Uma crítica rude sobre Rude, do Magic!

A revista americana Time elegeu Rude, do Magic!, a pior música de 2014, então eu já sei que não estou sozinho nessa. Rude é o grande sucesso dessa banda canadense de reggae – o que, por si só, já é algo diferente de se ver. Está no primeiro álbum, Don’t Kill The Magic (2014) e fez um sucesso absurdo no mundo todo – foi número 1 do ranking da Billboard nos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil, por exemplo. Basta ouvi-la uma vez e pronto: já dá pra sair cantando. O problema é o que é cantado.

É uma questão de postura. Na música, o sujeito levanta cedo num sábado, veste seu melhor terno e sai de carro a toda pra ir à casa da namorada conversar com o pai dela, um sujeito conservador. Ele bate na porta “com o coração nas mãos” e pede: “posso ter sua filha pelo resto da minha vida? Diga sim, diga sim, eu preciso saber”.  A resposta é desagradável: “você nunca vai ter minha benção enquanto eu viver. Só lamento, meu amigo, mas a resposta é não”. Aí vem o ponto crucial. Como reagir?

O refrão de Rude é um choramingo dizendo: “por que você tem que ser tão rude? Você não sabe que eu sou humano também?”. E ele ainda complementa, como quem dá de ombros: “vou casar com ela mesmo assim”. Fica no ar uma sensação de “eu nem queria sua aprovação mesmo”.

O protagonista tinha várias estratégias a seguir, desde a diplomática (tentar convencê-lo, provar-se uma cara responsável, atencioso ou o que for necessário) até a mais radical (confrontar o sogro pra valer, fazer ameaças). Ele escolhe a mais frouxa de todas: faz birra na porta da casa da namorada. Estamos sendo rudes demais nessa crítica?

Talvez fique essa impressão porque Rude é, na verdade, uma adaptação: a versão original foi feita pelo vocalista Nasri para uma ex-namorada, com quem tinha uma relação conturbada. O verso “por que você tem que ser tão rude” é na verdade pra ela. “Ela era rude, eu era rude. Nós estávamos em um momento rude”, esclareceu, em entrevista a uma rádio canadense. “Foi assim durante todo o relacionamento. Isso foi o que nos manteve juntos e o que acabou nos separando”, complementou.

Eventualmente, a banda decidiu trocar a letra, e aí apareceu essa história de pedido de permissão para casamento. Não é algo baseado em fatos reais – aliás, Nasri não casou com essa tal garota e também não namora ela agora. O curioso é que Rude gerou uma série de paródias. Por partes:

1. O pai super protetor.
Nessa versão, feita pelo pai da garota em questão, a pergunta é feita é: “você diz que ter minha filha pelo resto da sua vida, bem você vai ter que fazer mais do que hambúrgueres e fritas pra isso. Saia do porão da sua mãe e faça alguma coisa”. No refrão: “por que você me chama de rude? Por fazer algo que qualquer pai faria?”. E ainda com ameaças: “(se você) casar com essa garota, vou socar sua face”.

2. A filha feminista
Ah, a versão da filha: ela na verdade se surpreende por ver o pai e namorado brigando pra saber quem vai ficar com ela. E quem disse que ela quer? O refrão mostra isso: “vocês dois estão sendo brutos, vocês sabem que eu sou uma pessoa também. Agindo como pessoas controladoras, ninguém perguntou minha opinião”. Tomem essa os dois.

3. A mãe conservadora e religiosa
Essa é a versão mais bizarra. A mãe na verdade é uma religiosa fervorosa que avisa ao namorado: você não é o cara certo pra minha filha porque não aceitou Jesus ainda. O refrão termina com “antes de casar você precisa rezar”. E depois ainda vem: “casar com a minha filha? Ela precisa de um homem de Deus”.

O álbum de estreia do Magic! é repletos de músicas nesse formato de Rude: uma espécie de pop-reggae extremamente moderno, pra cima. A maior parte das canções fala sobre relacionamentos. E nenhuma é Rude.

Vital e Sua Moto, a origem

Morreu ontem, terça-feira (3 de março), Vital Dias, primeiro baterista dos Paralamas do Sucesso e inspiração do primeiro sucesso da banda, Vital e Sua Moto. A notícia triste foi confirmada pelo site da banda – aos 55 anos, ele, que morava no Rio de Janeiro, não resistiu a um câncer. Vital foi um dos grandes personagens do rock brasileiro nos anos 80, uma época frutífera que “coincidiu” com a primeira edição do Rock in Rio, onde eles executaram a música, como o vídeo acima mostra.

Vital Dias, ex-baterista

Vital Dias, ex-baterista

Até onde se sabe, Vital era mesmo apaixonado por motocicletas. Mas já não estava na banda quando ela foi lançada. Vital formou trio com o baixista Bi Ribeiro e o guitarrista Herbert Vianna em 1977, mas se separaram em 1979, ano em que prestaram vestibular. Em 1981, se reuniram de novo, já universitários. No ano seguinte, Vital simplesmente faltou a uma apresentação na Universidade Rural do Rio e acabou substituído às pressas por João Baroni, que está aí até hoje. E foi isso.

Vital foi muito mais relevante como personagem do que como músico, o que não significa que não tenha sido bom – pouco se sabe sobre o desempenho dele, aliás. A música Vital e Sua Moto integrou uma fita demo, com outras três canções, que foi parar na programação da Fluminense FM, e a partir daí ganhou o Brasil. Em 1983, a banda assinou com a EMI e lançou o primeiro disco, Cinema Mudo – que não deixou o trio muito satisfeito, na verdade.

Vital e Sua Moto abre o disco de estúdio com uma versão que não agradou a banda, principalmente pela inclusão do grupo vocal Golden Boys no refrão. Com isso, em setembro de 2013 – talvez pelo aniversário de 30 anos do lançamento da demo -, os Paralamas fizeram até uma campanha pra encontrar a fita original. Não se sabe do resultado.

Como integrante da família Vital, posso dizer que conheço essa música há muito tempo – as pessoas sempre me perguntam se eu vou aos lugares de moto, se eu me sinto total e quando os Paralamas do Sucesso vão tentar tocar na capital. Nem carta de moto eu tenho. Mas o que elas não sabem é que Vital não era o sobrenome do ex-baterista: era primeiro nome mesmo. Vital José de Assis Dias. Que descanse em paz.

Cool covers: I Want Altitude

Essa garota no vídeo acima é a Andie. Ela tem 17 anos, está no último ano do ensino médio e tem 133 mil inscritos em seu canal do Youtube, com mais de 12 milhões de visualizações. Australiana – mora perto de Sydney -, ela é dona também de uma maturidade musical e senso de harmonia incríveis, além de uma voz ímpar. Está tudo aí, no cover de Sweet Dreams, da Beyoncé. Seu nickname na rede é I Want Altitude.

