicas. Deve ser efeito de se apresentar em power trio, com a responsabilidade de ter de segurar o som acompanhado apenas de bateria e baixo. Isso ele faz com excelência.
Em In a Minute, as músicas contam com trilhas de guitarra distintas em alguns momentos, embora o som ao vivo não fique comprometido. Em uma apresentação recente no Delta Blues Bar, em Campinas, Ziul tocou boa parte das músicas do novo álbum sem demonstrar nenhum prejuízo aos arranjos, sempre muito bem trabalhados – as frases entre os acordes, o swingue e a levada da mão direita e os acordes dissonantes seguem impressionando.
Apesar disso, nenhuma faixa do novo disco tem o peso de “Too Late”, música do álbum anterior, Live Studio Sessions (2009). Nele, Ziul reúne inéditas com composições do primogênito The MZ Trio: First Takes (2008). “Too Late” é uma excelente música, tal como “Hurt”, executada pela Rádio Transamérica SP. “Ain’t the Same” e “Confined” também são muito boas, expondo a habilidade de arranjador do músico.
Portanto, In a Minute não supera o álbum anterior, fruto de anos de trabalho. Mas põe Ziul numa rota promissora, com show sustentado principalmente por músicas autorais relevantes. Foi assim o primeiro bloco de sua recente apresentação no Delta Blues Bar. Também teve poucos, mas inspirados covers: “Isn’t she lovely”, de Stevie Wonder; “Couldn’t Stand the Weather”, de Stevie Ray Vaughan e “Purple Rain”, do Prince, estavam entre eles. Uma puta apresentação.
No palco, aliás, Ziul não muda. Continua se apresentando de olhos fechados na maior parte do tempo, mas se movimentando muito e fazendo caretas em meio a bends e solos.
Mantém uma simplicidade engraçada que o faz entoar “eu gosto de Jimi Hendrix” depois de uma versão arrebatadora de “Purple Haze”. De vez em quando, faz até um scat singing. Principalmente depois de In a Minute, vale a pena ver Marcel Ziul.
O guitarrista JB Brubaker é quem começa a música “Vital Signs”. O riff é melódico e bem elaborado, executado apenas uma vez antes da entrada violenta do resto da banda. Quando isso acontece, o público geralmente explode em êxtase, a “roda punk” começa e ninguém fica parado. Se há algo diferente nesse ritual tão comum durante os shows da banda norte-americana August Burns Red é que JB Brubaker é, provavelmente, a única pessoa trajando chinelos no local.
Se houver mais alguém com os “flip-flops”, como são chamados os modelos popularizados no Brasil pela marca “Havaianas” devido ao barulho que fazem durante o caminhar, esta pessoa deve ser o outro guitarrista, Brent Rambler, que faz as bases e acompanha os padrões de baixo e bateria. O fato de não usarem coturnos, tênis ou sapatos aparenta ser o ápice da história de uma banda diferente no cenário do heavy metal internacional.
De chinelos, JB e Brent fundaram a banda em março de 2003, em Manheim, Pennsylvania. Trata-se de um vilarejo com pouco mais de 4,5 mil habitantes localizado no condado de Lancaster, um local de arraigadas tradições cristãs. É o condado que, no começo do Século XVIII, imigrantes de origem germânica escolheram para estabelecer a comunidade Amish, de cunho extremamente conservador e que fugiu da Europa para escapar de perseguição religiosa.
Apesar de causar inúmeros “devil horns”, August Burns Red já se torna diferente por ser uma banda de integrantes cristãos, o que não quer dizer necessariamente que a temática seja religiosa. “O Cristianismo é uma religião, não um estilo musical”, esclareceu JB Brubaker em entrevista à revista online Shout!. Assim, tem escapado da alcunha que tanto pesou para bandas como Creed e P.O.D., embora tal temática seja recorrente nas letras.
Além de falar sobre batalhas pessoais, superação e relações humanas, os integrantes se vestem de maneira comportada e, até certo ponto, diferente para uma banda de trash metal. Os guitarristas e o baixista Dustin Davidson normalmente tocam de bermudão, camisa polo ou camisetas sem estampa e… chinelos. O vocalista Jake Luhrs é o único que se arrisca a cultivar uma grande barba, com visual um pouco mais parecido com o estereótipo do headbanger.
Para completar a lista de curiosidades da banda que faz trash metal, mas se veste de forme indie e tem Jesus no coração está a origem do nome. August é uma ex-namorada de Jon Hershey, membro fundador e primeiro vocalista. Seu relacionamento conturbado acabou de forma repentina e August, em fúria, foi até a casa do ex, prendeu seu cachorro na casinha e ateou fogo. O cão da raça Setter Irlandês, de pelagem avermelhada, morreu queimado. A manchete no jornal local foi “August Burns Red”.