Andie começou a fazer aula de piano aos seis anos, estudou por cinco anos até passar a tocar violão. Também toca guitarra e ukelele, e canta desde quando consegue se lembrar. Começou a chamar a atenção com seus vídeos aos 15 anos, e desde então mantém essa rotina de desconstruir a estrutura das músicas, modificá-las, adapta-las à sua voz. É fã de Mumford & Sons e Ed Sheeran. Passa longe de Katy Perry e Justin Bieber.

Apesar do talento inegável, Andie não capitalizou toda essa exposição – ou pelo menos alega isso. É totalmente independente e não faz mais do que apresentações esporádicas perto de onde mora, além de encontros com fãs em parques. Usa o Twitter e o Instagram constantemente, mas com foco mais pessoal. Sua fanpage no Facebook, um dos principais canais de divulgação, está abandonada desde dezembro.

A situação é tão amadora que, como não tem ganhos com o que faz, ela abriu um projeto de crowdfunding para financiar a compra de microfones e câmera de melhor qualidade pra fazer seus vídeos. As recompensas são hilárias: $200 rendem uma espécie de entrevista com ela, $300 rendem um vídeo mostrando um pouco de sua vida e, com $400, ela promete gravar uma música pendurada de ponta-cabeça na barra do parque, na cidade onde mora. Até agora, conseguiu $108, com 29 doadores.

Andie faz cool covers do jeito que a gente gosta: na raça, ao vivo, bem executados e criativos. Vale a pena conferir. Abaixo, outro que chamou a atenção, algo mais regional: Don’t Dream It’s Over, sucesso dos anos 80 com a banda australiana Crowded House, mas composta pelo neo-zelandês Neil Finn (esse vídeo com a imagem invertida, aliás, ela é destra, não canhota).

NTR Convida #56 – The Fingerprints

Os nossos convidados de hoje são os integrantes da banda The Fingerprints, de Santo André. A banda foi formada em maio de 2014 por May Dantas (vocal e guitarra), Felipe Gasnier (guitarra), Tales Lobo (baixo) e Daniel Cardoso (bateria). Eles tocam punk rock rápido, distorcido e sujo, com muita influência de grunge também. A própria banda define seu som como “guitarras bem sujas, vocal feminino rasgado e uma forte presença e energia no palco”.

Os integrantes se conhecem há anos e sempre tocaram juntos de brincadeira, até decidirem levar a sério, investir em músicas autorais e shows.

O nome da banda é inspirado em silk-screen, uma técnica artesanal de estampar camisetas. Em 2007, May, Tales e Daniel moraram no Canadá e trabalharam em uma estamparia. Algumas camisetas saíam manchadas com as digitais (fingerprints).

Os Fingerprints vem fazendo muitos shows e tocando músicas autorais. Eles já passaram por casas de show tradicionais de São Paulo, como o Hangar 110, casa de muitas bandas punk e alternativas; e o clássico Café Aurora, no Bixiga.

Eles têm bons vídeos tocando músicas próprias ao vivo no Aleluia Fest, em outubro do ano passado:

                 Obsession – a música que eles mais gostam, que deve ganhar um clipe em breve

 

                                                                                      Drama King

 

Confira a playlist e a entrevista dos Fingerprints para o Não Toco Raul:

 

PLAYLIST
Clique no vídeo no topo do post para ouvir as músicas na sequência)

“As músicas escolhidas são aquelas que estávamos com bastante vontade de tocar nos shows. Não sabemos ainda se iremos tocá-las, mas se anunciarmos um cover no show provavelmente será uma dessas. São músicas que nós quatro gostamos e que de certo modo influenciam no nosso som”, explicou Felipe.

1) The Pixies – Hey

2) Descendents – Suburban Home

3) L7 – Wargasm

 

ENTREVISTA

1) Ainda tem espaço pro punk rock no Brasil? Vocês sentem que tem onde tocar, que tem público?
Felipe: Espaço tem. E, se não tem, “faça você mesmo”! Tocando na rua, estacionamento, casa de amigos…o problema, ao meu ver, e que gerou uma extinção de bandas punks, foram os incentivos. São poucos que consomem, são poucos que não estão na lista VIP, que compram CDs e merch… Sabe, no Brasil ninguém foi educado a colaborar com arte, não importa se é música, quadros, zines, a galera não apoia e isso desmotiva geral. Não estou falando só de grana, não é essa a questão, mas para a engrenagem rodar é preciso algum tipo de estimulo. Às vezes os aplauso ou um papo pós showjá são motivo para o artista querer se superar na próxima apresentação. É assim que a arte funciona! Agora, se a banda XYZ do EUA vem tocar no Brasil com ingressos absurdamente caros, surgem roqueiros de todos os cantos para babar ovo. Vai entender…

2) Vocês já gravaram algumas músicas, certo? Dá pra ouvir na internet?
May: A banda tem relativamente pouco tempo de vida. Lançado mesmo a gente só tem um álbum ao vivo que rolou no Aleluia Fest, em outubro do ano passado. Dá pra ouvir na internet sim, no nosso Bandcamp. Também temos uns videos bem legais desse show, com a qualidade de áudio muito boa, no nosso canal do YouTube. A gente tá trabalhando no nosso primeiro EP, que vai contar com 5 músicas. Queremos lançar agora em março.

3) Quais são suas influências e inspirações pra fazer música?
May: Tem uma banda Americana que chama “Crime in Stereo” e, em uma de suas músicas, o vocalista diz: “Without a broken heart, we’ve got nothing to sing about” (“sem um coração partido, não teremos sobre o que cantar”). Eu mesma que escrevo as letras, sobre situações (ou frustrações) cotidianas, por isso algumas delas são bem pesadas, algumas até meio profundamente melancólicas. Quando lançarmos o EP, iremos também divulgar as letras. Depois que a letra é feita, a base e toda a harmonia da música é trabalhada pela banda inteira junta, dando assim um peso e uma certa agressividade num todo.

4) May, você já sofreu com machismo por ser musicista? Já rolou alguma situação em show?
May: Existe machismo sim, um tipo de interesse escroto. Pode ser alguma admiração estranha por ser uma mina na banda, mas eu quero mais é que se foda! Não vou deixar isso me limitar, por mais que encha o saco pra caralho. Acham que ser mulher é ser o sexo frágil; e quero muito poder provar o contrário. Quando eu falo para as pessoas que eu tenho banda, toco punk rock e tal, todo mundo tenta imaginar algo o mais doce possível – e eu adoro a cara de espanto de cada um quando já no primeiro acorde sai aquela sujeira podre, com um puta vocal rasgado.

5) Vocês têm vários shows marcados, estão tocando bastante. Quais são as aspirações da banda?
May: Como eu falei antes, agora a gente tá focando no nosso EP, que queremos lançar em março. Com ele lançado, vamos começar a gravar o clipe do nosso som favorito, chamado Obsession. E nesse meio tempo (claro, sempre tentando descolar mais e mais shows), de repente tocar em outros estados seria bem legal! Fazer contatos com selos, aquela correria pela qual toda banda independente acaba passando. Tocamos no Hangar no ano passsado e foi um puta show sensacional, acho que pra toda banda independente de São Paulo tocar lá é sempre uma honra. Queremos tocar de novo, obviamente, quem sabe seria até legal fazer um show de lançamento por lá ao lado de alguma outra banda consagrada pela casa. Ah, sim, vale constar que queremos ficar ultra famosos, com aquela mega pose de roqueiros doidões, pra depois (essa alias é toda a intenção da banda) nos voltarmos à igreja universal e mostrar pra todo mundo que reabilitação e servir a nosso senhor é possível sim, só necessita da ajuda de um bom, poderoso e todo bondoso pastor.

6) Aproveitem o espaço pra divulgar o que vocês quiserem!
Felipe: Monte uma banda, pinte quadro, escreva zines, abra seu próprio negócio! Faça você mesmo! Quem manda em você é SOMENTE você.
May: VEJAM NOSSO VÍDEO NOVO! E vão nos shows, tá da hora e sem escrúpulos.

 

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Dead Fish em 912 passos

O Dead Fish liberou na última quarta-feira, para streaming, o novo disco intitulado Vitória, produzido após campanha de crowdfunding – a qual eu também participei e ainda não recebi nada (cadê essa porra?). São 14 faixas muito bem encaixadas que os fãs mais antigos terão de ouvir algumas vezes para absorver o estilo de Rick Mastria, guitarrista do Sugar Kane que substituiu Phil. A pegada continua pesada, rápida. Antes, no começo de fevereiro, a banda já havia divulgado um single, 912 passos. Mas que passos?

A numeração no título não foi esclarecida pelos membros da banda, então podemos especular.

O personagem da música vive uma situação conflituosa com o mundo em que vive e as pessoas que nele habitam. “Vejo fatos da vida real tão distantes que mal chegam a me afetar”, diz já o último refrão. Sem saber como lidar com isso, ele tenta encontrar uma forma de compreender tudo, e isso ele faz contando os passos pra ser racional. Por tentativa e erro, zera a contagem cada vez que percebe que não chegou a lugar algum.

Então, 912 é o número mágico de passos necessários? Talvez.

O Dead Fish registrou essa música pela primeira vez ainda em agosto de 2014, em show no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Na ocasião, o vocalista Rodrigo Lima anunciou: “por ora, essa música se chama Hit Veraneio ou 678 Passos ou algo assim. Vamos ver se muda”. Mudou: aumentou 234 passos. O caminho pra ser racional é mesmo longo.

Pela letra, não dá pra saber exatamente que caminho é esse. Mas há um trecho curioso: entre berros, Rodrigo descreve um caminho feito pelo centro de São Paulo.

Nestor Pestana, cruzo a consolação.
Desço a Rua Araújo, olho pro chão.
Ignoro o Copan. Estação República.
A multidão ninguém é humano, mas vai ficar tudo bem!

NESTORPESTANA

Esse caminho, segundo o Google Maps, é curto, tem 800 m – estou considerando a entrada na Estação República pela Rua do Arouche, já que ele pega a Rua Araújo, enquanto que a entrada do metrô na Praça da República fica na Avenida Ipiranga. Para fazer o trajeto, os passos teriam que ter 0,87 m, o que não é um absurdo, mas também não é comum. Obviamente, não fica claro em que ponto da Nestor Pestana ele sai, o que pode reduzir consideravelmente o trajeto. De qualquer maneira, se adotarmos a medida passo simples – unidade utilizada no Império Romano e que equivale a 0,74 m -, os 800 m citados na música seriam feitos em 1081 passos.

É possível que esse trajeto seja feito em 912 passos? Claro. Com pressa, talvez correndo, qualquer um conseguiria. Que tipo de pessoa cruzaria a Consolação e entraria na Rua Araújo ignorando o Copan, majestoso prédio projetada por Oscar Niemeyer? Alguém apressado.

Pena que essa busca provavelmente deu em nada. Na Estação República, na multidão ninguém foi humano.

Atualização: acertamos!

Sim, o Não Toco Raul acertou: os 912 passos correspondem ao caminho da Rua Nestor Pestana ao Metrô República. É o caminho que Rodrigo fazia para ir trabalhar. Ele explicou tudo no vídeo do Dead Fish no Rock Togheter, que saiu nessa segunda (2 de março).

“Eu lembro que era um momento da minha em que, pela segunda vez na minha vida, eu estava vivendo sozinho em São Paulo. Eu gosto de viver sozinho, não tenho problema em estar sozinho, mas eu vivia sozinho, eu tinha um emprego, eu tinha uma banda, e eu não tinha perspectiva nenhuma de algo melhor acontecer, a não ser aquilo ali. A não ser ir pro trabalho e voltar do trabalho. Num dado dia, pra não pensar besteira, pra não pensar merda, eu comecei a contar todos os passos até a catraca do metrô. Eu acho que eu fiz isso 30, 40 vezes indo pro trabalho”, disse.

“Normalmente, eu fazia isso e dava um número completamente diferente: quando eu estava com pressa era 912, quando estava devagar dava mais, e etc. Aí eu comecei a pensar que, na vida, nada tem um numero correto. A vida não é um somatório de 2 + 2 que vai dar 4. A gente não pode botar a vida num gráfico. Não pode ser cartersiano: velocidade, tempo e fazer um gráfico. A vida não pode e não deve ser assim. E aí, num dado momento, eu parei de contar. Falei: “ah, é isso que está acontecendo comigo mesmo””, completou.

NTR Convida #55 – Tess Parks

Nossa convidada de hoje é a cantora, guitarrista e compositora canadense Tess Parks. Ela tem apenas 24 anos, mas já gravou um álbum e dois EPs, participou de uma coletânea brasileira em homenagem ao Oasis, fez shows em vários países e parcerias com Alan Mcgee – músico inglês que descobriu o Oasis e empresariou bandas como Primal Scream, My Bloody Valentine, Teenage Fanclub e Libertines – e Anton Newcombe, líder do Brian Jonestown Massacre, com quem gravou em Berlim no final de 2014. Na semana que vem, ela vai abrir um show da lendária banda The Jesus And Mary Chain em Birmingham, na Inglaterra. Nada mal, hein?

Tess nasceu em Toronto, começou a tocar piano com apenas 6 anos e, aos 17, foi morar em Londres com o intuito de desenvolver sua carreira na música e na fotografia. Ela tem um estilo bastante particular, que é quase um “dark folk”. São canções mais arrastadas, cheias de sentimento, falsamente calmas. Muita gente compara Tess a Patti Smith. Ela mesma cita como influências Oasis (sua banda preferida), a própria Brian Jonestown Massacre, Spacemen 3, Jesus & Mary Chain, Bob Dylan, Nirvana, Beatles, Rolling Stones. Tess tem uma pegada forte de blues e uma voz muito rouca e grave. As músicas são hipnotizantes e viajandonas. Foi no centro da capital inglesa que eu a conheci, no ano passado. Ela tocou sozinha acompanhada apenas por sua guitarra e, depois do show, montou uma banquinha para vender CDs e fotos em preto e branco de sua autoria. Se no palco Tess tem uma postura mais sombria e introspectiva, fora dele ela é a simpatia em pessoa, falante, alegre e animada.

Vale a pena conhecer seu disco de estreia, que se chama “Blood Hot” e foi lançado em novembro de 2013. Desse disco, Tess lançou um videoclipe bem bacana, para a canção “Somedays”:

Também vale conferir a coletânea brasileira “Live Forever”, feita em 2014 para homenagear os 20 anos do disco de estreia do Oasis – “Definitely Maybe”. Além de Tess, participam 16 artistas, incluindo Chuck Hipolitho, Cachorro Grande, Single Parents e Veronica Kills.

Tess escolheu uma playlist que é a cara dela e também deu uma entrevista especial para o NTR:

 

PLAYLIST
Clique no vídeo no topo do post para assistir na sequência as músicas de 1 a 4. Clique em cima da música 5 para ouvi-la.

1) Skullgroover – Black Market Karma
Uma das minhas bandas preferidas! Nós fizemos uma turnê juntos no ano passado e a parceria meio que foi continuando…provavelmente vai ser uma turnê infinita. Essa música deles é basicamente uma das minhas canções preferidas de todos os tempos.

2) The Holy Mountain – The Auras
Uma das minhas bandas preferidas de Toronto, de um ótimo selo local chamado Optical Sounds.

3) Sky Sounds – Magic Castles
Acho que estes caras são meus novos colegas de selo! Eu amo essa música, é muito bonita. Soa nostálgica.
Tess faz parte do selo 359, de Alan McGee.

4) Lucid Dreams – The Underground Youth
Banda incrível de Manchester. Eu já amava os caras desde que morava em Toronto e acabei ficando amiga dos integrantes Craig e Olya Dyer. Eles são tão talentosos e fazem uma música tão incrível. Tive a honra de tocar com eles em agosto de 2014.

5) Octo City – Velvet Morning
Me apaixonei por essa banda quando vi eles tocarem ao vivo. Nunca tinha ouvido falar deles antes. Eles são incríveis! Eles fazem música trance hipnótica como ninguém. Estou obcecada com isso.

 

ENTREVISTA

1) Você é de Toronto, mas morou em Londres por um bom tempo. Você acha que a cidade inspira sua música?
Há pouco tempo me mudei de volta de Toronto para a Inglaterra. Hoje, moro em Dartford (cidade vizinha de Londres) com meu lindo namorado. Todo lugar que eu vou me inspira e “desinspira”, na verdade. Eu gosto de me movimentar e de viajar o máximo possível para me manter sempre inspirada.

2) Você tem um álbum e dois EPs gravados. Fale um pouco mais sobre estes trabalhos.
As primeiras gravações que eu fiz foram no meu quarto, usando o Garage Band (programa de computador), sem microfone – direto no computador, mesmo.  Existem umas 300 ou 400 gravações dessas, mas decidi lançar apenas algumas delas no Bandcamp no começo de 2013 porque nunca tinha compartilhado propriamente nenhuma delas. Pelo menos não desde os tempos do Myspace, de qualquer forma. Aí eu gravei com alguns amigos em um loft onde costumávamos ensaiar e fazer jams – e acabou ficando uma coleção de gravações bem bonita, sonhadora. Eu gosto muito da sensação dessas gravações. Aí eu fui convidada para fazer um disco que seria lançado no novo selo do Alan McGee, o “359 music”, então gravei meu disco “Blood Hot” com meus melhores amigos, no porão do Thomas.  Foi um processo muito tranquilo, com muitas risadas. Sou muito grata por ter tanta gente maravilhosa na minha vida que topa tocar comigo.

3) Eu vi um show seu em Londres em que você tocava sozinha, apenas com uma guitarra. Você sempre se apresenta assim?
Normalmente eu toco acompanhada por uma banda. Mas no meio do ano passado comecei uma turnê tocando sozinha. Definitivamente, é uma vibe diferente. Eu prefiro tocar com uma banda.

4) Sua voz cantando é muito diferente da sua voz quando você conversa. Isso me impressionou quando te conheci. As pessoas costumam reparar nisso?
(Risos) Ah, sim, todo mundo repara. Acho que minha voz cantando vem de um lugar de dor. Vem bem do fundo do meu coração, visceral…eu não sei. Eu gosto de cantar. Mas não sei de onde vem essa voz. .

5) Você participou de uma coletânea brasileira em tributo ao Oasis. O que isso significou pra você?
O OASIS É A MELHOR BANDA DO MUNDO. MINHA MAIOR INFLUÊNCIA DE TODOS OS TEMPOS. Foi uma grande honra fazer parte dessa coletânea e todas as bandas fizeram um trabalho incrível com os covers.

6)  Você gostaria de tocar no Brasil?
LÓGICO QUE SIM! Eu quero tocar em todos os lugares.

7) Você acha que a indústria musical é machista?
Acredito absolutamente que existe sim machismo nela. E a música mainstream intimida e sexualiza as mulheres, é claro. Mas pessoalmente eu não tive uma experiência com isso.

8)  Como foi graver o clipe de “Somedays”? Achei muito bem produzido!
Obrigada! Este video foi feito pelos meus amigos Mark Cira e Brittany Lucas em North Ontario, na linda e antiga casa de campo dos avós do Mark. O video teve muitos feedbacks positivos e sou muito grata a eles por terem me ajudado a fazer um grande clipe.

9) No que você está trabalhando no momento? Ouvi dizer que você gravou com o Brian Jonestown Massacre (BJM)?
Tenho feito muitos shows pela Europa. Tenho um disco que vai ser lançado em abril, que gravei com o Anton da BJM, sim. Estou super empolgada, não vejo a hora! Acho que é uma obra prima.

10)  Você vai abrir o show do Jesus and Mary Chain! O que acha de tocar com eles?
Vai ser uma honra! Estou super animada! Eu amo essa banda há muito tempo.

11)  Você fotografa. É um hobby? Ou você também trabalha como fotógrafa?
Já fiz fotografia profissional e já tive minhas obras expostas. Definitivamente começou como um hobby, mas tento aproveitar toda oportunidade que tenho de publicar ou mostrar esse trabalho, ou de fotografar uma banda ou qualquer outra coisa.

12) Você sempre foi uma artista solo?
Sempre toquei sozinha e escrevi minhas músicas, mas era tímida demais para fazer show. Montei uma banda com minha melhor amiga, Annie, no Ensino Médio. Não durou muito, mas a gente fez umas músicas  legais e ela me encorajou a me apresentar. Sempre serei grata a ela por isso. Aí eu toquei e me apresentei sozinha quando morei em Londres, durante quatro anos. Quando voltei pra Toronto, montei uma banda. Eu tinha 21 anos. Sempre quis montar uma banda enquanto morava em Londres, mas na época não tinha conhecido as pessoas certas. Quando eu voltei pra Toronto, juntei alguns dos meus melhores amigos para tocar comigo. Gosto de tocar e colaborar com o maior número de pessoas possível.

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NTR Convida #54 – Dryca Ryzzo

Hoje o NTR tem a honra de receber a maravilhosa Dryca Ryzzo, cantora e compositora paulistana que começou a cantar em bandas de reggae e logo passou a se apresentar com grupos de hip-hop como backing vocal, tendo cantado com grandes nomes do gênero, como Mano Brown, Negra Li e Conexão do Morro; e tendo sido integrante do Rosana Bronks – grupo onde teve mais destaque e um clipe incrível para a música “Frenesi” – assista aqui.

Em 2012, Dryca lançou seu primeiro trabalho solo: um disco homônimo muito dançante que manteve referências ao hip-hop, mas que tem uma pegada forte de R&B e muito suingue. “Dryca Ryzzo”foi produzido por Dehco Wanlu (Jigaboo) e masterizado no estúdio Sterling Sound, em Nova Iorque, por Jay Franco. Além da gravação finíssima, a arte do CD é muito bacana – imitando uma vitrola e cheia de fotos lindas.

Do seu primeiro disco, Dryca tem dois clipes muito bem produzidos: “Não Me Diga Bye Bye”, com participação especial do rapper Rinea BV; e “Flerte”, que é simplesmente lindo e mostra a história da música e da arte pelas últimas décadas. A direção de arte e figurino dos dois vídeos foi feita por Ligia Morris, estilista americana que já trabalhou com estrelas como Lady Gaga.

Atualmente, Dryca tem feito muitos shows e está terminando seu segundo disco – que ainda não tem nome divulgado. Ela falou com o Não Toco Raul sobre o novo trabalho e nos indicou uma playlist bacana para agitar o feriado. “Selecionei músicas que curto e que ando ouvindo. Pena que são apenas cinco. Vou lembrar de mais 500 depois, mas espero que curtam!”, disse ela. Confira!

PLAYLIST
Clique no vídeo no topo do post para assistir.

1) Aloe Blacc – Soldiers In The City
“Adoro o disco todo dele – aliás, tudo o que ele faz! Sou fã e escolhi essa música pois, apesar de muitos citarem esse som como plágio de Tim Maia em ‘O Caminho do Bem’, acredito que foi uma homenagem. Ele conseguiu fazer uma versão muito boa.”

2) Beyoncé – Flawless
“O disco novo dela está incrível! Gosto de todas!”

3) Isley Brothers – Don’t Say Goodnight
“Música pra namorar (risos).”

4) “Bob Marley – Turn YourLights Down Low
“Música linda, a versão com a Lauryn hill é demais!”

5) Sabotage – Todas
“Qualquer som! Visionário e autêntico, à frente de seu tempo.”

dryca

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ENTREVISTA

1) Seu primeiro disco é R&B e dançante, bem de pista. Mas o disco novo é voltado para uma coisa mais roots e orgânica, com influências de reggae. E você começou cantando em bandas de reggae, certo? Fale um pouco sobre as influências desse novo trabalho.
Quando comecei o disco pensei muito sobre qual caminho seguir. Poderia seguir um caminho dançante, mais pop, mais conceito, mas no fim resolvi seguir meu coração. Foi realmente um resgate do que sempre escutei e sempre me influenciou. Componho muito mais neste disco, as letras que não são minhas eu mudei algumas frases e refrões. Podemos dizer que esse novo disco é realmente um reflexo do que estou vivendo hoje, uma evolução também, pois mudei muito nesses três anos que se passaram desde o meu primeiro lançamento e fiz questão de transmitir isso no disco, de colocar minhas vivências, romances, reflexões. Não teria sentido pra mim lançar algo parecido com que eu já fiz. Mas mantenho a essência do disco anterior, no conceito de misturar ritmos para fazer algo com a minha cara, sem segmentar; e fazer chegar a um resultado novo meio que na contramão.

2) Como vai se chamar o disco novo? Quantas faixas terá? Quando vai ser lançado?
Ainda não escolhi o nome e ainda não fechei as faixas, comecei querendo de 5 a 6 musicas, mas já tenho 9 prontas. Estou decidindo como vou lançar, se uma parte ou todas, acredito que sai em breve. Falta só uma música para por voz e não vejo a hora! Só posso dizer por enquanto que o lançamento será em breve, ainda nesse semestre.

3) Todas as músicas foram escritas por você? Quem produziu? O que podemos destacar desse novo trabalho?
De 9 músicas meu parceiro de longa data Rinea BV escreveu 2 e outras 2 fizemos juntos. O produtor do disco, Rick Dub, realmente foi a cereja do bolo pois eu estou amando esse trabalho. Esse novo trabalho eu posso dizer que é diferente, meio que biográfico, na verdade não quero dizer muito, prefiro que quando sair vocês me falem o que acharam e suas impressões. Só posso dizer que usamos muita alma e amor.

4) Tem alguma participação especial no disco novo?
Sim! Fiquei muito contente de poder contar com pessoas talentosas para somar neste trabalho. Já temos gravadas três participações especiais – entre elas Dom Franco, Sistah Mo Respect e Fernandinho Beat Box. Talvez role mais uma participação, mas por enquanto não posso divulgar pois não está fechado.

5) Você vai fazer show em Portugal. Como surgiu essa oportunidade e o que você espera da viagem?
Essa oportunidade surgiu da minha parceria musical com o Fernandinho Beat Box. Faremos um show juntos lá. Além de cantar as músicas novas, cantamos juntos eu e ele improvisando com músicas conhecidas brasileiras e internacionais. Estou muito feliz, quando começamos a cantar não temos dimensão de onde a música pode nos levar; e saber que vão ouvir meu som em outro país é incrível! O show será em abril e não vejo a hora!

6) Fala um pouco do seu passado, você cantou com vários artistas importantes do rap. Quais parcerias mais marcaram sua carreira? Nos últimos anos você participou de shows do Dexter e do Marcelo D2 e já fez parte do Rosana Bronks.
Ah, teve várias pessoas que marcaram pra mim, pois a maioria deles eu era fã, escutava em casa enquanto sonhava com os palcos. Sou muito honrada e grata a todos por me darem oportunidade. Cantar no mesmo palco que Mano Brown pra mim foi um grande aprendizado, toda a familia Racionais, Rosana Bronks, Conexão do Morro me ensinaram muito, como me portar, como encarar um público grande etc. O show que fiz com o Dexter no SESC Belenzinho também marcou. Conhecer e poder cantar com o Fernandinho Beat Box me abriu muito a mente também, sobre como ter seu próprio estilo mas ser ousado em transitar por outros sem se descaracterizar, ser versátil, ele faz isso muito bem, consegue colocar o estilo dele somando com artistas de estilo distintos, de Marisa Monte a Badhi Assadi.

7) Você vai retomar a parceria com a Ligia Morris? Como é trabalhar com ela?
Sim, vou! Sou uma grande admiradora do trabalho dela e gosto que a arte esteja em tudo o que faço, tanto pra se ouvir quanto pra se ver. Amo fazer clipes, se pudesse faria um de cada som. Ela é muito talentosa e temos muita sintonia quando trabalhamos juntas. É uma grande honra poder trabalhar com ela.

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Agenda:
06/03 – São Paulo – Fábrica de Cultura (Capão Redondo)
17/04 – Portugal
28/05 – São Paulo

O que fazer quando sua banda favorita muda

Fomos surpreendidos, na última semana, com o anúncio da saída de Tom DeLonge do Blink 182. Mais interessado em outros assuntos – provavelmente o aplicativo Flo Share, lançado por ele recentemente; e a sua banda paralela Angels & Airwaves -, ele anunciou que não deseja fazer parte dos projetos futuros ao lado de Mark Hoppus e Travis Barker. O Blink mudou de vez, se é que isso já não havia ocorrido. O que fazer?

Para quem é fã de verdade, é sempre complicado ver sua banda sair daquele caminho que, em algum momento, te chamou a atenção e te conquistou. Obviamente que, de forma efetiva, você não pode fazer nada. Não acho que Tom DeLonge gostaria de te ver tocando a campainha da casa dele para uma conversa, também não aceitaria passar por uma intervenção e não seria influenciado por qualquer campanha dos fãs. Provavelmente. A pergunta certa aqui é: como lidar?

Esse texto não fala especificamente sobre o Blink 182 ou sobre o fim das bandas – o Blink provavelmente não acabará, vai até fazer um show em que DeLonge será substituído por Matt Skiba, do Alkaline Trio. Mas, além do término de bandas – ou “hiato por tempo indefinido” – troca de integrantes ou mesmo novos álbuns podem criar questões como essas. Sua banda favorita – de alguma forma – mudou. E agora?

O Não Toco Raul tem algumas sugestões.

1. Nostalgia

Ah, que sentimento maravilhoso. Melancolia e profunda tristeza travestidos de sorrisos breves diante de tantas lembranças. Aquela capa de CD, aquele show na grade, aquele ingresso guardado, versos, refrões e solos. Tudo daquela época em que a banda era tão boa. Pode parecer ruim, mas manter esse sentimento vivo é como manter viva também a banda à qual você tanto se apegou. É uma espécie de legado. O ciclo dela terminou, mas foi bom enquanto durou. Acontece. Só não dá pra chafurdar nesse tipo de situação. Chega de drama.

2. Paciência
Ok, sua banda não acabou, mas não é mais a mesma. Por que, então, não ter um pouco de paciência? Ouvir melhor aquele último álbum e tentar entender o novo conceito, as ideias por trás das mudanças. Ficar atento a entrevistas que possam dar uma luz sobre o que diabos aconteceu com eles. Dar um tempo àquele novo membro para que se adapte à banda e ver se ele consegue se encaixar. Tudo toma tempo.

Há inúmeros exemplos de bandas que mudaram integrantes, conceito, tipo de som e até instrumentos, tudo para melhor – embora essa seja uma avaliação pessoal, questão de gosto. Por exemplo, o Forfun adolescente comparado à banda madura e sólida que é hoje. O Iron Maiden pré-Bruce Dickinson e o salto de qualidade que teve depois que ele substituiu Paul Di’Anno. A entrada de Taylor Hawkins na bateria do Foo Fighters.

3. Relações cortadas
Sem ressentimentos. Se você prefere o Forfun adolescente, o Iron Maiden com os vocais de Paul Di’Anno ou o Foo Fighters pré-Taylor Hawkins, não é obrigado a acompanhar as fases mais recentes depois das mudanças. Muita gente não conhece o trabalho do Raimundos pós-Rodolfo. Muita gente não reconhece o Queen com Adam Lambert nos vocais. E aí, a relação é cortada – podemos até voltar para o item 1, se isso acontecer.

4. Prazer análogo
Enquanto não tínhamos mais o Rage Against the Machinne, podíamos, pelo menos, nos contentar com o Audioslave, essecialmente o RATM sem o Zach de la Rocha, com os vocais de Chris Cornell. Agora que não temos mais o Led Zeppelin, podemos pelo menos ver Robert Plant cantando. Muita gente se contenta há muito tempo em ouvir as músicas do Sepultura com a nova formação da banda, com o Soufly de Max Cavalera ou com a banda dele com seu irmão, Igor, o Cavalera Conspiracy. Não é o Sepultura clássico, mas o prazer de ouvir essas versões pode ser análogo.

O mesmo vale para projetos paralelos, embora eles constantemente não tenham relação musical com o trabalho que originalmente consagrou os artistas. Para ficar em um exemplo já citado: Chris Cornell, em carreira solo, toca músicas novas, do Audioslave e do Soundgarden.

Se Tom DeLonge sair mesmo do Blink 182, não vai ser a relação com os fãs, com a história musical ou mesmo financeira que vai fazê-lo mudar de ideia. Alguns fãs vão chorar as mágoas e dizer: “pra mim, o Blink acabou”. Outros, provavelmente aqueles que aceitaram a transição punk veloz e direto para músicas mais melódicas e baladinhas, vão seguir acompanhando, vão ver no que vai dar.

Se o Não Toco Raul puder dar um conselho diante dessa questão: não desista das bandas que você gosta. Nem dos integrantes delas.

PS. Fica o nosso conselho também para o Blink 182: Stay Togheter For The Kids.

“This song is fucking over!” – Foo Fighters no Brasil

Crédito das fotos: Foo Fighters Brasil

Ontem o Foo Fighters, banda que dispensa apresentações, fez seu último show da turnê brasileira em Belo Horizonte. Eles também tocaram em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Acompanhei o show em São Paulo, no Estádio do Morumbi, dia 23. E gostaria de deixar algumas considerações sobre a visita da banda ao nosso país – mais especificamente sobre o show que assisti.

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1) Foi a primeira vez em 20 anos de banda que os Foo Fighters fizeram uma turnê brasileira e tocaram em shows próprios, fora de festivais.
As outras passagens do grupo pelo país aconteceram no Rock in Rio de 2001 e no Lolapalooza de 2012, em São Paulo. Com o show exclusivo, puderam tocar por muito mais tempo. Os shows duraram cerca de três horas, contando com músicas de toda a carreira da banda e até alguns covers de clássicos do rock – como Rush, Queen e Kiss.

2) Dave Grohl voltou a tocar no Estádio do Morumbi depois de exatos 22 anos.
O Nirvana tocou no mesmo local em janeiro de 1993. Foi um show histórico, mas foi um desastre! Na época, o Nirvana era “a maior banda de rock do mundo” e as expectativas eram grandes. A apresentação em São Paulo foi recorde de público de toda a história da banda – com mais de 80 mil pessoas! Então imagine qual não foi a surpresa dos fãs brasileiros ao se depararem com o Kurt tão chapado que mal conseguia tocar. Foi parecido com o que aconteceu quando a Amy Winehouse fez show aqui. Ele errou todas as letras e todos os acordes, não conseguia cantar ou tocar uma música até o fim. A banda acabou tocando vários covers no improviso, uma hora Kurt foi pra bateria, Krist para a guitarra e Dave Grohl para o baixo. Até o Flea do Red Hot Chilli Peppers e a Courtney Love invadiram o palco. Mas tudo parecia uma grande ~zoeira~, a maior parte do público ficou puta da vida e foi embora na metade do show – enquanto alguns outros presentes acharam tudo aquilo muito “punk rock engraçado atitude radical” e consideram o show genial. No final das contas, o show ficou conhecido como “o pior da carreira do Nirvana”.

3) APENAS inaugurando o Maracanã.
O show dos Foo Fighters no Rio, no dia 25, foi o primeiro grande show realizado no “novo” Maracanã, após a grande reforma do estádio para a Copa do Mundo. Nada mal tocar em um dos mais legendários estádios do mundo, hein? Aliás, se ter 20 anos de estrada, uma porrada de hits e músicas realmente boas, lotar estádios no mundo todo, continuar relevante e produtivo e, principalmente, construir uma banda forte o bastante pra ofuscar o rótulo de “baterista do Nirvana” é ser medíocre, então eu não sei o que é ser bom. #hatersgonnahate #beijinhonoombro

4) O pedido de casamento do “Vulcão Vesúvio” foi demais.
Na parte mais calminha do show no Morumbi, com Dave tocando algumas músicas em versão “voz e violão” (Skin and Bones e Wheels), o sortudo Vinícius subiu ao palco e pediu sua namorada Mônica em casamento na frente de um público de mais de 55 mil pessoas. Ela disse sim, o estádio inteiro vibrou, Dave foi super simpático e até abraçou os dois – mas era incapaz de pronunciar o nome do noivo. Dave insistia em dar os parabéns para o “Vesuvius”, ao invés de “Vinícius”. A tempo: Vesúvio é o nome do famoso vulcão italiano que destruiu a cidade de Pompéia. Veja o pedido de casamento aqui.

 

5) “This song is fucking over!”
A penúltima música do show no Morumbi foi o grande hit “Best of You”. Ao final da canção, a plateia continuou a entoar o coro “Ooooh”. Foi bonito. O estádio estava todo iluminado com lanternas de celular, as luzes baixaram, a banda silenciou, ficou só o público cantando junto. Dave Grohl se emocionou, elogiou. A banda retomou a canção e encerrou de forma triunfal. Aí os fãs teimaram em continuar o coro de novo, porque, afinal, THE ZOEIRA NEVER ENDS – HUE BR. Dave deu risada e entrou na brincadeira. “Cara, para de cantar! Sério, já deu!”. Mas a galera não parava. Aí o cara não aguentou: “This song is fucking over!!!” – e faz todo mundo rir de novo.


10487594_831562140238891_9211674635548643925_n6) Dave Grohl caiu de bunda na frente de todo mundo.

O Foo Fighters tinha acabado de entrar no palco e ainda estava tocando a primeira música do show – “Something for Nothing”, do último disco da banda, “Sonic Highways”. De repente, Dave Grohl escorrega e leva o maior tombo, caindo de bunda na frente do estádio inteiro, com os holofotes nele. Mas Dave foi ligeiro. Levantou rapidinho, não perdeu a pose (ainda que tenha tentado disfarçar com um soco no ar), continuou tocando e batendo cabeça como se nada tivesse acontecido. Veja o tombo aqui.

7) São Pedro é fã dos Foo Fighters.
Foi um dia chuvoso em São Paulo. A chuva não teve dó dos shows de abertura. Caiu sem parar durante as apresentações do Raimundos e do Kaiser Chiefs. Mas, milagrosamente, parou assim que os Foo Fighters começaram a tocar. O que caiu de chuva durante o show deles foi uma leve e quase imperceptível garoa. Ironicamente, assim que o show acabou, a chuva voltou forte – e atrapalhou os fãs na volta pra casa.

8) Os fãs criaram um mar de luzinhas.
Bem no meio do show, na agitada “Monkey Wrench”, a banda conseguiu encaixar uma jam piração total com ares de post rock bem lenta e demorada. Já tava até batendo um soninho, mas aí a plateia começou a empunhar os celulares e acender suas lanternas. Segundos depois, todo o estádio estava coberto por um mar de luzinhas. Com a iluminação do palco e do estádio baixas e aquela atmosfera mais relaxada e viajandona, parecia até um céu coberto de estrelas. Ficou tão bonito que despertou a banda do transe. Dave Grohl mandou um “This is fucking beautiful”, parou tudo e finalmente retomou a canção com o peso e os berros de sempre.

10955340_833413630053742_2802382623175156633_n9) Dave é humildão.
No começo do show Dave prometeu tocar músicas de toda a carreira da banda, que esse ano comemora seu aniversário de 20 anos (!). Ele parecia super feliz e brincou com a plateia sobre qual seria o melhor álbum do grupo. “Vamos tocar músicas do primeiro disco, o que vocês acham?!” – e a galera pira. “Do segundo também! E do terceiro e do quarto!”, continuou ele. O público gritava, aplaudia e berrava o nome de algumas músicas. Aí ele disse “E do quinto álbum? Hummmm…esse é mais ou menos, né?”. Hahahaha!

10) Cool covers.
Teve cover. Teve muito cover. Segundo Dave Grohl, a banda só queria se divertir e mostrar pros fãs alguns sons que eles curtem, de bandas que os influenciaram. Daí o Foo Fighters tocou Queen (duas vezes), Rush, Faces e Kiss. Foi legal, bacana. É importante mesmo resgatar as raízes e mostrar coisas legais de rock clássico pro público mais jovem. Mas acho que eles passaram do ponto. Um ou dois covers já estaria mais do que bom. O Foo Fighters tem um repertório gigantesco e não precisa inventar tanta moda – ainda mais em um país como o Brasil, que não costuma recebê-los com tanta frequência e tem um público sedento pelas músicas próprias da banda, que deixou alguns de seus próprios clássicos de lado. Mas foi super bacana ver o Dave Grohl tocando bateria enquanto o Taylor Hawkins cantava. E nessa hora a banda tocou na passarela que passava bem no meio da pista, ficando bem no centro do estádio e mais próximos à turma da pista comum, das cadeiras e das arquibancadas – o que foi muito legal.

11) Tira o pé do chão!!!
No show do Morumbi o Foo Fighters deu um pau na galera do axé no quesito “fazer a galera pular”. As músicas mais pesadas agitaram tanto a plateia que se você estivesse nas cadeiras e arquibancadas podia sentir o chão tremer. Deu medo, mas foi legal.

1907939_833414420053663_6050835836132378578_n12) Ninguém conhece “I’ll Stick Around”.
Nunca me senti tão velha na vida. Vi o show de longe, da arquibancada, porque era o ingresso mais barato que tinha e eu estava falida. Não sei se nos outros setores foi diferente, mas quando os Foo Fighters tocaram “I’ll Stick Around” NINGUÉM conhecia a música. Sério. Eu era a ÚNICA alma viva cantando, pulando e parecendo curtir naquele momento. “I’ll Stick Around” está no primeiro disco da banda, de 1995 (aquele com o revólver na capa). É uma música bem importante pra carreira do Dave Grohl, criticando as pessoas que não aceitavam que ele tocasse em frente depois da morte do Kurt Cobain e do fim do Nirvana. Anos depois, ele admitiu que a inspiração da música foi a Courtney Love.

13) O improviso foi um pouco demais.
Ficou repetitivo – e bastante cansativo – o esquema de sempre esticar as músicas com jams piradonas no meio. A banda fez isso em vários momentos do show. Acontece que boa parte dos sucessos do Foo Fighters são músicas mais agitadas, pesadas e rápidas. Então a pausa no meio, que se arrastava por vários minutos diminuindo drasticamente o andamento da canção, acabava saindo arrastada e sonolenta. Considerando que o show em São Paulo teve quase três horas de duração, fazer o povo cansado de pé há horas ver várias jams “viajandonas” assim foi demais. O ânimo despencava – a plateia só voltava a vibrar com a retomada dos refrões – e muita gente acabou reclamando. “Que porra é essa? Foo Fighters agora é banda de rock progressivo?”, “Caralho, que sono” e “Para de enrolar, porra!” foram apenas alguns dos comentários que eu ouvi.

14) O carisma do Dave Grohl é mesmo contagiante.
Haters gonna hate. O sucesso dos Foo Fighters e do Dave Grohl incomoda muita gente; e possivelmente o fato de o cara ser realmente muito legal incomoda muito mais. Durante todo o show em São Paulo Dave conversou bastante com o público, fez muita piadinha, agradeceu, sorriu, foi extremamente simpático e carismático. Não é pra qualquer um. A maioria dos grandes rockstars do tipo, aliás, é bem azeda. Dave enrolou uma bandeira do Brasil no pescoço, elogiou o público e o país várias vezes e conseguiu fazer a gente rir no meio de um show de rock que lotou um estádio com uma das bandas mais populares do mundo.

10440272_833414070053698_1571223756572416925_n15) Quem gostou do disco novo?
A maioria dos fãs não se empolgou muito com as músicas do último disco da banda. “Sonic Highways” é o oitavo álbum dos Foo Fighters e, depois do estouro que foi “Wasting Light”, realmente soa meio fraco. O projeto, entretanto, é bem legal; e rendeu uma série de televisão que funciona como um documentário em capítulos – e que foi dirigida pelo próprio Dave Grohl. Cada canção do disco foi gravada em um estúdio diferente – em diferentes cidades dos Estados Unidos que são berços de algum estilo musical – e conta com a participação de algum músico importante para aquela cena. A série também traz entrevistas com gente de peso como Steve Albini, Ian MacKay, Bad Brains, ZZ Top, Thurston Moore, Dolly Parton e até o presidente Barack Obama! Sonic Highways é uma produção da HBO e, no Brasil, está sendo transmitida pelo canal pago BIS. A série segue no caminho do documentário “Sound City”, de 2013, que também foi dirigido por Grohl e acabou aclamado pela crítica e premiado com um Grammy. Ele conta a história do estúdio Sound City e a grande influência que o lugar teve na história da música americana e do rock, entrevistando vários artistas, produtores, engenheiros de som etc. Vale muito a pena assistir!

16) Bem acompanhados.
As bandas de abertura escolhidas à dedo para acompanhar os Foo Fighters no Brasil não fizeram feio. O Raimundos ainda é bom e trouxe uma nostalgia gostosa para o público presente. Provavelmente uma das melhores bandas de rock do Brasil. Já o Kaiser Chiefs é a banda mais subestimada do mundo, na minha opinião. Os caras têm vários hits, fazem shows incríveis, dão o sangue no palco, levantam a galera, têm uma super energia…e não recebem reconhecimento nenhum. Merecem mais crédito. Um exemplo disso é o show que eles fizeram no festival Lollapalooza em São Paulo no ano passado – disparado o melhor show do evento inteiro.

Clique aqui para ver o show do Foo Fighters no Morumbi na íntegra. O vídeo trava bastante, mas pelo menos já dá para matar as saudades.

Volta logo, Dave!